Autor : Gustavo Lima, (Engo
Agro, Ph.D., Embrapa Suínos e Aves); Osny Waltrick de Souza (EngoAgro, M.Sc).
Introdução
A alimentação dos suínos tem como principais ingredientes o milho e a soja,
devido ao percentual que são utilizados nas rações. Muito se tem discutido
sobre a qualidade dos grãos e a tendência é que prestemos mais atenção, pois vários fatores conjunturais vem contribuindo nesta direção.
Os grãos estão deixando de ser comercializados como "commodities",
em grandes lotes, sem características diferenciadas, para se tornarem
ingredientes especiais com características desejadas pelos processadores e
produtores de rações. Grãos geneticamente modificados,
grãos orgânicos, grãos de alto valor nutricional e até mesmo grãos comuns, sem
apresentarem a inserção de genes estranhos, apresentam importâncias distintas e
podem definir o direcionamento das relações
comerciais, como a grande demanda por exportação de milho brasileiro durante o
ano de 2001.
Fala-se muito em certificação de produtos.
Atua-se pouco no controle dos processos e no uso de normas de produção. O
emprego das Boas Práticas deve ser perseguida nos
vários elos das cadeias produtivas. Para que a alta qualidade dos grãos
contribua para a redução do custo de produção de suínos, alguns conceitos devem
ser bem compreendidos. Como o milho é o principal grão para a produção de
suínos, especial ênfase será dada a ele. Entretanto, seu exemplo se estende aos
outros grãos empregados na produção de rações.
Variabilidade na composição química do milho
Para os nutricionistas a caracterização do grão deve ser feita com base nos
seus atributos nutricionais. Resta uma pergunta: existe grande variabilidade na
composição em nutrientes do milho que permita o nutricionista utilizar uma
média estática do conteúdo em nutrientes nas matrizes de composição química
durante a formulação da ração?
Através de análises de conglomerados, Lima et al. (2000) classificaram
57 amostras de milho em quatro grupos distintos, baseados em alguns parâmetros
nutricionais analisados. Este tipo de classificação
poderia ser utilizado para otimizar o uso do milho nas
formulações de rações (Tabela 1).
A seguir, são apresentadas algumas informações sobre a composição em
nutrientes do milho com o intuito de provar ao leitor que o milho se constitui
em nome genérico que congrega uma série de ingredientes distintos.
Tabela 1 - Classificação do milho de acordo com o seu teor de
extrato etéreo, proteína bruta, fibra bruta e
lisina, em base de matéria seca. (Lima et
al., 2000).
Composição química do milho
São escassas as informações publicadas sobre a composição química do milho
brasileiro baseada em um número representativo de amostras. A Tabela da Embrapa
(1991), ainda é a fonte de dados com maior detalhamento nas informações,
especialmente quanto a número de amostras e desvios. Na Tabela 2 é apresentada
a composição química e o valor energético médio do milho analisado no
Laboratório de Análises Físico Químicas, da Embrapa Suínos e Aves, no período
de
Fatores que intervém na qualidade do milho
Entre o plantio e a conversão do milho em produtos animais existem diversos
pontos de controle que permitem a melhoria da qualidade desse grão. Dois
aspectos importantes devem ser ressaltados. O primeiro está vinculado ao
surgimento de novos cultivares ou novas características
e, o segundo, aos fatores não genéticos que influem
na qualidade do milho. Novos híbridos e variedades são colocados anualmente no
mercado mundial, quer por ação de seleção convencional em melhoramento
genético, quer pela introdução de tecnologias de biologia molecular, gerando
materiais geneticamente modificados. Muitas
vezes, o avanço obtido tem como objetivo atingir apenas o consumo humano direto
sem haver a preocupação com o seu uso em rações para animais. Isso tem
acontecido nas empresas produtoras de sementes com vários cereais e
oleaginosas, como por exemplo o trigo, a soja, a
cevada e o milho.
O mercado de milho, em geral valoriza pouco a qualidade,
pois o pagamento diferenciado, premiando este atributo, é pouco significativo. O que está à venda é a quantidade de
milho e não a qualidade (presença de certas características). Por outro lado,
valorizar diferentemente o milho de alta qualidade nutritiva, implica em
diminuir a vantagem competitiva desse milho em relação ao milho comum. Por
isso, quando se atribui um preço maior ao milho de alta qualidade genética, o
programa de minimização de custos de rações, diminuirá a vantagem que esse
milho tinha em relação ao comum, podendo até desaparecer e, consequentemente,
buscar o uso de qualquer tipo de milho.
Fatores ambientais que afetam a qualidade do milho
A expressão fenótipo = genótipo + ambiente + interação genótipo x
ambiente + erro explica, em síntese, toda a variabilidade encontrada
nas características observadas no milho e outros grãos.
Os efeitos do ambiente sobre a qualidade nutricional dos
grãos tem sido estudados. Baier et al. (2000) observaram a influência do ambiente sobre os teores de proteína
bruta e óleo em diferentes genótipos de triticale plantados em cinco locais, nos
estados do Rio Grande do Sul (4 locais) e Santa Catarina (1 local), nos anos de
1998 e
As informações obtidas com outros grãos podem ser extrapoladas para o milho.
Na Tabela 4 são apresentados os resultados de um estudo (Lima et al., 2000) conduzido com
amostras de híbridos comerciais de milho coletadas em diferentes propriedades
do Rio Grande do Sul, que produziam suínos e milho, na safra 1998/1999. Em
geral, os teores de proteína bruta apresentaram alta variabilidade podendo ter
sofrido um efeito do nível de adubação nitrogenada entre outras fontes de
variação. Entretanto essa magnitude de variabilidade (coeficiente
de variação de
No estudo do Lima et al.
(2000), o coeficiente de variação do teor de
óleo das amostras dos híbridos estudados chegou a 14,68%. Observou-se que há
diferenças marcantes entre os híbridos quanto ao teor de óleo nos grãos e que
as variações dentro de cada híbrido devem ser melhor
estudadas com intuito de se separar os efeitos genéticos dos efeitos
ambientais.
A colheita tardia com objetivo de reduzir a umidade do grão traz como
conseqüência o aumento do ataque de insetos nos grãos e também a possibilidade
de maior contaminação com micotoxinas.
Partidas de milho com densidade variável entre 60 e 72 kg/hl foram
investigados por Baidoo et al. (1991), com relação a densidade, a análises
proximais e a energia metabolizável em aves. Na Tabela 5 são apresentados os
valores de composição dos grãos de milho com suas densidades e o valor de
energia metabolizável. Relações lineares positivas e significativas
foram obtidas entre a densidade e energia metabolizável verdadeira (EMVn) apresentando coeficiente de correlação de 0,85. A equação para a
estimativa em kcal/g de MS é: EMVn
= 1,452 + 0,566 (densidade).
Tabela 2 - Médias de
composição química e valor energético do milho analisado no Laboratório de
Análises Físico Químicas da Embrapa Suínos e Aves no período de
Tabela 3
- Médias dos teores de proteína bruta, óleo, rendimento de grãos, peso
de hectolitro (PH) e peso de mil grãos (PMG) do triticale, produzidos nas
safras de 1998 e 1999, em Chapecó, SC, e em Selbach,
Passo Fundo, Sananduva e Vacaria, RS. (Baier et al., 2000).
Fatores genéticos que afetam a qualidade do milho
Devido aos prejuízos causados pela ação de insetos e fungos na qualidade do
milho, os melhoristas vegetais procuraram orientar
suas pesquisas para a seleção com vistas a melhorar as características de
sanidade das plantas, dando-lhe melhor empalhamento e preferindo os grãos duros
e semi-duros aos grãos moles. Embora essas
características são úteis à alimentação animal, não
são as únicas que deveriam preocupar o melhorista
vegetal. Há uma lacuna de entendimento nesse campo. Do ponto de vista de
processamento para rações, o milho duro gastará mais energia na moagem e dificultará a uniformidade na granulometria
da ração. Além disso, pode-se inferir que as enzimas digestivas do animal
deverão ser em maior concentração para digerir os grãos de característica
vítrea presente nos grãos duros.
As características nutricionais dos grãos são desejáveis pelos produtores de
animais, além daquelas já citadas. Outros atributos também
tem interesse como a digestibilidade dos
nutrientes no grão e que não vinham sendo buscadas.
Recentemente, uma maior ênfase tem sido dada à seleção visando a qualidade nutricional do milho. O desenvolvimento do milho
QPM (quality protein maize) e do milho alto óleo, são alguns exemplos de
investidas nesta área. Este último vem atraindo a demanda dos produtores de
aves e suínos pela grande redução do custo de produção que ele proporciona.
Milho alto óleo
Os híbridos de milho amarelo com alto nível de óleo vem
sendo estudados há décadas por melhoristas
americanos, mas ganharam destaque apenas nos últimos anos. Esses materiais são
importantes para a moderna indústria de alimentos para animais porque contém
mais energia do que o milho comum. De acordo com Dale
(1994), uma avaliação de 29 amostras de milho variando de
Tabela 4 - Híbrido
comercial, número de amostras analisadas (N), média, valor mínimo e máximo,
desvio padrão e coeficiente de variação (CV) obtidos para proteína bruta, óleo, lisina
e metionina. Dados expressos em base de matéria seca.
(Lima et al., 2000).
Tabela 5 - Energia
metabolizável com aves (EMVn)
de lotes de milho de várias densidades (PH).
Não resta dúvida que a melhoria da qualidade genética do milho representa,
per si, um aumento da competitividade da indústria animal. Isso pode ser
comprovado com o trabalho de Bartov e Barzur (1995), que demonstraram que o milho alto óleo para
frangos de corte apresenta maior teor de óleo e amino
ácidos com incremento na energia metabolizável de 6,4% do que a do milho comum.
Também Adeola e Bajjalieh
(1997), observaram genótipos de milho alto óleo com
até 132% mais óleo e 8% mais energia metabolizável do que o milho convencional
para suínos em crescimento.
A seleção para aumento de óleo no milho tem ocorrido com concomitante
aumento de proteína bruta devido ao aumento do tamanho do embrião. Esse
incremento é da ordem de 1,3% quando o conteúdo de óleo é elevado em 3,5% (U.S. Feed Grains
Council, 2000).
O maior enfoque em cultivares de valor nutricional agregado traz consigo
vantagens diferenciais na qualidade do milho que asseguram maior lucratividade
aos setores de produção vegetal e animal. Na safra 1999, os
produtores norte americanos de milho alto óleo receberam prêmios da
ordem de US$5,91 a US$9,84/tonelada de milho alto óleo produzido, dependendo do
teor de óleo nos grãos (U.S. Feed
Grains Council, 2000).
Comparando-se dois hipotéticos produtores que apresentam a mesma produtividade
de 6 toneladas de milho/ha ou 60 sacas/ha, o produtor de milho alto óleo teria
um aumento de lucratividade de US$35,46 a US$59,04.
Segundo Engelke (1997), o milho alto óleo
proporcionou maior valor agregado por bushel, em
relação ao milho convencional, o qual variou de US$
Silagem de milho úmido para suínos
No Brasil, o grande volume de milho é armazenado a granel e a meio ambiente,
para que isto seja possível é necessário secar para 13% de umidade e limpar para
um percentual de matéria estranha nunca superior a 1%. Para execução destes
trabalhos são necessários equipamentos e infra-estrutura de alto valor financeiro o que onera o custo final
deste cereal.
A armazenagem em propriedades rurais, em paióis ou similares,
tem sido responsável por perdas da ordem de 30% do volume estocado, sem avaliar
aí a qualidade final deste produto, que em
muitos casos pode torná-lo inviável para o consumo humano e animal, devido ao
baixo valor nutricional ou à contaminação por substâncias tóxicas.
Para superar estes obstáculos, surgiu a silagem de milho úmido, que nada
mais é do que a armazenagem de grãos sob atmosfera modificada,
ou seja, o produto é armazenado na ausência de oxigênio, não permitindo o
ataque de pássaros, roedores, ácaros e insetos. Ainda mais, minimizando o
desenvolvimento de fungos e bactérias patogênicas, consequentemente
diminuindo a presença das micotoxinas. O
desenvolvimento de bactérias homofermentativas
acontece neste processo e é altamente desejável para a produção de ácido
láctico e diminuição do pH da massa ensilvada.
O processo de silagem para ruminantes já é largamente difundido em nosso
meio, porém a silagem do grão de milho úmido para suínos está apenas começando.
Este procedimento é muito simples, mas requer atenção e cuidados porque envolve fases muito distintas, quais sejam:
Este processo de silagem de grão úmido requer rapidez e precisão, desde a
lavoura até o arrazoamento dos animais. O milho colhido deve ser triturado no
mesmo dia e o silo deve ser fechado no menor espaço de tempo possível. O tempo
de armazenamento do milho úmido entre a colheita e a ensinarem nunca deve
ultrapassar as 10 horas, sob pena de começar um
processo de fermentação aeróbia (bactérias heterofermentativas
e fungos) ainda fora do silo, o que é altamente indesejável. Isto causa
escurecimento da silagem e diminui a digestibilidade,
podendo até ser rejeitada pelos animais ou se ingerida pode causar sérios
distúrbios, tanto ao aparelho digestivo como reprodutivo dos suínos, podendo
ocasionar até morte.
Análise do solo
Seja na pequena, na média ou na grande propriedade todo o processo de
produção de suínos começa com uma coleta e análise do solo.
Porque analisar o solo?
A análise do solo fornece as informações necessárias para a implantação da
cultura do milho. De posse da análise do solo, então o agricultor pode formular
e quantificar o adubo a ser aplicado em cada
área ou talhão. O número de amostras é de acordo com as variações da área,
sempre que variar o tipo de solo, uma nova amostra deve ser coletada. Solos ácidos
não produzem milho, portanto antes da adubação, sempre que necessário, vem a calagem.
Escolha do híbrido de milho
De acordo com as exigências dos suínos, já existem híbridos que se destacam
pelo conteúdo de proteínas (amino ácidos essenciais)
e níveis de energia. A produtividade ainda é e continuará sendo fator
determinante nesta seleção. A adaptação à cada região
e o ciclo da cultura também devem ser observados, não só para atender a
produtividade, mas também a sanidade do grão, pois a qualidade do grão de milho
e a ausência de toxinas desempenham um grande papel na criação de suínos.
Época de plantio
Cada sementeira deve recomendar qual é a melhor época para cada um dos seus
materiais, restando aos técnicos e agricultores seguirem as especificações
para cada um deles. Ninguém melhor que o criador do híbrido para recomendar a
sua utilização. Além da época de plantio, as sementeiras devem recomendar
também os níveis nutricionais requeridos para cada híbrido, assim como outros
assuntos correlatos de tal forma que se possa conseguir a melhor produtividade
com a excelência em qualidade. O suinocultor que produz o milho para silagem
pode escolher o híbrido, pois ele produz e consome o mesmo milho e durante a
armazenagem pode guardar a individualidade, podendo ser armazenado até por
híbrido separadamente.
A colheita do milho para silagem de grão úmido
A colheita pode ser manual ou mecânica. O milho deve ser retirado da lavoura
o mais cedo possível, ou seja quando este atingir a
maturação fisiológica. Para determinar o ponto
ideal de colheita é usado o teor de umidade do grão como referência, qual seja,
entre 28 e 40%. Nesta faixa de umidade as perdas na lavoura ainda são pequenas
e o percentual de grãos ardidos também. "É PROIBIDO ENSILAR GRÃO DE MILHO
ARDIDO". Quanto menor o teor de grãos ardidos, melhor é a qualidade da
silagem. Nunca colher as espigas que estão no chão por vários dias, pois estas além de ardidas contém uma grande contaminação fúngica e consequentemente micotoxinas, principalmente aquelas oriundas de fusarium. É bastante recomendável fazer análise de micotoxinas antes da colheita para ajudar na tomada de
decisão da ensilagem ou não. A catação após a colheita deve acompanhar a
colheitadeira, sendo feita impreterivelmente no mesmo dia, não deixando para o
dia seguinte porque as espigas de milho em contato com o solo se umedecem e são
rapidamente contaminadas por fungos do solo o que pode comprometer a qualidade
do produto final. A colheita do milho grão para
silagem ocorre em torno de 30 dias antes do que seria a colheita do milho grão
para o armazenamento com 13% de umidade. Isto libera o campo para as próximas
atividades e garante a qualidade da matéria prima para compor as rações.
Moagem de grãos de milho úmido
O milho úmido não pode ser ensilado na forma de grão
inteiro, pois guardaria muitos espaços vazios entre os grãos, chamados espaços
intersticiais ou intergranulares, e estes espaços
podem esconder uma quantidade de oxigênio suficiente
para o desenvolvimento de fungos que por certo tornariam a massa de grãos
escura e até deteriorada.
Para diminuir os espaços vazios entre as partículas e para aumentar a ação
das bactérias acidófilas é que se recomenda a
moagem do grão. Por outro lado a absorção dos nutrientes oriundos da silagem
que são fornecidos aos suínos depende diretamente do tamanho da partícula, se
muito grande (maior que 1000 micra de diâmetro geométrico médio) ocorre uma
considerável perda pelas fezes. Quando muito pequena (menor que 300 micra de
diâmetro geométrico médio) não temos estudos em
silagem, mas sabe-se que para milho seco causa ulcerações nas paredes do
aparelho digestivo dos suínos.
Os moedores podem ser de rolos ou de martelos. Os mais usados nas pequenas
propriedades são os de martelos porque atendem estas propriedades com a eficiência necessária para satisfazer a granulometria adequada em todas as fases dos suínos. Os
animais jovens requerem granulometria menor que
animais adultos.
Inoculação
Naturalmente os grãos de milho já vêm da lavoura com uma carga microbiana
capaz de causar uma fermentação, mas isto não significa que todos estes microorganismos são benéficos e que estão na quantidade certa para
promover uma fermentação láctica, que é a desejada. Portanto a inoculação com
bactérias homofermentatitvas, tais como: Lactobacillus plantarum, Streptococcus faecium, Pedicoccus acidilactici, etc.,
acelera o processo fermentativo, reduz o pH mais
rapidamente, diminui perdas, aumenta a vida útil da silagem depois de exposta
ao oxigênio e mantém a ração fria por mais tempo, ou seja, a ração pronta deve
ser consumida num período nunca superior a 24 horas, sob pena de deterioração,
conforme demonstrado no Tabela 6 através da elevação de temperatura ( o C) que
pode ser usada como indicador de qualidade. A ração de silagem inoculada tem maior
estabilidade entre a mistura e o arraçoamento.
Tabela 6 - Evolução
da temperatura ( oC)
de uma ração feita com silagem, inoculada, ensacada e armazenada a meio
ambiente.
A silagem mal feita pode permitir o desenvolvimento de bactérias anaeróbicas
patogênicas como o gênero Clostridium e se houver a
presença de oxigênio pode haver o aparecimento de fungos que podem produzir
toxinas. Quanto mais rápida for a diminuição do pH, melhor
será a qualidade final da silagem, pois o pH em
torno 4,0 também ajuda a controlar estes microorganismos.
Uma silagem sem inoculante
requer no mínimo 28 dias para abertura do silo, ao passo que uma silagem
inoculada pode ser aberta em 8 dias e com a nova geração de inoculantes
específicos para grãos úmidos, este período
pode cair para 3 dias, conforme Tabela 7 onde mostra a evolução da temperatura
em um processo de silagem inoculada. Quanto menos tempo a silagem
permanecer aquecida, menores são as perdas e assim que a temperatura da silagem
voltar ao nível da temperatura ambiente esta já pode ser servida aos animais. A
inoculação pode ser feita na água de rehidratação ou
separadamente diluída em água e pulverizada sobre a massa a cada camada de
Tabela 7 - Evolução
da temperatura ( o C) da massa de grãos de milho úmido triturados, inoculados e
ensilados.
Compactação da massa.
A compactação da massa de milho úmido triturado tem por finalidade
a diminuição dos espaços vazios e por conseqüência a redução da taxa de
oxigênio, que por sua vez vai diminuir a possibilidade de desenvolvimento de
microorganismos aeróbicos.
A taxa de compactação é diretamente proporcional ao teor de umidade da
massa, quanto maior a quantidade de água maior e melhor será a compactação,
desde que respeitados os limites superiores de aproximadamente 40%. A adição de água limpa, não clorada, pode ser um artifício muito
útil para regular o teor de umidade, uma vez que da lavoura podem vir grãos ou
cargas de grãos com os mais diversos teores de umidade e para formular uma
ração, seja com silagem ou com milho seco, o teor de umidade é de relevante
importância, pois a água pode desbalancear uma ração
se estiver fora do padrão especificado.
A adição de água em excesso compromete a silagem e pode danificar o silo. A falta de água, menos que
28%, dificulta a compactação e permite o
desenvolvimento de fungos durante o início do processo de silagem. A quantidade
de água interfere diretamente no processo fermentativo, baixo teor de água
causa fermentações indesejáveis, podendo até condenar a silagem para uso nas
rações de suínos. O excesso de água prejudica o desenvolvimento das bactérias homofermentativas, mas principalmente vai dificultar a mistura com os outros ingredientes no
fabrico da ração, devido a agregação da silagem
formando bolas.
Por último a compactação diminui o volume da massa e consequentemente
aumenta a densidade, fazendo com que se armazene mais produto num mesmo volume,
portanto a compactação deve ser considerada ainda na fase do projeto do silo,
pois este item altera a quantidade de produto estocado na unidade de volume.
Fechamento do silo
O ato da colheita mistura os grãos sadios com os grãos
eventualmente contaminados por fungos, a colheita caracteriza - se como uma
semeadura de microorganismos (patogênicos e benéficos)
nos grãos, conhecendo - se a capacidade multiplicativa destes seres quanto
antes terminar o processo de silagem melhor é a qualidade do produto ensilado,
porque enquanto existir oxigênio presente na massa os fungos tem predominância
sobre as bactérias homofermentatitvas e isto diminui
a digestibilidade, consome açúcares e pode aumentar o
nível de micotoxinas. A inoculação é de grande
valia neste momento, o maior número de bactérias lácticas ajuda na concorrência
com os fungos e as bactérias patogênicas.
Os fungos atacam os grãos quebrados no processo da colheita e transporte.
Ainda antes da moagem os fungos já podem causar danos que podem ser notados
facilmente através da elevação na temperatura da massa na carroceria do
caminhão, na moega ou monte. Esta elevação de temperatura é devida a
predominância de fungos, que neste momento são estimulados a produzir muita micotoxina devido aos estresses a que estão sendo
submetidos. Oito a dez horas após a colheita do milho úmido já são suficientes para apresentar elevações de temperatura significativa.
O fechamento de um silo não precisa ser diário. Este pode ser
enchido em vários dias, desde que evite ficar
mais de dez horas sem receber produto novo, de tal forma que proteja a camada
de produto que antes estava exposta ao ar.
Durante o enchimento de um silo deve se trabalhar o maior número de horas
por dia até o seu fechamento. Para passar de um dia para outro, colher milho o suficiente para triturar na mesma noite, não deixando
milho colhido de um dia para triturar no dia seguinte. Quando terminar o volume
a ser moído no dia, faz - se a última compactação, inocula
e cobre - se com a lona. No dia seguinte, retira a lona, inocula novamente e
continua a operação como no dia anterior e assim se faz até o final do silo, daí conclui - se que é possível encher
o silo em vários dias. Na abertura do silo poderão aparecer algumas faixas
escuras nestes intervalos, os quais informam que aqueles pontos permaneceram em
contato com o oxigênio por mais tempo do que deveriam, pois os fungos tiveram
oportunidade para causar mudanças na coloração . Esta
mudança generalizada caracteriza uma silagem de baixa qualidade, quanto mais
escura, menor é a digestibilidade. Se o milho aquecer
ainda em grãos e depois for moído vai produzir uma silagem escura (cinza ou
marrom podendo chegar a preto).
A silagem caracteriza - se pelo fechamento hermético de todos os lados de
tal forma que esta não tenha contato com o ar ou a água de maneira alguma.
Portanto assim que completado o volume planejado uma lona bem esticada deve ser
colocada na superfície e então cobrir com
Os detalhes construtivos do silo são muito importantes. As divisões, tanto
longitudinais como transversais, devem estar de acordo com a capacidade de
colheita, moagem e transporte para evitar pontos de estrangulamento.
O piso e as paredes devem ter a resistência suficiente
para receber a compactação dos grãos moídos e com alta umidade. Um silo não
deve ser enchido nos primeiros trinta dias após a sua
construção, sob pena de afetar sua estrutura causar rachaduras e até derrubar
paredes. O reboco reforça as paredes e aumenta a resistência do silo como um
todo. A cobertura do silo é de vital importância, principalmente nos dias de
chuva ou muito úmidos. A ausência de cobertura permite a formação de lama de
silagem com terra o que causa mau cheiro e permite o desenvolvimento de microorganismos
indesejáveis muito próximo da boca do silo. O silo sem
cobertura, semelhante ao utilizado para bovinos, vem sendo usado, mas de forma
alguma atende aos requisitos mínimos das exigências dos monogástricos. Os
suínos são mais exigentes que os bovinos no tocante a qualidade da silagem. E a
silagem de grão úmido é muito mais perecível que a silagem de milho planta
inteira.
Abertura do silo
Respeitado o período mínimo para o processo fermentativo, 28 dias sem
inocular e 8 dias inoculado, então o silo pode ser aberto, evitando pancadas
para não desagregar a silagem. Uma vez aberto o silo observar a temperatura, a
qual deve estar próxima da ambiente, se ainda estiver quente é sinal de que a
fermentação ainda não se completou e não deve ser administrada aos animais, sob
pena de causar distúrbios entéricos.
Na abertura, a coloração da silagem deve ser amarela, variando de tonalidade
de acordo com o híbrido de milho usado e esta cor deve permanecer até o término
do silo.
No segundo dia após a abertura do silo já podem ser coletadas amostras para
análises bromatológicas e de micotoxinas.
A Tabela 8 mostra o resultado das análises químicas, pH,
granulometria e valores de digestibilidade
na base de matéria natural, assim como foi obtido no silo.
O cheiro é característico e agradável, predominando o sabor ácido. Odores
estranhos indicam silagem deteriorada ou em putrefação. Qualquer entrada de ar
ou água causa apodrecimento seguido de mau cheiro, facilmente detectado. Estes pontos tem cor e sabor diferentes que podem e devem
ser separados visualmente e nunca servidos aos animais. Os suínos possuem uma
grande quantidade de papilas gustativas que lhes permitem identificar
sabores estranhos nas rações, quando isto acontece eles
podem rejeitar parte ou toda a ração, dependendo da fase do animal.
Retirada da silagem.
A silagem quando exposta ao ar se torna um produto perecível devido ao alto
teor de água livre em contato com seus componentes. Portanto depois de aberto o
silo, o consumo tem que ser contínuo, ou seja uma
camada mínima de
O corte da silagem é sempre feito de cima para baixo na vertical diminuindo
a superfície exposta ao ar e evitando pancadas no silo. Após o corte a frente
de trabalho deve ser protegida com um antifúngico na forma de pulverização e em
seguida recolocar a lona protegendo a frente de trabalho de animais e
adversidades climáticas.
Para transportar a silagem os equipamentos devem ser de materiais não
corrosíveis, pois a silagem é ácida (pH = 4,0).
Tabela 8 -
Composição química, coeficiente de digestibilidade aparente da matéria seca e proteína bruta,
valores de energia obtidos com suínos, pH e tamanho
das partículas de duas silagens de grão de milho.
Mistura da ração
Primeiramente, A RAÇÃO TEM QUE SER MISTURADA TODOS OS DIAS, pois a silagem
tem alto teor de umidade o que a caracteriza como um produto perecível, não é
passível de armazenagem a meio ambiente
na presença de oxigênio por mais de 24 horas. A silagem uma vez exposta ao
oxigênio, mesmo sem ser misturada aos outros ingredientes, ela tende a
deterioração. A melhor recomendação é cortar a silagem, fazer a mistura e o
mais rápido possível servir aos animais, isto garante uma alimentação de alta
qualidade e com palatabilidade. Os animais preferem a
ração fresca. O dimensionamento do silo deve ser feito de acordo com este
consumo diário.
A mistura da ração com silagem pode ser feita manualmente, quando em
pequenas quantidades e no misturador vertical ou horizontal, quando em grandes
quantidades. Um misturador nunca deve trabalhar com menos que 20% (vinte por
cento) da sua capacidade máxima, sob pena de comprometer a qualidade da
mistura.
A avaliação da mistura só pode ser feita por técnicos especializados e
baseada na análise bromatológica dos ingredientes,
com um número mínimo de três repetições. Quanto menor for a
variação entre cada repetição, melhor é a qualidade da mistura.
Arraçoamento dos animais.
O arraçoamento depende diretamente da fase em que
se encontra o suíno. Cada fase exige uma formulação de ração específica, pois as
exigências nutricionais variam de muitas formas, principalmente devido ao
tamanho do animal e a finalidade a que ele se
destina. A silagem pode ser servida em todas as fases e tamanhos dos suínos,
bastando para isto que se faça uma formulação adequada para cada fase, levando
em consideração as características específicas
da silagem.
Da maior importância neste processo é a qualidade dos ingredientes, não
somente da silagem, mas também dos outros componentes da ração. Sempre que
necessário e possível recomenda - se uma análise bromatológica
destes outros ingredientes e também da ração pronta para se certificar
de todo o processo.
Durante o arraçoamento o tratador ou técnico pode
observar o comportamento dos animais e então avaliar se existe algum comportamento
diferente entre eles. A ração com silagem não pode ser servida em excesso, pois
se sobrar no cocho esta deteriora e os animais vão rejeitá-la. Portanto entre
uma tratada e outra os animais tem que consumir toda a ração servida
, porém não pode faltar, pois a falta também é prejudicial e é um dos
principais fatores que contribuem para diminuição da uniformidade do lote e consequentemente diminui a tipificação
de carcaça.