Autor : Otto Mack Junqueira;
Karina Ferreira Duarte.
Sumário
Resumo
A produção de carnes vem sendo intensificada por avanços significativos nas
áreas da genética, nutrição, ambiência e reprodução. Em suínos, especificamente
dentro da área de nutrição, os promotores de crescimento antimicrobianos foram
fundamentais, trazendo grandes benefícios em termos de desempenho e eficiência
alimentar quando utilizados em doses subterapêuticas
como micro ingredientes nas suas dietas. Porém, o uso de antimicrobianos nas
dietas animais vem sendo questionado em vários países. A razão desta discussão
está relacionada com a possibilidade deles serem tóxicos e/ou cancerígenos,
comprometendo a saúde humana, quando seus resíduos estiverem presentes em produtos
alimentícios de origem animal, causando também problemas de resistência
bacteriana aos antibióticos. Por este motivo, tornou-se crescente a restrição
ou proibição ao uso dos antibióticos como promotores de crescimento nas rações
animais em vários países do mundo, sendo que na Europa já se proibiu o uso
deste tipo de substância. Desta maneira, ganha importância o aprimoramento dos
substitutos dos antibióticos e dentro deles destacam-se os probióticos,
prebióticos e simbióticos na nutrição animal.
Introdução
A alimentação é o componente mais importante na produção de suínos pois apresenta influências biológica e econômica,
representando de
• desenvolvimento de resistência das bactérias aos antibióticos empregados
• queda na sua eficiência
• permanência de resíduos não degradáveis nos alimentos
• transmissão de bactérias resistentes ao homem através do consumo de carne e
derivados
• reações alérgicas em pessoas previamente sensibilizadas e toxicidade
A suinocultura é considerada como uma das atividades importantes na cadeia
alimentícia da população humana. Atualmente, esta atividade é caracterizada
pela grande concentração dos animais em sistemas confinados, o que pode
ocasionar a disseminação de agentes patogênicos, que podem comprometer o
desempenho do rebanho. O uso de antibióticos como promotores de crescimento
permite melhorar o desempenho zootécnico dos animais, mas está sendo banido da
suinocultura devido, principalmente, aos riscos representados pelas bactérias
resistentes, que podem trazer problemas para a saúde animal e
humana. Por outro lado, a nutrição animal tem buscado
novas alternativas para atingir bons índices produtivos e, com base neste
conceito, surgiram os probióticos, de microrganismos
vivos (bactérias e leveduras) benéficos, incorporados através da dieta, que
podem manter o equilíbrio da flora intestinal dos suínos, prevenindo doenças do
trato digestório, melhorando a digestibilidade
das rações, levando à maior utilização de nutrientes e ocasionando melhor
desempenho dos animais.
Do ponto de vista da produção animal, o interesse nos estudos sobre probióticos está em elucidar os mecanismos de ação que
resultam em aumento da produtividade. Os mecanismos de ação
mais prováveis dos probióticos são a exclusão
competitiva, o antagonismo direto, o estímulo ao sistema imune e o efeito
nutricional, mediante as melhorias na digestão e absorção de nutrientes.
Vários microrganismos são usados como probióticos,
entre eles bactérias ácido-lácticas, bactérias não ácido-lácticas e leveduras.
Além das propriedades mencionadas, os probióticos
devem ser inócuos, manter-se viáveis por longo tempo durante a estocagem e o
transporte, tolerar o baixo pH do suco gástrico e
resistir à ação da bile e das secreções pancreática e intestinal, não
transportar genes transmissores de resistência a antibióticos e possuir
propriedades anti-mutagênicas e anticarcinogênicas, assim
como resistir a fagos e ao oxigênio.
Histórico da utilização dos antibióticos como promotores de
crescimento
A partir da década de 50, os antibióticos começaram a serem utilizados na
alimentação animal com a função de cura e de prevenção de doenças. Porém, estes
compostos também possuíam a capacidade de melhorar o desempenho dos animais de
produção através da exclusão de microrganismos que competem pelo alimento no
trato gastrintestinal. Os produtores passaram a usar estes compostos como
promotores de crescimento e também para a prevenção de doenças. Como as
condições de higiene daquela época eram deficientes se comparadas às da
atualidade, os resultados obtidos foram bastante expressivos. Praticamente
todos os antibióticos usados na terapêutica humana e veterinária passaram a
serem utilizados como aditivos promotores de crescimento.
Na década de 60, surgiram as primeiras críticas dos profissionais da área de
produção animal e de saúde humana em relação ao uso indiscriminado dos
antibióticos na alimentação animal.
Criou-se a hipótese de que o uso diário e constante sem critérios não apenas
provocaria a destruição de bactérias patogênicas, mas também das benéficas e,
além disto, poderia acarretar o aparecimento de resistência bacteriana, levando
à uma queda na eficiência dos antibióticos. Assim, os
animais poderiam ser acometidos por uma infecção provocada por um microrganismo
resistente ao antibiótico utilizado, além da possível transmissão destas
bactérias resistentes ao homem através do consumo de carne e derivados e do
contato com os animais infectados.
A partir da década de 70, órgãos de saúde internacionais como o Food and Drug
Admistration (FDA - Órgão que trata da autorização
para produção e venda de alimentos, bebidas e medicamentos
humanos e animais), dos EUA, passaram a se preocupar com as rações
suplementadas com antibióticos, surgindo assim as
primeiras limitações do uso destes produtos na alimentação animal. A
preocupação era proteger o consumidor, uma vez que a presença de resíduos de
antimicrobianos como a penicilina poderia causar reações alérgicas em pessoas
sensíveis, além de interferir no tratamento de infecções humanas devido ao
aparecimento de bactérias resistentes.
Na década de
Na década de
Os probióticos: porque utilizá-los?
Na realidade, os probióticos são microrganismos
vivos que, juntamente com produtos específicos do seu metabolismo ou ingredientes
que promovam seu crescimento, são adicionados à dieta dos suínos com o intuito
de estabelecer um balanço desejável na microbiota que
habita o trato gastrintestinal. Mudanças benéficas nessa microbiota
entérica reduzem, principalmente, a população de algumas cepas potencialmente
patogênicas de Escherichia coli,
além de ajudar a diminuir a liberação de toxinas no intestino. Estes
microrganismos devem estar presentes como células viáveis, capazes de
sobreviver e metabolizar-se no ambiente intestinal, resistentes ao baixo pH do estômago e ácidos orgânicos, serem estáveis e capazes
de permanecer viável por longos períodos sob condições de armazenamento a campo
e, finalmente, não serem patógenos ou tóxicos (Fuller, 1989)
Os probióticos, considerados por Fuller (1989,1992) como alimentos
funcionais, são empregados também em determinadas fases da criação de suínos
como produtos alternativos à utilização de agentes antimicrobianos. A
utilização desses produtos, particularmente na fase inicial da vida dos leitões
e anteriormente a períodos de estresse, como o desmame, contribui para a
manutenção da flora nativa do intestino delgado. Por ser um suplemento
alimentar composto de microrganismos vivos, que beneficia o hospedeiro animal
através do equilíbrio da sua flora intestinal nativa, os probióticos
agem assegurando a integridade do epitélio intestinal, garantindo uma maior
absorção de nutrientes e melhor aproveitamento dos diversos componentes da
ração fornecida aos suínos.
Desta ação referida, particularmente na nutrição dos leitões, há a
otimização indireta de alguns índices de produção, como ganho de peso diário e
conversão alimentar. Os probióticos
destacam-se ainda como estimuladores do sistema imunológico, através do suporte
prestado à imunidade local da mucosa intestinal. Entre os componentes do
sistema imunológico envolvidos nesse processo está a Imunoglobulina A (Ig A), cuja presença no trato intestinal é fundamental como
auxiliar no controle da invasão bacteriana, aglutinando antígenos particulados
e neutralizando vírus. Além disso, a presença de probióticos
no trato intestinal aumenta a atividade dos macrófagos, reforçando a
implantação da resposta imune mediada por células e, conseqüentemente,
estimulando a produção de anticorpos
Probióticos produzem também, através do seu metabolismo, ácidos orgânicos,
peróxido de hidrogênio e substâncias conhecidas como bacteriocininas
(acidofilina, lactobacilina,
entre outras), que têm efeito antimicrobiano frente a alguns patógenos intestinais, atuando no controle de diversas
infecções, promovendo a profilaxia de doenças entéricas e auxiliando na
manutenção do estado de saúde dos animais. Os probióticos
agem, ainda, melhorando a absorção dos nutrientes através do estímulo da
produção de enzimas (proteases e amilases), das vitaminas do complexo B, da
vitamina K e também da síntese de aminoácidos essenciais. Há relatos de
suplementação alimentar com probióticos cuja prática
levou à diminuição na concentração portal de amônia, o que melhorou a digestibilidade das proteínas devido ao aumento da
atividade de proteases entéricas ácidas e alcalinas.
Quais os mecanismos de ação dos probióticos?
A probioticoterapia consiste no princípio da
exclusão competitiva, ou seja, ao utilizar um grupo de microrganismos
“benéficos”, outros não sobrevivem. O mecanismo de ação por “Exclusão
Competitiva” ainda não está totalmente elucidado, porém pesquisas foram feitas
onde podem se enumerar algumas formas da atuação destes microrganismos:
competição por nutrientes, competição física, produção de ácidos, secreção de bacteriocinas, imunidade cruzada, desintoxicação causada
por endotoxinas, produção de enzimas digestivas,
síntese de vitaminas do complexo B e interações com os sais biliares.
Porque utilizar o Bacillus cereus var.
toyoi como probiótico?
A principal vantagem do Bacillus (por ex., Bacillus cereus var. toyoi)
sobre as bactérias ácido lácticas (por ex., Lactobacillus
acidophilus), na elaboração de probióticos
reside em sua capacidade de esporular, o que lhes confere maior sobrevivência
durante o trânsito estomacal, e durante a elaboração, transporte e
armazenamento das rações. Estes probióticos melhoram
o desempenho de frangos de corte, auxilia no controle de diarréias em leitões,
reduzindo a mortalidade perinatal nos animais. Junqueira
et al. (2007) comprovaram
uma melhora no desempenho dos suínos em todas as fases de criação,
utilizando-se o probiótico a base de Bacillus cereus var. toyoi, o prebiótico
produzido através do endosperma do coco e a combinação dos dois.
Tabela 1. Ganho de peso, consumo
de ração e conversão alimentar de suínos nas diferentes fases de criação,
submetidos a diferentes promotores de crescimento.
Tratamentos Ganho de peso
28 a 41 dias
Controle 5,91a 18,73b 28,50b 34,70b
Antibiótico 6,08a 18,41b 28,98b 35,12ab
Probiótico 6,10a 19,04a 29,13ab 35,00ab
Prebiótico 6,00a 19,84a 30,45a 35,07ab
Probiótico + Prebiótico
6,10a 19,98a 30,83a 36,08a
CV 3,18 3,03 3,63 3,81
Consumo de ração
Controle 8,51a 34,28a 72,96b 103,41a
Antibiótico 8,76a 32,95a 66,65ab 101,85a
Probiótico 8,48a 33,51a 64,09a 100,8a
Prebiótico 8,40a 35,31a 67,90ab 101,00a
Probiótico + Prebiótico
8,60a 34,56a 68,13ab 100,66a
CV 2,36 3,81 4,13 4,01
Conversão alimentar
Controle 1,44a 1,83b 2,56b 2,98b
Antibiótico 1,44a 1,79ab 2,30a 2,90ab
Probiótico 1,39a 1,76ab 2,20a 2,88ab
Prebiótico 1,40a 1,78ab 2,23a 2,88ab
Probiótico + Prebiótico
1,41a 1,73a 2,21a 2,79a
CV 3,18 2,73 4,00 4,13
Médias na coluna seguidas de letras minúsculas diferentes diferem entre si
pelo teste de Tukey (P<0,05).
Além dos efeitos mencionados, as bactérias do gênero Bacillus
podem estimular a resposta imune e serem utilizadas como imunomoduladores.
Coppola et al. (2003)
estudaram o efeito de probióticos preparados com Bacillus cereus var. toyoi e com Saccharomyces boulardii na
resposta imune de camundongos à vacinação simultânea com uma bacterina tetravalente de Escherichia
coli patogênica para suínos e uma vacina replicante contra a Parvovirose
canina. Comprovaram que o probiótico de S. boulardii induziu uma resposta humoral significativamente
mais alta à bacterina, enquanto o probiótico
de B. cereus var.
toyoi induziu uma resposta significativamente mais
alta à vacina de Parvovirus canino.
Considerações finais
Estudos realizados indicam que vários probióticos
têm, além de sua atividade como promotores de crescimento e
reguladores da microbiota intestinal, efeito imunomodulador, embora a forma de ação seja pouco
conhecida. As evidências acumuladas sobre os benefícios decorrentes do uso dos probióticos justificam o aprofundamento dos estudos sobre
seu modo de ação, a fim de otimizar sua utilização
como profiláticos, promotores de crescimento e imunomoduladores.