Informativo Técnico Nº. 135

COMPLEXO ENTÉRICO SUÍNO - PARTE II

 

IMPLICAÇÕES NA SAÚDE HUMANA

 

            Como já mencionado, as doenças entéricas de suínos tornaram-se cada vez mais relevantes do ponto de vista da saúde humana. A responsável por isso é sem dúvida, a salmonelose. A salmonelose é uma zoonose (figura 1) e praticamente todos os surtos que ocorrem nos seres humanos são de origem alimentar. Portanto, a indústria de produção de alimentos de origem animal está no centro das atenções. Além disso, é uma doença que no futuro próximo, irá limitar o comércio de animais para abate entre os países.

            No entanto, convêm distinguir que nesta doença há duas perspectivas fundamentais: por um lado os animais que carregam a bactéria em si e em segundo lugar a possibilidade de contaminação das carcaças no abate. Claro que elas estão relacionadas, mas é possível que os animais procedentes de uma granja livre ou de baixa prevalência se contaminem no matadouro. De fato, verificou-se que os animais livres não podem excretar em um tempo tão reduzido como 2 horas depois de terem se contaminado no matadouro. Entretanto, o argumento das indústrias é que a fonte dessa Salmonella está nos animais e, portanto, se eliminarmos a bactéria das explorações, eliminamos a possibilidade de contaminação no matadouro.

            De acordo com o Centro Europeu de Controle de Doenças, a incidência da salmonelose tem diminuído desde 1995. Apesar desta tendência, alguns países registraram aumentos de mais de 5% em 2004 como o Chipre, República Checa, Dinamarca, Grécia e Lituânia. De 1995 a 2004 houve mais de 2,7 milhões de casos de salmonelose em humanos na UE, Islândia e Noruega. Os sorovares mais freqüentes foram S. enterididis, seguido pela Salmonella typhimurium. Nesta situação, a UE tem promovido uma política de controle de Salmonella nas granjas de produção de animais para abate.

 

Fig 001

 

Figura 1: Micrografia eletrônica mostrando Salmonella typhimurium (vermelho) invadindo células humanas cultivadas. Fonte: www2.niaid.nih.gov

 

PRESENTE E FUTURO DAS DOENÇAS GASTROINTESTINAIS SUÍNAS

 

Neste ponto devemos olhar com cuidado o que ocorreu durante a última década, o que temos feito e o que devemos fazer no futuro para tentar controlar e prevenir as doenças do complexo entérico suíno. O que temos feito durante alguns anos tem sido aumentar claramente o uso de antibióticos relacionados com estas doenças e os resultados não foram satisfatórios. Sem dúvida, utilizar cada vez mais antibióticos, além de encarecer os custos de produção, é uma medida que produz riscos à saúde humana e uma percepção negativa da nossa indústria para o consumidor. Sem perder de vista que, com base na evolução dos acontecimentos passados na Europa, não seria incomum uma política de proibição e retirada do setor produtivo suíno dos antibióticos que usamos atualmente.

            Como alternativa aos antibióticos têm sido propostas várias estratégias, que aparecem na tabela 1, e tem dado resultados variados. Estas estratégias incluem osprobióticos, exclusão competitiva, probióticos, enzimas, acidulantes, pré-fermantação, nutraceuticos, imunomoduladores, etc. Apesar de nenhum deles apresentarem resultados tão bons quanto aqueles obtidos com os antibióticos, muitos deles oferecem uma alternativa pelo menos parcialmente, na prevenção do CES.

 

Tabela 1: Algumas alternativas aos antibióticos na prevenção de enfermidades gastroentéricas suínas.

ALTERNATIVA

EFICÁCIA

FUTURO

Pró-bióticos

Limitada

Sim

Exclusão competitiva

Alta

Sim

Pré-bióticos

Média

Sim

Enzimas

Alta

Sim

Acidificantes

Limitada

Sim

Pré-fermentação

Limitada

Sim

Minerais

Alta

Não

Nutraceuticos

Pouca informação

Sim

Imunomoduladores

Média

Sim

 

Mas, obviamente, não podemos nos limitar apenas à execução destas estratégias, sendo que, antes, temos que melhorar o manejo ao máximo, de modo que se dificulte a transmissão de patógenos e sua expressão clínica nos animais. Algumas destas medidas estão na tabela 2.

 

Tabela 2: Medidas de manejo para o controle e prevenção do CES.

MEDIDA 

EFICÁCIA

FUTURO

Todos dentro - todos fora

Alta

Sim

Higiene

Alta

Sim

Desmame tardio

Média

Possível

Produção extensiva

Limitada

Não

Colostragem adequada / qualidade de colostro

Média

Sim

Imunização / vacinação

ALTA

SIM

Qualidade da água

Média

Sim

Treinamento de pessoal

Alta

Sim

 

Fig 002

 

Figura 2: Vacinação/imunização, uma das melhores alternativas aos antibióticos.

Fonte: TECSA Laboratórios

 

Obviamente estas medidas devem ser cumpridas em qualquer circunstância, antes de pensar em implementar estratégias de outro tipo.

            E claro, não podemos pensar que uma forma de prevenção sirva de forma universal para todos os tipos de criações, já que nem todas as granjas possuem os mesmos patógenos presentes, o mesmo tipo de instalações ou podem utilizar os mesmos manejos. Nem todas as granjas possuem as mesmas possibilidades de ação. Em qualquer caso, o responsável sanitário deve fazer um estudo cuidadoso do que está acontecendo, quais patógenos estão presentes e quais medidas podem ser adotadas com êxitoe a partir disso estabelecer as estratégias a serem adotadas.

            Em resumo, as doenças gastroentéricas mudaram significativamente na última década; as expressões clínicas são hoje mais preocupantes que anos trás e requerem mais trabalho por parte dos veterinários. As ferramentas disponíveis para controle e prevenção têm sido limitadas e, portanto, devemos tentar definir novas estratégias que nos permitam controlar e conviver de forma rentável com todo esse emaranhado de doenças gastroentéricas, sem perder nunca de vista as implicações para a saúde humana que alguns patógenos entéricos suínos possuem.

 

Dica baseada na palestra do Dr. Guillermo Ramis, PorkExpo 2010.

 

CODIGO

EXAMES

PRAZO DIAS

S73

DIAGNÓSTICO ENTÉRICO - DIARRÉIA 

Amostra: 1 swab retal ou fragmento de alça intestinal sob refrigeração, sem congelar.

Pesquisa de Escherichia coli, Clostridium perfringens e dificilli e

Salmonella sp com antibiogramas.                        

5

S57

ILEÍTE - MÉTODO PESQUISA DIRETA

Amostra: Fezes, swab ou fragmento de intestino  refrigerado, sem congelamento.

2

S54

Brachyspyra hyodysenteriae – PESQUISA

Amostra: Fezes, swab ou fragmento de intestino  refrigerado, sem congelamento.

5

S83

IMUNOHISTOQUÍMICA PARA CIRCOVÍRUS S83 

Amostra: Peça ou orgão conservado em formol 10% (linfonodo mesentérico, pulmão, etc)

5

S24 

PESQUISA ROTAVÍRUS 

Amostra: Fragmento de intestino, swab retal, fezes ou leitão

1

S13

Escherichia coli – ISOLAMENTO

Amostra: Fezes, swab ou fragmento de intestino  refrigerado, sem congelamento.

4

S13/H

Escherichia coli HEMOLITICA –ISOLAMENTO

Amostra: Fezes, swab ou fragmento de intestino  refrigerado, sem congelamento.

4

V06

VACINA AUTOGENA CONTRA COLIBACILOSE + CLOSTRIDIOSE

Amostra: Cepas isoladas no laboratório

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