Informativo Técnico Nº. 110

 

Verão chegando – agora uma das preocupações é com as diarréias nas terminações de suínos

Conceito - Dentre as patologias do aparelho digestivo, as doenças entéricas, representam um problema importante na suinocultura industrial, com sua casuística aumentada nas unidades de recria e terminação, principalmente no verão.

As perdas econômicas acontecem em decorrência das diarréias (seu principal sinal clínico em suínos), que causa como conseqüência:

- perdas diretas = aumento das taxas de mortalidade;

- perdas indiretas = aumento nas despesas com o tratamento dos animais doentes, diminuição do Ganho de Peso Diário, e até aumento da Conversão Alimentar.

 

Definição - Diarréia nada mais é do que a presença de excesso de água nas fezes em proporção à matéria seca, podendo as fezes serem classificadas como:

- normais: > que 24% de matéria seca;

- pastosas: 22 até 24%;

- cremosas: 20 até 22%;

- líquidas: < que 20%; e

- hemorrágicas (melenas): com a presença de sangue (de cor vermelho vivo a marrom escuro).

Nas diarréias, há perda de solutos e água, levando à diminuição de eletrólitos e nutrientes, desequilíbrio ácido-básico e desidratação, que pode ser fatal como na maioria dos mamíferos, se não tratada rapidamente.

O conhecimento da patogenia das diarréias e sobre os patógenos envolvidos, são ferramentas muito importantes para o diagnóstico da doença. Desta forma, medidas de tratamento e controle podem ser tomadas, minimizando as perdas econômicas decorrentes dos problemas entéricos.

 

As principais causas de diarréia na suinocultura estão relacionadas a agentes infecciosos ou decorrentes de causas nutricionais (rações e água), bem como com a ambiência, manejo de limpeza e desinfecção precárias, e imunidade deficiente.

As causas de diarréia na suinocultura são multifatoriais,neste caso podendo ser chamada de síndrome, e a simples presença de enteropatógenos, nem sempre é suficiente para o desenvolvimento da doença.

 

Tabela no. 1 - Principais agentes infecciossos causadores de diarréias em suínos, conforme a idade e a fase de criação  

Fase da criação   Idade dos suínos (em dias)           Agente Patogênico_______________________________-----------

Maternidade                                 0-5                     E. coli, TGE, Clostridium spp, diarréia nutricional,(Rotavírus), (Isospora)

Maternidade                                6-21                         Isospora, Rotavírus, E. coli, (Strongyloides), (Cryptosporidium)

Creche                                       21-60                          E.coli, Rotavírus, Cryptosporidium, PCV2, (Coronavírus)

Recria                                       60-100                         Brachyspira, Lawsonia, E. coli, Salmonella, PCV2

Terminação                           100 até o abate           Brachyspira, Lawsonia, Salmonella, PCV2______________-------------

( ) = pouca importância ou pouco prevalente na idade,

PCV2= circovírus suíno tipo 2, TGE= gastrenterite transmissível

Fonte: adaptado de  BARCELLOS ET all, in: Acta Scientiae Veterinariae. 36(Supl 1): s81-s86, 2008.

Com relação as causas de origens nutricionais, podemos citar:

- Rações com ingredientes de baixa digestibilidade , o que pode causar uma síndrome de má absorção, com presença de ingredientes mal digeridos nas fezes;

- Manejo Alimentar sob Restrição e servido em  poucas vezes ao dia, associado a uma ração de alta densidade e com desbalanço na relação entre carboidratos;

- Micotoxinas nas rações, principalmente Aflatoxinas e Tricotecenos (DON e T2), causam também diarréia, podendo estar participando junto ao colorário; e

- Água contaminada por coliformes fecais, sejam de fontes profundas contaminadas por dejetos, ou por fontes superficiais contaminadas por fezes de pássaros (neste caso, principalmente no verão).

Freqüentemente, mais de um agente pode estar envolvido com o problema, o que complica ainda mais o cenário.

 

O diagnóstico deve ser baseado nas observações dos sinais clínicos, nos achados de necropsia, nas análises histopatológicas, cultura, isolamento, PCR, análise de micotoxinas nas rações e ingredientes, análise biológica da água de consumo, etc, onde buscamos a identificação dos agentes etiológicos.e os fatores de risco No caso do isolamento positivo de agentes bacterianos, o antibiograma deve ser realizado, para justificarmos as prescrições antimicrobianoterápicas.

 

O controle das diarréias em suínos de recria e terminação não está diretamente relacionado apenas à medicação

massal na água ou ração nestas fases. O primeiro passo para um controle efetivo é a identificação de qual percentual de animais está com diarréia. A literatura cita que até 8% dos animais afetados (desde que descartada a possibilidade de um problema de ordem geral, como nos problemas nutricionais) podem ser tratados individualmente via injetável. E que após está proporção, aí sim se indica o tratamento massal via água ou ração.

 

Cloração da água de bebida - A água destinada ao consumo dos animais da granja deve ser clorada a um nível de 2 ppm. Os níveis de cloro devem ser monitorados pelo menos uma vez por semana, com um kit de aferição específico.

Análises microbiológicas bianuais da água devem ser realizadas, para conhecermos a qualidade biológica deste importante ingrediente da produção anual, e realizar a cloração se necessário.

Tabela no. 2- Sugestões de escolha de antimicrobianos para o tratamento de diarréias

                      bacterianas, de acordo com o agente patogênico------------------------------------------------ 

Doença bacteriana             1ª. Escolha                               2ª. Escolha.               3ª. Escolha-----------------

Colibacilose                          Colistina                                Neomicina                     Sulfa/Trimetropin

Ileíte Aguda                          Tiamulina                                Tilosina

Ileíte Crônica                       Pleuromutilinas                       Tetraciclinas                 Tilosina

Disenteria Suína                 Pleuromutilinas                       Tetraciclinas                  Tilosina/Lincomicina

Colite                                   Pleuromutilinas                       Lincomicinas                 Tilosina/Tiamulina

Salmonelose                     Colistina                         Neomicina/Espectinomicina   Sulfa/Trimetropin

Enterite Necrótica          Penicilina, Sulfa/Trimetoprim        Amoxaciclina          Cefalosporinas/Fluorquinona

Fonte: adaptado de PALERMO NETO & GORNIAK, 2.011

 

Tabela no. 3 - Sugestão de classe antibiótica para o tratamento de diarréias causadas

por Escherichia coli em suínos (, por ordem de sensibilidade, da maior para a menor em 2.011:

                                                        Opção            antibiótico sugerido

                                                        1ª. opção            Fosfomicina

                                                        2ª. opção               Ceftiofur

                                                        3ª. opção           Gentamicina

                                                        4ª. opção          Norfloxacina

                                                        5ª. opção        Enrofloxacina

                                                              Fonte: COSTA, 2.011

A reidratação dos animais afetados, pelo acesso a soluções hidratantes, mostra bons resultados, como terapia de apoio.

O uso de vacinas seja nas mães (contra Colibacilose) ou diretamente nos leitões (contra Salmonelose, Ileíte), parecem trazer bons resultados, se estes forem os agentes de risco, e desde que as rações estejam livres ou protegidas de micotoxinas, e seja realizada boas práticas no manejo das vacinações.

A literatura ainda cita que podem ser usados na terapia complementar: ácidos orgânicos, prebióticos, probióticos, fitoterápicos, desinfetantes, etc.

E por fim afirmamos que, criando-se suínos sob Boas Práticas de Produção, observando-se as condições básicas de bem estar suíno, e medicando-se de forma consciente e sob confirmação do diagnóstico clínico, é a seqüência perfeita para o sucesso terapêutico, bem como para o crescimento profissional, com  maior índices de acertos no controle das síndromes diarréicas dos suínos.

 

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA:

1-       BARCELLOS et all, Patogenia das diarréias dos suínos: modelos e exemplos. In: Acta Scientiae Veterinariae.

       36(Supl 1): s81-s86, 2008.

 

2-       COSTA, A.T.R. Palestra: Atualização dos Conceitos e Uso de Vacinas Autógenas em Suinocultura. ABRAVES          .        Fortaleza-CE, s/e, 05.10.2011. s/p.

 

3-       GUEDES, R. Controle racional das diarreias de recria e terminação. In: Acta Scientiae Veterinariae. 38(Supl 1):      

        s247-s253, 2010.

 

4-       JONES, A. Considerações Gerais sobre Diarréias em Suínos: Causas, Identificação e Diagnóstico.

                     In: Informativo MERCOLAB, Ano 01 nº 01. Abril de 2.011

 

5-       MEINCKE, W.  Sanidade. Artigo Genetiporc, , s/l, 10 p., s/d, s/p.

 

6-       PALERMO NETO, J. & GORNIAK, S. L. Apostila do Curso de Antimicrobianoterapia para Suínos. Toledo-PR,                  

       2.011. 51 P.

 

7-       SOBESTIANSKY, j. et  all. Clínica e Patologia Suína.  2. ed. Goiânia-GO,Art 3, 1.999. 464 p.

 

 

 

Méd. Vet. Rogério Paulo Tovo – Consultor Técnico e Comercial da HERTAPE CALIER Saúde Animal

                       (tel. no. 044-9830-2801, e mail = rptovo@ibest.com.br )

 

Campo Mourão-PR, 19 de setembro de 2.011

 

1ª.revisão – 06 de outubro de 2.011


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