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Boletim Técnico nº 3 - Outubro de 2003 |
PERSPECTIVAS DA SUINOCULTURA NO CURTO E MÉDIO PRAZOS |
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Renato Irgang | |
Engenheiro Agrônomo, Ph. D. |
Ao se analisar as causas da situação econômica
vivida pela suinocultora e ao se procurar visualizar o futuro, é preciso
considerar a lei da ofer7ta e da procura e seus efeitos no mercado.
Em 1998 e 2001 criou-se na suinocultura brasileira
a expectativa de grandes aumentos nas exportações, tendo como destino
inclusive a Europa. Isso fez com que os produtores aumentassem seus plantéis de
matrizes, causando um grande aumento na oferta de suínos para o abate, que de
acordo com dados do boletim “Informe Conjuntural”, do Instituto CEPA/SC (Nº
928, 22.08 a 28.08.2003), passou de 21,0 milhões em 1999/2000 para 28,8 milhões
de animais inspecionados em 2002, significando um aumento de 37 % em apenas 2
anos. Nesse período verificou-se também um aumento significativo no peso de
abate dos animais, que passou de 90 a 100 kg para 105 a 115 kg, representando um
aumento adicional de 10 a 15 % no volume de matéria prima disponível para
industrialização, equivalente a mais 1,0 a 2,0 milhões de animais abatidos em
relação a 1999/2000. Portanto, o período referido caracterizou-se por
aumento considerável da oferta de
suínos para o abate.
O que ocorreu com a demanda de produtos suínos no mesmo período? As exportações para o
mercado europeu não aconteceram, as exportações para o mercado argentino
foram reduzidas, e a ocorrência de problemas sanitários na pecuária
brasileira dificultaram os negócios de produtos de origem animal para o
exterior. No mercado interno verificou-se grande redução da capacidade de
compra da população. Esses fatores contribuíram para reduzir a procura por
produtos suínos, ocorrendo, portanto, redução
da demanda. Em conseqüência, os
preços para os produtores de suínos despencaram, e os animais de abate ficaram
mais tempo nas granjas, causando aumento de despesas com alimentação e prejuízos
catastróficos.
Como resultado da crise, os produtores reduziram
seus plantéis, e agora, no final de 2003, já se verifica grande aumento na
procura de suínos para o abate e de leitões para a terminação, com melhora
crescente dos preços recebidos pelos suinocultores. O momento atual reflete a
necessidade das indústrias de fazerem estoques para atender a demanda maior de
produtos suínos do final do ano, e o atendimento às exportações, que se mantêm
estáveis. O cenário é promissor, portanto, no curto prazo, para os criadores
que conseguiram manter seus plantéis em produção, e têm agora a oportunidade
de recuperar seus prejuízos e obter lucros
que podem ser ampliados, nesse momento, se conseguirem evitar aumentos nos
custos de produção, e se souberem manejar seus animais com o objetivo de
aumentar de modo eficiente o peso de venda para o abate, ao menos até o final
de 2003.
Em relação a 2004 e 2005, é fundamental evitar
aumentos acentuados no tamanho dos plantéis, e trocar a estratégia de produzir
para ofertar produtos pela estratégia de produzir para atender a demanda. Com o
consumo interno de carne suína se mantendo em 13 kg por habitante por ano, e
com as exportações atingindo 500.000 toneladas por ano, os criadores devem
produzir não mais do que 37 milhões de suínos para o abate por ano, se
quiserem ajustar sua produção à demanda, e se quiserem manter seus lucros em
nível satisfatório.
Outro fator a considerar são os preços dos
alimentos utilizados na produção de suínos. É importante considerar que o
milho e o farelo de soja estão mais caros hoje do que no passado, não havendo
sinais de que seus preços venham a diminuir. Para trabalhar com cautela, convém
considerar custos de rações para suínos entre R$ 0,40 a R$ 0,45 por kg.
Nessas condições é necessário que o preço do kg de suíno vivo se situe e
se mantenha entre R$ 1,80 e R$ 2,00 nos próximos dois anos, permitindo um
retorno líquido em torno de 10 % para os produtores de suínos. Isso dependerá,
em grande parte, das decisões que os suinocultores e a indústria vierem a
tomar sobre redução, manutenção ou ampliação dos plantéis.