Autor : Gustavo Lima; Gilberto Omar Tomm;
Claudio Bellaver
Introdução
O grão de ervilha é uma cultura de inverno pouco utilizada em rações de
suínos e aves no Brasil devido à duas razões
principais: falta de informações sobre o valor nutricional do grão e pouca
disponibilidade para comercialização. Entretanto, com as variações de preço do
milho, e os altos preços ocorridos nos últimos anos, principalmente na época da
colheita e oferta de ervilha, essa leguminosa pode se constituir em excelente
alimento para os animais, reduzindo o custo das rações. Além desses benefícios,
a ervilha apresenta duas características que a tornam altamente desejável: é
uma rica fonte de aminoácidos e não apresenta níveis
consideráveis de fatores antinutricionais, como os verificados com outras leguminosas, como a soja. Essa
vantagem faz da ervilha uma excelente opção de produção de alimento no inverno
e que não requer processamento térmico para sua utilização. Além de
proporcionar cobertura do solo e incorporar nitrogênio ao mesmo, a ervilha pode
se constituir em fator decisivoparaaumentodarentabilidadedossistemasde
produção de suínos, especialmente nas propriedades familiares, constituindo-se
em fator importante para aumentar a sustentabilidade desses sistemas e reduzir
o êxodo rural. Em condições brasileiras, ainda não foram realizadas pesquisas
com esse grão na alimentação de suínos. O objetivo deste estudo foi determinar
os valores de composição química e energia digestível e metabolizável de oito
tipos de ervilha com suínos.
Metodologia.
Foram realizados quatro ensaios de metabolismo na Embrapa Suínos e Aves, com
72 suínos machos castrados (MS60 X Landrace x Large White), meio irmãos, de mesma idade, com peso médio
de 59,25 ±
Resultados
Na Tabela 1 são apresentados os resultados das análises químicas, incluindo
aminoácidos, e os valores de energia das ervilhas estudadas. Verificou-se que o teor de proteína bruta e lisina
das ervilhas variou de 18,20% a 24,62% e de 1,38% a
1,72%, respectivamente. O cultivar Maria apresentou maior teor de proteína
bruta e lisina enquanto a Alfetta apresentou menores
teores desses nutrientes. A solubilidade média da proteína, determinada em KOH,
foi de 81,05% enquanto a atividade ureática máxima
observada foi de 0,02 pontos de diferença de pH. Esses
resultados indicam que esse grão apresenta um excelente potencial de utilização
sem necessidade de processamento térmico para a destruição de fatores antinutricionais. A análise multivariada não apresentou
diferenças significativas entre os tipos de
ervilha através dos testes Wilks´ Lambda (P = 0,78), Pillai´s Trace (P = 0,23) HotellingLawley Trace (P = 0,26) e Roy´s Greatest Root (P = 0,17). Através das análises univariadas
não foram detectadas diferenças significativas
(P > 0,05) para a interação entre ensaio e cultivar para as variáveis
estudadas. Da mesma forma, não foram detectadas diferenças significativas
(P>0,05) entre as ervilhas para os parâmetros coeficiente
de digestibilidade aparente da matéria seca, energia
digestível e energia metabolizável. Embora houvesse diferença numérica
expressiva entre os valores, como 249 kcal de energia metabolizável/kg entre os
cultivares de maior e menor valor, isso aconteceu, provavelmente, em razão da
alta variabilidade observada, comum em experimentos dessa natureza. A importância
da realização de experimentos, como esse, está em se obter o valor médio de
energia metabolizável para emprego no cálculo das fórmulas de ração, juntamente
com as informações de análises químicas (Tabela 1). As ervilhas ForrageiraCNPT, IAPAR-83 e Alfetta, produzida na Argentina, foram as que apresentaram
maior valor energético. Um grupo intermediário, quanto à
essa característica, poderia ser formado pelos cultivares Hadlei,
Dileta e Alfetta, produzida no Brasil. Os cultivares
Maria e IAPAR-74 apresentaram os menores valores de energia metabolizável.
Embora faltem informações para uma melhor inferência, os materiais que
apresentaram maior proteína bruta e lisina foram os que tiveram menor valor
energético.
Conclusões.
Considerando os valores médios de energia metabolizável de 3256 kcal/kg e de
lisina de 1,51%, a ervilha tem excelentes possibilidades de ser utilizada em
rações de suínos em substituição à parte do milho (3420 kcal EM/kg e 0,24% de
lisina) e do farelo de soja (3309 kcal EM/kg e 2,77% de lisina).
Tabela 1 – Composição química e valores de energia das
ervilhas estudadas. Valores expressos em base natural.