Autor : Julian Cristina Borosky
(Selko)
Atualmente, os custos envolvidos na
produção de suínos são muito elevados em detrimento de sua remuneração. Nesse
sentido, empresários e profissionais do ramo têm buscado intensificar a
produtividade dos rebanhos em busca de maiores retornos econômicos.
Um dos principais parâmetros que determina a excelência produtiva de uma UPL (Unidade
Produtora de Leitões) é a taxa de desmamados/ porca/ ano. Com o intuito de se
aumentar esse índice têm-se buscado reduzir de forma
eficiente o número de dias não produtivos das porcas e simultâneamente
tem-se reduzido o período de aleitamento.
Lima e colaboradores (2009) apontam que a idade de desmame utilizada
comercialmente tem sido reduzida drasticamente nas últimas quatro décadas,
passando de 56 dias para os atuais
Inúmeros trabalhos têm apontado o desmame como o evento mais crítico da vida do
leitão, onde um animal que ainda não tem uma maturidade fisiológica, anatômica
e imunológicas consolidadas (Silva, 2009), é submetido a vários fatores
estressantes de ordem nutricional, social, ambientais e de manejo (Morés e
Amaral, S.A.).
Não é de se estranhar que as patologias pós desmame, em especial aquelas de
ordem gastrointestinal sejam exaustivamente estudadas, pois sabe-se que devido
a esses fatores intrínsecos e extrínsecos ao animal haverá uma desregulação da flora microbiana do trato gastro intestinal, (figuras 1 e 2), e consequente
surgimento de diarréias.
Figura 1:. Relação
Lactobacilus x E. coli (log UFC/ g de mucosa)
pré e pós desmame (idade ao desmame, 26 dias) Adaptado de Mulder et al (1993)
Figura 2:. Relação
Lactobacilus x E. coli (%) pré e pós desmame (idade ao desmame, 26
dias) Adaptado de Mulder et al
(1993)
Durante décadas antibióticos foram utilizados na alimentação desses animais,
em doses subterapeuticas, com o intuito de se
controlar o crescimento desordenado de bactérias patogênicas e consequentemente controlar
diarréias nessa fase.
Todavia, com os banimentos de APC´s (antibióticos
promotores de crescimento) pela União Europa, na última década, e recentes
restrições pelas Autoridades Brasileiras para o uso dos mesmos em dietas
animais, esse conceito precisou ser revisto e ficou evidente a necessidade de
se adotar medidas específicas de nutrição, manejo, ambiência e sanidade que
atendam as necessidades dos animais nessa fase e que visam reduzir os fatores
estressantes aos quais eles são submetidos.
Dentro desse contexto, intensas pesquisas têm sido realizadas com o objetivo de
se encontrar aditivos alternativos que possam atuar como promotores de
crescimento e estabilizadores de flora intestinal.
Resumidamente, os estresses de ordem nutricional podem ser reduzidos através de
uma formulação adequada a fase e um manejo específico pré-desmame.
As dietas pré-iniciais devem ser formuladas com ingredientes de alta digestibilidade, livres de fatores antinutricionais
e alergênicos e com baixa capacidade tamponante, a
fim de se obter uma dieta final que atenda as necessidades nutricionais do
leitão e tenha uma capacidade tampão (CT) final em torno de
Em relação ao manejo nutricional, a
ração deve ser apresentada em poucas quantidades e várias vezes ao dia para os
leitões ainda na fase de aleitamento, para que os mesmos se condicionem a
comê-la e que se inicie a adaptação morfo-fisiológica
do trato gastro-intestinal ainda no pré-desmame.
Outro fator intrínseco ao consumo de ração e
menos abordado é o consumo de água. Os leitões devem ser apresentados a uma
fonte de água de qualidade e fresca ainda na fase de aleitamento, para que
fiquem condicionados a consumir água. Estudos mostram que a relação de consumo
de água x consumo de ração é de
Tabela 1:. Requerimento
de água e vazão dos bebedouros para leitões.
Essas medidas reduzirão o estresse nutricional pós desmame, pois os animais
submetidos a esse manejo retomarão o consumo de ração nos primeiros 7 dias pós
desmame mais rápido que animais que não receberam tal tratamento, reduzindo
assim as perdas zootécnicas comumente observadas nesse período.
Outro fator importante, referente a imaturidade
fisiológica do leitão refere-se a baixa acidificação estomacal.
Estudos mostram que leitões lactentes têm pH estomacal mais elevado que suínos
em fase de crescimento e terminação entre outros fatores, por terem deficiente
produção de ácido clorídrico. No entanto, a degradação da lactose por Lactobacillus sp.
produz ácido láctico o que auxilia a acidificação
estomacal, atuando tanto na degradação da caseína, na ativação da pepsina e
melhor digestibilidade do leite, como eliminando do
meio possíveis microorganismos patogênicos.
Dessa forma, presume-se que a insuficiência digestiva e desordens intestinais
de leitões desmamados podem estar parcialmente relacionadas às condições de
acidificação estomacal inadequada, resultando em baixa ativação da pepsina e
proliferação de microorganismos patogênicos (Rostagno;
Pupa, 1998).
Diversos autores pesquisaram o uso de ácidos orgânicos na dietas de leitões
mostrando o efeito benéfico desses produtos, tanto na acidificação estomacal
(figura 3) quanto na melhoria da digestibilidade da
dieta ao nível de duodeno. Costa (2011) apontam que os ácidos orgânicos
estimulam a secreção endócrina e exócrina do pâncreas, aumentando tanto a
produção de enzimas pancreáticas como a produção de bicarbonato de sódio.
Figura 3: Avaliação do pH estomacal de leitões desmamados com dietas sem inclusão
de ácidos orgânicos (AO) e com inclusão de ácidos orgânicos (AO) Selko BV (S.A.)
Outros estudos, porém, sugerem que os efeitos benéficos dos ácidos orgânicos
nesse contexto, variam segundo o tipo de ácido utilizado (fórmico, acético, butírico ...)
e também pelas propriedades químicas da dieta, pois sabe-se que minerais e
outros ingredientes tamponantes neutralizam o ácido presente
na ração.
Portanto, o uso de blends de ácidos orgânicos na água
de bebida dos animais se torna uma excelente ferramenta para atingir adequada
acidificação estomacal e melhorar a digestibilidade
da dieta, pois reune o efeito benéfico de diferentes ácidos
orgânicos e, por ser via água de bebida, não interage negativamente com as
propriedades químicas da ração.
Outro benefício do uso de ácidos orgânicos via água de bebida é a certeza do
tratamento de todo lote, pois sabe-se que animais doentes ou em período de
encubação do agente patogênico reduzem o consumo de ração, porém mantém o
consumo de água.
Infelizmente o desmame ocorre em uma idade em que o animal está perdendo a
imunidade passiva e está desenvolvendo a imunidade ativa, portanto seu status
imunológico é deficitário, seja por imunoglobulinas séricas (figura 4) ou seja
por imunoglobulinas de mucosa. Estudos apontam que a principal fonte de IgA para leitões é o leite da
porca, portanto, após o desmame não há IgA disponível
para proteção de enterócitos.
Figura 4:.
Nível de imunidade em relação à idade ao desmame Adaptado de Ristow (2005.)
Dessa forma os leitões desmamados estão susceptíveis a infecções e portanto é evidente a necessidade de adoção de medidas
sanitárias adequadas, como manejo de todos dentro todos fora e adotar um
procedimento de limpeza, desinfecção e vazio sanitários eficazes, a fim de se
reduzir a pressão de infecção ambiental e no animal.
A manutenção do equilíbrio da flora intestinal nesse período é imprescindível.
Embora durante anos utilizou-se antibiótico em doses subterapeuticas
com esse fim, sabe-se que essas drogas não são específicas, atuando tanto em
microorganismos patogênicos como aqueles ditos benéficos (ex. Lactobacillus), piorando o quadro de disbacteriose
pós desmame, o que ocasionava o uso ininterrupto dessas drogas.
Atualmente existem vários aditivos alternativos disponíveis com o intuito de
preservar e manter o equilíbrio da flora intestinal.
Entre eles, os ácidos orgânicos têm se destacado por apresentarem diferentes
formas de ação no trato gastro intestinal.
Inúmeros trabalhos têm apontado que o uso de ácidos orgânicos como o cítrico,
fórmico, propiônico, láctico, em dietas de leitões
desmamados têm ajudado a contornar problemas de baixo desempenho que
caracterizam a fase imediatamente após o desmame (Giesting,
Roos, Easter, 1991;
Radcliffe, Zhang, Kornegay,
1998).
Segundo Mroz (2002) os ácidos graxos de cadeia curta
(SCFA) desempenham um papel muito importante na regulação da ecologia luminal
do trato gastro-intestinal de não ruminantes, pois
são produzidos durante o processo de digestão.
Os sais de amônia de SCFA apresentam excelente resultado para controle
bactérias gram negativas
O ácido butírico protegido ou na forma de sais de
sódio (buritato de sódio) tem apresentado resultados
importantes na manutenção de integridade intestinal, por agir na junção
celular.
Novamente, embora os estudos salientem os benefícios dos ácidos orgânicos na
estabilização de flora intestinal esses benefícios dependem do tipo de ácido,
forma de apresentação e de possíveis interações aos ingredientes da dieta.
Mais uma vez os blends de ácidos orgânicos e seus
sais de amônia se mostram como excelente ferramenta para melhoria de desempenho
e estabilidade de flora intestinal, uma vez que agregam os efeitos benéficos
dos diferentes ácidos que o compõem e têm o benefício dos sais de amônia que
garantem a ação em bactérias patogênicas no trato gastro-intestinal.
Como pôde ser notado, em busca de melhores resultados
econômicos temos submetidos animais imaturos a condições ambientais
desfavoráveis. Cabe a nós, empresários e profissionais do ramo adequar a
nutrição, ambiente, manejo às condições anatomo-fisiológicas e imunitária desses
animais, bem como adotarmos em nossa rotina uso de aditivos promotores
de estabilidade da flora intestinal, a fim de se garantir o melhor desempenho
do mesmo durante toda sua vida produtiva.