Autor : Julian Cristina Borosky
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A nutrição
representa grande parte dos investimentos na produção animal, atingindo patamares próximo a 80% dos custos totais. No entanto,
quando nos referimos a nutrição pensamos quase que
exclusivamente na ração e nos fatores relacionados a ela que influenciam
positivamente, ou não, no desempenho dos animais. São poucos os materiais técnicos-científicos disponíveis que abordem o tema
"água de bebida" como um nutriente importante no desenvolvimento
animal e também referente a sua qualidade comovetor de microorganismos e restritor
do consumo de ração. A água, por constituir cerca de 70% da composição corporal
dos seres vivos, é um nutriente essencial. Sabe-se que os animais sobrevivem
uma ou duas semanas de jejum de sólidos, porém não resistem ao mesmo tempo de
jejum hídrico.Todavia, não é qualquer água que serve
para fornecimento aos animais. A água de bebida deve ser de qualidade
semelhante a recomendada ao consumo humano (portaria
518, Ministério da Saude). A qualidade físico-química
da água de bebida influencia diretamente o consumo de ração pelo animal, pois a
ingestão de água representa
Tabela 1: Requerimento de água
para suínos
A quantidade de sais
dissolvidos totais na água de bebida comprometem o desempenho animal,
provocando desde uma restrição de consumo a até aborto em porcas gestantes ou
óbito em suínos em terminação (CSIRO, 1990).Um estudo realizado na França com
130 suinocultores mostrou que 38% das granjas estudadas tinham problema com a
qualidade da água e as sintomatologias desenvolvidas pelos animais foram as
mais diversas possíveis (tabela 2).
A qualidade microbiológica da água é outro ponto
que merece atenção, pois esse nutriente passa a ser um
importante vetor de contaminação aos animais e também multiplicador de
microorganismos, pela formação de biofilmes nas tubulações do sistema hídrico.
Por definição, biofilmes são comunidades biológicas com um elevado grau de
organização, onde há formação de colônias estruturadas, coordenadas e
funcionais. (Davey e O´toole, 2000). A figura 1 demonstra esquematicamente
o desenvolvimento de biofilmes no sistema hídrico.
Figura 1: Formação de biofilme
em tubulação de água, esquematizada (Adaptado de Dreeszen,
2003.)
Segundo Dreeszen (2003)
o biofilme maduro de funções completas, é um tecido vivo na superfície da
tubulação. É uma comunidade metabolicamente cooperativa e complexa, composta de
diferentes microorganismos, cada uma vivendo em um micro nicho específico.
Essas comunidades encontram-se embebidas em matrizes polimétricas,
produzidas por elas, e podem se desenvolver em qualquer superfície úmida
(Araújo, 2007). A função principal dessas matrizes poliméricas é a proteção dos
microorganismos ali presentes, agindo inclusive como proteção aos produtos
normalmente utilizados como desinfectantes de
sistemas hídricos (Le Chevallier, 1988). A velocidade
de desenvolvimento dos biofilmes pode ser de algumas horas a até algumas
semanas, dependendo do sistema e da presença de solutos dissolvidos na água de
bebida. Outros trabalhos demonstram que sua formação se inicia quase que
imediatamente, mesmo em sistemas limpos, quando esses são preenchidos com água.
Estudos demonstram que superfícies metálicas
favorecem a aderência de microorganismos e formação de biofilmes, no entanto
não há conhecimento de superfícies que não haja agregação microbiana. A tabela
3 mostra a origem de alguns nutrientes em água pura que favorecem o crescimento
microbiano nos sistemas.
Tabela 3: Principais fontes de
nutriente em sistema hídrico de água pura.
Fonte: Dreeszen (2003.)
Como dito anteriormente, o uso de sanitizantes comuns não são efetivos no controle de
biofilmes, pois tem-se observado seu poder oxidativo é gasto por completo na matriz poliméricas, antes
de chegar nas células dos microorganismos. Alguns trabalhos sugerem que o cloro
tem boa ação desinfetante em biofilmes, no entanto sabe-se que esse produto,
sozinho, perde eficiência em presença de matéria orgânica e também em pH acima de 8,0. Considerando que o pH
normal da água de bebida varia de
Figura 2: Ação de 4 diferentes
acidificantes na remoção de biofilmes em sistemas hídricos.Obs: as soluções foram renomeadas a fim de se proteger a
identidade comercial dos ácidos utilizados.
Observe que a
utilização de
ácido fórmico ou ácido acético na
concentração de 0,1% promoveu a remoção dos
biofilmes do sistema hídrico sem dissolvê-lo na
solução, propiciando o
entupimento dos bebedouros, enquanto que o uso de blends
de ácidos orgânicos promoveu a remoção e dissolução dos biofilmes na água,
evitando assim esse entupimento. O efeito de limpeza
dos sistemas hídricos dos blends de ácidos orgânicos
também podem ser notado observando-se a tubulação. A figura 3 mostra um
sistema hídrico compartimentado, em granjas de suínos, em que há registros
específicos para água acidificada, para água tratada com antibiótico epara água pura.
Figura 3: Comparação de 3
registros de produtos que alimentam um sistema hídrico em granjas de suínos.
(válvula vermelha: água pura; válvula verde: água acidificada; válvula azul:
água com antibiótico)
Note que a tubulação que transporta água
acidificada (válvula verde) apresenta-se mais clara que as demais, demonstrando
o efeito da acidificação na remoção de impuresas
presentes no sistema. De forma geral, as medidas adotadas pelos técnicos e
produtores para se entender e garantir a qualidade da água de bebida são restritas, deixando clara a necessidade de maiores
estudos e desenvolvimento de práticas de manejo
a fim de se promover saúde via esse nutriente, visando sempre a busca do melhor
resultado zootécnico.