LESÕES PULMONARES NO COMPLEXO RESPIRATÓRIO
DOS SUÍNOS: DIFERENCIAÇÃO E DIAGNÓSTICO - PARTE I e II
INTRODUÇÃO
As doenças respiratórias são uma importante causa de perdas econômicas, devido
tanto ao atraso no crescimento quanto às perdas com mortes de animais. Na
maioria dos casos, a aparição destas doenças se relaciona com a ação conjunta
de vários patógenos (primários e ocasionais),
condições ambientais e de manejo inadequadas. Desta forma, estamos diante de
uma doença multifatorial, que tem sido chamada de Complexo Respiratório dos
Suínos.
A maioria das doenças respiratórias pode ser observada na fase da terminação,
embora algumas possam ocorrer em outras fases como o desmame ou a recria, ou
estarem associadas a uma fase determinada (figura 1).
Figura 1: Correlação entre a idade dos animais e a
apresentação dos principais patógenos respiratórios.
O tipo de lesão pulmonar será muito útil para
estabelecer o diagnóstico. Dentre os diferentes tipos podemos encontrar:
1-
Broncopneumonia: o agente etiológico,
normalmente, uma bactéria entra pelo aparelho respiratório e afeta os lóbulos
apicais e mediais, que apresentam uma cor vermelho intenso e um acentuado
aumento na consistência e tamanho. Além disso, a reação inflamatória
localiza-se nos alvéolos e brônquios. Esta lesão pode ocorrer de duas formas
principais quanto ao tipo de exsudato:
a) Broncopneumonia fibrinosa: está
relacionada, principalmente, a infecções por bactérias de alta virulência e se
caracteriza pelo depósito de fibrina. Muitas vezes, há necrose e/ou hemorragias
graves. Se o processo se torna crônico, encontraremos focos de fibroplasia com deposição de tecido conjuntivo.
b) Broncopneumonia purulenta: a reação
inflamatória é acompanhada de uma descarga de exsudato
purulento (neutrofílico) nas vias aéreas (brônquios,
bronquíolos e alvéolos). Nas formas crônicas podem obstruir os brônquios,
formando abscessos nos lobos apicais e/ou mediais.
2-
Pneumonia bronco-intersticial: o
agente, normalmente um vírus, atinge o pulmão por diferentes vias e provoca uma
reação inflamatória que se localiza principalmente nos septos alveolares e peri-bronquiais. Há um aumento de
consistência e, em menor número, um aumento de tamanho. Os septos lobulares
tornam-se mais evidentes e mais espessos.
3-
Pneumonia intersticial: está
associada principalmente a infecções virais. Mas quanto causada por bactérias,
estas atingem os pulmões por via hematológica e a reação inflamatória
localiza-se nos septos alveolares principalmente. Embora não afete todos os
componentes do parênquima pulmonar, este apresenta uma consistência firme que
não demonstra-se colapsado ao ser retirado da cavidade
torácica. A lesão pode ser difusa, apresentando o pulmão uma coloração normal
ou não com os septos lobulares bastante evidentes.
4-
Pneumonia embólica: ocorre em
processos trombo-embólicos septicêmicos
ou não. As bactérias chegam por via sanguínea e se distribuem por todo o pulmão
desenvolvendo lesões multifocais aleatórias, onde nas formas agudas são
rodeadas por um halo avermelhado. Enquanto que, nas formas crônicas são
geralmente marcados por uma faixa de tecido conjuntivo.
Tabela 1: Classificação
dos agentes etiológicos dos processos respiratórios segundo o tipo de lesão pulmonar
que produzem.
Pneumonia/Broncopneumonia/Pleurite
fibrinosa ou purulenta |
Pneumonia broncointersticial |
Pneumonia
intersticial |
Pneumonia embólica |
Actinobacillus pleuropneumoniae Pasteurella multocida Streptococcus suis Haemophilus parasuis Actinobacillus suis |
Virus da Influenza suína Coronavirus respiratório suíno Mycoplasma hyopneumoniae |
Virus da PRRS PCV2 Adenovirus |
Streptococcus suis Arcanobacterium pyogenes Mycobacterium bovis Salmonella choleraesuis |
Os patógenos respiratórios
suínos podem ser divididos em 3 grupos: primários, oportunistas e ocasionais
(tabela 2). Os primários são aqueles capazes de induzir a doença clínica e
lesões por si só. Os oportunistas são aqueles que normalmente induzem a doença subclínica, caso o animal esteja em um estado de
imunossupressão ou que a infecção seja complicada pela ação de outros patógenos. Os ocasionais são aqueles patógenos
que de forma esporádica estão relacionados com uma doença respiratória, ou
quando o desenvolvimento de lesões pulmonares é parte de um processo séptico.
Tabela 2: Classificação de
alguns patógenos encontrados do sistema respiratório
de suínos.
|
Primários |
Oportunistas |
Ocasionais |
Vírus |
PRRS Influenza suína PCV2 Doença de Aujeszky |
Coronavirus respiratório suíno Citomegalovirus suíno |
Encefalite hemaglutinante Adenovirus Encefalomiocardite |
Micoplasmas |
Mycoplasma hyopneumoniae |
Mycoplasma hyorhinis |
|
Bactérias |
Actinobacillus pleuropneumoniae Pasteurella multocida (cepas de alta virulencia) |
Streptococcus suis Haemophilus parasuis Pasteurella multocida (a maioria das cepas) |
Actinobacillus suis Salmonella choleraesuis Arcanobacterium pyogenes |
DOENÇAS RESPIRATÓRIAS CAUSADAS POR PATÓGENOS PRIMÁRIOS
Circovírus suíno tipo 2 (PCV2)
Este vírus, pertencente à família circoviridae, é o agente causador da síndrome multissistêmica do definhamento suíno. Uma doença que afeta
principalmente leitões, entre 5 e 18 semanas.
Os sinais clínicos mais característicos incluem emagrecimento progressivo,
dispnéia e taquipnéia. Junto com estes sintomas
também podem ser vistos icterícia, palidez de mucosas e diarréia. A lesão mais
característica desta síndrome é a existência de um acentuado aumento no tamanho
dos linfonodos, especialmente os inguinais
superficiais. Além disso, os pulmões não colapsam na abertura da cavidade
torácica e apresentam pneumonia intersticial.
Doença de Aujeszky
Esta doença é produzida por um vírus
pertencente à família Herpesviridae. Embora o vírus
possa afetar animais de todas as idades, nos últimos anos, o processo aparece sobretudo em animais de engorda e marrãs. O vírus tem uma
afinidade para o sistema nervoso e respiratório, e neste último prejudica o
aparelho muco-ciliar.
Os sinais clínicos dependem da dose
infectante e da idade dos animais infectados. Assim, enquanto os suínos jovens
apresentam principalmente sintomas nervosos, os mais velhos apresentam sintomas
nervosos e respiratórios. As vias respiratórias apresentam-se congestivas,
edematosas, com pequenas úlceras ou focos de necrose e recobertas por um
exsudado seroso ou muco-purulento (infecção bacteriana secundária). Nos
pulmões, a observação de lesões macroscópicas é pouco freqüente, embora, edema
intersticial, hemorragias e, em algumas ocasiões, focos de necrose de pequeno
tamanho possam ser identificadas.
Mycoplasma hyopneumoniae
M. hyopneumoniae é o patógeno
primário da pneumonia enzoótica suína, um processo
crônico que é o resultado da ação combinada deste agente, que coloniza o
epitélio bronquial provocando a perda dos cílios e reduzindo a função do
aparato muco-ciliar (figura 1), com predisposição à infecção por outras
bactérias como Pasteurella multocida. A pneumonia enzoótica
é uma enfermidade presente na maioria das criações. Estima-se que,
aproximadamente, 80% dos animais sacrificados no abatedouro apresentam lesões
compatíveis com este processo, enquanto possui uma alta morbidade, a
mortalidade é muito baixa.
Figura 1: M. hyopnemoniae aderido aos cílios. Fonte: Retirado
do site microbewik.
Este processo pode apresentar-se de
forma aguda ou crônica. A forma aguda ocorre quando a doença aparece em uma
granja livre do patógeno e se apresenta com anorexia,
hipertermia, tosse e morte de leitões e suínos
adultos. Na forma crônica, que é a mais comum, os animais apresentam tosse
esporádica e não produtiva, ligeira hipertermia e retardo no crescimento.
Actinobacillus pleuropneumoniae
Nesta bactéria, cuja virulência está relacionada com sua cápsula, os lipopolissacarídeos de sua parede e diferentes toxinas (ApxI, ApxII
e ApxIII), são a causa da pleuropneumonia
suína, uma doença cuja apresentação é favorecida por situações de estresse,
mudanças ambientais e a infecção concomitante de vírus ou micoplasmas.
O pulmão apresenta uma pleuropneumonia fibrinosa (figura 2), caracterizada pela presença de áreas
firmes, friáveis, de cor avermelhada a enegrecida, com superfície elevada e
localizada, sobre tudo, nas porções dorsos-caudais. A pleura aparece recoberta
por fibrina de forma focal ou difusa na cavidade nasal e na traquéia pode
apresentar um líquido espumoso e/ou sanguinolento. Nos casos crônicos,
observamos nódulos pulmonares de tamanho variável e cor cinza, que podem conter
material caseoso amarelado, estando a pleura espessada e com aderências na parede costal.
Figura 2: Pleuropneumonia
fibrinosa em um suíno de 3 meses de idade assossiada à infecção por A. pleuropneumonia.
Fonte: Retirado do site do Departamento de Agricultura da Irlanda.
Bordetella bronchiseptica
Esta bactéria, associada ao desenvolvimento de rinite atrófica
e de pneumonias em suínos jovens, é, ao mesmo tempo, um patógeno
secundário implicado em casos de doenças respiratórias em animais de recria e
terminação.
Macroscopicamente, junto com uma atrofia variável dos cornetos nasais, podemos
observar como a mucosa nasal aparece congestiva e recoberta por um exsudato muco-purulento. As lesões pulmonares consistem de
uma broncopneumonia, caracterizada pela presença de áreas de consolidação de
cor vermelha ou cinza nos lóbulos apicais.
Pasteurella multocida
Esta bactéria pode ser isolada na cavidade nasal e nas tonsilas de animais
sãos, estando os processos pneumônicos relacionados com o tipo
A e, em menor grau, com o tipo D. O tipo D toxigênico
(ligado a uma dermonecrotoxina) e, em ocasiões o tipo
A, estão implicados junto com B. bronchiseptica no
desenvolvimento da rinite atrófica progressiva. Um
processo que é favorecido por outra série de fatores como deficiências
nutricionais, fatores genéticos ou condições de manejo e instalações
deficientes.
Na rinite atrófica progressiva os animais irão
apresentar estertores, ruídos ao respirar e descarga nasal mucopurulenta
que, em algumas situações, pode ser hemorrágica. A lesão mais característica é
a atrofia dos cornetos nasais, que pode ser uni ou bilateral e pode vir
acompanhada de desvio do focinho e deformações ósseas.
DOENÇAS RESPIRATÓRIAS CAUSADAS POR PATÓGENOS OPORTUNISTAS
Mycoplasma hyorhinis
Este Mycoplasma afeta principalmente animais
entre 3 e 10 semanas de vida e, ocasionalmente, adultos jovens, dando lugar a
um quadro agudo de poliserosite, com uma pleurite fibrinosa ou fibrinopurulenta,
que ao cronificar-se pode dar lugar a fibroses.
Streptococcus suis
Esta bactéria está associada a quadros de septicemia, artrites, meningites e
pneumonias. Os sinais clínicos caracterizam-se pela presença de mortes súbitas,
febre, depressão, dispnéia, artrites e sintomas nervosos como tremores,
convulsões, opistótonos e nistagmos.
Os animais apresentam um quadro septicêmico
caracterizado pelo desenvolvimento de meningites, endocardites, poliserosite fibrinosa e, no
pulmão, podemos encontrar uma broncopneumonia fibrinosa
ou purulenta ou, ainda, uma pneumonia embólica.
Haemophilus parasuis
Esta bactéria que pode ser isolada da cavidade nasal de suínos saudáveis, é o agente causador da Doença de Glässer,
uma poliserosite fibrinosa
que se relaciona com estados de estresse e que afeta os animais de
DOENÇAS RESPIRATÓRIAS CAUSADAS POR PATÓGENOS OCASIONAIS
Salmonella choleraesuis
Os quadros septicêmicos podem aparecer em qualquer
idade, entretanto são mais freqüentes nos animais desmamados. Os animais mostram
áreas hiperêmicas ou cianóticas na pele,
principalmente nas orelhas, extremidades e abdômen. Na necropsia, as lesões
mais características correspondem a uma pneumonia nos lóbulos apicais e médios,
esplenomegalia, hepatomegalia,
acompanhada pela presença de focos de necroses e hemorragias renais e nos
nódulos linfáticos, que ao mesmo tempo aparecem aumentados de tamanho.
Actinobacillus suis
É um patógeno pouco comum e surtos desta doença
aparecem, frequentemente, em granjas de alto status sanitário.
Os sinais clínicos são cianose, tosse, inflamação de extremidades e
articulações, lesões na pele semelhantes às produzidas na erisipela e morte
súbita. As lesões pulmonares são semelhantes às produzidas por A. pleuropneumoniae. Além do pulmão, ocorrem hemorragias
na pele, fígado, intestino, rins e coração.
Arcanobacterium pyogenes
Bactéria encontrada normalmente na pele e nas mucosas dos suínos saudáveis,
sendo um oportunista que invade os tecidos danificados, tais como feridas na
pele ou nas caudas e orelhas que tenham sido mordidas. No pulmão há uma
pneumonia embólica caracterizada pelo aparecimento de pequenos focos
esbranquiçados rodeados por um halo hiperêmico nas
formas agudas, que podem evoluir para a forma de abscessos.
CO-INFECÇÕES MAIS FREQUENTES DOS AGENTES PATOGÊNICOS
O complexo respiratório suíno é o
resultado da ação de diferentes agentes (primários, oportunistas ou
ocasionais), em condições ambientais adversas e em um manejo deficiente. As
principais associações de patógenos respiratórios e
seus efeitos observados estão na tabela abaixo:
PATÓGENOS |
CARACTERÍSTICAS |
PRRS + M.
hyopneumoniae |
Aumenta e
prolonga a pneumonia pelo vírus da PRRS |
PRRS +
Influenza porcina |
Sinais
respiratórios mais acentuados, maior retardo no crescimento. |
PRRS +
PCV2 |
Refugagem é maior. |
PRRS + S.
suis |
Sinais
nervosos mais acentuados, maior mortalidade. |
PRRS + H.
parasuis |
Aumento
da incidência de poliserosite na granja |
PRRS + S.
choleraesuis |
Sintomas
mais acentuados. |
PRRS + A.
pleuropneumoniae |
As lesões
e a clínica não é potencializada. |
PRRS + P.
multocida |
As lesões
e a clínica não é potencializada. |
M. hyopneumoniae + Influenza Porcina |
Sinais
respiratórios e lesões pneumônicas mais acentuadas. |
M. hyopneumoniae + PCV2 |
Lesões
pneumônicas são potencializadas e refugagem é
maior. |
M. hyopneumoniae + P. multocida |
Sinais
respiratórios e lesões pulmonares são acentuadas. |
M. hyopneumoniae + A. pleuropneumoniae |
Lesões pneumôpnicas são mais graves. |
Dica baseada na palestra de Francisco José Pallarés, PorkExpo
2010.
CODIGO |
EXAMES |
PRAZO DIAS |
S51 |
BACTERIOLOGIA
SISTEMA RESPIRATÓRIO Material:
Swabs nasais e de pulmão ou cabeça e pulmão; Pesquisa:
Actinobacillus pleuropneumoniae,
Bordetella bronchseptica,
Haemophillus parasuis, Pasteurella multocida e antibiogramas. |
5 |
S56 |
APP -
MÉTODO ELISA Amostra: Soro |
3 |
S09 |
APP -
MÉTODO TESTE BAHIA Amostra: Soro |
5 |
S64 |
Bordetella bronchiseptica Amostra: Soro |
2 |
S05 |
PMT - Pasteurella multocida
TOXIGÊNICA Amostra: Soro |
2 |
S16 |
ISOLAMENTO
- Streptococcus suis Amostra: Cabeça ou swab
do sistema nervoso central |
5 |
A18/S |
PESQUISA
DE Salmonella Amostra: Swab ou fezes |
5 |
S08 |
Mycoplasma hyopneumoniae - MH KIT IDEXX Amostra:
Soro
|
3 |
S06 |
PRRS –
ELISA Amostra: Soro |
3 |
S95 |
CIRCOVIROSE
DETECCAO DE ANTIGENO PCV2 Amostra: Soro |
2 |
BIO |
HISTOPATOLOGIA
– BIOPSIA Amostra: Fragmento de órgão em formol 10% |
5 |
S83 |
IMUNOHISTOQUÍMICA
PARA CIRCOVÍRUS Amostra: Fragmento de órgão em formol 10% |
5 |