Autor : Thais Radaele Gheler 1, Lucio Araujo 1, Claudia
Cassimira da Silva 1, Gilson Alexandre Gomes 1, Maurício Frias Prata 2,
Catarina Abdalla Gomide 1. 1 Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos –
FZEA/USP, CEP: 13635-900 – Pirassununga, SP – Brasil. 2 Engenheiro Agrônomo.
Sumário
Um experimento foi conduzido com o objetivo de avaliar os
efeitos da inclusão de ácido benzóico (Vevovitall®) na dieta sobre o
desempenho e a morfologia intestinal do duodeno de leitões de
Palavras-chave:. ácidos
orgânicos, desmame, morfologia intestinal, suínos
Introdução
Como resultado do acelerado crescimento da
população, busca-se maior eficiência na produção de alimentos
de origem animal. A carne suína tem expressiva participação no
atendimento desta demanda, tornando necessário encontrar melhor eficiência
produtiva e diminuir a idade de desmame. O propósito é elevar a
produtividade pela redução do intervalo de partos, aumentando o número de
leitegadas por matriz por ano (Braude, 1978; Moita et al., 1994).
O desmame nos suínos está associado a diminuição
no consumo de alimentos, a redução ou ausência nenhum ganho de peso e
freqüentemente a diarréias, morbidez e morte. É inadequada a secreção de
ácido clorídrico no estômago e ocorrem alterações na dieta que não
permitem a redução desejável do pH no estômago. Também são limitadas
nesta fase a produção e a atividade das enzimas pancreáticas e
intestinais. Somadas às alterações de ambiente, estes são os fatores
associados ao reduzido desempenho pós-desmame (Canibe et al., 2001).
Uma forma de contornar esses problemas seria o
uso de medicamentos, que, no entanto, pode acarretar seleção
de bactérias resistentes. Além disso, o mercado consumidor demanda
produtos livres de antibióticos e uma forma para reduzir o seu uso é
buscar outros tipos de aditivos com efeito positivo na criação, como os
ácidos orgânicos.
Segundo Bartels & Penz Jr. (1996), a
mortalidade pósdesmame estaria associada ao tamanho das vilosidades eà
profundidade de criptas. Conforme demonstrado por Sakata et al. (1995),
ácidos graxos de cadeia curta, como acético, propiônico e n-butírico
produzidos pela fermentação microbiana da fibra da dieta no intestino
grosso aumentam a proliferação de células epiteliais. Os ácidos orgânicos
se destacam como componentes importantes para esta finalidade. Ainda,
antes de serem acidificantes da dieta, são conhecidos como efetivos
conservantes. Sua ação bacteriostática primária ocorre pela redução do pH
da dieta (Foegeding & Busta,1991).
Entre os ácidos orgânicos, o ácido benzóico é o
mais importante ácido carboxílico aromático. Esse ácido foi obtido
pela primeira vez no começo do Século XVII por Scheele, por meio da
sublimação da goma de benzoína (Styrax benzoin). Até os dias atuais, não
há disponível na literatura relato sobre a utilização de ácido benzóico
em rações para suínos na fase inicial de crescimento.
Material e Métodos
O experimento foi realizado na Faculdade de
Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo, campus
de Pirassununga, São Paulo. Foram utilizados 160 leitões Dalland ×
Penarlan desmamados, de ambos os sexos, alojados em um galpão experimental
aos 21 dias de idade e mantidos por uma semana
O delineamento experimental utilizado foi o de
blocos ao acaso com 5 tratamentos, 4 deles com ácido benzóico (99,9%),
nos níveis 0; 0,25; 0,50 ou 0,75%, e um tratamento testemunha com ácido
fumárico distribuídos em 8 repetições (4 de machos e 4 de fêmeas), cada
uma com 4 animais, totalizando 40 unidades experimentais. O
experimento foi dividido em três fases, que corresponderam ao
tempo de fornecimento das dietas: pré-inicial 1 (
As rações experimentais (Tabelas 1 e 2)
utilizadas foram à base de milho e farelo de soja, formuladas
para atender às exigências nutricionais dos animais, de acordo com
recomendações de Rostagno et al. (2000). Foi utilizado o produto comercial
Vevovital® como fonte de ácido benzóico nas rações nos níveis 0; 0,25;
0,50 e 0,75% para cada fase.
As características de desempenho foram
avaliadas utilizando-se o consumo médio diário de ração (CMD),
o ganho de peso médio diário (GMD) e a conversão alimentar (CA).
Avaliou-se a incidência de diarréia, medida durante dois dias ao final de
cada semana do período experimental, medida por um único observador por um
período de 2 horas (1 hora pela manhã e 1 hora à tarde),
considerando como diarréia as fezes que se apresentaram amolecidas
a líquidas e/ou com mudança de coloração.
No final do experimento, um animal por repetição
foi abatido para verificar a presença de úlceras gástricas. Após os
procedimentos de abate, os animais foram eviscerados e os estômagos
retirados para proceder a análise visual da mucosa gástrica, sendo classificado
como positivo (presença de úlcera) ou negativo (ausência de úlcera).
Para estudo das características histológicas
intestinais, foram colhidas amostras da porção proximal do duodeno de
dois animais por repetição aos 70 dias de idade, as quais foram abertas em
sua borda mesentérica, lavadas, estendidas pela túnica serosa e fixadas em
solução de Bouin. Após 24 horas na solução fixadora de Bouin,
as amostras foram lavadas em álcool etílico a 70o GL e a seguir,
desidratadas em séries crescentes de alcoóis. Após a desidratação, foram
recortadas, diafanizadas em benzol e incluídas em parafina, de modo que se
obtiveram cortes longitudinais da mucosa intestinal. Foram feitas três
lâminas de cada animal e os cortes foram corados segundo a técnica de
hematoxilina-eosina. Após a preparação das lâminas, foram efetuadas 30
medidas de alturas das vilosidades e 30 medidas de profundidade das
criptas para cada segmento do duodeno coletado. As medidas de altura de
vilosidade foram tomadas a partir da região basal, que coincide com
a porção superior das criptas, percorrendo-a longitudinalmente até
seu ápice e as criptas, da sua base até a região de transição
cripta-vilosidade. A análise morfológica foi realizada em um sistema
analisador de imagem através de microscopia de luz, com aumento de 230
vezes.
As análises estatísticas foram realizadas
utilizando-se o programa computacional SAS (2001) e as médias
dos tratamentos, em caso de significância estatística,
foram comparadas pelo teste de Tukey a 5%. As estimativas dos níveis
de inclusão do ácido benzóico foram determinadas por meio do modelo de
regressão.
Resultados e Discussão
Na fase pré-inicial 1 (Tabela 3), apesar do maior consumo
de ração entre os animais alimentados com a ração contendo ácido benzóico,
houve melhora da conversão alimentar, já que o ganho médio diário
dos animais alimentados com o ácido benzóico foi estatisticamente
superior ao dos demais grupos (P<0,05). Embora o nível de ácido
fumárico utilizado neste período de
Na fase pré-inicial 2 não houve diferença
significativa (P>0,05) para o consumo médio de ração entre as
dietas. Contudo, para as dietas sem adição de ácidos e o que continha
ácido fumárico não apresentaram diferença entre si e o mesmo ocorreu entre
aquelas que continham ácido benzóico. Entretanto, os valores encontrados
para o ganho médio diário entre os animais alimentados com a dieta
contendo o ácido benzóico foram superiores aos valores obtidos com ácido
fumárico e sem a adição de ácidos. A mesma situação ocorreu para a
conversão alimentar, que, nos animais que receberam ácido benzóico, foi
em média 5,8% melhor (P<0,05). Conforme as equações GMD=477,2+58,8X e
CA=1,519-0,124X, o melhor ganho de peso e a melhor conversão alimentar
seriam com os níveis de 0,65% e 0,63% de ácido bezoico,
respectivamente.
A adição de 0,75% de
ácido benzóico na fase
inicial ocasionou maior consumo (P<0,05), além de maior
ganho médio diário, em comparação
à ausência de ácido fumárico ou
ácidos orgânicos. A conversão alimentar não
sofreu efeito significativo
pelo teste de comparação de médias nem mesmo
pela análise de regressão. O
maior consumo de ração seria obtido com 0,75% de
ácido benzóico, de acordo
com a equação CMD=1.311,4+181,6X, e o melhor ganho
de peso seria com
o nível de 0,71% do ácido (GMD=715,7+102,8X).
Não houve diferença no peso inicial dos animais.
No período total, nos grupos com ausência de ácidos e com utilização
do ácido fumárico apresentaram menor peso corporal final. O maior ganho
médio diário (P<0,05) foi obtido com a inclusão de 0,75% de ácido benzóico,
mas a conversão alimentar não foi afetada. Valores intermediários de
peso final foram obtidos com uso de 0,25 e 0,50% de ácido benzóico, que
foram superiores (P<0,05) aos obtidos com uso de ácido fumárico ou sem
a utilização de ácidos orgânicos.
O maior peso final e ganho de peso seriam obtidos
com o nível de 0,70% de ácido benzóico, de acordo,
respectivamente, com as seguintes equações: PF=31,0134+4,5056X e
GMD=571,3+95,2X, no entanto, para obter o maior consumo de ração, seria
necessária a inclusão de 0,74% do ácido, determinada pela equação
CMD=997,3+127,2X.
A causa das melhorias no desempenho
influenciada por ácidos orgânicos é ainda pouco conhecida.
Algumas hipóteses têm sido propostas e a mais difundida está relacionada
à inadequada secreção de HCl no estômago de suínos desmamados. Um alto pH
gástrico poderia causar redução na ativação da pepsina, que ocorre
rapidamente em pH 2 e muito lentamente em pH 4. Como resultado
a elevação do pH poderia baixar a atividade proteolítica no estômago
e a proteína ingerida poderia entrar intacta no intestino, possivelmente
reduzindo a eficiência da digestão de proteínas (Taylor, 1962).
Segundo Boulduan et al. (1988c), a secreção de
HCl é controlada durante a amamentação por intermédio da formação de
ácido lático no estômago. O leite da porca, apesar de sua alta capacidade
tamponante, é, sem dúvida, mais fácil de acidificar que outros alimentos
de origem vegetal, por conter lactose (Delforge, 1987; Bartels & Penz
Jr., 1996). A suplementação com ácidos orgânicos parece ser mais efetiva
da 2a a 4a semana de vida após o desmame, e o efeito declina em suínos
adultos (Giesting et. al., 1991). Krause et. al. (1994) não observaram
diferenças significativas no desempenho quando utilizaram 2,5% de
ácido fumárico na ração de leitões desmamados aos 28 dias.
As características histológicas, como altura
de vilosidade e profundidade de criptas, foram melhores nos animais
alimentados com ácido benzóico, independentemente do nível utilizado
(Tabela 5). A relação altura de vilosidade:profundidade de cripta não foi
influenciada pelo uso de ácido benzóico (P>0,05).
De acordo com as equações AV = 268,8+93,2X e PC
= 130,3+47,2X, os valores de 0,68% e 0,72% de ácido benzóico resultariam
em maior altura de vilosidade e de profundidade de criptas,
respectivamente. Cera et.al. (1988) e Hoppe et. al. (1990) observaram que
as mudanças morfológicas no intestino são decorrentes, principalmente, do
processo estressante do desmame e da exposição do órgão às dietas. A
intensidade das alterações estaria mais associada à qualidade dos
alimentos utilizados na formulação das dietas (Dunsford et al., 1989; Li
et al., 1990).
Segundo Hampson (1986), após o desmame,
ocorrem as seguintes alterações estruturais no intestino:
encurtamento das vilosidades, indicativo da destruição
dos enterócitos, e aumento da lâmina própria, indicativo de aumento
da profundidade das criptas, proliferação celular e imaturidade de
enterócitos. O encurtamento das vilosidades causa perda de enzimas
digestivas e a redução da área absortiva do trato digestivo. Conforme
demonstrado por Sakata et. al. (1995), ácidos graxos de cadeia
curta, como acético, propiônico e n-butírico produzidos
pela fermentação microbiana da fibra da dieta no intestino grosso,
aumentam a proliferação de células epiteliais. Gálfi & Bokori (1990)
demonstraram aumento no comprimento das vilosidades no íleo e da
profundidade de criptas no ceco em suínos em crescimento sob suplementação com
0,17% de n-butirato de sódio na dieta.
Apesar da ausência de úlceras gástricas nos
animais abatidos, verificou-se que a presença de áreas hiperêmicas na
mucosa gástrica foi menor nos animais que receberam o ácido benzóico em
comparação aos animais do grupo controle. Em todo o período experimental,
não foi observada incidência de diarréia nos animais alimentados com
as dietas com 0,50% e 0,75% de ácido benzóico (Tabela 6).
Alguns estudos comprovam que o uso de
ácidos orgânicos reduz a sobrecarga de coliformes ao longo do
trato gastrintestinal (Boduan et.al., 1988b; Mathew et al., 1991)
e diminui a diarréia e mortalidade
Ao testarem a eficiência de ácidos orgânicos
sobre o desempenho e síndrome da diarréia pós-desmame, Tsiloyannis et
al. (2001) verificaram que a adição de 1,6% de ácido lático melhorou o
desempenho e reduziu a incidência e severidade de diarréias. No entanto,
Risley et al. (1993) não observaram nenhum efeito mensurável da
suplementação de
Conclusões.
O desempenho de suínos no período de