Informativo Técnico Nº. 129

Qualidade de Água de Bebida e Biofilmes na linha de água para Animais de Produção

Autor : Julian Cristina Borosky .

A nutrição representa grande parte dos investimentos na produção animal, atingindo patamares próximo a 80% dos custos totais. No entanto, quando nos referimos a nutrição pensamos quase que exclusivamente na ração e nos fatores relacionados a ela que influenciam positivamente, ou não, no desempenho dos animais. São poucos os materiais técnicos-científicos disponíveis que abordem o tema "água de bebida" como um nutriente importante no desenvolvimento animal e também referente a sua qualidade comovetor de microorganismos e restritor do consumo de ração. A água, por constituir cerca de 70% da composição corporal dos seres vivos, é um nutriente essencial. Sabe-se que os animais sobrevivem uma ou duas semanas de jejum de sólidos, porém não resistem ao mesmo tempo de jejum hídrico.Todavia, não é qualquer água que serve para fornecimento aos animais. A água de bebida deve ser de qualidade semelhante a recomendada ao consumo humano (portaria 518, Ministério da Saude). A qualidade físico-química da água de bebida influencia diretamente o consumo de ração pelo animal, pois a ingestão de água representa 2,5 a 3,0 vezes o consumo de ração, independente da categoria dos animais (tabela 1).

Tabela 1: Requerimento de água para suínos

Fig 01

A quantidade de sais dissolvidos totais na água de bebida comprometem o desempenho animal, provocando desde uma restrição de consumo a até aborto em porcas gestantes ou óbito em suínos em terminação (CSIRO, 1990).Um estudo realizado na França com 130 suinocultores mostrou que 38% das granjas estudadas tinham problema com a qualidade da água e as sintomatologias desenvolvidas pelos animais foram as mais diversas possíveis (tabela 2).

Fig 02

A qualidade microbiológica da água é outro ponto que merece atenção, pois esse nutriente passa a ser um importante vetor de contaminação aos animais e também multiplicador de microorganismos, pela formação de biofilmes nas tubulações do sistema hídrico. Por definição, biofilmes são comunidades biológicas com um elevado grau de organização, onde há formação de colônias estruturadas, coordenadas e funcionais. (Davey e O´toole, 2000). A figura 1 demonstra esquematicamente o desenvolvimento de biofilmes no sistema hídrico.

Fig 03

Figura 1: Formação de biofilme em tubulação de água, esquematizada (Adaptado de Dreeszen, 2003.)

Segundo Dreeszen (2003) o biofilme maduro de funções completas, é um tecido vivo na superfície da tubulação. É uma comunidade metabolicamente cooperativa e complexa, composta de diferentes microorganismos, cada uma vivendo em um micro nicho específico. Essas comunidades encontram-se embebidas em matrizes polimétricas, produzidas por elas, e podem se desenvolver em qualquer superfície úmida (Araújo, 2007). A função principal dessas matrizes poliméricas é a proteção dos microorganismos ali presentes, agindo inclusive como proteção aos produtos normalmente utilizados como desinfectantes de sistemas hídricos (Le Chevallier, 1988). A velocidade de desenvolvimento dos biofilmes pode ser de algumas horas a até algumas semanas, dependendo do sistema e da presença de solutos dissolvidos na água de bebida. Outros trabalhos demonstram que sua formação se inicia quase que imediatamente, mesmo em sistemas limpos, quando esses são preenchidos com água.

Estudos demonstram que superfícies metálicas favorecem a aderência de microorganismos e formação de biofilmes, no entanto não há conhecimento de superfícies que não haja agregação microbiana. A tabela 3 mostra a origem de alguns nutrientes em água pura que favorecem o crescimento microbiano nos sistemas.

Tabela 3: Principais fontes de nutriente em sistema hídrico de água pura.  

Fig 04

Fonte: Dreeszen (2003.)

Como dito anteriormente, o uso de sanitizantes comuns não são efetivos no controle de biofilmes, pois tem-se observado seu poder oxidativo é gasto por completo na matriz poliméricas, antes de chegar nas células dos microorganismos. Alguns trabalhos sugerem que o cloro tem boa ação desinfetante em biofilmes, no entanto sabe-se que esse produto, sozinho, perde eficiência em presença de matéria orgânica e também em pH acima de 8,0. Considerando que o pH normal da água de bebida varia de 6,5 a 8,5 e que biofilme nada mais é que matéria orgânica, o tratamento com cloro sozinho não seria a melhor escolha para prevenção e controle de biofilmes. A acidificação de água de bebida, com blendsde ácidos orgânicos, é uma solução prática e segura para a desinfecção desse nutriente, uma vez que reduzem o pH da água a patamares entre 3,5 e 4,0, o que por si só já atua como exclusor de bactérias patogênicas. Selko Aqua Control é uma mistura de ácidos orgânicos com ação direta sobre fungos, leveduras e bactérias patogênicas gram negativas e, portanto, apresenta consistente ação na remoção, controle e prevenção de biofilmes nos sistemas hidráulicos. A ação dos ácidos orgânicos sobre a remoção de biofilmes é bem conhecida, tanto que por anos recomendava-se o uso de ácido acético (vinagre) em altas inclusões na água de bebida para frangos de corte. Mas, também era comum observar entupimento dos bebedouros após o tratamento, em especialgranjas que não tinham o hábito de realizar a limpeza dos sistemas hídricos regularmente.Esse entupimento ocorre pois o vinagre desprende o biofilme mas não o dissolve na água de bebida. A fórmula de Selko Aqua Control foi desenvolvida com o intuito de se evitar esses entupimentos, portanto o produto além de desprender e agir como biocida nos biofilmes, promove sua dissolução na água, impedindo que haja entupimento dos bebedouros. A figura 2 mostra o efeito de 4 diferentes acidificantes para remoção de biofilmes em sistema hídrico em frangos de corte (Selko, s.a.)

Fig 05

Figura 2: Ação de 4 diferentes acidificantes na remoção de biofilmes em sistemas hídricos.Obs: as soluções foram renomeadas a fim de se proteger a identidade comercial dos ácidos utilizados.

Observe que a utilização de ácido fórmico ou ácido acético na concentração de 0,1% promoveu a remoção dos biofilmes do sistema hídrico sem dissolvê-lo na solução, propiciando o entupimento dos bebedouros, enquanto que o uso de blends de ácidos orgânicos promoveu a remoção e dissolução dos biofilmes na água, evitando assim esse entupimento. O efeito de limpeza dos sistemas hídricos dos blends de ácidos orgânicos também podem ser notado observando-se a tubulação. A figura 3 mostra um sistema hídrico compartimentado, em granjas de suínos, em que há registros específicos para água acidificada, para água tratada com antibiótico epara água pura.

Fig 06

Figura 3: Comparação de 3 registros de produtos que alimentam um sistema hídrico em granjas de suínos. (válvula vermelha: água pura; válvula verde: água acidificada; válvula azul: água com antibiótico)

Note que a tubulação que transporta água acidificada (válvula verde) apresenta-se mais clara que as demais, demonstrando o efeito da acidificação na remoção de impuresas presentes no sistema. De forma geral, as medidas adotadas pelos técnicos e produtores para se entender e garantir a qualidade da água de bebida são restritas, deixando clara a necessidade de maiores estudos e desenvolvimento de práticas de manejo a fim de se promover saúde via esse nutriente, visando sempre a busca do melhor resultado zootécnico.


<--Voltar