Autor : Werner Meincke.
1. INTRODUÇÃO
A Biossegurança está se tornando um componente
cada vez mais importante na cadeia produtiva da suinocultura. A medida que os módulos de produção crescem em número de
matrizes e se intensificam com a realização de altos investimentos, as medidas
preventivas que diminuem a possibilidade de introdução de novos agentes
infecciosos crescem de importância. A prática do despovoamento e repovoamento
de unidades de produção com animais de alta saúde, muito utilizada no passado,
tornou-se mais complexa e inviável economicamente na maioria das situações.
Aliado a isso, os produtores tem desafios maiores em relação à competitividade,
necessitando para permanecerem na atividade crescimentos constantes de
produtividade. Somado a isso, temos que considerar ainda as crescentes
exigências dos consumidores que querem alimentos seguros livres de resíduos
químicos, o que vem limitando drasticamente o uso de promotores de crescimento
na alimentação dos suínos.
Sabemos que entre os principais efeitos deletérios das doenças no setor de
reprodução estão: a elevação da mortalidade de porcas e leitões, quadros de sub fertilidade com leitegadas de tamanho reduzido e de
menores pesos ao nascimento. Já no setor de crescimento e terminação as doenças
resultam em piores conversões alimentares e no aumento das taxas de mortalidade
com elevação de gastos com medicamentos
preventivos e curativos. Temos ainda como efeitos secundários, a elevação dos
custos com a utilização das instalações e do capital empregado. Poderíamos
citar ainda dependo do grau de severidade das doenças, o impacto negativo sobre
a qualidade de carcaça e possivelmente o aumento no % de condenações das
mesmas.
Em função deste conjunto de elementos arrolados, cria-se um cenário com
exigências crescentes e altamente desafiadoras em relação à saúde animal para indústria
suinícola. Urge, portanto, que órgãos oficiais,
técnicos da iniciativa privada e produtora se unam para o aprimoramento dos
programas de defesa sanitária animal que aliados as modernas técnicas de manejo e rígidos programas de biossegurança, sejam capazes de minimizar os riscos de
transferência de agentes infecciosos entre os suínos.
2. PRINCIPAIS MECANISMOS DE TRANSMISSÃO DOS AGENTES INFECCIOSOS
Por definição, a transmissão de uma infecção ocorre quando um agente
infeccioso passa de um animal infectado para um animal susceptível. A doença é
considerada contagiosa, quando a transmissão pode ocorrer através de contatos
físicos com animais infectados ou através de suas secreções e ou excreções. A
transmissão pode ser horizontal quando ocorre entre a mesma geração, ou
vertical, quando ocorre entre gerações.
As tecnologias para produção de animais e granjas livres são bem conhecidas.
O maior desafio é conseguir mantê-las nessa condição através dos tempos. Para
poder entender melhor o porquê que determinadas unidades de produção que
possuem normas rígidas de Biossegurança acabam se
contaminando, julgamos oportuno relembrar os quatro principais meios de transmissão
dos agentes infecciosos:
3. TÉCNICAS DE BIOSSEGURANÇA
As técnicas de biossegurança a serem aplicadas
para prevenir a entrada de agentes patogênicos nas unidades de produção devem
estar baseadas no perfeito entendimento da maneira pelo qual os mesmos se
transmitem. O conhecimento de todas as rotas de possíveis entradas de agentes
que queremos manter fora do sistema de produção torna-se uma questão essencial
para o desenvolvimento de um programa de biossegurança
compreensivo. Se quisermos manter as unidades livres de múltiplos agentes que
possuem diferentes meios de transmissão, o programa de biossegurança
deve ser direcionado para contemplar essas possibilidades.
Várias são as medidas e os policiamentos preventivos que vem sendo adotados
pela indústria suinícola com o propósito de impedir a
entrada de agentes patogênicos nas unidades de produção. Entre as mais
importantes podemos mencionar:
3.1 LOCALIZAÇÃO DA UNIDADE
DE PRODUÇÃO
É o fator mais importante na prevenção da ocorrência de algumas doenças,
principalmente aquelas transmitidas por aerossóis. Altas umidades relativas do
ar e baixas temperaturas favorecem a transmissão a longas distâncias que ocorre
com a maioria das doenças víricas (febre Aftosa, Aujesky, Influenza suína, Síndrome Reprodutiva e
Respiratória de suínos). Entre as doenças não víricas
que igualmente podem ser transmitidas por aerossóis, porém em menores
distâncias estão a Pneumonia Enzoótica, a Rinite atrófica, e a Pleuropneumonia.
Outras com a Disenteria suína não podem ser transmitidas diretamente pelo ar,
entretanto podem ser carreadas de um rebanho para outro por moscas de estábulo,
as quais podem voar até 3.5km de distância.
Por essas razões recomenda-se tecnicamente instalar a
unidade de produção a uma distância mínima de
3.2 IMPLANTAÇÃO DE UM
PROGRAMA DE BIOSSEGURANÇA
Para ser tecnicamente efetivo e economicamente viável, é fundamental a
compreensão e um alto grau de comprometimento de todas as pessoas envolvidas no
sistema de produção em relação ao cumprimento das ações que o programa de biossegurança estabelece. Protocolos rígidos que exigem
muita determinação e disciplina no seu preenchimento devem fazer parte do
programa. Trata-se portanto, de um trabalho diário e
permanente que necessita ser conduzido como se estivesse iniciando a cada dia,
pois a excelência do estado de saúde dos animais, não deve em nenhum momento
servir de motivo para substituir ou relegar as práticas de manejo mais
importantes para um segundo plano.
3.3 O MONITORAMENTO PERMANENTE DO ESTADO DE SAÚDE DO REBANHO
O monitoramento sanitário sistemático,facilita o
diagnóstico precoce de enfermidades e o reconhecimento de condições usualmente
não aparentes no rebanho. Além disso, serve de alerta aos produtores e
funcionários sobre a importância dos programas de biossegurança
e da vigilância sanitária. Normalmente o monitoramento sanitário deve incluir
além dos exames sorológicos, a inspeção de animais em nível de frigorífico.
Relatórios periódicos de avaliações clínicas e a compilação de resultados de
necropsias constituem-se em importantes informações complementares à vigilância
de abate. O monitoramento da produtividade é a última ferramenta a ser
utilizada para avaliação dinâmica da condição sanitária da unidade.
3.3.1 MONITORAMENTO SOROLÓGICO
O monitoramento sorológico de rotina pode nos indicar se uma população de
suínos esteve ou não exposta a um determinado agente. O plantel de reprodução e
os animais em crescimento e terminação precisam em algumas situações ser
considerado isoladamente para realização de exames e diagnóstico de
determinadas doenças. A determinação do número de suínos a serem avaliados é
muito importante e normalmente varia com a prevalência esperada de títulos
positivos, o tamanho do modulo de produção, a confiabilidade estatística dos
resultados e a precisão do teste.
3.3.2 MONITORAMENTO EM NÍVEL DE FRIGORÍFICO
A inspeção sistemática de lesões em suínos abatidos constitui-se em fonte de
baixo custo para obtenção de informações confiáveis sobre populações suínas em
nível de granja e indústria. Tem sido um importante componente que integra os
programas de vigilância sanitária de diversos países. Um número importante de
doenças produz lesões típicas que podem ser vistas no momento do abate. Nestas
incluem-se a Pneumonia Enzoótica, Pleuropneumonia
(APP), Leptospirose, Rinite Atrófica, Ascaridíase e
Sarna. As especificidades das lesões no abate variam de acordo com as
condições, não podendo por isso ser consideradas como patognomônicas.
Para populações consideradas livres para um determinado agente, exames
laboratoriais auxiliares devem ser utilizados para confirmação do diagnóstico.
Outras lesões morfológicas tais como: pleurites, pericardites, peritonites,
artrites que possuem etiologias mais variadas, também podem ser monitoradas
para detectar alterações no status sanitário de uma população. A sensibilidade
para detecções de lesões através do monitoramento de abate é determinada por
vários fatores como: Tamanho da unidade, número de amostras por inspeção,
freqüência das inspeções e ainda da epidemiologia da doença, incluindo o grau
de incidência, faixa etária do inicio das lesões, média de lesões e idade de
abate.
3.4 QUARENTENÁRIO PARA
RECEPÇÃO DOS ANIMAIS DE REPOSIÇÃO
Quando pretendemos introduzir animais num sistema de produção, uma série de
medidas e controles sanitários devem ser respeitados,
sendo fundamental que os mesmos procedam de granjas sanitariamente controladas
e que sejam submetidas a um protocolo de quarentena.
3.4.1 PROTOCOLO DE QUARENTENA
O quarentenário deve ficar a uma distância mínima de
O quarentenário deve de preferência ficar sob responsabilidade de uma pessoa
especialmente designada para essa função. Se for constatado algum sinal de
anormalidade clínica (pneumonia, diarréia, tosse, anorexia) o veterinário
responsável deverá ser comunicado.
Qualquer tratamento que for efetuado deverá ser registrado com a
identificação dos animais e a especificação da causa e dosagem do produto
utilizado.
As amostras de sangue deverão ser coletadas na chegada dos animais e quatro
semanas após, devendo ser analisadas para aquelas enfermidades que queremos
controlar e manter fora do sistema de produção.
A liberação dos animais ocorrerá, quando os resultados laboratoriais forem
obtidos, analisados e julgados aceitáveis.
O veículo que fará o transporte dos animais do quarentenário até a granja
deverá ser supervisionado.
O carregamento e descarregamento dos animais devem ser realizados pelos
funcionários da granja. O motorista não deve ter contato com os animais.
Após o esvaziamento do quarentenário, as instalações deverão ser lavadas e desinfetadas
e se possível fumigadas.
Se ocorrerem mortes durante o período de quarentena, os animais devem ser
levados a uma distância de
3.4.2 INTRODUÇÃO DE GENES VIA INSEMINAÇÃO ARTIFICIAL
Quando a opção para introdução de novos genes for à utilização de sêmen,
este deve proceder de um centro de inseminação que observe e preencha numa
série de requerimentos sanitários em relação aos seguintes aspectos:
3.5 OUTROS PRINCÍPIOS DE BIOSSEGURANÇA QUE DEVEM SER RESPEITADOS
Acesso único com estrutura para monitorar a lavagem e desinfecção dos
veículos que necessitam adentrar a unidade de produção.
A principal fonte de entrada de agentes patogênicos,ocorre
através dos próprios suínos. Esse risco de introdução pode ser minimizado
através da utilização sistemática do quarentenário, com a realização de testes
sorológicos prévios dos animais a serem incorporados no sistema. Existem, no
entanto outras múltiplas rotas afora o suíno para introdução de agentes
patogênicos o que torna o monitoramento sanitário sistemático um componente
estratégico essencial para manutenção da alta saúde de um rebanho.
3.6 FALHAS DE MANEJO QUE PODEM AFETAR A SAÚDE DO REBANHO
Existem vários fatores de risco capazes de abalar a saúde de um rebanho que
não podem ser avaliados através da utilização das ferramentas comuns de diagnóstico.
Muitos deles estão associados ao manejo e meio ambiente
da unidade de produção e só podem ser monitoradas através de inspeção
visual. Entre os fatores específicos que potencialmente podem aumentar o risco
de infecção dos suínos podemos mencionar:
Ainda temos muito a aprender sobre a patogenia, microbiologia e imunologia das doenças dos suínos. Enquanto aguardamos o
desenvolvimento de novas tecnologias capazes de trazer novas ferramentas para o
diagnóstico e controle das enfermidades, a indústria suinícola
deve continuar os seus esforços no sentido de minimizar o impacto das doenças
sobre o desempenho e a qualidade de carcaça dos animais. Além do impacto
econômico das doenças sobre o sistema produtivo, os consumidores estão exigindo
a produção de animais saudáveis criados com conforto e bem estar sem o uso de
antibióticos em suas dietas. Esse apelo deve servir de alerta para despertar a
indústria suinícola no sentido de empregar
estratégias capazes de maximizar de forma crescente a produção de rebanhos
saudáveis.