COMO INTERPRETAR EXAMES E MONITORIAS DE DOENÇAS
DE SUÍNOS
INTRODUÇÃO
Qual a pergunta que se quer
responder ao enviar amostras para o laboratório? Este é o passo mais importante
para se obter resultados que auxiliem na tomada de decisões. Para que o veterinário
tenha esta pergunta bem formulada, ele deve possuir uma lista de possíveis
diferenciais, saber quais testes laboratoriais estão
disponíveis, ter uma idéia do tempo para recebimento dos resultados e dos
custos para realização dos mesmos. São condições preponderantes para que os
exames complementares executados nos laboratórios confirmem ou refutem o
diagnóstico clínico firmado pelo veterinário no momento de sua visita à granja.
TIPOS DE TESTES
Existem testes diretos e indiretos.
Os testes diretos detectam a presença do agente através de identificação por
observação direta (ovos de parasitas, oocistos e sarna), isolamento (bactérias
e vírus), detecção de seus antígenos (imuno-fluorescência
e imuno-histoquímica) ou de seu ácido nucléico (PCR).
Estes métodos diretos (figura 1) indicam infecção ativa no animal, que
pode estar relacionada à doença ou não, dependendo do agente pesquisado.
Figura 1: M. hyopneumoniae
aderido aos cílios. Fonte: Retirado do site microbewik.
Os exames indiretos são
caracterizados basicamente por diferentes tipos de testes sorológicos que
detectam resposta imune do hospedeiro. Esta resposta imune pode ser humoral,
representada por anticorpos. O exame indireto indica exposição do hospedeiro
ao agente infeccioso em sua vida pregressa e não necessariamente representa
infecção ativa.
Existem dois objetivos principais na execução de testes laboratoriais. A
primeira é a identificação precisa da causa de surtos agudos de enfermidades. A
segunda é a monitoria preventiva para detecção de patógenos
supostamente ausentes no rebanho. Exames diretos são mais freqüentemente utilizados
nos surtos de doença, enquanto os indiretos se aplicam normalmente nos
programas de monitoria, teste e remoção.
AGENTES PATÓGENOS
A seleção de animais em fase aguda,
ou mesmo de animais em diferentes fases do processo infeccioso, aumenta em
muito a chance de detecção do agente. Assim sendo, são utilizadas amostras
viciadas, ou seja, animais enfermos para coleta de material.
Importante salientar que a capacidade de detecção e interpretação de lesões
macroscópicas é diretamente relacionada ao treinamento e experiência do
veterinário.
TÉCNICAS
Na histopatologia
a experiência do patologista em interpretar lesões em suínos aumenta em muito a
chance dos comentários incluídos no laudo serem úteis ao veterinário. O exame
histopatológico permite, no mínimo, um direcionamento do processo patológico.
A imuno-fluorescência
e a imuno-histoquímica são métodos de detecção direta
do agente em preparações de fragmentos de órgãos. A imuno-histoquímica
permite uma visualização do órgão ou tecido, bem como de lesões histológicas. É
mais específica que a histologia e imuno-fluorescência
e bem mais sensível.
O isolamento bacteriano é uma
técnica padrão-ouro para boa parte dos agentes infecciosos, principalmente pelo
fato de permitir uma tipificação subseqüente, avaliação de sensibilidade
antimicrobiana e até mesmo a preparação de vacinas autógenas. Este isolamento é rotineiramente utilizado para bactérias aeróbicas ou
aeróbicas facultativas.
Todas as vezes que se pensa em uma
avaliação de monitoria, o teste sorológico (figura 2) está no topo da lista de
técnicas a serem utilizadas. É imperativo definir com exatidão a pergunta
inicial quando se solicita um perfil sorológico de um lote ou rebanho. Para
isto as definições vão desde a sensibilidade e especificidade dos testes
disponíveis, tamanho amostral para os estudos transversais (os mais frequentemente usados) e qual a aplicação prática
dependendo dos resultados. Um exemplo prático seria a sorologia de marrãs de
reposição, supostamente negativas para M. hyopneumoniae,
durante a quarentena. Considerando dois testes sorológicos, Elisa da IDEXX ou
DAKO, o primeiro é mais sensível, mas menos específico, pois dá reação cruzada
com M. floculare. O segundo é menos sensível,
entretanto é mais específico por não dar reação cruzada. Consequentemente,
para avaliação destas marrãs o teste indicado seria o DAKO, em duas etapas,
logo nos primeiros dias após a chegada e outro uma semana antes da saída do
lote para a granja livre.
Figura 2: Resultado típico de ELISA.
Poços mais escuros indicam níveis mais elevados do analito
na amostra original. Fonte: Site abdserotec.
Testes outros como
swabes tonsilares em fêmeas
de reposição para isolamento bacteriano de Pasteurella
multocida toxigênica ou
Actinobacillus pleuropneumoniae,
ou parasitológico de fezes em matrizes e isolamento amostral de Salmonella em fezes e de ambiente para controle de
redução de infecção são todos exemplos de programas usados com maior freqüência
em rebanhos nacionais.
TESTES DE MONITORIA
Antes da discussão sobre testes específicos é importante relembrar brevemente o
significado de sensibilidade e especificidade Se um teste é 100% sensível, não
existirão falsos negativos (nenhuma amostra verdadeiramente positiva deixará de
ser detectada). E se um teste é 100% específico, não haverá nenhum falso
positivo.
O fato importante é que não existe teste 100% sensível e 100% específico, e consequentemente, o papel do veterinário é fundamental na
correta interpretação dos resultados. Neste sentindo, os níveis aceitáveis
serão também dependentes da pergunta inicial. Em programas de erradicação
de doenças específicas, agências oficiais frequentemente
utilizam testes altamente sensíveis para identificação de indivíduos
infectados. Ao contrário, testes altamente específicos são frequentemente utilizados em animais de elevado valor
agregado, provenientes de rebanhos supostamente negativos, como, por exemplo,
sorologia em animais de quarentena.
A definição do tamanho amostral é dependente da sensibilidade/especificidade do
teste a ser usado, do tamanho do rebanho ou lote a ser avaliado, da prevalência
estimada de positividade para o agente e do coeficiente de confiança.
Para não se perder tempo e dinheiro executando testes em amostragens
insuficientes, é importante muitas vezes consultar
previamente um colega mais experiente.
Os testes oficialmente estabelecidos em suínos no Brasil são executados nas
granjas GRSC, onde, periodicamente, são feitos na granja ou amostras são
coletadas para teste laboratorial (Sarna, Brucella, Peste Suína Clássica e
Doença de Aujeszky), com a finalidade de renovação da certificação
destes rebanhos.
Ponto que vale discussão é a periodicidade de execução. Caso sejam realizados
somente semestralmente ou anualmente, não ajudam em nada, pois, muito tempo já
terá passado e as ações surtirão efeito muito tardio. Estas avaliações devem
ser feitas o mais frequentemente possível, e
associadas com os quadros clínicos no rebanho para que realmente tenham
utilidade.
OUTRAS QUESTÕES IMPORTANTES
A importância da velocidade na obtenção dos resultados é relativa. No caso de
surtos, não há dúvidas sobre a relevância da velocidade para confirmação do
diagnóstico clínico. Entretanto, nos programas de monitoria a avaliação rotineira,
freqüência e especificidade são mais valiosas do que a rapidez.
Custo também é relativo. É óbvio que novos testes terão custo mais elevados até
que, com o tempo, a demanda por eles aumente significativamente e com isto os
custos de execução ou importação de kits e/ou insumos sejam diluídos. Não se
devem descartar testes mais caros baseando-se no custo. Devem-se considerar
os benefícios reais que eles podem permitir.
Uma boa conversa com os profissionais do laboratório antes da coleta
normalmente é mais valiosa do que a conversa depois do exame pronto,
principalmente, quando solicita explicações para a interpretação dos
resultados.
Dica compilada do texto do Prof.
Roberto Maurício Carvalho Guedes em PORKWORLD, edição 65, nov/dez 2011.
CÓD. |
DESCRIÇÃO DOS
EXAMES DO TECSA |
Prazo |
S 81 |
CHECK UP DOENÇAS REPRODUTIVAS Material: 20 Soros de Matrizes/Reprodutoras Pesquisa: Parvovirose – (HI)
Leptospirose – 12 cepas
(MSAR)
Erisipela – ( IFI)
Doença de Aujeszky – ( ELISA)
PRRS – ( ELISA)
Toxoplasmose – (IFI) |
05 |
S51 |
BACTERIOLOGIA SISTEMA RESPIRATÓRIO Material: Swabs nasais e de pulmão,
fragmentos de órgãos Pesquisa: Actinobacillus
pleuropneumoniae, Bordetella
bronchseptica, Haemophilus
parasuis e Pasteurella multocida e ANTIBIOGRAMAS |
05 |
S 73 |
DIAGNÓSTICO ENTÉRICO (DE DIARRÉIA) Material: 01 Swab retal
ou fragmentos de alça intestinal – Pesquisa: Escherichia
coli, Clostridium perfringens e C. dificilli, Salmonella sp.
ANTIBIOGRAMA |
05 |
S83 |
IMUNO-HISTOQUÍMICA para CIRCOVÍRUS SUÍNO TIPO 2 Material: Peça ou órgão conservado em Formol 10% |
05 |
BIO |
HISTOPATOLOGIA Material: Órgão preservado em Formol |
05 |
V02 |
VACINA AUTÓGENA CONTRA
RINITE ATRÓFICA DOS SUÍNOS Amostra: Cepas isoladas na propriedade. |
15 |
VOL06 |
VACINA AUTÓGENA CONTRA
COLIBACILOSE E CLOSTRIDIOSE DOS SUÍNOS – OLEOSA Amostra: Cepas isoladas na propriedade. |
15 |