Informativo Técnico N º 206
Publicado: 27/09/2010
Autor : Prof. Dr. José Sidney Flemming
(Professor, Universidade Federal do Paraná - UFPR)
A
mortalidade já após o nascimento representa um dos maiores problemas na
produção de leitões e por extensão na suinocultura industrial. Ela é variável e
representa perdas de
Composição do leite de porca:
Leitões normais nascem com 1,6% de gordura corporal e o aumento do peso ao nascer é seguido de aumento na gordura de reserva. O acréscimo da gordura corporal diminui a queda de temperatura dos leitões logo após o parto. Assim, existe uma tendência a busca por maior porcentagem de gordura corporal em recém natos, o que irá proporcionar melhor isolamento corporal contra os desafios ambientais. O uso de dietas líquidas, bem como estratégias de alimentação com dietas complexas pré-iniciais e enriquecidas com leite e gorduras, tem dado bons resultados afetando positivamente o crescimento de leitões pequenos durante ou após a desmama, principalmente quando os animais são de tamanho e ou peso baixo. Pesquisas de Cera et al. (1988) demonstram que o aumento no peso dos leitões pode ser obtido pelo aumento do aporte energético, com sensíveis melhoras no desempenho dos leitões no pós-desmame. Contudo, a utilização de fontes de lipídeos de origens diversas e sem critérios, como gorduras complexas com perfil de ácidos graxos desconhecidos, redundam em baixa digestibilidade, presença de radicais livres e oxidação dos ácidos graxos insaturados, levando a resultados pouco significativos, e sem melhorias nas taxas de deposição de gordura corporal na fase do pós-desmame.
Um fator limitante ao uso dos óleos vegetais (soja , milho) na dieta de leitões é a presença de ácidos graxos de cadeia longa que devem ser transportados em meio aquoso no intestino, o qual não favorece a sua dissolução e transporte. Assim, a emulsificação das gorduras é fundamental para permitir a ação de lipases e a formação de micelas com os ácidos graxos. Esta ação é facilitada pela bile e agentes tensoativos naturais, compostas de moléculas grandes, ligeiramente solúveis na água e que tem a capacidade de alterar as propriedades superficiais e interfaciais das gorduras. Estes agentes tensoativos são chamados de surfactantes e estão naturalmente presentes nos sucos digestivos. São representados pelo grupo dos Lisofosfolipídios tais como a Fosfatidilcolina e a Lisofosfatidilcolina que são formadas pela ação de enzimas específicas no lúmen. A Fosfatidilcolina secretada na bile é de fundamental importância para a emulsificação das gorduras e formação de micelas no processo de absorção (Silva ,2009). A Lisofosfatidilcolina pode ser produzida industrialmente a partir da Lecitina de soja e a sua adição a suplementos energéticos tem demonstrado efeitos positivos como componente fundamental da digestão, apresenta benefícios no desempenho técnico e econômico das dietas, permitindo a formulação de dietas de menor densidade nutricional, mais econômicas, sem perda de desempenho.
Trevizan & Kessler, (2009) publicaram um estudo onde referem os efeitos da utilização do diacilglicerol ou DAG, um lipídio com ação semelhante a dos ácidos graxos de cadeia média. Este lipídio é um componente natural encontrado em gorduras vegetais e está diluído entre os triglicerídeos. São descritas na literatura três formas de DAG ( 1,2 DAG, 2,3 DAG e o 1,3 DAG). Das três a formas existentes a 1,3DAG é a que tem sido mais pesquisada (Rudkowska et al. 2005). Segundo Matsuo & Tokimitsu, (2001) os triglicerídeos da dieta após sofrerem a digestão no intestino podem produzir 1,2 DAG e 2,3 DAG, como produtos intermediários da ação da lipase pancreática sobre os triglicerídeos. Os diacilgliceróis (DAG) podem ser facilmente absorvidos, pois as gorduras são absovidas somente na forma de mono acilgliceróis, diacilglicerois e ácidos graxos livres. O DAG caracteriza-se por possuir sabor, aparência e composição de ácidos graxos semelhantes entre os óleos de colza, soja, e girassol podendo ser incluídos facilmente em dietas (Takase et al., 2005). Pesquisadores referem que o 1,2 e o 1,3 DAG não atuam da mesma forma, e como ocorre com ácidos graxos de cadeia média o 1,3 DAG apresentaria menor afinidade por enzimas relacionas à re-esterificação para a síntese de quilomicrons (Yasunaga et al., 2004).Assim, quando o 1,3 DAG é incluído na dieta, ocorre a formação do 1-monoacilglicerol e ácido graxo livre, que tendem a ser oxidados prontamente ou então conduzidos diretamente ao fígado pelo sistema porta hepático sofrendo uma β-oxidadação. Este aumento na oxidação de lipídeos parece promover aumento na oferta e utilização de energia pelo animal. (Morita & Soni, 2009).
Desta forma, o uso de gorduras como fonte energética de recém-natos é bastante discutido, contudo, pesquisas com a adição de gordura de coco, óleo de palma, óleo de milho e outros, tem demonstrado resultados positivos nas fases pré-iniciais. Das fontes lipídicas, a gordura de coco tem demonstrado melhores resultados no ganho de peso, e conversão alimentar, aumentando o consumo de ração quando utilizados (Jin et al 1988; Cera et al 1989a, Mahan, 1991).
A resposta superior da gordura de coco é
atribuída a sua composição rica em ácidos graxos de menor comprimento de
cadeia, com melhor taxa de absorção tendo como principal vantagem a sua
condução via corrente sanguínea. Fato que o difere dos ácidos graxos de outros
lipídeos vegetais e ou animais, os quais são mais rapidamente absorvidos via
sistema linfático. Este aspecto é referido por Dove
(1993), ao constatar que a adição de ácidos graxos de cadeia média oriundos do
coco, aumentava o ganho de peso nas duas primeiras semanas pós-desmame.
Pesquisas demonstram como desejável a suplementação com triglicerídeos de
cadeia média imediatamente após o parto, porque estes são rapidamente digeridos
e utilizados como energia pelos leitões. A suplementação via oral de óleo de
coco nas primeiras 12 horas, possibilita condições de sobrevivência com um razoável
aporte energético. O bom desempenho obtido pelo uso do óleo coco pode ser
atribuído a sua composição rica em ácido láurico (50 %) que é um acido graxo de
Desta forma, a realização de novas pesquisas e estudos se fazem necessárias considerando-se que:
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