Autor : Fernanda Medeiros Gonçalves *, Marcio N. Corrêa,
Marcos A. Anciuti, Fabiane
P. Gentilini, Jerri
Teixeira Zanusso, Fernando Rutz.
Resumo:
O objetivo desta revisão é relatar a situação
de estudos em nutrigenômica em sistemas de
produção animal discutindo perspectivas quanto à utilização prática das
interações entre nutrição e genótipo e os benefícios
produtivos relacionados. A importância da nutrição para a saúde e
sua influência na ocorrência de doenças já é comprovada
cientificamente por instituições de pesquisa. A conversão metabólica
de componentes da dieta atua como um mecanismo de controle para a expressão
genética. Desta forma, estudos em nutrigenômica têm
despertado o interesse de cientistas, buscando entender a maneira como a
alimentação regula a expressão de genes. O conhecimento de que a interação
dieta-genoma possa contribuir para resolução de doenças crônicas ainda é
discutido mundialmente, e o mecanismo de atuação de
componentes dietéticos em nível molecular, ainda não foi evidenciado.
Em sistemas intensivos de produção animal, esta área de
estudos contribuirá para um melhor aproveitamento dos
ingredientes das rações os quais representam um percentual considerável
nos custos de produção. A necessidade em fornecer
ingredientes naturais e biodisponíveis em dietas
para animais, motiva a pesquisa em nutrição e alimentação animal para o conhecimento de como determinados
nutrientes irão atuar nos sistemas orgânicos e, conseqüentemente, melhorar
o desempenho zootécnico e padrão sanitário dos efectivos
animais. De acordo com o que foi descrito, o artigo de revisão abordará a
aplicação desta ciência em sistemas de produção animal bem como os estudos
já desenvolvidos nesta área.
Introdução
Em sistemas de produção animal que visam obter alimentos para consumo humano, a maior parte dos custos, independente da espécie animal a ser explorada, concentra-se nas despesas com a alimentação dos rebanhos. Estima-se que tal despesa represente de 70 a 80% do total de recursos despendidos em um sistema de produção animal intensivo. A precisão na determinação dos ingredientes ideais que irão favorecer índices zootécnicos de interesse pode ser a solução para reduzir esse custo com alimentação (Berchielli et al., 2006).
Um adequado consumo de macro e
micronutrientes que considere a idade, a constituição genética e
o metabolismo de cada indivíduo, permite uma melhoria na saúde e na
eficiência produtiva a um baixo custo em relação a outros procedimentos (Ames, 2004). A importância da interação entre nutrição
e saúde é evidente em um sistema de produção animal, ainda que
fatores ligados a ambiente e manejo
também influenciem o desempenho produtivo do indivíduo e do rebanho
por conseqüência. Nesse contexto, alguns alimentos poderão apresentar-se
como componentes bioativos na proteção do
organismo contra enfermidades que possam acometer os rebanhos (Afman e Muller, 2006; Ferguson, 2006), sendo que
alguns elementos como, selênio, vitamina E, ácido ascórbico e
carotenos, por exemplo, já foram identificados como agentes
protetores. Com o desenvolvimento de métodos bioquímicos e de
técnicas de biologia molecular, a elucidação dos mecanismos químicos de
ação de constituintes da dieta, assim como seus efeitos subseqüentes
em mecanismos homeostáticos relacionados à condição de saúde ou doença,
está avançando de forma rápida e gradual. O mapeamento do genoma humano e
ensaios realizados em modelos biológicos também possibilitaram a
condução de estudos e a identificação de genes responsáveis por reações
específicas ligadas a mudanças dietéticas em indivíduos susceptíveis
a determinadas enfermidades. Ainda que parte da informação sobre os
genes que constituem o código genético, suas respectivas localizações no
cromossoma, estrutura e função tenham sido identificadas, ainda serão
necessários estudos sobre a forma orquestrada em que os genes atuam no
metabolismo (Marti et al., 2005). Essas interações são
estudadas pela genômica da nutrição, ciência
conhecida como nutrigenômica. O termo faz
referência ao modo como certos nutrientes interagem com os genes de
um sistema orgânico em particular, favorecendo a síntese de proteínas
de forma benéfica ao indivíduo. Atualmente, muitas publicações na área de
nutrição e saúde humana têm utilizado conceitos de nutrigenômica para
estudar a prevenção e, em menor potencial, o tratamento de doenças
multifatoriais (Sedová e Seda, 2004; Ferguson,
2006; Trujillo et
al., 2006). Assim, trata-se de uma área da ciência em expansão e que
ainda necessita de muitos estudos para que ações sejam adotadas a fim de
maximizar os benefícios do melhor entendimento das interações gene-nutrientes. Ainda são escassos na
bibliografia mundial, estudos ou revisões que procurem
informar técnicos e pesquisadores dedicados as áreas de ciências
biológicas e agrárias sobre os conceitos e aplicações da nutrigenômica em sistemas de produção animal.O objetivo desta revisão é relatar a atual
situação de estudos de nutrigenômica bem como
discutir perspectivas do conhecimento e entendimento das interações
entre nutrição e genótipo para a saúde animal e, conseqüentemente, os benefícios
produtivos relacionados.
Nutrigenômica:
estado da arte.
A combinação de dados através de
projetos para mapeamento do genoma das espécies, e a disponibilidade
de ferramentas de alta tecnologia para a investigação da expressão gênica,
permitem o esclarecimento sobre a complexa interação entre nutrição e
genoma a qual afeta diretamente a função celular. Embora a nutrigenômica seja uma ciência recentemente
descoberta, o conhecimento de que componentes dos alimentos afetam a
expressão de determinados genes e, por conseqüência, a
expressão fenotípica, já esta claramente evidenciada (Bergmann et al., 2006). As informações
obtidas a partir de estudos de nutrigenômica poderão
orientar para a elaboração de uma dieta mais específica considerando a
condição de saúde dos animais e a composição nutricional
dos alimentos, o que poderá proporcionar melhores respostas
metabólicas e, conseqüentemente, de produção. Esta nova ciência permitirá
a prevenção de doenças importantes em humanos como obesidade, hipertensão
e diabetes, bem como otimizar as terapias para
estas enfermidades. Em animais também poderão ser prevenidas enfermidades
prevalentes, em especial àquelas ligadas a condição nutricional do
indivíduo (Sedová e Seda, 2004), como é o caso
da cetose, por exemplo, uma enfermidade de
etiologia metabólica a qual acomete principalmente rebanhos leiteiros
com condição corporal acima do preconizado no momento do parto (Ingvartsen,
2006). Desta maneira, poderão ser prevenidas doenças de origem metabólica
em função de uma correta nutrição dos rebanhos (Goodacre,
2007), através do mapeamento de genes relacionados a
expressão de determinadas características da espécie, sexo, padrão racial,
genético e que potencialmente sejam suprimidos por
componentes funcionais das dietas. Em aves domésticas, já
foram descritas várias diferenças no pareamento de bases (2,8
milhões) entre linhagens (International Chicken Polymorphism Map Consortium, 2004), evidenciando a ampla
diversidade genética em uma mesma espécie e, até mesmo, em um mesmo
gênero. A utilização das ferramentas para a pesquisa em nutrigenômica permitirá estudar os mecanismo
de nutrientes ou alimentos bioativos sobre a
expressão (transcrição e tradução) e sobre o metabolismo de genes,
especialmente sobre o mecanismo molecular e requerimento de nutrientes
(Jiang et al., 2004; Trujillo et al., 2006), bem
como sobre a forma em que alimentos bioativos
podem interagir entre si. Neste contexto a nutrigenômica
apresenta algumas premissas básicas (Trujillo et al., 2006):
- a dieta e os componentes dietéticos podem
alterar o risco de desenvolvimento de doenças, modulando os processos
múltiplos envolvidos com o início, a incidência, a progressão e/ou
severidade;
- os componentes do alimento podem agir
no genoma, direta ou indiretamente, alterando a expressão dos genes e
dos produtos destes;
- a dieta pode potencialmente compensar
ou acentuar efeitos de polimorfismos genéticos;
- as conseqüências de uma dieta são dependentes
do estado da saúde ou da doença e da genética de cada indivíduo;
- intervenções na dieta baseadas
fundamentalmente no conhecimento das necessidades nutricionais e
no genótipo, podem ser utilizadas para o desenvolvimento de planos
nutricionais individualizados que otimizem a
saúde e previnam ou minimizem os efeitos das doenças crônicas.
A possibilidade de adequar a alimentação às características do código genético de cada indivíduo, a fim terísticas do código genético de cada indivíduo, a fim de prevenir o desenvolvimento de certa enfermidade identificada geneticamente, tem estimulado pesquisadores de todo o mundo a aprofundar conhecimentos nesse segmento de pesquisa. Em estudos de laboratório, pesquisadores já verificaram que a lunasina encontrada na soja, influencia 123 genes envolvidos no surgimento do câncer de próstata auxiliando a interrupção no crescimento do tumor. Também foi evidenciado que o brócolis estimula a ação de genes envolvidos na produção de antioxidantes que atuam mantendo as artérias saudáveis (Moraes e Colla, 2006). Assim como a soja e o brócolis apresentam efeitos benéficos para saúde humana, atuando como coadjuvantes na prevenção de doenças, outros alimentos poderão igualmente atuar como suportes em tratamentos de doenças crônicas em animais de produção, uma vez que sejam estudadas e evidenciadas suas propriedades terapêuticas. Alguns alimentos têm sido estudados a fim de elucidar seus princípios ativos, entretanto, informações concretas de como estes componentes nutricionais atuam no processo de síntese de aminoácidos e proteínas, em nível de código genético, e a maneira como serão aplicadas, ainda não são totalmente esclarecidas.
Na área de clínica veterinária, alguns marcadores biológicos têm sido
utilizados como ferramentas para diagnóstico definitivo de alguma doença
ou, até mesmo, como medida de profilaxia. Um exemplo, é a utilização
de biomarcadores para a detecção de exposição à aflatoxinas (Lino et
al., 2007), as quais inibem a síntese proteica e
do DNA, promovem stress oxidativo, induzem a
fragmentação do DNA e interrompem o ciclo celular (Lino et al., 2004). Nos estudos em nutrigenômica,
utilizam-se técnicas como o microarranjo
para analisar as adaptações metabólicas que são induzidas pelas variações
da nutrição (Bauer et al., 2004). O microarranjo (gen chip) é uma
técnica experimental da biologia molecular que busca medir os níveis
de expressão de transcritos em larga escala, isto é, medindo muitos (em
alguns casos todos) transcritos simultaneamente. O desenvolvimento
da tecnologia de microarranjo permite aos
cientistas uma ferramenta para examinar sítios potenciais de ação
de componentes alimentares e suas interações com vários processos
celulares. Com o uso desta ferramenta, diversos genes e sua expressão
relativa são avaliados simultaneamente em células normais e doentes,
antes ou depois da exposição a diferentes componentes dietéticos.
Como exemplo de tal evolução, cita-se o progresso do projeto do genoma
suíno e de aves, o qual apresentou consideráveis avanços quanto
ao entendimento da seqüência de nucleotídeos associada a genes
específicos de suínos permitiu a produção comercial de microarranjos
individuais (gen chip) que podem ser utilizados
para avaliação de 23256 transcrições correspondentes a 20201 genes do
genoma desta espécie (Caetano et
al., 2004).
Estas informações podem auxiliar a descoberta
de novos biomarcadores para o diagnóstico de
doenças e a predição de prognóstico, além de novas
alternativas terapêuticas (Trujillo et al., 2006). O surgimento
dos estudos em nutrigenômica e em nutrigenética, dois campos com diferentes
abordagens para a elucidação da interação entre dieta e genes, possui
um objetivo final em comum: otimizar a saúde através de uma dieta personalizada
e fornecer poderosa aproximação para decifrar a complexa relação
entre moléculas nutricionais, polimorfismo genético e o sistema biológico
por inteiro (Mutch et al.,
2005). A nutrigenômica descreve o uso de
ferramentas para investigar um sistema biológico em particular, de
acordo com um estímulo nutricional que irá permitir o conhecimento de como
nutrientes influenciam mecanismos metabólicos e de
controles homeostáticos. Por outro lado, a nutrigenética
visa compreender como o tipo genético de um indivíduo coordena a
resposta deste a uma dieta, e isto considerando o polimorfismo genético. O
polimorfismo genético é reconhecido como um fator que pode alterar a
resposta a componentes da dieta (efeito da transcrição nutricional) por
influenciar a absorção, metabolismo ou sítio de ação (Kussmann
et al., 2006).
A nutrigenômica
em sistemas de produção animal.
Os estudos que estão sendo realizados na área da nutrigenômica
são, em maior parte, desenvolvidos em humanos. Desta maneira, ainda serão
necessários muitos ensaios para determinar e compreender
os benefícios advindos de nutrientes que sabidamente são responsáveis
por contribuir para um desempenho produtivo satisfatório, mas que ainda
não foram consolidados em relação a possíveis interações
com determinados genes em diferentes espécies. Neste contexto
inserem-se os minerais, nucleotídeos, aminoácidos, as vitaminas, dentre
outros elementos orgânicos que podem modificar a transcrição de
genes com o potencial de alterar as respostas biológicas
e metabólicas envolvidas em processos como o crescimento e a
diferenciação celular. Siske et al. (2000) observaram maior peso dos
ovos quando utilizaram zinco e manganês, ambos na forma orgânica, nas
dietas de aves produtoras de ovos. Em uma primeira análise, não se observa
uma correlação entre a suplementação de tais minerais e o
incremento de solutos e líquidos na composição do ovo. No entanto,
estes elementos atuam ativamente como co-fatores em processos enzimáticos
importantes para o organismo. A enzima anidrase
carbônica, por exemplo, necessita da presença de zinco para
catalisar a reação que produz ácido carbônico a partir de água e
dióxido de carbono (Slattery et al., 2004), necessária para a formação da
casca. É possível que outras reações orgânicas sejam direta ou
indiretamente influenciadas por diferentes minerais, e que
interações entre estes e o conteúdo genético do indivíduo ocorram
durante a exposição. A utilização de nutrientes com maior biodisponibilidade ao organismo poderá fornecer as
quantidades ideais de um determinado mineral após o estabelecimento da
dieta gênica para uma raça ou linhagem.
Em um experimento com cobaias, observou-se que ratos alimentados com uma
dieta pobre em selênio demonstraram um aumento na expressão de
genes envolvidos no processo de danificação do DNA, no estresse oxidativo e no controle do ciclo celular e, ainda,
apresentaram redução na expressão de genes envolvidos na detoxificação (Sreekumar et al., 2002).
Blanchard et al. (2001)
utilizaram arranjos de cDNA para demonstrar
mudanças na expressão gênica intestinal induzida por deficiência de zinco
em roedores. Estes estudos indicam que o perfil de expressão genética
pode ser utilizado para a detecção de doses subótimas
de micronutrientes essenciais utilizados nas dietas comerciais para as
diversas espécies de interesse zootécnico.
Os componentes do alimento com potencial bioativo modificarão diversos processos
simultaneamente. Assim, um dos desafios no campo da pesquisa é
a identificação de quais processos, ou a interação entre processos,
serão mais importantes para proporcionar uma mudança fenotípica (Trujillo et
al., 2006). Outro aspecto relevante a ser observado é a identificação
de quais doenças poderão ser prevenidas ou debeladas por uma
intervenção através da dieta. No estudo da relação nutrição-gene também
deverá ser considerado o fator ambiental como um agente modulador
da resposta, a qual será única frente às variadas condições
ambientais. A progressão de um fenótipo saudável para um fenótipo de doença
crônica deve ocorrer por mudanças na expressão de genes ou
por diferenças na atividade de proteínas e enzimas (Kaput e Rodriguez, 2004), sendo estas ativadas
ou suprimidas por agentes extrínsecos ao animal. Um grande número de
componentes dietéticos pode alterar eventos genéticos e, de tal modo,
influenciar a saúde. Além dos nutrientes essenciais, tais
como cálcio, zinco, selênio, folato, vitaminas C
e E, existe uma variedade de classes de
nutrientes não essenciais e de componentes bioativos
que parecem influenciar de maneira significativa a saúde. Estes
compostos essenciais e não essenciais do alimento,
sabidamente modificam um número de processos celulares associados à
prevenção de doenças, incluindo o metabolismo carcinogênico, o balanço
hormonal, mecanismos de sinalização celular, controle do
ciclo celular, apoptose e angiogênese (Davis e Uthus, 2004). A vitamina E, por exemplo, é um
potente seqüestrador de radicais livres e o mais
poderoso antioxidante lipossolúvel da natureza (Souza et al., 2006), sendo associada à defesa das
membranas extra e intracelulares contra espécies reativas que
danificam as células, conferindo, conseqüentemente, proteção
ao conteúdo genético destas estruturas. Souza et al. (2006) relataram efeitos positivos para
força de cisalhamento (força de corte) em músculos de frangos de
corte suplementados com níveis crescentes de vitamina E nas dietas,
atribuindo esta maior firmeza à função de proteção da vitamina E às
injúrias na membrana celular durante o processo de congelamento. Contudo,
tal resultado pode ser utilizado para uma investigação mais profunda,
associando a composição estrutural muscular de frangos suplementados
com vitamina mais firme à expressão de genes para a síntese de
proteínas estruturais da fibra muscular, por exemplo. Desta forma, uma avaliação
genômica da ação da vitamina E no organismo
animal conduziria a uma determinação mais específica sobre a
função estrutural deste nutriente. Uma questão sobre o selênio
interessante de ser destacada é que estudos demonstraram que este mineral
reduz a incidência de câncer no fígado, próstata e nos pulmões de humanos
(Clark et al., 1996).
Entretanto os indivíduos não respondem da mesma forma a suplementação com
selênio, já que a variabilidade genética consiste em um dos fatores
que contribuem para o nível e o tipo de resposta. A glutationa peroxidase é uma
enzima dependente de selênio que atua no sistema antioxidante da
membrana celular. Um polimorfismo no códon 198 da glutationa peroxidase em humanos resulta em uma substituição de
leucina por prolina, sendo este mecanismo
associado ao aumento do risco de câncer de pulmão (Singh
et al., 2006). Não
foram identificadas neste estudo as causas que influenciaram este
polimorfismo, no entanto, tal alteração pode estar relacionada a quantidade de selênio que é necessária para otimizar
a atividade da enzima. A eficácia do uso de selênio com diferentes
alelos para a glutationa peroxidase
não é totalmente conhecida (Hu e Diamond, 2003). A atividade da vitamina D constitui um outro exemplo sobre os efeitos mediados pela
expressão genômica de receptores para a mesma.
Por sua vez, a expressão de genes para estes receptores
são dependentes dos níveis de cálcio na dieta e do consumo de
Vitamina D (Slattery et al., 2004). Dada a importância desta vitamina
nos mais diferentes processos fisiológicos dos animais, informações
que possam maximizar os benefícios de seus efeitos, implicaram em
novas aplicações de conceitos nutricionais na formulação de dietas para
animais de produção. A nutrigenômica
em nutrição animal promete ser uma alternativa de grande utilidade
principalmente em sistemas de produção intensiva, onde a
alimentação contribui, associada a outros fatores inerentes
ao ambiente e métodos de manejo, com uma parcela significativa para a
melhoria do desempenho zootécnico dos lotes, bem como na rentabilidade
econômica das unidades. Para este aumento na
eficiência biológica, a aplicação de novas tecnologias em produção
animal serão responsáveis por custos de produção
mais baixos e competitivos. Nos domínios metabólico, genético, reprodutivo
e produtivo, novas técnicas que não apresentem riscos à saúde
pública e que sejam eticamente aceitas pelo consumidor, permitirão
aplicar no próximo século e nos sistemas de produção intensiva,
tecnologias de produção que incrementem o setor primário de produção
de alimentos (Portugal, 2002). Os princípios de nutrigenômica
a serem aplicados para animais de produção, poderão não ter somente
o objetivo de prevenir doenças relacionadas a alterações genéticas,
mas também correlacionar à utilização de certo nutriente em uma dieta
animal com o aumento de índices produtivos. As descobertas a serem
realizadas na próxima década utilizando ferramentas moleculares, tais
como os microarranjos, irão revolucionar nosso
entendimento básico sobre a fisiologia dos rebanhos e auxiliarão a definir
novos métodos para o controle nutricional dos animais. Em
longo prazo, provavelmente a transcrição destes perfis será capaz de
fornecer diversas ferramentas elementares para a avaliação do status
nutricional e fisiológico de um indivíduo, animal ou grupo de animais (Dawson, 2006). As técnicas utilizadas para a
elucidação da genômica nutricional não são
diferentes daquelas utilizadas nas pesquisas em genética molecular. Uma rede integrada que simultaneamente examina a genética
e associa polimorfismo com doenças ligadas a dietas (nutrigenética),
nutrientes induzindo a metilação do DNA e a
alteração da cromatina (epigenômica
nutricional), nutrientes que induzem mudanças na expressão gênica (transcriptômica nutricional) que alteram a formação
e/ou bioativação de proteínas (proteômica) irá permitir um completo entendimento da
inter relação entre dieta e desenvolvimento de doenças (Davis e Milner, 2004).
Alimentos funcionais.
O termo "funcional", bioativo ou nutracêutico, vem sendo
aplicado como conceito de alimentos que proporcionam um benefício
fisiológico adicional além das qualidades nutricionais básicas. Tais
alimentos também são vistos como promotores de saúde, sendo muitas
vezes associados a um tratamento profilático à instalação ou retardo de
alterações pré- estabelecidas (Moraes e Colla,
2006). Variações entre os alimentos ingeridos não somente influenciam
o consumo de componentes bioativos como alteram
o metabolismo celular, influenciando os sítios de ação de ambos nutrientes
essenciais e não essenciais (Milner,
2004). Segundo Diplock et al. (1999) foi definido consensualmente o
conceito europeu de alimento funcional como "um alimento em que está
satisfatoriamente demonstrado possuir efeito benéfico em uma ou
mais funções fisiológicas alvo, para promover a saúde e bem-estar
e/ou reduzir o risco de doença". Um alimento funcional deve assim
configurar-se, e seus efeitos devem ser demonstrados em doses que
possam ser normalmente esperadas em uma dieta. Embora associado, este
conceito não deve ser confundido com o conceito de nutracêutico,
o qual se refere a um composto químico presente naturalmente
nos alimentos ou substâncias encontradas naturalmente na natureza
possíveis de ser ingeridas, como as ervas aromáticas, por exemplo, que
sabiamente são benéficas para o organismo humano na prevenção
ou tratamento de uma ou mais doenças, reforçando as reações
fisiológicas. Embora, a maioria das substâncias de ocorrência natural benéficas a saúde originem-se de
plantas, também existem diversos componentes fisiologicamente ativos
em produtos de origem animal que devem ser destacados devido a função em
potencial na promoção de saúde como, por exemplo, os ácidos graxos
conjugados encontrados em produtos cárneos, principalmente (Prates e
Mateus, 2002). As recomendações nutricionais variam conforme a
espécie, sexo, categoria linhagem ou raça e, considerando estas
características, diversos manuais são elaborados baseados em exigências
específicas. Em muitas situações a formulação das dietas não permitem
a máxima expressão do potencial genético dos animais de produção,
desconsiderando o manejo nutricional como favorecedor do desempenho.
A maioria das vezes, tal medida é realizada através de ensaios que
avaliam o desempenho dos animais submetidos a uma dieta e também por
estudos de digestibilidade que determina,
através das excretas do animal, a porção do alimento ingerido que
realmente foi aproveitada pelo organismo. Estes ensaios, comuns nos
estudos de nutrição animal, necessitam de um melhor aproveitamento de seus
resultados, sendo necessário o conhecimento do sistema orgânico
que está sendo favorecido por determinado nutriente. Nesse sentido,
estudos de nutrigenômica permitiriam o
entendimento do efeito de alimentos bioativos
nas diversas funções celulares. Embora os estudos em nutrigenômica tenham progredido consideravelmente, a
complexidade da interação entre nutrientes e genes promove
questionamentos ainda não esclarecidos, impossibililitando
a aplicação dos benefícios relacionados a este novo conceito nos
sistemas de produção animal.
Conclusão
Considerando o que foi relatado nessa
revisão, entende-se que a variação genética individual
pode influenciar a maneira com que nutrientes são assimilados,
metabolizados, armazenados e excretados pelo organismo. Certamente o
estudo da nutrigenômica permitirá uma maior
compreensão de fatores ambientais e comportamentais que influenciam o
fenótipo, possibilitando a formulação de dietas que favoreçam
a condição de cada sistema de produção animal em especial,
personalizando estas unidades de produção. O sucesso em aplicação deste
novo conceito em nutrição possibilitará a maximização dos índices
de produtividade e, conseqüentemente, a rentabilidade da atividade
agropecuária. Para tal, muitos estudos ainda precisam ser
desenvolvidos a fim de identificar e validar o potencial de alimentos
ou componentes nutricionais que determinarão características ou condições
desejáveis no organismo animal ou mesmo minimizar as não desejáveis.