Informativo Técnico Nº. 115

LESÕES PULMONARES NO COMPLEXO RESPIRATÓRIO DOS SUÍNOS: DIFERENCIAÇÃO E DIAGNÓSTICO - PARTE I e II 

 

INTRODUÇÃO

 

            As doenças respiratórias são uma importante causa de perdas econômicas, devido tanto ao atraso no crescimento quanto às perdas com mortes de animais. Na maioria dos casos, a aparição destas doenças se relaciona com a ação conjunta de vários patógenos (primários e ocasionais), condições ambientais e de manejo inadequadas. Desta forma, estamos diante de uma doença multifatorial, que tem sido chamada de Complexo Respiratório dos Suínos.

            A maioria das doenças respiratórias pode ser observada na fase da terminação, embora algumas possam ocorrer em outras fases como o desmame ou a recria, ou estarem associadas a uma fase determinada (figura 1).


Quadro

 

Figura 1: Correlação entre a idade dos animais e a apresentação dos principais patógenos respiratórios.

 

O tipo de lesão pulmonar será muito útil para estabelecer o diagnóstico. Dentre os diferentes tipos podemos encontrar:

 

A B
C D
E

1- Broncopneumonia: o agente etiológico, normalmente, uma bactéria entra pelo aparelho respiratório e afeta os lóbulos apicais e mediais, que apresentam uma cor vermelho intenso e um acentuado aumento na consistência e tamanho. Além disso, a reação inflamatória localiza-se nos alvéolos e brônquios. Esta lesão pode ocorrer de duas formas principais quanto ao tipo de exsudato:

            a) Broncopneumonia fibrinosa: está relacionada, principalmente, a infecções por bactérias de alta virulência e se caracteriza pelo depósito de fibrina. Muitas vezes, há necrose e/ou hemorragias graves. Se o processo se torna crônico, encontraremos focos de fibroplasia com deposição de tecido conjuntivo.

b) Broncopneumonia purulenta: a reação inflamatória é acompanhada de uma descarga de exsudato purulento (neutrofílico) nas vias aéreas (brônquios, bronquíolos e alvéolos). Nas formas crônicas podem obstruir os brônquios, formando abscessos nos lobos apicais e/ou mediais.

 

2- Pneumonia bronco-intersticial: o agente, normalmente um vírus, atinge o pulmão por diferentes vias e provoca uma reação inflamatória que se localiza principalmente nos septos alveolares e peri-bronquiais. Há um aumento de consistência e, em menor número, um aumento de tamanho. Os septos lobulares tornam-se mais evidentes e mais espessos.

 

3- Pneumonia intersticial: está associada principalmente a infecções virais. Mas quanto causada por bactérias, estas atingem os pulmões por via hematológica e a reação inflamatória localiza-se nos septos alveolares principalmente. Embora não afete todos os componentes do parênquima pulmonar, este apresenta uma consistência firme que não demonstra-se colapsado ao ser retirado da cavidade torácica. A lesão pode ser difusa, apresentando o pulmão uma coloração normal ou não com os septos lobulares bastante evidentes.

 

4- Pneumonia embólica: ocorre em processos trombo-embólicos septicêmicos ou não. As bactérias chegam por via sanguínea e se distribuem por todo o pulmão desenvolvendo lesões multifocais aleatórias, onde nas formas agudas são rodeadas por um halo avermelhado. Enquanto que, nas formas crônicas são geralmente marcados por uma faixa de tecido conjuntivo.

 

Tabela 1: Classificação dos agentes etiológicos dos processos respiratórios segundo o tipo de lesão pulmonar que produzem.

 

Pneumonia/Broncopneumonia/Pleurite fibrinosa ou purulenta

Pneumonia broncointersticial

Pneumonia intersticial

Pneumonia embólica

 

Actinobacillus pleuropneumoniae

Pasteurella multocida

Streptococcus suis

Haemophilus parasuis

Actinobacillus suis

 

Virus da Influenza suína

Coronavirus respiratório suíno

Mycoplasma hyopneumoniae

Virus da PRRS

PCV2

Adenovirus

Streptococcus suis

Arcanobacterium pyogenes

Mycobacterium bovis

Salmonella choleraesuis

 

 

 

Os patógenos respiratórios suínos podem ser divididos em 3 grupos: primários, oportunistas e ocasionais (tabela 2). Os primários são aqueles capazes de induzir a doença clínica e lesões por si só. Os oportunistas são aqueles que normalmente induzem a doença subclínica, caso o animal esteja em um estado de imunossupressão ou que a infecção seja complicada pela ação de outros patógenos. Os ocasionais são aqueles patógenos que de forma esporádica estão relacionados com uma doença respiratória, ou quando o desenvolvimento de lesões pulmonares é parte de um processo séptico.

 

Tabela 2: Classificação de alguns patógenos encontrados do sistema respiratório de suínos.

 

 

Primários

Oportunistas

Ocasionais

Vírus

PRRS

Influenza suína

PCV2

Doença de Aujeszky

Coronavirus respiratório suíno

Citomegalovirus suíno

Encefalite hemaglutinante

Adenovirus

Encefalomiocardite

Micoplasmas

Mycoplasma hyopneumoniae

Mycoplasma hyorhinis

 

Bactérias

Actinobacillus pleuropneumoniae

Pasteurella multocida (cepas de alta virulencia)

Streptococcus suis

Haemophilus parasuis

Pasteurella multocida (a maioria das cepas)

Actinobacillus suis

Salmonella choleraesuis

Arcanobacterium pyogenes

 

 

DOENÇAS RESPIRATÓRIAS CAUSADAS POR PATÓGENOS PRIMÁRIOS

 

Circovírus suíno tipo 2 (PCV2)

 

Este vírus, pertencente à família circoviridae, é o agente causador da síndrome multissistêmica do definhamento suíno. Uma doença que afeta principalmente leitões, entre 5 e 18 semanas.

            Os sinais clínicos mais característicos incluem emagrecimento progressivo, dispnéia e taquipnéia. Junto com estes sintomas também podem ser vistos icterícia, palidez de mucosas e diarréia. A lesão mais característica desta síndrome é a existência de um acentuado aumento no tamanho dos linfonodos, especialmente os inguinais superficiais. Além disso, os pulmões não colapsam na abertura da cavidade torácica e apresentam pneumonia intersticial.

 

Doença de Aujeszky

 

Esta doença é produzida por um vírus pertencente à família Herpesviridae. Embora o vírus possa afetar animais de todas as idades, nos últimos anos, o processo aparece sobretudo em animais de engorda e marrãs. O vírus tem uma afinidade para o sistema nervoso e respiratório, e neste último prejudica o aparelho muco-ciliar.

Os sinais clínicos dependem da dose infectante e da idade dos animais infectados. Assim, enquanto os suínos jovens apresentam principalmente sintomas nervosos, os mais velhos apresentam sintomas nervosos e respiratórios. As vias respiratórias apresentam-se congestivas, edematosas, com pequenas úlceras ou focos de necrose e recobertas por um exsudado seroso ou muco-purulento (infecção bacteriana secundária). Nos pulmões, a observação de lesões macroscópicas é pouco freqüente, embora, edema intersticial, hemorragias e, em algumas ocasiões, focos de necrose de pequeno tamanho possam ser identificadas.

 

Mycoplasma hyopneumoniae

           

M. hyopneumoniae é o patógeno primário da pneumonia enzoótica suína, um processo crônico que é o resultado da ação combinada deste agente, que coloniza o epitélio bronquial provocando a perda dos cílios e reduzindo a função do aparato muco-ciliar (figura 1), com predisposição à infecção por outras bactérias como Pasteurella multocida. A pneumonia enzoótica é uma enfermidade presente na maioria das criações. Estima-se que, aproximadamente, 80% dos animais sacrificados no abatedouro apresentam lesões compatíveis com este processo, enquanto possui uma alta morbidade, a mortalidade é muito baixa.

 

Fig 01

 

Figura 1: M. hyopnemoniae aderido aos cílios. Fonte: Retirado do site microbewik.

 

Este processo pode apresentar-se de forma aguda ou crônica. A forma aguda ocorre quando a doença aparece em uma granja livre do patógeno e se apresenta com anorexia, hipertermia, tosse e morte de leitões e suínos adultos. Na forma crônica, que é a mais comum, os animais apresentam tosse esporádica e não produtiva, ligeira hipertermia e retardo no crescimento.

 

Actinobacillus pleuropneumoniae

 

            Nesta bactéria, cuja virulência está relacionada com sua cápsula, os lipopolissacarídeos de sua parede e diferentes toxinas (ApxI, ApxII e ApxIII), são a causa da pleuropneumonia suína, uma doença cuja apresentação é favorecida por situações de estresse, mudanças ambientais e a infecção concomitante de vírus ou micoplasmas.

            O pulmão apresenta uma pleuropneumonia fibrinosa (figura 2), caracterizada pela presença de áreas firmes, friáveis, de cor avermelhada a enegrecida, com superfície elevada e localizada, sobre tudo, nas porções dorsos-caudais. A pleura aparece recoberta por fibrina de forma focal ou difusa na cavidade nasal e na traquéia pode apresentar um líquido espumoso e/ou sanguinolento. Nos casos crônicos, observamos nódulos pulmonares de tamanho variável e cor cinza, que podem conter material caseoso amarelado, estando a pleura espessada e com aderências na parede costal.

 

Fig 02

 

Figura 2: Pleuropneumonia fibrinosa em um suíno de 3 meses de idade assossiada à infecção por A. pleuropneumonia. Fonte: Retirado do site do Departamento de Agricultura da Irlanda.

 

Bordetella bronchiseptica

 

            Esta bactéria, associada ao desenvolvimento de rinite atrófica e de pneumonias em suínos jovens, é, ao mesmo tempo, um patógeno secundário implicado em casos de doenças respiratórias em animais de recria e terminação.

            Macroscopicamente, junto com uma atrofia variável dos cornetos nasais, podemos observar como a mucosa nasal aparece congestiva e recoberta por um exsudato muco-purulento. As lesões pulmonares consistem de uma broncopneumonia, caracterizada pela presença de áreas de consolidação de cor vermelha ou cinza nos lóbulos apicais.

 

Pasteurella multocida

 

            Esta bactéria pode ser isolada na cavidade nasal e nas tonsilas de animais sãos, estando os processos pneumônicos relacionados com o tipo A e, em menor grau, com o tipo D. O tipo D toxigênico (ligado a uma dermonecrotoxina) e, em ocasiões o tipo A, estão implicados junto com B. bronchiseptica no desenvolvimento da rinite atrófica progressiva. Um processo que é favorecido por outra série de fatores como deficiências nutricionais, fatores genéticos ou condições de manejo e instalações deficientes.

            Na rinite atrófica progressiva os animais irão apresentar estertores, ruídos ao respirar e descarga nasal mucopurulenta que, em algumas situações, pode ser hemorrágica. A lesão mais característica é a atrofia dos cornetos nasais, que pode ser uni ou bilateral e pode vir acompanhada de desvio do focinho e deformações ósseas.

  

DOENÇAS RESPIRATÓRIAS CAUSADAS POR PATÓGENOS OPORTUNISTAS

 

Mycoplasma hyorhinis

 

            Este Mycoplasma afeta principalmente animais entre 3 e 10 semanas de vida e, ocasionalmente, adultos jovens, dando lugar a um quadro agudo de poliserosite, com uma pleurite fibrinosa ou fibrinopurulenta, que ao cronificar-se pode dar lugar a fibroses.

 

Streptococcus suis

            Esta bactéria está associada a quadros de septicemia, artrites, meningites e pneumonias. Os sinais clínicos caracterizam-se pela presença de mortes súbitas, febre, depressão, dispnéia, artrites e sintomas nervosos como tremores, convulsões, opistótonos e nistagmos. Os animais apresentam um quadro septicêmico caracterizado pelo desenvolvimento de meningites, endocardites, poliserosite fibrinosa e, no pulmão, podemos encontrar uma broncopneumonia fibrinosa ou purulenta ou, ainda, uma pneumonia embólica.

 

Haemophilus parasuis

 

            Esta bactéria que pode ser isolada da cavidade nasal de suínos saudáveis, é o agente causador da Doença de Glässer, uma poliserosite fibrinosa que se relaciona com estados de estresse e que afeta os animais de 3 a 6 semanas de vida. Os leitões que desenvolvem a forma aguda apresentam febre, depressão, dispnéia, cianose, artrites e sintomas nervosos. Nos casos crônicos podemos observar tosse, claudicação e perda de peso. A lesão mais característica é a existência de um depósito de fibrina, de cor brancacenta ou amarelada, sobre uma ou várias superfícies serosas, como o peritôneo, pericárdio, pleura, articulações e meninges. Nos casos crônicos são observadas aderências fibrosas. As lesões pulmonares correspondem com uma broncopneumonia fibrinosa ou purulenta, que afeta os lóbulos apicais e/ou mediais.

 

DOENÇAS RESPIRATÓRIAS CAUSADAS POR PATÓGENOS OCASIONAIS

 

Salmonella choleraesuis

 

            Os quadros septicêmicos podem aparecer em qualquer idade, entretanto são mais freqüentes nos animais desmamados. Os animais mostram áreas hiperêmicas ou cianóticas na pele, principalmente nas orelhas, extremidades e abdômen. Na necropsia, as lesões mais características correspondem a uma pneumonia nos lóbulos apicais e médios, esplenomegalia, hepatomegalia, acompanhada pela presença de focos de necroses e hemorragias renais e nos nódulos linfáticos, que ao mesmo tempo aparecem aumentados de tamanho.

 

Actinobacillus suis

 

            É um patógeno pouco comum e surtos desta doença aparecem, frequentemente, em granjas de alto status sanitário. Os sinais clínicos são cianose, tosse, inflamação de extremidades e articulações, lesões na pele semelhantes às produzidas na erisipela e morte súbita. As lesões pulmonares são semelhantes às produzidas por A. pleuropneumoniae. Além do pulmão, ocorrem hemorragias na pele, fígado, intestino, rins e coração.

 

Arcanobacterium pyogenes

 

            Bactéria encontrada normalmente na pele e nas mucosas dos suínos saudáveis, sendo um oportunista que invade os tecidos danificados, tais como feridas na pele ou nas caudas e orelhas que tenham sido mordidas. No pulmão há uma pneumonia embólica caracterizada pelo aparecimento de pequenos focos esbranquiçados rodeados por um halo hiperêmico nas formas agudas, que podem evoluir para a forma de abscessos.

 

CO-INFECÇÕES MAIS FREQUENTES DOS AGENTES PATOGÊNICOS

 

O complexo respiratório suíno é o resultado da ação de diferentes agentes (primários, oportunistas ou ocasionais), em condições ambientais adversas e em um manejo deficiente. As principais associações de patógenos respiratórios e seus efeitos observados estão na tabela abaixo:

 

PATÓGENOS

CARACTERÍSTICAS

PRRS + M. hyopneumoniae

Aumenta e prolonga a pneumonia pelo vírus da PRRS

PRRS + Influenza porcina

Sinais respiratórios mais acentuados, maior retardo no crescimento.

PRRS + PCV2

Refugagem é maior.

PRRS + S. suis

Sinais nervosos mais acentuados, maior mortalidade.

PRRS + H. parasuis

Aumento da incidência de poliserosite na granja

PRRS + S. choleraesuis

Sintomas mais acentuados.

PRRS + A. pleuropneumoniae

As lesões e a clínica não é potencializada.

PRRS + P. multocida

As lesões e a clínica não é potencializada.

M. hyopneumoniae + Influenza Porcina

Sinais respiratórios e lesões pneumônicas mais acentuadas.

M. hyopneumoniae + PCV2

Lesões pneumônicas são potencializadas e refugagem é maior.

M. hyopneumoniae + P. multocida

Sinais respiratórios e lesões pulmonares são acentuadas.

M. hyopneumoniae + A. pleuropneumoniae

Lesões pneumôpnicas são mais graves.

 

Dica baseada na palestra de Francisco José Pallarés, PorkExpo 2010.

 

CODIGO

EXAMES

PRAZO DIAS

S51

BACTERIOLOGIA SISTEMA RESPIRATÓRIO

Material: Swabs nasais e de pulmão ou cabeça e pulmão;

Pesquisa: Actinobacillus pleuropneumoniae, Bordetella bronchseptica, Haemophillus parasuis,

Pasteurella multocida e antibiogramas.

5

S56

APP - MÉTODO ELISA   

Amostra: Soro

3

S09

APP - MÉTODO TESTE BAHIA  

Amostra: Soro 

5

S64

Bordetella bronchiseptica

Amostra: Soro

2

S05

PMT - Pasteurella multocida TOXIGÊNICA

Amostra: Soro

2

S16

ISOLAMENTO - Streptococcus suis

Amostra: Cabeça ou swab do sistema nervoso central

5

A18/S

PESQUISA DE Salmonella 

Amostra: Swab ou fezes

5

S08

Mycoplasma hyopneumoniae - MH KIT IDEXX

Amostra: Soro                                                           

3

S06

PRRS – ELISA

Amostra: Soro

3

S95

CIRCOVIROSE DETECCAO DE ANTIGENO PCV2 

Amostra: Soro

2

BIO

HISTOPATOLOGIA – BIOPSIA

Amostra: Fragmento de órgão em formol 10%

5

S83

IMUNOHISTOQUÍMICA PARA CIRCOVÍRUS

Amostra: Fragmento de órgão em formol 10%

5

 

 


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