Autor : Fang Chi,
Jonathan Broomhead, Chia
Chung Chen (Amlan International)
A presença de zearalenona na ração é inevitável e a toxicose por zearalenona é muito difícil de tratar. A maneira mais
prática de evitar a toxicose por zearalenona é
através da adição de um enteroadsorvente à dieta,
impedindo a absorção intestinal e subsequente conjugação
e formação de compostos de zearalenona, reabsorvidos
via circulação entero-hepática. Devido à rápida
absorção no intestino delgado, a inativação da zearalenona
após sua ingestão torna-se extremamente crítica para evitar a toxicidade. Ao
compreender o mecanismo de absorção e metabolismo da zearalenona,
os produtores são capazes de selecionar os métodos mais adequados para
controlar e tratar toxicose por zearalenona de
maneira mais eficaz e econômica.
A observação de edema e eritema de vulva em leitoas e aumento da incidência de
abortamentos e natimortos durante a gestação pode indicar contaminação da ração
por zearalenona. A micotoxina
zearalenona é o principal fator que contribui para os
prejuízos econômicos relacionados à reprodução suína.1
É produzida por fungos tipo Fusarium e comumente
encontrada em grãos em todo o mundo. Condições de produção, armazenagem e clima
contribuem para o crescimento destes fungos.2
Considerando sua semelhança química com o estrógeno, a zearalenona
exerce efeitos estrogênicos em suínos3 e afeta todas as faixas
etárias, inclusive leitoas e fêmeas adultas, que são mais sensíveis. A Figura 1
ilustra os sintomas clínicos e subclínicos.
FIGURA 1. Efeitos Clínicos da Toxicose por Zearalenona
Ao compreender o mecanismo de absorção e metabolismo da zearalenona,
os produtores são capazes de selecionar os métodos mais adequados para
controlar e tratar toxicose por zearalenona de maneira
mais eficaz e econômica. A estrutura química da zearalenona
é 6-(10-hidróxi-6-oxo-trans-1-undecenil)-b-ácido
resorcíclico lactona
(Figura 2). Seu isômero opticamente ativo na forma L é isolado dos micélios do Fusarium graminearum.
É um sólido cristalino incolor com ponto de fusão de 164-165° C, o que indica
que a zearalenona é muito resistente a condições
normais de processamento de ração e dificilmente é destruída. Na verdade,
quando a zearalenona está presente em milho
triturado, não ocorre decomposição após 44 horas a 150° C.4 A zearalenona é ligeiramente solúvel em água e é mais solúvel
em acetona, éter, benzeno, álcoois e álcalis aquosos.
Dada sua semelhança com estrógeno, a zearalenona e
seus metabólitos podem se ligar aos receptores de estrógenos, causando efeitos
estrogênicos em
suínos.
FIGURA 2. Estrutura da Zearalenona
Leitoas alimentadas com ração contaminada por zearalenona
podem apresentar intervalos de ciclo estral mais longos,
redução da taxa de prenhez e retardo de
desenvolvimento fetal. Por exemplo, o fornecimento de 20 mg de zearalenona/dia por 5
dias a leitoas durante a fase média ou final do ciclo estral alongou
significativamente a duração do intervalo entre estros de 20 dias (normal) para
até 74 dias (mais longo observado).5 Em outro estudo, a taxa de pseudo-prenhez aumentou 25%, 88% e 88% com o fornecimento
de 3, 6 e 9 ppm de zearalenona
a leitoas, respectivamente, antes da inseminação artificial em comparação ao
grupo controle.6
Quando dietas contaminadas com 15 ou 30 ppm de zearalenona purificada foram fornecidas a leitoas
inseminadas por 14 dias, o número de fetos vivos foi reduzido.7 No
mesmo estudo, não se observou desenvolvimento embrionário em leitoas que
receberam 60 ou 90 ppm de zearalenona
na dieta. Young et al.
(1981) relataram edema e vermelhidão da vulva e redução de ganho de peso e de
consumo de ração e piora da eficiência alimentar em leitoas que passaram a
receber 9 ppm de zearalenona
na dieta.8 O mesmo grupo relatou que fêmeas alimentadas com uma
dieta contendo 10 ppm de zearalenona
demonstraram prolongamento do intervalo desmame-estro, redução de tamanho de
leitegada e fertilidade e aumento do peso do útero e da espessura do epitélio
vaginal.9
Yang et al. (2008) relataram
recentemente que o fornecimento de1 a 3 ppm de zearalenona purificada a leitoas jovens por 21 dias
aumentou significativamente o tamanho da vulva e o peso de outros órgãos-alvo,
como útero, ovário, rins e fígado.10 O grupo também observou que o
fornecimento de 1 ppm de zearalenona
reduziu a digestibilidade aparente de proteína bruta
e energia em porcas e que os efeitos negativos da zearalenona
poderiam ser atenuados pela mistura de uma argila natural enteroadsorvente
à raçào.11
A absorção de zearalenona no intestino delgado é
muito rápida. Depois de uma dose única oral de zearalenona
administrada a suínos, a micotoxina e seus
metabólitos podem ser detectados em alguns minutos no sangue e mais de 85% da zearalenona são absorvidos pela luz intestinal em menos de
30 min.12,13 A absorção de zearalenona
segue uma cinética de primeira ordem, com Ka
(constante cinética) igual a 9,3/horas em ratos.14 Uma vez absorvida
no organismo, enzimas como a CyP450 das células epiteliais do intestino delgado
e fígado rapidamente convertem a zearalenona a α-zearalenol e b-zearalenol.
O α-zearalenol tem potência estrogênica muito
superior que seu precursor em suínos. No fígado, a zearalenona
e seus metabólitos são conjugados com açúcares e podem ser excretados para o
intestino delgado através da bile. Uma vez que os compostos conjugados de zearalenona percorrem o intestino delgado, parte é
excretada através das fezes e outra fração é reabsorvida no organismo através
de um ciclo conhecido com circulação entero-hepática
(Figura
3).
FIGURA 3. Circulação Entero-hepática
da Zearalenona
Uma vez que a zearalenona seja absorvida no
organismo, não existe um tratamento eficaz que reduza sua toxicidade em suínos.
Entretanto, a inclusão de enteroadsorventes pode
ligar estes compostos conjugados de zearalenona,
evitando assim a reabsorção através da circulação entero-hepática. Depois de uma única injeção intravenosa
de zearalenona em leitões, a meia-vida da toxina no
sangue foi determinada como sendo de 86,6 horas. Entretanto, quando se evitou
que a bile chegasse ao intestino delgado através de canulação
do colédoco (interrompendo a circulação entero-hepática),
a meia-vida da zearalenona e de seus metabólitos foi
significativamente reduzida para 3,3 horas.15
Isto sugere que a recuperação da toxicidade por zearalenona
pode ser acelerada quando se impede a 'reciclagem' da toxina no organismo. De
maneira geral, dois terços da toxina absorvida são excretados nas fezes,
principalmente na forma de compostos conjugados de zearalenona
produzidos no fígado e excretados através da bile. Metabólitos hidrossolúveis
de zearalenona são excretados através da urina e
níveis traço de zearalenona e seus metabólitos são
detectados no leite de porcas. A Figura 4 descreve o metabolismo da zearalenona no organismo de
suínos.
FIGURA 4. Metabolismo da Zearalenona
no Organismo do Suíno
Evitar a ingestão inicial e absorção de zearalenona é fundamental para manter a produtividade do plantel suíno.
A escolha de um produto que seja capaz de adsorver rapidamente a toxina é
extremamente crítico para reverter a toxicidade da zearalenona. Ao conhecer os efeitos negativos da zearalenona e como este problema pode
ser mitigado, os produtores poderão tomar decisões informadas quanto ao
controle do problema.