COMPLEXO ENTÉRICO SUÍNO - PARTE II
IMPLICAÇÕES NA SAÚDE HUMANA
Como já mencionado, as doenças entéricas de suínos tornaram-se cada vez mais
relevantes do ponto de vista da saúde humana. A responsável por isso é sem
dúvida, a salmonelose. A salmonelose
é uma zoonose (figura 1) e praticamente todos os surtos que ocorrem nos
seres humanos são de origem alimentar. Portanto, a indústria de produção de
alimentos de origem animal está no centro das atenções. Além disso, é uma
doença que no futuro próximo, irá limitar o comércio de animais para abate
entre os países.
No entanto, convêm distinguir que nesta doença há duas perspectivas
fundamentais: por um lado os animais que carregam a bactéria em si e em
segundo lugar a possibilidade de contaminação das carcaças no abate.
Claro que elas estão relacionadas, mas é possível que os animais procedentes de
uma granja livre ou de baixa prevalência se contaminem no matadouro. De fato,
verificou-se que os animais livres não podem excretar em um tempo tão reduzido
como 2 horas depois de terem se contaminado no matadouro. Entretanto, o
argumento das indústrias é que a fonte dessa Salmonella está nos animais e, portanto, se
eliminarmos a bactéria das explorações, eliminamos a possibilidade de contaminação
no matadouro.
De acordo com o Centro Europeu de Controle de Doenças, a incidência da salmonelose tem diminuído desde 1995. Apesar desta
tendência, alguns países registraram aumentos de mais de 5% em 2004 como o
Chipre, República Checa, Dinamarca, Grécia e Lituânia. De
Figura 1: Micrografia eletrônica
mostrando Salmonella typhimurium
(vermelho) invadindo células humanas cultivadas. Fonte: www2.niaid.nih.gov
PRESENTE E FUTURO DAS DOENÇAS GASTROINTESTINAIS SUÍNAS
Neste ponto devemos olhar com cuidado
o que ocorreu durante a última década, o que temos feito e o que devemos fazer
no futuro para tentar controlar e prevenir as doenças do complexo entérico
suíno. O que temos feito durante alguns anos tem sido aumentar claramente o uso
de antibióticos relacionados com estas doenças e os resultados não foram
satisfatórios. Sem dúvida, utilizar cada vez mais antibióticos, além de
encarecer os custos de produção, é uma medida que produz riscos à saúde humana
e uma percepção negativa da nossa indústria para o consumidor. Sem perder de
vista que, com base na evolução dos acontecimentos passados na Europa, não
seria incomum uma política de proibição e retirada do setor produtivo suíno dos
antibióticos que usamos atualmente.
Como alternativa aos antibióticos têm sido propostas várias estratégias, que
aparecem na tabela 1, e tem dado resultados variados. Estas estratégias incluem
osprobióticos, exclusão competitiva, probióticos, enzimas, acidulantes, pré-fermantação,
nutraceuticos, imunomoduladores,
etc. Apesar de nenhum deles apresentarem resultados tão bons quanto aqueles
obtidos com os antibióticos, muitos deles oferecem uma alternativa pelo menos
parcialmente, na prevenção do CES.
Tabela 1:
Algumas alternativas aos antibióticos na prevenção de enfermidades gastroentéricas suínas.
ALTERNATIVA |
EFICÁCIA |
FUTURO |
Pró-bióticos |
Limitada |
Sim |
Exclusão competitiva |
Alta |
Sim |
Pré-bióticos |
Média |
Sim |
Enzimas |
Alta |
Sim |
Acidificantes |
Limitada |
Sim |
Pré-fermentação |
Limitada |
Sim |
Minerais |
Alta |
Não |
Nutraceuticos |
Pouca informação |
Sim |
Imunomoduladores |
Média |
Sim |
Mas, obviamente, não podemos nos
limitar apenas à execução destas estratégias, sendo que, antes, temos que melhorar
o manejo ao máximo, de modo que se dificulte a transmissão de patógenos e sua expressão clínica nos animais. Algumas
destas medidas estão na tabela 2.
Tabela 2:
Medidas de manejo para o controle e prevenção do CES.
MEDIDA |
EFICÁCIA |
FUTURO |
Todos dentro - todos fora |
Alta |
Sim |
Higiene |
Alta |
Sim |
Desmame tardio |
Média |
Possível |
Produção extensiva |
Limitada |
Não |
Colostragem adequada / qualidade
de colostro |
Média |
Sim |
Imunização / vacinação |
ALTA |
SIM |
Qualidade da água |
Média |
Sim |
Treinamento de pessoal |
Alta |
Sim |
Figura 2: Vacinação/imunização, uma
das melhores alternativas aos antibióticos.
Fonte: TECSA Laboratórios
Obviamente estas medidas devem ser
cumpridas em qualquer circunstância, antes de pensar em implementar
estratégias de outro tipo.
E claro, não podemos pensar que uma forma de prevenção sirva de forma universal
para todos os tipos de criações, já que nem todas as granjas possuem os mesmos patógenos presentes, o mesmo tipo de instalações ou podem
utilizar os mesmos manejos. Nem todas as granjas possuem as mesmas
possibilidades de ação. Em qualquer caso, o responsável sanitário deve fazer um
estudo cuidadoso do que está acontecendo, quais patógenos
estão presentes e quais medidas podem ser adotadas com êxitoe
a partir disso estabelecer as estratégias a serem
adotadas.
Em resumo, as doenças gastroentéricas mudaram
significativamente na última década; as expressões clínicas são hoje mais
preocupantes que anos trás e requerem mais trabalho por parte dos veterinários.
As ferramentas disponíveis para controle e prevenção têm sido limitadas e,
portanto, devemos tentar definir novas estratégias que nos permitam controlar e
conviver de forma rentável com todo esse emaranhado de doenças gastroentéricas, sem perder nunca de vista as implicações
para a saúde humana que alguns patógenos entéricos
suínos possuem.
Dica baseada na palestra do Dr. Guillermo Ramis, PorkExpo 2010.
CODIGO |
EXAMES |
PRAZO DIAS |
S73 |
DIAGNÓSTICO
ENTÉRICO - DIARRÉIA Amostra:
1 swab retal ou fragmento de alça intestinal sob
refrigeração, sem congelar. Pesquisa
de Escherichia coli,
Clostridium perfringens e
dificilli e Salmonella sp com antibiogramas.
|
5 |
S57 |
ILEÍTE
- MÉTODO PESQUISA DIRETA Amostra: Fezes, swab ou fragmento
de intestino refrigerado, sem congelamento. |
2 |
S54 |
Brachyspyra hyodysenteriae – PESQUISA Amostra: Fezes, swab ou
fragmento de intestino refrigerado, sem congelamento. |
5 |
S83 |
IMUNOHISTOQUÍMICA
PARA CIRCOVÍRUS S83 Amostra: Peça ou orgão
conservado em formol 10% (linfonodo mesentérico,
pulmão, etc) |
5 |
S24 |
PESQUISA
ROTAVÍRUS Amostra: Fragmento de intestino, swab
retal, fezes ou leitão |
1 |
S13 |
Escherichia coli – ISOLAMENTO Amostra: Fezes, swab ou fragmento
de intestino refrigerado, sem congelamento. |
4 |
S13/H |
Escherichia coli HEMOLITICA
–ISOLAMENTO Amostra: Fezes, swab ou
fragmento de intestino refrigerado, sem congelamento. |
4 |
V06 |
VACINA
AUTOGENA CONTRA COLIBACILOSE + CLOSTRIDIOSE Amostra: Cepas isoladas no laboratório |
15 |