Boletim Técnico 11 - Setembro de 2006

Criação intensiva de suínos ao ar livre

Eng. Agrônomo Renato Irgang

Universidade Federal de Santa Catarina

 

         Existem diversos sistemas de criação de suínos. A criação confinada é a mais utilizada no Brasil e no mundo e consiste em manter os animais, desde o nascimento até a venda para o abate, em instalações fechadas e com espaço limitado. A criação intensiva de suínos ao ar livre, “SISCAL”, objetiva alcançar níveis ótimos de produtividade e lucratividade e consiste em manter os animais em piquetes, com cobertura vegetal, totalmente ao ar livre, com maior área e com exposição ao sol. Pode ser utilizado para implantar novas criações, para rotação lavoura / produção de suínos, e para “aliviar” criações confinadas que se encontram “estranguladas” por falta de vazio sanitário ou de espaço.

 

Vantagens da criação de suínos ao ar livre. A principal vantagem desse sistema é o menor custo de implantação, pois as instalações e os equipamentos para a contenção, manejo e conforto dos animais são bastante simples. Cercas com 2 ou 3 fios de arame, eletrificadores, bebedouros, comedouros, cabanas móveis, sombra natural ou artificial e cobertura do solo com gramíneas (grama missioneira, hemátria, bermuda, quicuio, aveia) e leguminosas (trevos, ervilhaca), são os principais equipamentos e condições ambientais necessários. O sistema é mais amigável do ponto de vista do bem estar dos animais e do ambiente, e demanda menor investimento, instalações, volume de água e mão-de-obra para o manejo dos dejetos.

 

Área necessária para o manejo dos animais. A maior necessidade do sistema é de área e de piquetes para o manejo da criação. Por isso, normalmente inclui apenas as fases de reposição do plantel, reprodução, gestação, maternidade e creche. Para a manter o solo com cobertura vegetal, ou para a rotação com lavoura, recomenda-se utilizar os piquetes com animais por no máximo um mês, deixando-os vazios por 2 a 3 meses, dependendo do solo, cobertura vegetal, época do ano, condições climáticas ou lavoura a ser cultivada. Cada macho de plantel deve dispor de 800 m2 de área, dividida em 4 piquetes; na reposição de plantel recomenda-se usar 2 piquetes com 200 m2 por animal, divididos em 2 áreas; na reprodução e gestação recomenda-se usar 800 m2 por animal e lote alojado, divididos em 4 piquetes, quando se alojam num mesmo piquete todas as fêmeas cobertas ou inseminadas num mesmo lote; para parição e lactação se recomenda usar também 800 m2 por animal e lote alojado, divididos em 4 piquetes, agrupando-se num mesmo piquete todas as porcas que irão parir na mesma semana, disponibilizando-se uma cabana por porca. Na creche recomenda-se dispor 5 m2 de área por animal, e não mover os leitões do mesmo piquete até a sua saída da creche.

Uma criação ao ar livre, manejada com cobertura vegetal do solo e rodízio de piquetes, com 100 fêmeas no plantel, monta natural, 30 % de reposição anual, 2,25 partos/fêmea/ano, 10 leitões desmamados por leitegada, desmame com 4 semanas de idade, saída de creche com 63 dias de idade, necessita da seguinte área de terra e número de piquetes:

 

Machos de plantel: (5 ♂♂ x 200 m2 x 4 piquetes) = 4.000 m2  (4 piquetes); 

Reposição: (100 ♀♀ x 0,30 reposição x 9 semanas / 52 semanas) x 200 m2 x 2 piquetes 4.000 m2 (4 piquetes); 

Reprodução/gestação: (100 ♀♀ x 2,25 partos x 20 semanas / 52 semanas) x 200 m2 x 4 piquetes 69.000 m2  (80 piquetes);

Maternidade: (100 ♀♀ x 2,25 partos x 4 semanas/52 semanas) x 200 m2 x 4 piquetes 14.000 m2.(16 piquetes);

Creche: (100 ♀♀ x 2,25 partos x 10 leitões x  5 semanas / 52 semanas) x 5 m2 x 4 piquetes 4.300 m2.(20 piquetes).

Área total: (4.000 m2 + 4.000 m2 + 69.000 m2 + 14.000 m2 + 4.300 m2 ) + 5 % corredor   100.000 m2  ou 10 ha .  

 

Portanto, para cada 100 fêmeas de plantel e produção manejada até a saída de creche dos leitões ao ar livre, com rodízio de piquetes ou rotação com lavoura, são necessários 10 ha. de terra.

 

Manejo, Alimentação e Mão de Obra. A princípio, o manejo reprodutivo, nutricional e sanitário de criações de suínos ao ar livre é o mesmo das criações confinadas que objetivam produzir 25 a 26 leitões comercializados por fêmea por ano. A mão de obra deve ser de boa qualidade e deve levar em conta que, faça chuva ou faça sol, os animais devem ser alimentados, manejados e observados.

 

Genótipo. Fêmeas F-1, resultantes do cruzamento de Landrace e Large White, acasaladas com machos híbridos, são recomendadas para a criação ao ar livre, devendo, porém, ter acesso à sombra. Fêmeas F-1 ou retrocruzadas, com 25 a 50 % de genes de Duroc, geralmente apresentam vantagens de adaptação às condições de ambiente ao ar livre.

 

Mercado. O mercado para leitões oriundos de criações ao ar livre apresenta-se promissor, uma vez que os animais são criados em condições mais naturais, com custos mais baixos de produção e em melhores condições de bem estar.

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