Boletim Técnico nº 6 - Janeiro de 2005

A SUINOCULTURA EM 2005

Eng. Agrônomo Renato Irgang

  Universidade Federal de Santa Catarina

    O ano de 2003 foi de grandes dificuldades para os produtores de suínos: o valor recebido pelos animais comercializados para o abate foi baixo e o custo da alimentação dos animais (milho, farelo de soja e seus substitutos) foi elevado, causando sérios prejuízos para o setor.
    2004 trouxe uma grande expectativa para o setor: como se comportariam os preços a serem recebidos pelos suinocultores e os custos da alimentação dos animais no decorrer do ano? Seriam idênticos aos de 2003 ? A surpresa, para muitos, foi grande e muito agradável, pois aconteceu exatamente o inverso de 2003: ocorreram aumentos significativos do preço do suíno vivo, causados pela redução dos plantéis em 2002 e 2003, que fez com que a oferta de animais para o abate em 2004 fosse menor do que a demanda, e reduções dos preços dos insumos utilizados na alimentação dos animais, causados pelo aumento da produção brasileira e mundial de milho e soja. Isso fez com que os custos de produção dos suínos fossem reduzidos e a margem de ganho dos produtores fosse ampliada. Se compararmos valores, verificaremos que foi possível aos suinocultores adquirir 12 kg de milho ou mais com o valor recebido por 1 kg de suíno vivo vendido para o abate, relação considerada excepcional para uma atividade que normalmente consegue equilibrar seus negócios quando a relação é de 7: 1. Com isso, foi possível ao setor melhorar sua receita líquida, recuperar prejuízos de anos anteriores e acumular alguma "gordura", especialmente a partir do quarto trimestre de 2004.
       A situação vivida nos últimos anos confirma que suinocultura não é uma atividade para aventureiros, mas sim para pessoas sérias, capazes de superar adversidades e de viver fases auspiciosas. Estão de parabéns os produtores de suínos que permaneceram na atividade nos últimos três anos, pois não demorou muito para colherem os frutos saborosos de sua perseverança.

    O que 2005 reserva para a suinocultura ? Que decisões tomar para o novo ano que se inicia?

    Em primeiro lugar, é necessário reconhecer que quem determina o sucesso da atividade é o próprio setor, incluindo associações de criadores, produtores independentes, integrados, indústrias, cooperativas e governo. Se as decisões tomadas forem no sentido de aumentar a produção de suínos, é importante que haja condições firmes de mercado, interno e externo, para absorver o aumento na oferta, que, em suinocultura, começa a chegar no mercado 10 a 12 meses após o início da expansão dos plantéis. Em segundo lugar, é importante que os suinocultores assegurem o suprimento, para pelo menos um ano, de alimentos e insumos a custos sustentáveis para a criação dos seus animais; e, em terceiro lugar, é fundamental avaliar com que recursos e a que custos a expansão da produção será financiada, buscando sempre evitar endividamentos desnecessários.
Informações de analistas sugerem haver espaço para recuperação da parte da produção que deixou de chegar ao mercado em função das últimas crises da suinocultura. Esse é um dos fatores a considerar em 2005, mas há outros, tão ou mais importantes, que também devem merecer a atenção dos suinocultores. Alguns são apresentados a seguir:
1. Considerar sempre que atividade de suinocultura é um negócio, sujeito a altos e baixos;
2. Renovar o plantei de reprodutores com animais de boa qualidade genética e sanitária;
3. Assegurar o suprimento de milho e de farelo de soja para o período mínimo de um ano;
4. Investir parte dos lucros obtidos na suinocultura de volta na atividade, com ênfase em:
- coleta, tratamento e aproveitamento dos dejetos suínos, evitando sua diluição e uso de água;
- proteção às fontes de água de consumo próprio e dos animais;
- recuperação de instalações e equipamentos desgastados;
- aumento da capacidade de armazenamento de grãos e alimentos para os animais.
5. Recuperar o tamanho histórico do plantei de forma gradativa, evitando sobressaltos;
6. Aumentar o peso de venda para o abate, aproveitando o valor recebido pelo suíno vivo, o interesse da indústria por animais mais pesados e o custo atual dos alimentos para os animais;
7. Aprender mais sobre suinocultura, dominando técnicas de produção já em uso, conhecendo novas técnicas e estudando o mercado interno e externo de produção e comercialização de suínos.

    Para quem produz suínos e pretende permanecer na atividade por muitos anos, dedicar atenção, esforços e recursos aos fatores sugeridos pode ser uma boa decisão para 2005.


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