Autor : Jose Sidney Flemming
A produção de suínos no Brasil tem se
caracterizado por ganhos expressivos na última década, fundamentado em avanços
genéticos nutricionais e tecnológicos. A produção de animais tem como objetivo
principal atender a demanda crescente da indústria por carcaças de boa
qualidade, observando-se as recomendações do mercado internacional quanto às práticas
de conforto e bem estar animal. Assim, a exigência atual é por animais criados
em condições de conforto ambiental e com estresse mínimo, procurando-se não
elevar os custos de produção.
Entretanto, na maioria dos sistemas de criação são corriqueiras a superlotação
de instalações, manejo inadequado e
desequilíbrio nutricional, induzindo os animais a situações de estresse com
relativa freqüência. Esta situação é freqüente no desmame, nas transferências
para creches e de todo ciclo, culminando com o transporte e o pré- abate. Como
resultado do estresse, os animais apresentam perdas no desempenho, menor ganho
de peso e conversão alimentar com diminuição da imunidade, tornando-se mais
susceptíveis a doenças e perda de qualidade de carcaça. Estes fatores podem ser
agravados pelo estresse térmico, que determina alterações na fisiologia e
metabolismo com reflexos no sistema endocrinológico, afetando a homeostase com efeitos negativos na qualidade da carne (Li et al ,
2006).
O somatório destes fatores, acrescidos a orientação genética para a produção de
carne magra provocou modificações na composição e características bioquímicas
do músculo. Dentre estas alterações, adquirem importância aquelas ligadas ao
gene do estresse suíno, também chamado de gene halotano
(gene hal), que codifica a
proteína reguladora do fluxo de cálcio (rianodina)
para os canais liberadores de cálcio (CRC) do retículo sarcoplasmático do músculo
esquelético (Fujii et al.,
1991). Este gene está associado com o aparecimento da Síndrome do Estresse
Suíno (PSS), e com o aparecimento de carnes com características de baixa
capacidade de retenção de água, textura flácida e cor pálida, com elevadas perdas
de água durante o processamento. Este comprometimento na qualidade da formação
das carnes recebeu a denominação de PSE (sigla inglesa de Pale,
Soft e Exudative), ou seja,
carne pálida, mole e exudativa que é indesejável
tanto para os consumidores como para a indústria de processamento (Jaturasitha, 2000). Pesquisadores têm correlacionado o
aparecimento da PSE com o estresse e dietas deficientes em aminoácidos (Ekkel, et
al 1997; Li et al 2006; Koopmans,et al 2006).
Aldeola & Ball (1992) realizaram amplo estudo
com o controle do estresse, e constataram que um grupo de aminas está
relacionado à formação de neurotransmissores envolvidos no mecanismo do
estresse, que incluem a serotonina (5-hidroxitriptamina) e também as catecolaminas (adrenalina,
noradrenalina e dopamina). Cita que estes são sintetizados na sua grande
maioria a partir da decarboxilação de aminoácidos
aromáticos (fenilalanina, tirosina e triptofano) e que a tirosina pode ser obtida da fenilalanina sendo o aminoácido precursor das catecolaminas.
A serotonina é em grande parte condicionada pela
proporção de triptofano e
aminoácidos neutros de cadeia longa como a tirosina e leucina, ou ainda,
aqueles conhecidos como BCCAs, que são a fenilalanina, isoleucina, valina.
Pesquisas foram conduzidas e direcionadas no sentido de avaliar o real
envolvimento de fatores dietéticos com a produção de serotonina
e catecolaminas, e ainda se estas poderiam ser manipuladas através do
fornecimento de uma alimentação com maiores inclusões de triptofano
e tirosina para suínos, principalmente em dietas pré abate (Fernstrom1994, Liebermann 1994, Li et
al 2006). Luo et al,
(1992) constataram que o 5-hidroxi-triptofano e os
aminoácidos neutros de cadeia longa, principalmente a tirosina competem para
entrar na barreira hemato-encefálica através do mesmo
sistema de transporte enquanto que somente o 5-hidroxi-triptofano
leva à produção de serotonina; daí a importância da
relação do triptofano com estes
aminoácidos. A concentração e perfil da proteína das dietas engorda e pré abate afetam a fisiologia do animal durante o período ante-mortem, mas efeitos específicos de aminoácidos
selecionados não têm sido reportados. A utilização de aminoácidos no intuito de
manipular o estresse com efeitos na melhora da carcaça pode ser resumida nos
seguintes mecanismos:
a)Fornecer aminoácidos que tenham efeitos reguladores no mecanismo do estresse
como os substratos para neurotransmissores;
b) ou ainda, que participem ativamente da síntese protéica;
c) ou que funcionem como substratos para neoglicogenese.
A suplementação de suínos com tirosina,
um aminoácido neutro de cadeia longa tem sido explorada como uma estratégia
nutricional para reduzir as conseqüências do estresse agudo que caracteriza o
pré-abate, onde a tirosina funcionaria como um precursor do neurotransmissor
dopamina (DA), cujo processo tem início com a tirosina hidroxilase, e o produto dessa reação é a diidroxifenilalanina (DOPA). O produto de descarboxilação da DOPA é convertido, na medula adrenal, em
norepinefrina e epinefrina
(ou adrenalina). Podem-se referir como principais efeitos da dopamina e seus
precursores (norepinefrina e epinefrina)
um aumento na freqüência cardíaca, com aumento na demanda de oxigênio.
Esta alteração desencadeia um processo fisiológico com constrição das
arteríolas da pele e mucosas, associada à dilatação dos vasos que irrigam o
fígado e a musculatura esquelética. Estes fatores induzem a um aumento da
permeabilidade com influxo de sódio e cálcio, provocando vasodilatação,
e relaxamento da musculatura lisa, como principal efeito metabólico é notado a lipólise, com degradação de triglicerídeos. Este
comprometimento da síntese de catecolaminas torna os animais menos resistentes
ao estresse desenvolvendo um conjunto de comportamentos contraproducentes
caracterizado por mudanças fisiológicas (Lieberman,
1994). Estudos com a administração de tirosina antes de situações estressantes
têm assegurado níveis adequados de norepinefrina,
protegendo parcialmente os animais das conseqüências comportamentais do
estresse (Luo et
al., 1992). A administração prévia de tirosina aos animais antes do estresse
pode ajudar a regular a resposta a formação do cortisol, com a norepinefrina suprimindo a síntese do cortisol via hormônio
adrenocorticotrópico hipofisário.
As implicações da suplementação de tirosina na fase ante-mortem
de suínos não tem sido totalmente explorada. Adeola and Ball (1992) constataram que a utilização de 10g de L-
tirosina /kg de ração nos cinco dias antes do abate de suínos aumentava
significativamente a concentração de tirosina no plasma, com diminuição dos
níveis de cortisol. Entretanto, quando a tirosina foi utilizada em suínos
altamente estressados por transporte e manejo
apenas poucas horas antes do pré abate, não se evidenciaram alterações na cor e
pH do lombo ou pernil.
O triptofano origina a serotonina que é um neurotransmissor presente no cérebro e
causa contração da musculatura lisa de arteríolas e bronquíolos. Koopmans et al
(2006) referem que o triptofano compete com os
aminoácidos neutros de cadeia longa (LNAA) como a tirosina e fenilalanina, bem como com os BCCA´s
leucina isoleucina e fenilalanina
para o transporte através da membrana hematoencefálica.
Fernstrom (1994) demonstrou que a suplementação
destes aminoácidos em duas a quatro vezes reduziam grandemente a atividade de serotonina no cérebro, contudo os carboidratos da dieta
podem potencializar o efeito do triptofano afetando a
qualidade do músculo. Roberts et
al (1996) constataram que a suplementação extra de triptofano diminuía a formação de dopamina β- hidrolixase modificando o fluxo das catecolaminas, mas os
efeitos práticos sobre a qualidade de carcaça não foram significativos.
A falta de energia durante o jejum pré abate
oriunda da extinção das reservas de glicogênio, faz com que entrem em ação outras vias metabólica de produção de energia. A primeira é
representada pelas vias metabólicas capazes de transformar os ácidos graxos da
reserva lipídica
Concluindo, pode-se afirmar que a complexidade
das interações entre os diferentes nutrientes abre um amplo espaço para o
desenvolvimento de pesquisas e estudos, enfatizando-se a procura por melhores carcaça e a preservação do bem estar animal.