Informativo Técnico Nº. 175

DIAGNÓSTICO SOROLÓGICO DE DOENÇAS CAUSADORAS DE FALHAS REPRODUTIVAS – PARTE III

 

 LEPTOSPIROSE SUÍNA

 

A leptospirose é uma zoonose de ampla distribuição geográfica, geralmente de caráter ocupacional, representando risco para a saúde pública. É classificada como uma doença da lista B. É uma importante causa de prejuízos em rebanhos de reprodução.

A espécie L. interrogans está dividida em sorogrupos, ou seja, as que apresentam analogias antigênicas são classificadas no mesmo sorogrupo. São reconhecidos 23 sorogrupos e são divididos em mais de 212 sorovares. Os sorovares de maior freqüência de registro na espécie suína no mundo são: pomona, tarassovi, canicola e icterohaemorrhagiae. A Leptospira interrogans, sorovar pomona é o patógeno mais importante do grupo de leptospiras para o suíno. Entretanto, outros sorovares como icterohaemorrhagiae, grippotyphosa, canicola e bratislava também têm sido isoladas .

Os sintomas em suínos jovens são inespecíficos como: febre, icterícia, anorexia e hemoglobinúria. Nas matrizes o problema é de esfera reprodutiva, gerando abortamentos, partos distócicos, leitegadas pequenas, baixo número de nascidos totais, mumificação fetal, descarga vulvar, natimortos e nascimento de leitões fracos, de baixa viabilidade pós-parto, aumentando significativamente o índice de mortalidade.

A doença apresenta-se de duas formas: aguda, que coincide com a leptospiremia e observa-se perda de apetite, febre e apatia dos animais e a forma crônica, na qual acorrem abortamento no terço final da gestação, repetição de cio, mumificação fetal, natimortalidade, nascimento de leitões fracos, baixo número de leitões nascidos, descarga vulvar e morte embrionária.

Os suínos infectam-se através do contato com água ou alimentos contaminados, com urina, fetos abortados e descargas uterinas de animais portadores. A infecção pode ocorrer pelas vias oral, venérea, pele lesionada, conjuntiva ou outras mucosas.

O período de incubação é de 2 a 5 dias, ocorrendo disseminação hematógena com localização e proliferação em órgãos parenquimatosos, particularmente fígado (figura 1), rins, baço e, algumas vezes, nas meninges. A leptospiremia dura, em geral, de dois a três dias, há uma fase febril discreta e, já no quarto dia, as leptospiras estão presentes nos rins, onde se localizam no lúmen dos túbulos proximais, causando nefrite intersticial. Também penetram e multiplicam-se nos fetos, podendo levar à morte e reabsorção fetal, abortamento ou prole fraca.

 

Fig 01

Figura 1: Leptospiras coradas pela prata em fragmento de fígado. Fonte: emedicine

 

É sabido que as vacinas contra a leptospirose, em suínos, previnem a doença. Entretanto, a especificidade dos sorovares limita a eficiência de vacinas mortas com células íntegras.

Apesar de todas estas técnicas, a prevenção da leptospirose suína é largamente dependente de medidas de saneamento da granja e de diagnóstico da doença, que muitas vezes são difíceis de serem implementadas, principalmente em regiões onde a suinocultura não é tecnificada, gerando um problema para o controle e erradicação da doença no mundo.

 

ERISIPELA SUÍNA

 

            A erisipela suína (ES) ou ruiva é uma doença causada por bactérias do gênero Erysipelothrix spp. É uma doença de distribuição mundial, de caráter hemorrágico e que, usualmente, cursa com lesões cutâneas, articulares, cardíacas ou septicêmicas em suínos, além de aborto e mumificação fetal, além de outros transtornos reprodutivos. Adicionalmente, baixa fertilidade, caracterizada por aumento na taxa de abortos e natimortos e nascimento de leitegadas pequenas tem sido atribuída à infecção crônica por Erisipela suína, podendo também estar associadas a epidemias de aborto.

            Suínos de todas as idades podem se infectar, mas animais entre 2 e 12 meses e porcas prenhes são as categorias mais susceptíveis. 30-50% dos suínos são portadores da bactéria que infecta as tonsilas e outros órgãos linfóides sem causar sinais clínicos sistêmicos.

O diagnóstico clínico da ES é considerado fácil, contudo, quando há lesões de pele que são consideradas patognomônicas (figura 2). Entretanto, septicemia aguda ou subaguda sem lesões características na pele podem ser confundidas com Peste Suína Africana e infecções sistêmicas por Salmonela spp., Streptococcus spp. e Pasteurella spp. Além de problemas septicêmicos, que podem provocar mortes súbitas principalmente em fêmeas suínas reprodutoras, a infecção por Erysipelothrix rhusiopathiae também pode ocasionar transtornos reprodutivos caracterizados por endometrite e aborto, aborto no final de gestação, mumificação fetal, aumento da natimortalidade e nascimento de leitegadas reduzidas. Na grande maioria dos casos, sinais clínicos como apatia, febre, anorexia, vômitos e descargas vulvares são freqüentes.

 

Fig 02

Figura 2: Lesões de pele características de Erisipela. Fonte: Manual Veterinário Merck

 

O diagnóstico pode ser realizado através de exames bacteriológicos e sorológicos. A imunoprofilaxia com o uso de vacinas autógenas tem sido indicada.

 

TOXOPLASMOSE

 

            A toxoplasmose é causada pelo Toxoplasma gondii, parasito pertencente ao Reino Protista. Esse parasito é um coccídio intracelular obrigatório que pode ser encontrado de três formas: taquizoítos, bradizoítos ou cistos teciduais e oocistos, este último somente no intestino dos felídeos. O homem, animais selvagens e domésticos e também os pássaros são os hospedeiros intermediários e os hospedeiros definitivos são os felídeos.

            O gato é considerado a principal fonte de infecção para suínos e demais espécies de vertebrados, através da contaminação da água e da ração com oocistos. Os suínos podem, também, ingerir cistos teciduais comendo roedores infectados ou carne infectada, oferecida na forma de restos ou adquirir infecção transplacentária.

 

Fig 03

Fonte: Retirado do site Flickr.

 

A patogenia e sinais clínicos são bem variados, ocorrendo desde casos benignos com febre e discreto aumento ganglionar, até casos de grave comprometimento do sistema nervoso central, alterações oculares provocando cegueira, comprometimento do sistema reprodutivo provocando aborto.

A toxoplasmose leva a dois graves problemas: falhas reprodutivas em animais de produção e implicações na saúde pública, associadas ao consumo de carne ou leite contaminados. A infecção transplacentária pode causar aborto ou nascimento de filhotes com sinais clínicos severos, podendo causar morte.

Os suínos adquirem a toxoplasmose principalmente pela ingestão de água e de ração contaminada com fezes de felinos. A maioria das infecções são sub-clínicas, ocorrendo doença clínica em neonatos e leitões jovens e a ocorrência de aborto. Pode causar abortos, natimortos, presença de fetos mumificados e de leitões com viabilidade baixa.

O diagnóstico laboratorial pode ser realizado pela demonstração do coccídio (parasitológico) ou por métodos indiretos (imunológico). A pesquisa direta do T. gondii pode ser feita a partir de diversos componentes orgânicos como baço, fígado, músculos e linfonodos.

O diagnóstico imunológico é feito pela presença de anticorpos específicos, através de sorologia. A imunofluorescência indireta (IFI), que revela anticorpos IgM ou IgG, dirigidos contra os antígenos de superfície do T. gondii, de acordo com o conjugado anti-gamaglobulina utilizado é o exame mais realizado.

O diagnóstico sorológico da toxoplasmose deve ser corretamente interpretado para diferenciar infecção de doença. Se a intenção é avaliar a imunidade do paciente, os testes sorológicos que detectam anticorpos da classe IgG são suficientes.

 

Texto compilado da Tese de Elena Souza de Lima,  2010.

 

CODIGO

EXAMES

PRAZO DIAS

S81

CHECK UP DOENÇAS REPRODUTIVAS

Exames: Parvovirose; Leptospirose; Erisipela; Doença de Aujeszky; PRRS; Toxoplasmose

Material: 20 Soros de Matrizes/Reprodutoras

5

S02 ou S03

LEPTOSPIRA

Material: Sangue total ou soro.

5

S38

ERISIPELA (RUIVA) SOROLOGIA

Material: Sangue total ou soro.

3

S61

TOXOPLASMOSE 

Material: Sangue total ou soro.

2

V04B

VACINA AUTOGENA CONTRA HPS + STREPTO

15

V06

VACINA AUTOGENA CONTRA COLIBACILOSE + CLOSTRIDIOSE

15

 


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