Autor : Luiz Celso Hygino Da
Cruz.
As gramíneas
são amplamente utilizadas pelo homem como fontes de
alimentos, seja na produção de cereais (trigo, milho, sorgo, arroz,
cevada, centeio, aveia, etc), seja como forrageiras
empregadas na alimentação de animais (alfafa, azevém festuca, brachiaria, colonião,
elefante, etc). Na alimentação animal, as gramíneas e
outras plantas forrageiras, podem ser aproveitadas de várias
maneiras:
a) como pastagens verdes;
b) como palhas secas, quando as plantas são
deixadas no campo após a colheita dos cereais e fornecidas aos animais;
c) na forma de feno;
d) como silagens;
e) na forma de concentrados, quando cereais ou
subprodutos da agroindústria são utilizados na formulação de rações.
Se considerarmos que em cada uma das situações
indicadas acima, o ecossistema irá se apresentar de forma bem diversa,
entenderemos que em cada caso, poderá haver fungos diferentes e, consequentemente, micotoxinas também
diferentes.
a) Fungos patogênicos para plantas.
Há inúmeras espécies de fungos capazes de causar
doenças em plantas. Algumas delas, ao invadirem os tecidos vegetais, seja ele
de natureza vegetativa ou reprodutiva, podem produzir substâncias tóxicas para
os animais e o homem. Gramíneas que são utilizadas habitualmente como
forrageiras ou as que são usadas na produção de cereais como o arroz,
trigo, cevada, centeio, aveia, estão sujeitas à
infecções causadas por fungos em sua fase de crescimento no campo. Durante o
desenvolvimento desses fungos na planta, algumas espécies produzem micotoxinas que podem permanecer ativas mesmo após a planta
ter se transformado em palha ou ter sido cortada e
submetida à secagem para a produção de feno ou para ser transformada em
silagem.
Dentre os fungos mais conhecidos como agentes de
doenças em plantas e que também são produtores de micotoxinas
enquanto as plantas ainda estão vivas e crescendo nas lavouras ou nas
pastagens, destacam-se espécies dos gênerosFusarium,
Alternaria, Rhizoctonia, Stenocarpella (Diplodia).Dentre
as muitas substâncias tóxicas produzidas nestas circunstâncias, podemos
destacar algumas das principais micotoxinas
elaboradas por espécies dos gêneros:
Fusarium
- Nivalenol (NIV), Deoxinivalenol (DON), Zearalenona,
T2, HT2 e a Fumonisina;
Alternaria - um gênero
relativamente pouco estudado pelos micotoxicologistas,
que, nos últimos anos tem sido associado com a produção de diversas micotoxinas potencialmente importantes para a criação de
animais como o Alternariol, o Alternariol mono metil éster, o Altenanueno e o Ácido Tenuazônico;
Rhizoctonia leguminicola - fungo
que produz a Slaframina;
Stenocarpella (Diplodia) maydis - fungo
patogênico para o milho e que é produtor de Diplodiatoxina.
1. Slaframina
Slaframina é uma micotoxina produzida pelo fungoRhizoctonia leguminicola classificada no grupo químico
dos alcalóides que possuem o anel indol em sua
estrutura molecular (alcalóide indolizidínico). É o
agente da Sialorréia micotóxica
que tem sido observada em equinos, bovinos, ovinos e
caprinos mantidos em pastagens de trevo: trevo vermelho (Trifolium pratense) e
trevo branco (Trifolium repens) ou que recebem suplementação de feno
de alfafa contaminada pelo fungo.
Sinais clínicos - Os
sinais surgem logo após a ingestão da forragem contaminada (
Por causa da ação parassimpaticomimética
da micotoxina, que imita a ação da acetilcolina, ao
se ligar aos seus receptores, os sinais clínicos mais frequentemente
observados são:
a) salivação excessiva;
b) lacrimejamento moderado;
c) micção frequente, cólicas e diarréia;
d) se o consumo de alimento contaminado persistir, pode-se observar perda de
peso, redução da lactação e timpanismo.
Epidemiologia - Ao infectar as folhas da planta
formando manchas negras em forma de anéis, o fungoRhizoctonia leguminicola se desenvolve formando hifas
escuras que vão se estendendo e invadindo toda a folha, culminando com a morte
da planta. A partir do centro surgem órgãos de frutificação, esclerócios pretos
que ao caírem no solo permitem que o fungo permaneça viável e persista nos
solos de áreas infectadas de um ano para outro. Enquanto o fungo cresce e
metaboliza os componentes químicos da planta, ele produz e libera a micotoxina Slaframina que pode
estar presente tanto nas pastagens como também em feno seco
armazenado.
No feno armazenado, a Slaframina pode se manter ativa por 10 meses ou mais, sua concentração pode
diminuir, mas sua atividade biológica pode permanecer a mesma. Se, por exemplo,
o feno contiver o equivalente a 100 ppm
de slaframina, após 10 meses, mesmo que sua
concentração tenha se reduzido para cerca de 10 ppm,
ela continuará produzindo seus efeitos.
Tratamento - Não há tratamento específico para a
intoxicação e nem é necessário porque o animal retorna à normalidade com a
retirada da forragem contaminada. Pode-se fazer tratamento sintomático com
atropina para reduzir a salivação e a diarréia.
2. Diplodiatoxicose
A diplodiose foi
descrita pela primeira vez na África (África do Sul, Rodésia
e Zâmbia) e, no Brasil, ela foi observada inicialmente no Rio Grande do
Sul, em bovinos alimentados com palha de milho deixadas no
campo após a colheita. A intoxicação é mais frequênte
no inverno e em épocas de maior precipitação pluviométrica quando bovinos e
ovinos se alimentam de palhas secas de milho onde ainda restam espigas contendo
grãos colonizados por Stenocarpella (Diplodia) maydis. Esse
fungo é um patógeno do milho que invade o caule, a
folha e as sementes da planta em desenvolvimento no campo. A infecção dos grãos
se inicia pela base da espiga com a produção de um micélio de cor cinza ou
marrom-claro. Durante o seu crescimento, o fungo produz picnídios negros que
são órgãos de frutificação produzidos na espiga de milho. Ao caírem no solo, os
picnídios permanecem viáveis durante o inverno e a primavera, até que uma
nova lavoura de milho é formada. Os esporos que são liberados dos picnídios são
transportadas pelo ar ou por insetos indo infectar o
milho durante o seu crescimento. Após a colheita, e durante o inverno, quando quando há pouca
disponibilidade de forragens os animais costumam ser colocados para se
alimentarem da palha seca que restou no campo após a colheita do milho
ocorrendo, então, os episódios de intoxicação.
O princípio ativo é um metabólito tóxico
denominado diplodiotoxina que foi isolado e
caracterizado a partir de culturas de Stenocarpella (Diplodia) maydis. Somente
o picnídio do fungo é tóxico, sendo necessário cultivar o fungo por 6-8 semanas
para reproduzir experimentalmente a doença.
Sinais clínicos - A
morbidade é variável entre 25% e 80% e a mortalidade entre 10% e 20%. Os sinais
clínicos caracterizam-se por:
a) tremores
musculares generalizados;
b) incoordenação,
quando os animais caminham de forma característica levantando exageradamente os
membros;
c) ataxia, paralisia e dismetria;
d) quando os animais são movimentados os sinais
clínicos se agravam, podendo haver quedas. Alguns animais permanecem em
decúbito lateral ou esternal permanente e
morrem;
e) a maioria dos animais recupera-se em
Lesões - Não se
observam lesões macroscópicas, mas na histopatologia
observa-se de moderada a severa degeneração na mielina da matéria branca do
cerebelo.
Diagnóstico - O
diagnóstico se baseia na observação dos sinais clínicos e na observação de picnídeos de Stenocarpella(Diplodia) maydis na
palha e espigas do milho que permanecem no campo.
Controle - A única
forma de controlar a intoxicação é promover o imediato afastamento dos animais
dos locais onde exista palha contaminada. A recuperação ocorrerá em poucos
dias.
b) Fungos decompositores de matéria
vegetal
Em gramíneas, as folhas localizadas na base da
planta são as mais velhas e já se encontram em decomposição pela ação de
diversos fungos saprófitas. Entre os fungos que
participam do processo de reciclagem dessa matéria orgânica vegetal,
destaca-se o Pithomyces
chartarum que é fungo produtor de esporidesmina, uma micotoxina
que, por ser hepatotóxica, é um dos causadores da fotossensibilização micotóxica em
animais.
Pithomyces chartarum - Esporidesmina
Fotossensibilização
micotóxica - Em países como a Austrália
e a Nova Zelândia, a fotossensibilização
causada pela esporidesmina vem ocupando, há alguns
anos, um lugar de destaque entre as patologias de interesse econômico para a
criação de animais de produção. Esta micotoxina é
produzida pelo Pithomyces
chartarum, um fungo que não sendo patogênico
para as gramíneas, cresce somente nas folhas mortas da planta que se encontram em contato com o solo. Portanto, é um fungo que
atua na decomposição da matéria orgânica vegetal contribuindo para a sua
reciclagem. Entretanto, a o crescer nestas folhas, durante o seu
ciclo reprodutivo assexuado, com produção de conídios, também ocorre a biossíntese daesporidesmina. Para
que esta micotoxina seja sintetizada pelo Pithomyces chartarum em
gramíneas, é necessária a conjugação de pelo menos três fatores: temperatura
entre 20 e 28o C, radiação solar (ultravioleta = sol) e umidade
elevada.
Fig. 1. Pastagem
de Brachiaria decumbens com
folhas secas em decomposição.
Fig. 2. Conídeos de P. chartarum, em
forma de granada, septados nos sentidos longitudinal e
transversal
Tabela. 1. Efeito da
temperatura sobre a esporulação do P. chartarum
No Brasil, este tipo de fotossensibilização
tem sido observado com maior frequência em bovinos e
ovinos mantidos em pastagens de Brachiaria
decumbens. Entretanto, a participação da esporidesmina nestes casos, tem sido colocada em
dúvida por pesquisadores que verificaram que a maioria das culturas
de P. chartarum obtidas destas
pastagens não produziram a micotoxina.
A prudência sugere que estudos complementares sejam realizados com maior número
de cepas do fungo originadas de diferentes regiões do pais,
comparadas com cepas comprovadamente produtoras de esporidesmina.
Fig. 3.
Animais intoxicados pela ingestão de pastagens contendo esporidesmina
com lesões semelhantes a queimadura.
A esporidesmina é
basicamente uma micotoxina hepatotóxica
e, para que surjam os sintomas característicos de fotossensibilização,
é necessário que as lesões produzidas pela micotoxina
evoluam para a obliteração dos dutos biliares, impedindo que a bile seja
eliminada no intestino. Nos animais normais, junto com a bile, também é
eliminada a filoeritrina que
é um produto oriundo do desdobramento da clorofila e que possui atividade fotossensibilizadora. Não sendo eliminada junto com a bile,
a filoeritrina cairá na corrente circulatória
provocando a fotossensibilização.
Fig. 4. Resumo
esquemático do mecanismo de desenvolvimento da fotossensibilização
micotóxica em ruminantes.
Por ser uma micotoxina hepatotóxica, mesmo que não ocorra a fotossensibilização,
é evidente que as lesões provocadas pela micotoxina
já serão suficientes para causar prejuízos à fisiologia do animal, com reflexos
em seu desenvolvimento corporal ou na produção de leite.
No controle da fotossensibilização
micotóxica vários procedimentos foram experimentados,
alguns resultaram em processos viáveis, outros se mostraram caros em
demasia e outros, ainda, não foram conclusivos. Dentre eles podemos citar:
• Acompanhamento e análise das condições
climáticas procurando identificar a confluência dos fatores climáticos que
podem estimular a esporulação. Quando ficar evidente que os três principais
fatores irão coincidir em um mesmo período, os animais deverão ser afastados da
pastagem de B. decumbens.
• Como já foi devidamente demonstrado há uma
correlação positiva entre o processo de esporulação do P. chartarum e a produção de esporidesmina
deixando a pastagem tóxica para os animais. A fotossensibilização
poderá se desenvolver quando em uma pastagem houver uma concentração superior a
200 000 conídeos de P. chartarum por grama de folhas secas de B.
decumbens. A contagem de esporos, se
conduzida adequadamente, poderá ser uma boa maneira de controlar a qualidade da
pastagem, determinando os períodos em que ela não deverá ser utilizada.
• A aplicação de fungicidas nas pastagens por
meio de aviões agrícolas foi uma das propostas experimentadas na Austrália e
Nova Zelândia, com resultados considerados positivos, se analisados somente
pelo lado microbiológico. A aplicação de tiabendazole
resultou em considerável redução no número de conídeos
do fungo, mas os custos eram muito elevados, inviabilizando a utilização do
método.
• P. chartarum é
um fungo que vive no solo e se desenvolve nas folhas velhas da planta, que
estão mortas e se encontram junto ao solo. Ele é um daqueles fungos que
participam do processo de reciclagem da matéria orgânica presente neste
material vegetal. O sistema de rotação de pastagens é uma boa maneira de evitar
que os animais comam a parte inferior da planta que contém o fungo e sua
toxina. A mudança periódica de pastagem um pouco antes de o animal ter acesso
às folhas mortas irá, além de impedir de maneira eficiente, que o animal se intoxique, introduzir uma boa prática de manejo, com
evidentes resultados no desenvolvimento animal.
• Experimentos com dietas ricas em proteínas
demonstraram que é possível reduzir os efeitos hepatotóxicos
da esporidesmina diminuindo, inclusive, os índices de
mortalidade nos animais de experimentação.
• O desenvolvimento de uma vacina foi tentado,
sem sucesso. Como as outras micotoxinas, a esporidesmina não tem propriedades imunogênicas porque elas
são haptênicas. Para se tornarem imunogênicas, as micotoxinas necessitam que uma molécula de proteína seja
conjugada a ela. Como acontece com outras micotoxinas,
esta conjugação é possível, mas os anticorpos obtidos após inoculações em
animais, não são protetores contra as intoxicações. Eles não protegem contra as
intoxicações, mas são capazes de reagirem com as micotoxinas
específicas in vitro. Isto tornou
possível o seu emprego em kitsimunológicos
para a detecção de micotoxinas em alimentos ou em
tecidos de animais.
• O tratamento dos animais intoxicados é
sintomático e inclui o afastamento deles da ação direta da luz solar, o uso de
medicamentos protetores hepáticos e o tratamento local das áreas afetadas, para
prevenir infecções bacterianas.
c) Micotoxinas
em palhas secas.
Plantas secas são comumente utilizadas na criação
de animais como alimentos volumosos para a
alimentação de bovinos, equinos, caprinos ou ovinos
ou para serem usadas na forma de cama para
cobrir o piso de ambientes em que os animais são mantidos estabulados
ou confinados. Elas podem ser fornecidas como:
a) Palhas
secas - que são abandonadas no campo após a
colheita de uma das várias gramíneas usadas na produção de
grãos, como o milho, arroz, trigo, cevada, centeio, etc.. Palhas secas dessas
plantas, que são deixadas no campo após a colheita, costumam ser
utilizadas na alimentação de bovinos, equinos
e de outros herbívoros que são colocados para pastarem sobre essas sobras de
lavouras. Como é natural no processo de reciclagem da matéria orgânica vegetal,
a exposição das partes já mortas da planta, possibilitará o desenvolvimento de
diversos fungos decompositores e, dentre eles, poderão surgir espécies micotoxigênicas.
É importante salientar que, durante o ciclo de
desenvolvimento da planta, ela poderá se tornar infectada por fungos diferentes
daqueles que participam da reciclagem da matéria morta. Dessa maneira, poderá
haver micotoxinas na palha, que foram
produzidas enquanto a planta ainda estava viva (toxinas do Fusarium, por exemplo) e
outras que somente serão produzidas quando elas já estiverem mortas e em
decomposição.
b) Cama - Este
tipo de material também é bastante utilizado como cama em estábulos, pocilgas e
outros ambientes usados para o abrigo de animais. O principal objetivo para se
cobrir o piso com capim seco (cama) é a redução da umidade ambiental através da
absorção de água pela palha seca. Por absorver água do ambiente a palha se
torna úmida e, por isso, se transforma em um substrato adequado ao crescimento
de diversos fungos que, ao metabolizarem a matéria orgânica vegetal, poderão
liberar metabólitos secundários tóxicos.
ESTAQUIBOTRIOTOXICOSE
Estaquibotriotoxicose é
uma micotoxicose que se manifesta especialmente em equinos (mais sensíveis), bovinos, ovinos e suínos que
consomem palhas ou fenos obtidos de plantas onde tenha ocorrido crescimento
do fungo Stachybotris
atra.
Micotoxinas - Stachybotris atra é
um fungo capaz de produzir diversas micotoxinas do
grupo dos Tricotecenos macrocíclicos, destacando-se entre elas
as Satratoxinas F,
Ge H, os Tricoverróis A e B,
as Trocoverrinas, as VerrucarinasB e J,
a Roridina E, as Atranonas e a Estaquilisina (uma hemolisina). Não se sabe, ainda, quais destas micotoxinas ou se todas elas podem estar correlacionadas
com o quadro de intoxicação. As mais estudadas têm sido as Roridinas,Verrucarinas, Satratoxinas e as Bacarinas .
É importante salientar que tanto as Roridinas quanto asVerrucarinas também
podem ser produzidas no solo por Myrothecium
roridium e M verrucaria e absorvidas através das raizes pela planta Baccharis
coridifolia que é uma conhecida planta
tóxica.
Efeitos tóxicos - À necrópsia observa-se lesões
necróticas e hemorrágicas em diversos órgãos.
O principal mecanismo de ação dos tricotecenos macrocíclicos está
associado à potente ação inibidora que exercem sobre a biossíntese
de proteínas em células eucarióticas, afetando principalmente a divisão
celular. São também dotadas de propriedades leucotóxicas
e dermonecróticas e são inibidoras de sistemas
enzimáticos, além de serem imunotóxicas.
Sinais clínicos - A Estaquibotriotoxicose pode se manifestar de duas formas
distintas:
a) Aguda com gastroenterite
hemorrágica ou
b) Crônica com leucopenia.
Observa-se,
inicialmente, lesões necróticas localizadas na boca, seguindo-se um quadro de leucopenia e coagulopatia,
culminando com óbito. Os animais também podem apresentar intensa irritação
na pele e nas membranas mucosas.
Epidemiologia - Há
evidências de que a intoxicação possa ser desencadeada não somente pela
ingestão das micotoxinas presentes na planta
contaminada pelo fungo, como também através da inalação de conídios e
fragmentos de hifas que carreariam as micotoxinas.
Esta possibilidade se reveste de grande importância porque, além dos animais,
também o homem estaria sujeito á contaminação através da inalação de poeira
emitida pela movimentação dos estoques de palha ou de feno.
d) Micotoxinas
em fenos e silagens.
Fenos
Durante o processo de fenação, quando as
forragens depois de cortadas são submetidas à secagem por exposição ao sol, os
fungos que são patogênicos para as plantas, entre eles,Fusarium, Cladosporium e Alternaria,
morrem e são substituídos por espécies de outros gêneros que, também, poderão
ser toxigênicas. Em geral, as espécies que se
desenvolvem nesta segunda etapa, pertencem aos gênerosAspergillus e Penicillium, com predomínio de um ou de outro, de
acordo com o tipo de substrato e com as condições ecológicas do ambiente de
estocagem. Isto quer dizer que só haverá crescimento de fungos no feno estocado
se ele vier a ser mantido em ambientes que possibilitem o aumento de suaatividade de água (Aa).
As micotoxinas que
forem produzidas na planta ainda verde, antes de ser cortada e fenada, podem continuar ativas mesmo após a planta ter sido
seca e transformada em feno. Por esse motivo, algumas micotoxinas
como a zearalenona e odeoxinivalenol,
podem ser encontradas em fenos, mesmo que não se tenha sucesso nas tentativas
de cultivar o Fusarium. Às micotoxinas pré-existentes, serão incorporadas outras que
vierem a ser produzidas por espécies dos gêneros Aspergilluse Penicillium.
Análises micológicas realizadas em amostras de
feno demonstraram a presença, em elevados percentuais, deAspergillus fumigatus, Aspergillus nidulans, Aspergillus versicolor e de
espécies do grupo Aspergillus glaucus. Em outro estudo, verificou-se que os
gêneros Fusarium,Cladosporium, Alternaria e Acremoniella, presentes logo após a colheita, foram substituidos por espécies dos gênerosAspergillus (A.
flavus, A. glaucus, A. candidus, A. niger) ePenicillium).
Aspergillus
fumigatus
Dentre os fungos contaminantes de feno, o Aspergillus fumigatus pode
ser considerado como um dos mais importantes. Além de ser um contaminante
frequente, ele é um dos principais agentes de
infecções fúngicas em animais domésticos e no homem.
A Aspergilose tem sido diagnosticada em bovinos,
equinos, ovinos, suínos, cães, coelhos e em animais
silvestres. A localização pulmonar é a mais comum, mas também podem ocorrer
infecções generalizadas, incluindo o comprometimento da mucosa intestinal e de
nódulos mesentéricos. As lesões são granulomatosas e
caracterizadas pelo desenvolvimento do fungo em uma colônia envolvida pela
reação tecidual do organismo animal.
As infecções no aparelho respiratório são mais frequentes em animais que são estabulados
e permanecem por longos períodos em contatos com materiais de origem vegetal
(feno, ração ou cama de palha) que podem mofar se estiverem com elevado grau de
umidade. Os animais inalam os conídios produzidos pelo fungo iniciando o
processo infeccioso.
Em bovinos pode
ocorrer tosse fraca com respiração dificultosa, diarréia sanguinolenta e
fétida, febre baixa e perda de apetite. Podem ser observadas lesões pulmonares
caracterizadas por nódulos na cavidade sub-pleural
e enfisema interlobular. A infecção pode se
tornar generalizada e também pode ocorrer aborto, quando o fungo alcança o
útero através da circulação sanguínea.
Em equinos,
também o aborto pode ser observado secundando uma infecção pulmonar. Também pode ocorrer meningite e infecção generalizada. É bastante frequente a infecção da bolsa gutural por Aspergillus. A. fumigatus também pode ser responsável por
mastites em vacas e cabras.
Silagens
Ensilagem é um sistema de preservação de
forragens verdes mantidas em silos sob baixa tensão de oxigênio (anaerobiose) e
alto grau de acidez resultante de fermentações bacterianas. No preparo das
silagens são empregados vegetais que não contêm sementes maduras, mas somente
um misto de plantas com seus caules e folhas ou, até mesmo sementes ainda
imaturas. Toda a matéria verde é cortada em pequenos pedaços e transferida para
o silo onde deve ser bem prensada para a eliminação do oxigênio. Para acelerar
o processo fermentativo, podem ser utilizados inoculantes
bacterianos que sejam produtores de ácido propiônico
e ácido lático. Silagens inoculadas com uma associação de Propionibacterium acidipropionici eLactobacillus plantarum apresentam menor crescimento de
fungos e leveduras após a abertura do silo. Depois de cheio, o silo precisa ser
bem vedado com uma cobertura de plástico para evitar a penetração de oxigênio
do ar. Em condições de anaerobiose e pH ácido, a
maioria dos fungos fica impedida de crescer, mas se o processo de preparação
for mal conduzido quando podem ocorrer defeitos na vedação ou na compactação e,
se durante o seu uso, o material permanecer exposto ao ar por longos períodos,
diversos fungos filamentosos poderão crescer e produzir micotoxinas.
As micotoxinas detectadas em silagens são produzidas
por fungos diferentes em dois momentos distintos, antes ou após o processo de
ensilagem.
1. Antes da ensilagem (antes da
colheita) - Micotoxinas podem
ser produzidas em vegetais mesmo antes de serem colhidos para o preparo de
silagens. Aspergillus flavus, e espécies do gênero Fusarium, por exemplo, dependendo da
interação de certos fatores, podem produzir suas micotoxinas
na planta ainda durante o cultivo. O mesmo acontece em relação aos fungos
endofiticos, muitos dos quais podem produzir
alcalóides tóxicos.
Quando a anaerobiose e a acidez são estabelecidas
na silagem, esses fungos de campo têm o seu crescimento interrompido, mas suas micotoxinas, se presentes, permanecerão ativas. Dessa
maneira, micotoxinas como aZearalenona, os Tricotecenos e a Fumonisinas, devem ser consideradas como micotoxinas que seriam produzidas no período anterior à
ensilagem ou quando a silagem não tiver sido adequadamente preparada e as
espécies de Fusarium puderem
continuar a crescer no material ensilado. Mesmo que este princípio possa ser
aplicado às Aflatoxinas porque,
como se sabe, o A. flavus também
pode afetar o milho ainda no campo, apesar de poucas vezes isto acontecer,
as Aflatoxinas não devem
ser consideradas contaminantes importantes de silagens. Elas devem ser
consideradas a principal das micotoxinas que são
produzidas em grãos armazenados.
2. Após a ensilagem
(pós-colheita) - Com a modificação do meio ambiente no
interior das silagens, outras espécies que são adaptadas às condições de microaerofilia e alta acidez, podem se desenvolver e
produzir suas micotoxinas. Se durante o processo de
ensilagem, a compactação da massa vegetal não tiver sido feita corretamente,
resultando em bolsões de ar ou, se a vedação externa for deficiente permitindo
a entrada de ar, fungos trazidos do campo, como o Fusarium, poderão manter-se ativos e
produzindo suas toxinas.
Dentre os diversos fungos isolados de silagens,
os mais importantes são: Penicillium
roquefortii Aspergillus
fumigatus, Aspergillus
clavatus, Byssochlamys
nívea,Monascus spp. Estas
espécies são de importância na criação de animais por serem produtoras de micotoxinas que interferem com diversos aspéctos
da saúde animal. Dentre as micotoxinas que podem ser
produzidas por estes fungos destacam-se:
Penicillium
roquefortii: Patulina,
Roquefortinas B, C, e D, Ácido micofenólico,
Ácido penicílico, Toxina PR, Festuclavina,
Agroclavie, Fumigaclavinas
A e B, Marcofortinas A, B e C.
Aspergillus
fumigatus: Toxinas tremorgênicas (Verruculogeno, Fumitremorgeno e Penitren A), Gliotoxina, Fumagilina, Viriditoxina.
Aspergillus
clavatus: Patulina,
Citochalasina, Triptoquivalina.
Byssochlamys
nívea: Patulina
Monascus
spp: Monacolinas
e Citrinina.