Autor :
Rafael Herrera Alvarez (Med. Vet. Zoot., Dr., PqC da APTA Regional Centro Sul/APTA); Daniel Gracioli (Med. Vet. da Pen Ar Lan Brasil.)A suinocultura é considerada atividade de grande
importância por gerar empregos, volume em exportações e por produzir proteína
de alta qualidade em área reduzida e curto espaço de tempo (FÁVERO e BELLAVER
2002).
Segundo a FAO
(2009), das carnes de todas as espécies, a suína é atualmente a mais consumida
no mundo atingindo 99,2 milhões de toneladas. A China ocupa o primeiro lugar de
produção, com aproximadamente 44 milhões de toneladas, enquanto que o Brasil
ocupa o sexto lugar com 2,5 milhões de toneladas (FAO, 2009).
A liderança
mundial de consumo da carne suína provavelmente está relacionado
à sua versatilidade de uso na alimentação humana, uma vez que pode ser
disponibilizada "in natura" ou na forma de embutidos, salgados e
defumados.
No Brasil, o
rebanho de suínos tem se mantido relativamente constante. O número de matrizes
na suinocultura industrial gira em torno de 1,59 milhões de cabeças, com um
crescimento de 0,6% no ano de 2010 (ABIPECS, 2011a). O crescimento da oferta de
suínos para abate SIF no ano de 2009 para 2010 foi de 3,5%, passando de 28,1
milhões para 29,1 milhões de cabeças (ABIPECS, 2011b).
O melhoramento
genético de suínos teve o seu início, nos moldes da indústria atual, a partir
da década de 60 (NASCIMENTO, 2010). Naquela época, os programas de seleção
procuravam favorecer principalmente a taxa de crescimento dos animais, uma vez
que tanto a carne quanto a gordura, tinham valor comercial.
Contudo, a
partir da década de 1970, o mercado consumidor e as industrias
de processamento exigiram dos produtores a adoção de ações específicas
destinadas a modificar as características da carne suína. Conseqüentemente, os
programas de melhoramento genético buscaram incluir, como critério de seleção,
a redução da espessura de toucinho subcutânea e a diminuição do conteúdo de
gordura na carcaça.
É
preciso mencionar, entretanto, que além dos fatores genéticos, o fenótipo de um
indivíduo é influenciado pelo manejo alimentar, qualidade da nutrição (qualidade dos ingredientes e
níveis nutricionais), estado de saúde do rebanho, sistema de produção,
transporte dos animais, manejo pré-abate, abate e pós-abate, processamento e
armazenamento da carne (NASCIMENTO, 2010).
Existem
grandes
variações na eficiência de deposição
de carne entre as raças ou populações
genéticas de suínos.
Os dados
apresentados pelo Programa Nacional de Avaliação Genética de Linhas de Machos
Terminais, realizado em 1995, sob a responsabilidade do "National Pork Producers
Council" (BAAS et al., 2003) mostram diferenças expressivas entre
alguns dos materiais genéticos avaliados.
O trabalho do
NPPC apresenta dados de conversão alimentar, sendo os animais mais eficientes
na produção de carne também os mais eficientes na transformação de alimentos em
peso de carcaça.
Assim sendo, é
importante que os programas de seleção sejam orientados, principalmente nas
linhas de machos terminais, para a obtenção de animais que apresentem um alto
ganho diário em carne, com redução de gordura.
Outro aspecto
importante relacionado com a tendência do mercado atual é selecionar raças,
linhas dentro de raças ou mesmo linhas sintéticas que sejam livres de genes
associados com características produtivas indesejadas, caso dos genes
"Ryr1" (e RN.
O gene Ryr1
(receptor da ryanodina ou gene do Halotano)
surgiu de uma mutação no nucleotídeo 1846 do cromossoma 6 suíno. Sua presença
contribui para o aumento do percentual de carne na carcaça (JONES et al., 1998; De SMET et al., 1996), porém, esta carne possui um mercado
restrito, sendo rejeitada por ser pálida, flácida e exsudativa
(PSE, do ingles Pale, Soft and Exudative)
ou, com menor frequência, escura, dura e seca (DFD,
do ingles Dark, Firm and Dry
).
O gene Ryr1 é
também o responsável pela síndrome de estresse porcino
ou hipertermia maligna, doença hereditária monogênica
recessiva que se caracteriza por uma desordem neuromuscular, que pode levar à
morte os porcos homozigoticos.
Um segundo gene
de efeito importante que afeta a qualidade de carne, denominado gene da carne
ácida, foi identificado em animais oriundos da raça Hampshire
(PLASTOW, 2000).
Também
denominado de RN, pelo fato de ter sido estudado pela primeira vez em
avaliações do Rendimento Napole de presuntos, esse
gene está relacionado ao conteúdo de glicogênio das células que formam as
fibras musculares brancas e sua presença implica em uma perda no rendimento
industrial de determinados cortes da carcaça suína, especialmente o pernil,
quando cozido sem a adição de fosfato (SOSNICKI et al., 1996).
No início,
acreditava-se tratar-se de um problema restrito a populações de Hampshire, porém, posteriormente foi identificada a
presença do gene RN- em populações comerciais de suínos brancos (MEADUS e McINNIS. 2000), provavelmente devido ao intenso uso de
machos terminais da raça Hampshire.
Em razão desses
inconvenientes, atualmente as empresas comerciais de melhoramento genético
selecionam reprodutores altamente produtivos e livres dos genes Ryr1 e RN
(Tabela 1).
Tabela 1. Desempenho da progênie de um reprodutor livre dos genes Ryr1 e RN,
selecionado para alto desempenho industrial. UPD de Tanquinho/Pólo Centro
Sul/APTA/SAA (2011)
Esses dados
demonstram a eficiência dos programas de seleção de reprodutores para
desempenho produtivo, sem abrir mão das características qualitativas de carne.
Papel da
UPD de Tanquinho na avaliação de reprodutores suínos
Desde sua
criação, em
O racional para
a implantação dessa unidade deriva da importância manter os animais em um
ambiente controlado em que o consumo de alimento é controlado individualmente,
no mesmo local e sob condições semelhantes de manejo, o que permite eliminar o
efeito do ambiente.
Segundo VAN
DIEPEN e KENNEDY (1989) essa estratégia possibilita determinar com igual (a vezes maior) precisão a capacidade genética de um
determinado reprodutor