Autor : Gustav Decuadro-Hansen.
Introdução.
O número de kg de suíno vendido
por fêmea/ano é o principal critério de lucratividade da suinocultura moderna e
é influenciado por um número importante de fatores - entre os quais está o
período de lactação da porca.
A fisiologia da reprodução das
porcas é caracterizada por uma inibição do ciclo folicular e do comportamento
do cio durante a lactação (quadro1). Embora os mecanismos hormonais que atuam
inibindo o reinício da atividade cíclica ovariana e retardando a recuperação da
capacidade reprodutiva plena após o parto
ainda não sejam totalmente compreendidos nas matrizes suínas, algumas
evidências indicam que a supressão da liberação de GnRH e a conseqüente inibição dos pulsos de LH, sejam
os fatores endócrinos preponderantes na ocorrência de um período de anestro pós-parto.
O intervalo desmame
cio longo (IDC) influência negativamente o tamanho da leitegada.
Este anestro
de lactação pós-parto das fêmeas suínas seria a conseqüência de um reflexo neuro-endócrino mediado pela prolactina
e ocitocina liberados pela amamentação
(retroalimentação negativa da secreção de FSH e LH(09). Segundo Bevers e col. (1978), os níveis de prolactina
do sangue periférico durante a lactação variam de 8-30 ng/ml
e, no desmame ou retirada dos leitões, induz uma queda rápida a níveis de 1-2 ng/ml. Na realidade, no último mês de gestação a secreção de FSH e LH está deprimida e é aumentada
imediatamente após o parto, porém é inibida pela amamentação dos leitões, sendo
a freqüência e intensidade de amamentação os fatores que desencadeiam este
reflexo(03).
Este anestro
fisiológico de lactação é rapidamente revertido após o desmame em matrizes bem
alimentadas e sem problemas sanitários, seguindo um recrutamento folicular e
apresentando um cio 3-7 dias pós-parto(09). Em geral, em granjas com manejo e sanidade corretas, mais de 85% das
fêmeas apresentam cio em um período inferior a sete dias após o desmame.
Para obter uma alta taxa de
partos em granjas comerciais, os principais pontos a serem observados e
controlados são:.
1) Uma
rápida entrada em cio no grupo de matrizes desmamadas (intervalo desmame-cio);
2) O
maior número de matrizes gestantes com o maior número de embriões possíveis,
refletindo um ótimo trabalho reprodutivo;
3) Que o
máximo de embriões produzidos se transformem em leitões nascidos vivos;
Se estes 3 pontos são controlados
com a máxima eficiência, atinge-se os 3 objetivos
primordiais de um bom manejo reprodutivo: Intervalo desmame-cobertura reduzido,
máxima fertilidade e máxima prolificidade.
O intervalo desmame-cio (IDC) é
um dos fatores com maior impacto sobre o desempenho reprodutivo da fêmea e é
fortemente influenciado pelo manejo e a sanidade da granja. Todos os fatores
que afetam a fisiologia e o estado metabólico das matrizes na lactação e no
desmame podem influenciar o retorno ao cio(09). O aumento desse período da vida
reprodutiva da matriz está correlacionado com a diminuição do tamanho da
leitegada, número de leitões nascidos vivos e a taxa de parição.(12,
11).
Ele é influenciado por numerosos
fatores como clima, fotoperíodo, tipo de alojamento,
idade das matrizes, nutrição, consumo de água na maternidade, sanidade, duração
da lactação, genética e contato com o macho.
Quando se tenta reduzir o
intervalo desmame-cobertura deve-se respeitar ao máximo o período de rápida
entrada em cio fisiológico. Entre as medidas de manejo a considerar se encontra
um adequado manejo de alimentação durante a lactação, controle da temperatura
ambiental e do fotoperíodo, evitar períodos de
lactação demasiadamente grandes ou pequenos, tratamentos hormonais e um correto
manejo da detecção de cios.
Após a ocorrência do cio clínico
ou silencioso e a ovulação, as concentrações de progesterona sanguínea (P4),
testemunho da existência de um corpo lúteo, aumentam rapidamente a partir do
segundo dia pós-ovulação e induzem modificações no comportamento da porca,
incluindo a não aceitação do macho(05). A secreção de P4 pelo corpo lúteo
aumenta até chegar a um valor máximo (às vezes de até 33 ng/ml)
nos dias 11-12 do ciclo estral, permanecendo estável durante 2-3 dias e no dia
14-15 diminui (se não houver gestação), após a regressão do corpo lúteo em
aproximadamente 48 horas caindo a níveis de menos de 1 ng/ml.
Se houver gestação os níveis de P4 permanecem altos e a concentração deste
hormônio é sempre superior a 5 ng/ml(01). A
utilização “a campo” deste tipo de medida do P4 circulante é uma ajuda valiosa
para o profissional veterinário (ver quadro 2 e figura 3). Assim
por exemplo, durante um diagnóstico de problemas reprodutivos em uma granja (anestro, IDC prolongado por cio durante a lactação), esta
medida pode impedir o envio a abate de matrizes produtivas em pseudo anestro e a utilização desnecessária de hormônios
gonadotróficos para a estimulação ovariana, evitando o risco de aparição de
cistos ovarianos em matrizes produtivas (quadro 2).
O tipo de instalação, ambiente e manejo nutricional
são fatores que afetam diretamento o IDC.
Entretanto, a existência de “cios
de lactação” é descrita na literatura(07): um cio de lactação pode ser definido
como a reaparição da atividade folicular com ovulação e eventualmente com
comportamento estral.
Este tipo de problema foi,
inclusive, observado como conseqüência de protocolos experimentais sob o
comportamento das matrizes na maternidade, frente a medidas de manejo
particulares, tais como a indução de “desmame parcial” ou a presença de um
macho(07, 06).
Assim, por exemplo, Kuller e col. praticaram um desmame parcial ou temporário
em 112 matrizes, separando os leitões durante 12 horas entre o dia
Os objetivos deste estudo foram:.
• Determinar se os cios de
lactação são uma das causas do prolongamento do “Intervalo do Desmame-Cio”,
• Avaliar se os cios de lactação
têm impacto sobre a performance reprodutiva da granja.
Materiais e métodos.
O protocolo é baseado nas
seguintes hipóteses:.
• O cio de lactação é seguido por
um ciclo estral normal, incluindo uma fase luteal de
16 dias.
• O ciclo estral não é
interrompido pelo desmame. O primeiro cio depois do desmame é então deslocado
• Durante a fase luteal, a presença do corpo lúteo pode ser detectado por dosagem da progesterona, do segundo ao 14° dia
seguinte à ovulação.
Dessas hipóteses conclui-se que
uma dosagem da P4 (progesterona) permite detectar o cio de lactação que ocorre
entre o 14° dia e o segundo dia antes do desmame. Considera-se então que uma
porca que apresentou um cio de lactação:.
1) Seu
IDC se encontra entre 7-22 dias;
2) Se a
dosagem da P4 (progesterona) no momento do desmame é positiva (Tabela 01).
O estudo foi realizado em sete
granjas (A, B, C, D, E, F e G) na França, onde foi observado um retorno ao cio
pós-desmame tardio (IDC longo).As granjas foram
selecionadas pelo programa de gestão GTTT em dois dos maiores grupos de
produtores deste país. Os suinocultores selecionados seguiram o seguinte
protocolo:.
1) Não
praticar tratamentos hormonais no desmame;
2)
Anotar as datas de inseminação;
3) Ter
durante quatro semestres sucessivos um mínimo de 7 % de IDC prolongado (sétimo
e 22° dias) e/ou um porcentual anormalmente elevado de retornos ao cio
irregulares.
É essencial
diferenciar o IDC longo de outras causas como a sindrome
do segundo parto.
Em cada granja um exame de sangue
foi previsto no dia do desmame, no conjunto das porcas de duas a quatro bandas.
As amostras foram centrifugadas logo após a colheita e o plasma foi congelado.
O intervalo de desmame da primeira inseminação é anotado para cada porca. Neste
estudo, o intervalo de desmame, a primeira inseminação é tomada como
equivalente ao IDC. No total, 540 porcas foram examinadas pela dosagem do P4 e
492 foram incluídas no estudo (
As porcas com um IDC superior a sete dias foram consideradas com um IDC longo e
aquelas com um IDC inferior a sete dias com IDC normal. Por cada porca
selecionada com um IDC longo foi também selecionada uma porca com um IDC normal
(controle) da mesma ordem de parto e banda. Um diagnóstico de gestação por
ecografia foi realizado quatro semanas após a inseminação.
O conjunto dos plasmas das porcas “IDC Longo” e “IDC Normal”
foram analisados no laboratório de análises hormonais de l’INRA de Nouzilly. A
análise é quantitativa com um limiar de positividade de (2,3 ng/ml), permitindo determinar se uma porca está ciclando ou não (positivo) (Quadro 4).
Resultados.
Das 492 matrizes que participaram no teste, 66 porcas (13 %)
apresentaram um IDC Longo e uma suspeita de cio em lactação (Figura 1).
A proporção de matrizes com IDC longo é nitidamente superior
na granja G (23 %) em relação aos outras granjas (8%). Porém, esta granja
representa uma parte importante das amostras (37%) (Figura 2).
Uma correlação positiva entre ordem de parto e IDC longo foi
constatada na granja G (Fischer, p <0.0001), enquanto o mesmo não foi
observado em outras. (2).
A relação entre IDC e a progesteronemia é altamente significativa (Quadro 1χ , 2 p<0.0001). Todas as matrizes que apresentarem um IDC
normal (4-6 dias) foram negativas à dosagem de P4 no dia do desmame. A
proporção de porcas à progesteronemia positiva entre
os “IDC longos” e menos importante na granja G (15 %) que nas outras granjas
(40%) (Fig.2). A incidência de cios de lactação confirmados é de 3,3% na
população de 492 porcas estudadas. Esta incidência não é diferente entre a
granja G e as outras granjas.
O resultado do diagnóstico de
gestação é conhecido por 97% de porcas analisadas, incluindo 13 das 16 que
apresentaram um cio de lactação (IDC longo e progesteronemia
positiva). A gestação foi confirmada em 98% das porcas, incluindo 12 das 13 que
apresentaram um cio de lactação. Chama a atenção, que as
matrizes que apresentaram um cio de lactação desmamaram significativamente
menos leitões que aquelas que não o sofreram (Quadro 6).
Discussão.
Este estudo permite confirmar a
existência de cios de lactação nas granjas de suínos. A ausência de porcas à progesteronemia positiva entre as porcas à IDC normal
permite confirmar a especificidade do método utilizado. É importante realizar
um diagnóstico diferencial com outras causas de alongamento do IDC, em
particular a síndrome de segunda leitegada. A comparação de incidência de IDC
longos entre as primíparas e as multíparas permite
realizar este diagnóstico diferencial. Entre as seis granjas onde não existe
síndrome de segunda leitegada, os cios de lactação representaram 40% do IDC
longos. Trata-se seguramente de um número mínimo, uma vez que a progesteronemia foi medida unicamente no desmame — o que
não permitiria detectar os cios intervenientes menos de cinco dias ou mais de
14 dias antes do desmame.
O IDC pode contribuir até em 25%
nos dias não produtivos (DNP) de uma granja. Numa criação com bom manejo se pode
obter um objetivo de
O IDC pode ser reduzido
adotando-se boas práticas de manejo como:.
• Tendo as matrizes em boas
condições corporais no momento do desmame,
• Realizando um ótimo manejo
(leitões e matrizes) na maternidade com o objetivo de evitar cios na lactação,
• Separando no desmame as matrizes
que tenham menos de
• Fazendo um bom manejo
reprodutivo. Por ordem de importância:.
1)
Detecção do cio,
2) Momento
das inseminações
3) Boa
técnica de inseminação
4) Sêmen
diluído fresco e de boa qualidade
5) Bom
manejo depois da inseminação.
É interessante ressaltar neste
momento a eficácia que constatamos em algumas granjas de reagrupar os cios das
matrizes por intermédio do uso de injeções de prostaglandina
no dia do desmame. Temos constatado vantagens econômicas desta prática de
manejo, uma vez que reduz os DNP e melhora a organização do trabalho de
inseminação.
Como resultado, o uso de prostaglandina sintética (alfaprostol)
no dia do desmame permite, em algumas granjas, melhorar de forma significativa
o IDC assim como agrupar os cios das matrizes(08, 04).
Prostaglandinas
sintéticas (Alfaprostol) ou naturais (dinoprost) eliminam o corpo lúteo depois do período
refratário prostaglandinas (12 dias antes da
ovulação), uma ferramenta útil para provocar a saída do cio antes do desmame.
Injetando prostaglandinas
no desmame conseguimos sincronizar os cios, agrupá-los, e encurtar o IDC. É
interessante perguntar porque em algumas granjas esta
medida é eficaz? Um dos fatores que explica este efeito pode ser a existência
de corpos lúteos no momento de desmame induzidos por cios lactacionais,
não obstante o papel que as prostaglandinas tem na estimulação intrafolicular
de produção de colágeno e elastase que agem na
ruptura folicular não deve ser descartado(08). Sem dúvida, é necessário
esclarecer a sensibilidade dos corpos lúteos da matriz durante a lactação à prostaglandina.
Em conclusão, este estudo permite
confirmar:.
1) Que
os cios durante a lactação existem;
2) Que é
necessário de incluir este problema na síndrome do alongamento do IDC e,
sobretudo, que é preciso saber diferenciá-los da síndrome da segunda leitegada;
3) Em
granjas onde não existe a síndrome da segunda leitegada o cio de lactação pode
representar 40% das causas de cio tardio pós-desmame;
4) Uma
terapia hormonal pós-desmame é uma importante ferramenta para estimular a
ocorrência de cio em granjas que apresentam este problema, permitindo a
sincronização e concentração dos cios, assim como melhorar a performance
reprodutiva.