Suinocultura

Informativo Técnico N· 10

Manejo Reprodutivo do Rebanho Suíno

A suinocultura tecnificada, como qualquer outra atividade agrícola necessita cada vez mais de ser altamente produtiva, haja visto que as margens nos últimos anos vem se apresentando cada vez menores. Ao avaliarmos o desempenho de uma suinocultura moderna devemos nos centrar em alguns pontos relevantes:

Genética: devemos utilizar, o que existe de mais moderno, disponível em matrizes e reprodutores, melhorados, de acordo com o nível de instalação (construções) utilizadas, e da finalidade da criação.

Nutrição: adotarmos um programa de nutrição adequado, moderno, compatível com o nível do material genético utilizado, e que possa definitivamente colaborar, para o melhor aproveitamento do ganho de peso, conversão alimentar, eficiência de crescimento, menor deposição de gordura, e melhor qualidade de carcaça.

Instalações: as construções deverão ser dimensionadas de acordo com o tamanho da granja, e finalidade da criação, bem como: modernas; funcionais e que permitam um manejo adequado, com a melhor racionalização da mão de obra.

Sanidade: deveremos procurar manter o plantel livre de doenças que possam causar prejuízos econômicos, e afetar o desempenho, bem como manter monitorado constantemente, o status sanitário da nossa granja.

Manejo: podemos afirmar que 80% do sucesso de uma suinocultura, depende exclusivamente do manejo, e que este será adotado, em função dos 4 itens, acima relacionados: Genética, Nutrição, Instalações e Sanidade.

Dentro das inúmeras técnicas de manejo diário de uma granja, uma que se destaca é o manejo reprodutivo do plantel. Este expressa de uma maneira muito clara a produção da granja, que é medida na maioria das vezes em: desmamados/matriz/ano. Para que possamos nos situar, do que poderia ser a performance reprodutiva ideal de uma matriz (fêmea), tomamos o seguinte exemplo:

114 dias de gestação + 21 dias de lactação + 5 dias para retorno ao cio = 140 dias.

365/dias (ano) ÷ 140 dias (ciclo reprodutivo) = 2.6 partos/ano.

Considerando:

Taxa ovulação média de uma matriz = . . . . . .20 óvulos.

Perdas embrionárias e fetais =. . . . . . . . . . ..30% ò 100% de fertilização de óvulos.

No máximo 5% de incidência de leitões natimortos.

No máximo 6% de mortalidade na maternidade.

Obteremos:

20 x 70% x 100% = 14 leitões nascidos por parto.

14 - (5%) - (6%) = 12.50 leitões desmamados/parto

12.50 6 2.6 = 32.50 desmamados/ matriz/ por ano.

Sendo assim concluímos que o potencial teórico de números de leitões desmamados por matriz por ano é de 32.50.

A eficiência reprodutiva de uma granja é expressa pela capacidade de produzir o maior número de leitões, desmamados/fêmea/ ano.

- Vários fatores irão influenciar a melhor eficiência reprodutiva de uma granja, e entre eles podemos listar os principais:

NÚMERO DE LEITÕES/FÊMEA/ANO.

»O manejo adequado e informações atualizadas, precisas, confiáveis; de cada um dos itens acima é essencial para que possamos maximizar a eficiência reprodutiva, de um plantel.

Principais pontos a serem considerados no manejo Reprodutivo.

Intervalo desmama/cobertura, muitos dos resultados positivos da taxa de fertilidade e tamanho de leitegada, vem sendo creditado ao número de coberturas feitos pelo varrão. Porém, estudos recentes demonstram a importância que o intervalo desmama/cobertura tem sobre a taxa de fertilidade e tamanho da leitegada. Após analisar mais de 18.000 coberturas de matrizes de diversas granjas, conclui-se que matrizes que entram em cio num período de 3 a 5 dias após a desmama, aceitam mais facilmente múltiplas coberturas, apresentando maior taxa de fertilidade e maior número de nascidos vivos. Por outro lado matrizes que apresentaram cio entre 6 a 15 dias após o desmame são classificadas como sub-férteis, apresentando assim menor aptidão a múltiplas coberturas, menor taxa de fertilidade e menor número de leitões por leitegada.

Período de lactação:

A suinocultura tecnificada no Brasil vem trabalhando com média de idade ao desmame de 21 dias. Contudo o desmame com menos de 20 dias poderá ser altamente comprometedor para a performance reprodutiva do plantel, refletindo em diminuição significativa do número de nascidos, menor taxa de fertilidade, aumentando assim o intervalo entre desmama/cobertura efetiva.

Uma matriz certamente apresentará muitas dificuldades de recuperar sua superfície uterina, para uma receptividade total de ovos fertilizados, se o desmame for muito precoce (14 a 17 dias). Assim sendo, parte da superfície não estará pronta para fixar e dar condições adequadas para o desenvolvimento dos embriões.

Considerando as observações acima devemos ter como meta promovermos desmamas com idades acima de 21 dias.

Taxa de Ovulação.

Os principais fatores que podem interferir na taxa de ovulação de uma fêmea são:

O estágio reprodutivo da fêmea, (idade) terá grande influência no número de óvulos liberados para fecundação. Uma matriz tem maior capacidade de ovulação que uma leitoa, e esta por sua vez apresenta maior capacidade de ovulação após o 3º cio.

Outra forma de aumentar a taxa de ovulação de fêmeas (matrizes ou leitoas), é através da prática do Flushing. As fêmeas após o desmame requerem uma grande quantidade de energia. Para suprirmos esta exigência de energia fornecemos ração lactação à vontade para as matrizes no período pré-cobertura.

Condições físicas da X após o desmame.

O excesso de perda de peso corporal pela matriz durante o período de lactação é altamente negativo para o subsequente desempenho reprodutivo da fêmea. A perda de peso de uma nutriz, no fim da lactação, nunca deverá ultrapassar 13% do seu peso corporal no dia do parto. O excesso de perda de peso é diretamente proporcional ao retardamento da entrada em cio pós desmame.

Dentre os fatores que podem influenciar na perda de peso na lactação são:

A temperatura ideal para a produção e bem estar de uma matriz (melhor conforto térmico), está situado por volta de 17 graus centígrados. Ao mesmo tempo e no mesmo ambiente (maternidade), a temperatura ideal para leitões recém nascidos é de 32 graus. É importante nos concientizarmos que a temperatura das salas deve ser direcionada para a matrizes, e a temperatura do creep para os leitões.

Salas quentes e abafadas irão sem dúvida inibir o consumo de ração, por parte da matriz, prejudicando a produção de leite e desenvolvimento de sua leitegada.

Em períodos ou regiões de clima quente, recomendamos adicionar suplementos nas rações lactação, e ou (óleo/açúcar), e ao mesmo tempo tentarmos diminuir a temperatura da sala de maternidade; molhando os corredores ou até os telhados. O número de vezes que alimentamos as matrizes, irá influenciar na produção de leite. Quanto maior a freqüência de alimentação, maior será a produção de leite. Recomendamos pelo menos 3 a 4 tratos ao dia com ração molhada, e pelo menos um trato a noite com ração seca.

Idade do Plantel de uma granja/Política de descarte.

A idade do plantel de uma suinocultura está diretamente relacionada com sua produção. A máxima performance reprodutiva de uma matriz é alcançada entre o 3º e o 6º parto, Por isso ao adotarmos uma política de descarte devemos nos concientizar em mantermos por volta de 50% do plantel nesta faixa etária. Leitoas de reposição devem ser selecionadas, e cobertas nos 3o cio aproximadamente 210 dias de idade e por volta de 120 kg de peso, isto nos asseguraria um alto desempenho da primeira leitegada e uma matriz com vida reprodutiva mais longa.

Taxa de Fertilidade

Ao nos depararmos com problemas de taxa de fertilidade de um plantel, devemos primeiramente determinar se estes problemas estão realmente relacionados com fertilidade. ( considerando-se que a taxa de fertilidade reflete a proporção de matrizes cobertas que parem). Com isso, também expressam descartes de matrizes cheias (enxertadas), e mortes que não estão relacionadas com problemas de infertilidade.

Constatando-se problemas de infertilidade, devemos distinguir duas situações:

Considerando os fatores acima, descrevemos alguns itens importantes:

  1. Detecção do cio: este dependerá da boa habilidade do produtor, assim como um bom treinamento dos machos em detectar o cio da matriz. O contato dos machos com as fêmeas, o período do contato, a agressividade dos machos, a timidez das fêmeas, reação dos machos à presença do tratador, são alguns fatores que irão intervir em uma boa detecção de cio.
  2. Quanto aos reprodutores: O uso de vários machos para a cobertura de uma matriz no mesmo cio tem mostrado resultados significativos em relação ao número de leitões nascidos, assim como uma maior taxa de fertilidade. Trabalhos da Embrapa tem mostrado que a presença de machos de coloração diferente tem um aumento de 10% no tamanho da leitegada. Outros fatores são importantes: intervalo entre cada cobertura,(duas coberturas com machos diferentes no mesmo horário), idade dos machos, local de cobertura adequado, (uso de baias de monta, com piso de areia), tamanho do macho em relação a fêmea, etc...
  3. Quanto a qualidade das coberturas: será que todas as montas estão sendo bem acompanhadas? Devemos classificar as coberturas com notas.

O acompanhamento de todas as montas é essencial, para o bom resultado reprodutivo, o auxilio do macho na hora da monta (ajudar a introduzir o pênis na vulva), evitando o contato manual, com a glande do macho.

  1. Temperatura alta, e ambientes abafados: estão diretamente relacionados com a qualidade da cobertura, em regiões muito quentes deve-se efetuar as montas de manhã, (6 a 7 horas) e a tarde após as 20 hora.
  2. Genética: trabalhos de diversos autores demonstram claramente vantagens na utilização de machos cruzados ao invés de machos puros, no que se refere à performance reprodutiva. Varrões cruzados, devido ao vigor híbrido, tem uma maior produção de espermatozóides e apresentam maior libido. E ainda machos cruzados, tem uma taxa de sobrevivência maior no plantel ( menor taxa de descarte)

Manejo de Fêmeas Primíparas.

O correto manejo de leitoas antes da cobertura é essencial para o desempenho e vida reprodutiva da fêmea. Recomendamos um período de adaptação de pelo menos 40 dias, das leitoas na granja nova; antes da cobertura. Durante este período as fêmeas são alimentadas com ração gestação (2,5 kg/animal/dia) com o objetivo de mantermos as fêmeas sem excesso de ração para uma possível resposta positiva ao flushing. As fêmeas deverão serem cobertas com idade acima de 200 dias, e 10 dias antes do início das coberturas deveremos oferecer ração lactação à vontade.

TÉCNICAS DE MANEJO PARA CONTROLE DOS PRINCIPAIS PROBLEMAS REPRODUTIVOS DA ESPÉCIE SUÍNA.

Consideraremos neste trabalho os principais problemas reprodutivos de importância econômica maior. Entre estes estão as descargas vulvares (cistites, pielonefrites e metrites) e abortos de causas infecciosas ou não.

É importante lembrar que o primeiro passo para se tentar solucionar problemas genito-urinários e de abortos; é um extenso levantamento do histórico reprodutivo da granja, onde devemos ter à mão os seguintes dados:

  1. Idade média do plantel
  2. Tipo de animal
  3. Tipo de cruzamento
  4. % de repetição de cio
  5. Intervenção no parto
  6. Ocorrências de doenças
  7. Programa de vacinação
  8. Manejo geral da granja
  9. Monta natural/inseminação
  10. Uso de reprodutores

Quanto maior o número de informações associadas aos problemas reprodutivos, maior a facilidade em se detectar as causas, e elaborar um programa de controle destes problemas.

É essencial que se adote algumas técnicas de manejo para controlarmos os problemas reprodutivos.

Manejo de alimentação.

O maior problema é em relação a possíveis contaminações por micotoxinas na matéria-prima ou rações acabadas. Primeiramente, devemos observar a qualidade da matéria-prima, que está sendo adquirida e o tipo de armazenamento desta na fábrica de ração. É aconselhável promover a limpeza de todos os silos (da granja e da fábrica) esvaziando-os lavando e fumigando, obedecendo sempre um rodízio periódico entre os silos. Este manejo deve ser rotina nas granjas planejando-se para que a cada 60 dias os silos sejam limpos.

A nutrição tem papel importante na consistência da fezes e pH da urina do animal. Para tratamento de problemas urinários, (cistites e pielonefrites) devemos baixar o pH da urina destes animais adicionando 2,5 kg de cloreto de amônea, por tonelada de ração. Relacionamos casos de cistites e pielonefrites de matrizes com urina de pH alcalino. Os fatores específicos que afetam o pH da urina não são bem conhecidos mas, sabemos que a urina das matrizes se tornam alcalinas por 3 semanas após o desmame, e este é o período mais crítico aonde a infecção poderá se instalar. A adição de 0,5% (meio por cento) de sal na ração para aumentarmos o consumo de água, por parte das fêmeas é também aconselhável.

Quantidade e a qualidade da água.

Exames bacteriológicos físicos e químicos devem ser feitos na ocasião da instalação da granja. O monitoramento da qualidade da água deve ser periódico para que tenhamos certeza de que não há fontes de contaminação. Procuramos manter diariamente água limpa à vontade nos cochos da gestação. Evite deixar restos de ração dos tratos anteriores nos cochos. O baixo consumo de água por parte da fêmea no período do desmame até 30 dias após a cobertura irá facilitar a proliferação de bactérias a nível de bexiga e rim podendo levar a problemas de cistites e pielonefrites. Sendo assim, a água dos cochos da gestação deve ser trocada no mínimo 6 vezes ao dia para oferecermos água de boa qualidade e quantidade, aumentando assim as freqüências de micções.

Quanto ao manejo das fêmeas.

A primeira providência à ser tomada é evitar o máximo o uso de "toque" como auxilio ao parto. A perda de peso da matriz no período de lactação acima de 13% do seu peso corporal leva ao desmame de fêmeas magras que estariam predisponentes a problemas genito-urinário. Evitar de todas as maneiras a desmama precoce (menos de 21 dias), permitindo assim que útero regrida, e se recupere de possíveis infecções pós parto. O descarte de matrizes que apresentam problemas genito-urinários e repetem cio, é o manejo mais indicado, pois tratamentos e lavagens uterinas não são na maioria das vezes muito eficientes.

Quanto ao manejo de machos. A limpeza higiene das baias dos machos e fundamental, usar cal hidratado, seco espalhado pelo piso da baia, melhorando a limpeza e desinfecção. Manter um sistema de controle de uso de reprodutores, para evitar o sub-uso, bem como o super uso. Esgotar diariamente o líquido prepucial antes da cobertura.

Como pode observar são centenas de dados, que devem ser controlados, e se não tivermos um bom sistema de coleta e de análise destas informações; dificilmente teremos à mão resultados confiáveis da nossa granja.

sossuinos@uol.com.br


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