Boletim Técnico nº 1 - Dezembro de 2002

REPOSIÇÃO DE REPRODUTORES SUÍNOS

Eng. Agrônomo Renato Irgang

 Universidade Federal de Santa Catarina

    O plantel de reprodutores é um dos fatores mais importantes para a obtenção de ótimo desempenho produtivo e bom retorno econômico de uma granja de suínos. Isso se deve ao fato de residir nos machos e fêmeas do plantel o potencial genético da criação, cuja expressão depende do manejo utilizado na granja.

    Uma vez estabelecido o plantel de reprodutores, o produtor de leitões, ou o criador de suínos de ciclo completo, vê-se na necessidade de, periodicamente, repor parte das fêmeas e dos machos.

    As causas mais freqüentes que determinam a necessidade da reposição dos reprodutores são: idade avançada dos animais, queda na taxa de fertilidade, problemas de aprumos e de aparelho mamário, perda excessiva de peso, problemas sanitários ou mesmo a morte dos animais. Esse fatores fazem com que em torno de 30 a 40 % das fêmeas e de 40 a 50 % dos machos do plantel tenham que ser repostos por ano. Outra causa importante para repor reprodutores são os ganhos genéticos contínuos obtidos por granjas de melhoramento genético de suínos, que testam grande número de animais, realizam avaliações genéticas freqüentes, e dispõem de grande número de reprodutores de raças diferentes. Esses ganhos, tanto em características reprodutivas, como de desempenho e de carcaça, devem ser explorados pelos produtores de leitões e de suínos para o abate, pela introdução de reprodutores de reposição de alto valor genético em seus planteis. 

REPOSIÇÃO DE FÊMEAS DE PLANTEL

A utilização de fêmeas mestiças F-1 no plantel de reprodutores permite aos criadores explorar as vantagens do vigor híbrido ou heterose das fêmeas, que se expressam principalmente no número e peso de leitões nascidos e desmamados por leitegada. Na reposição de fêmeas F-1 do plantel pode- se fazer uso de diferentes procedimentos, como apresentado a seguir.

  1. Aquisição de fêmeas F-1 de reposição no mercado de reprodutores.

Essa alternativa é bastante prática. Criadores com 60 fêmeas F-1 no plantel, por exemplo, com 30 % de taxa anual de reposição, precisam comprar 18 fêmeas por ano, recomendando-se que adquiram 20 fêmeas, pois é bastante comum o fato de que 8 a 10 % dos animais adquiridos tenham algum tipo de problema que dificulta a sua reprodução; criadores com 100 fêmeas no plantel, precisam adquirir 30 a 33 animais por ano, e criadores com 200 fêmeas no plantel precisam repor 60 a 65 fêmeas por ano, para a mesma taxa de reposição, e assim por diante. A entrada de fêmeas de reposição no plantel, com 4 a 5 meses de idade, significa que número semelhante de fêmeas está sendo descartado. Como os animais de descarte podem pesar entre 120 e 250 kg, e as fêmeas de reposição custam entre 160 e 250 kg, estima-se que com o valor obtido pela venda de 5 fêmeas de descarte possa-se adquirir 4 fêmeas de reposição, aproximadamente.

Fêmeas e machos de reposição devem ser adquiridos de Granjas de Suínos de Doença Mínima. De acordo com Sobestiansky, Barcellos e Sesti (1998), os animais devem vir acompanhados de atestado de vacinação e atestado negativo da granja de origem para doenças tais como Aujeszky, Brucelose e Leptospirose, e, dependendo da região, de um atestado de vacinação contra a peste suína clássica, com a respectiva data. Os animais devem ser adquiridos de tempos em tempos para facilitar a sua adaptação e aproveitamento na granja. Por exemplo, criadores que repõem 18 a 20 fêmeas por ano podem adquirir grupos de 3 a 4 animais, 5 a 6 vezes durante o ano; criadores que repõem 60 a 65 fêmeas por ano podem adquirir 10 a 12 fêmeas a cada 2 meses, e assim por diante.

A observação dos cuidados sanitários descritos anteriormente, acompanhada de um exame dos animais pelo comprador e seu médico veterinário ainda na granja de origem, torna desnecessário o quarentenário. Mesmo assim, é importante que toda a granja de suínos tenha um local ou espaço para alojar os animais recém adquiridos. Esse local deve dispor de 2 a 3 m2 por animal, e situar-se separado da granja. Os animais devem permanecer nesse local por 30 a 60 dias, para se observar os seus aprumos, o seu desenvolvimento e seu estado sanitário. Deve-se aproveitar esse tempo para adaptar os animais ao novo ambiente, fazendo com que entrem em contato com fezes e placenta de porcas de 3 a 4 ou mais partos, e com que recebam as vacinas que são utilizadas na granja para animais de plantel. Nesse período, as fêmeas devem receber de 2 a 3 kg de ração de boa qualidade por dia, conforto e água à vontade, lembrando-se que estão ainda em fase de crescimento. O cio apresentado pelas fêmeas nesse período deve ser anotado mas desprezado, acasalando-se ou inseminando-se as mesmas apenas quando apresentarem 130 a 140 kg de peso vivo e no mínimo o 3°. cio. A existência desse local  facilita a reposição de animais recém adquiridos, quando necessária, pois permite mostrar os animais ao fornecedor antes de misturá-los com os animais da granja.

  2. Produção de fêmeas F-1 na própria granja.

Uma segunda opção de reposição consiste na produção de fêmeas F-1 na própria granja, com machos e fêmeas avós de linhas maternas de raças diferentes. Essa alternativa é muito interessante para planteis de médio e grande porte. Granjas com 100 fêmeas e 30 % de reposição anual, que necessitam repor 30 a 33 fêmeas F-1 por ano, podem fazê-lo a partir de 5 a 6 fêmeas avós Landrace, e de um macho avô Large White, ou vice-versa, enquanto que granjas com 200 fêmeas no plantel necessitam de 10 a 12 fêmeas e de um macho avô, e granjas com 300 a 400 fêmeas em produção necessitam de 20 a 24 fêmeas e um macho avô. Machos e fêmeas avós podem ser adquiridos de granjas de melhoramento genético que colocam esses animais à disposição no mercado.

O preço de reprodutores avós é maior que o de fêmeas F-1, mas o número anual a ser adquirido é bastante menor. Granjas com 200 fêmeas F-1, que precisam de 12 fêmeas e um macho avô para produzir as fêmeas de reposição, precisam repor apenas 3 a 4 fêmeas e 1 macho avô por ano, reduzindo sensivelmente os custos de reposição de plantel.

Além de reduzir os custos de reposição e de manter alto o nível de heterose nas fêmeas F-1 produzidas dessa forma, essa opção oferece ainda as vantagens de reduzir os riscos sanitários e de permitir melhor adaptação dos animais. Uma possível desvantagem do método é que demora mais tempo, no início do processo, para que as fêmeas F-1 produzidas na granja cheguem ao plantel de reprodutores; outra possível desvantagem é o custo do macho avô, e o custo de sua manutenção.       

  3. Produção de fêmeas de reposição em cruzamentos rotacionais.

Uma terceira alternativa é a reposição própria de fêmeas a partir do acasalamento das fêmeas mestiças do plantel com machos de raças diferentes, ou da raça menos aparentada com as raças das fêmeas. Nesse caso, os machos de plantel são comprados de granjas de melhoramento genético a cada nova geração. Esse sistema, denominado de cruzamento rotacional, pode incluir 2, 3 ou 4 raças de suínos, e permite explorar, respectivamente, no máximo 67, 86 e 93 % da heterose possível. Sua execução, no entanto, é mais complicada, pois requer controle rígido da composição racial das fêmeas, dos machos de plantel,  e dos acasalamentos efetuados. Isso se deve ao fato de poder ocorrer que, na mesma época, existam fêmeas de gerações e de composições raciais diferentes no plantel, que devem ser acasaladas com machos diferentes, com o objetivo de explorar toda a heterose possível nas fêmeas de plantel e nos leitões e suínos de abate.

  Entre as alternativas apresentadas, as duas primeiras são as mais recomendáveis por serem de execução prática, e permitirem explorar toda a heterose materna e atualizar os planteis com ganhos genéticos contínuos, obtidos em granjas especializadas em melhoramento genético de suínos.

Na escolha de fêmeas de reposição, deve-se preferir as que apresentem no mínimo 7 pares de tetas perfeitas, ausência de problemas de aprumos e defeitos físicos, que tenham capacidade para  produzir mais de 11 leitões por leitegada, que tenham excelente habilidade materna, e que contribuam geneticamente para a melhoria da taxa de crescimento, da conversão alimentar e do rendimento e da qualidade da carne dos suínos de abate. Entre os genótipos de fêmeas, as F-1 do cruzamento de Large White e Landrace, de linhas maternas, são muito recomendadas. Como alternativa, o criador pode utilizar fêmeas mestiças de Large White e Pietrain, e de Duroc e Landrace.

  REPOSIÇÃO DE MACHOS DE PLANTEL

Enquanto que a reposição de fêmeas pode ser feita no próprio plantel, a reposição dos machos deve ser feita pela aquisição de reprodutores híbridos ou de linhas musculares, produzidos em granjas de comprovada eficiência na geração de melhoramento genético, e que tenham genótipos paternos diferenciados dos genótipos maternos. Isso objetiva permitir aos criadores comerciais explorarem as vantagens dos ganhos genéticos obtidos em cada uma das raças utilizadas na produção das fêmeas e dos machos, e as vantagens da heterose também nos machos híbridos e nos leitões e suínos produzidos para o abate.

Os machos de plantel representam 50 % da genética da granja. Devido ao seu menor número no plantel, e pelo fato de cada macho produzir aproximadamente 20 vezes mais leitões do que cada fêmea de plantel, em monta natural, verifica-se que, ao se investir em machos de reposição, deve-se valorizar os que têm reconhecida capacidade genética para diminuir a idade de abate, melhorar a conversão alimentar, e aumentar o rendimento de carne dos animais de abate, sem comprometer a qualidade da carne e o número de leitões produzidos por leitegada. Os machos devem apresentar ausência de problemas de aprumos e boa conformação corporal, com ênfase no pernil e na paleta.

Para maximizar a heterose, recomenda-se utilizar machos híbridos do cruzamento de Pietrain e Duroc, ou de Pietrain e Large White de linhas musculares, em cruzamento com fêmeas F-1 de Large White e Landrace de linhas maternas, ou machos Large White, de linhas musculares, em cruzamento com fêmeas Pietrain - Large White e fêmeas Duroc - Landrace.  

CONCLUSÃO

A reposição dos reprodutores de uma granja de suínos é uma prática necessária e contínua para manter o número original de machos e fêmeas em produção, e para manter o plantel atualizado geneticamente. Essa prática deve ser entendida como um investimento, e deve ser direcionada para melhorar o desempenho econômico da produção de suínos. 


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