Informativo Técnico Nº. 181

 COMO INTERPRETAR EXAMES E MONITORIAS DE DOENÇAS DE SUÍNOS

 

INTRODUÇÃO

 

Qual a pergunta que se quer responder ao enviar amostras para o laboratório? Este é o passo mais importante para se obter resultados que auxiliem na tomada de decisões. Para que o veterinário tenha esta pergunta bem formulada, ele deve possuir uma lista de possíveis diferenciais, saber quais testes laboratoriais estão disponíveis, ter uma idéia do tempo para recebimento dos resultados e dos custos para realização dos mesmos. São condições preponderantes para que os exames complementares executados nos laboratórios confirmem ou refutem o diagnóstico clínico firmado pelo veterinário no momento de sua visita à granja.

 

TIPOS DE TESTES

 

Existem testes diretos e indiretos. Os testes diretos detectam a presença do agente através de identificação por observação direta (ovos de parasitas, oocistos e sarna), isolamento (bactérias e vírus), detecção de seus antígenos (imuno-fluorescência e imuno-histoquímica) ou de seu ácido nucléico (PCR). Estes métodos diretos (figura 1) indicam infecção ativa no animal, que pode estar relacionada à doença ou não, dependendo do agente pesquisado.

 

Fig 01

Figura 1: M. hyopneumoniae aderido aos cílios. Fonte: Retirado do site microbewik.

 

Os exames indiretos são caracterizados basicamente por diferentes tipos de testes sorológicos que detectam resposta imune do hospedeiro. Esta resposta imune pode ser humoral, representada por anticorpos. O exame indireto indica exposição do hospedeiro ao agente infeccioso em sua vida pregressa e não necessariamente representa infecção ativa.

            Existem dois objetivos principais na execução de testes laboratoriais. A primeira é a identificação precisa da causa de surtos agudos de enfermidades. A segunda é a monitoria preventiva para detecção de patógenos supostamente ausentes no rebanho. Exames diretos são mais freqüentemente utilizados nos surtos de doença, enquanto os indiretos se aplicam normalmente nos programas de monitoria, teste e remoção.

 

AGENTES PATÓGENOS

 

A seleção de animais em fase aguda, ou mesmo de animais em diferentes fases do processo infeccioso, aumenta em muito a chance de detecção do agente. Assim sendo, são utilizadas amostras viciadas, ou seja, animais enfermos para coleta de material.

            Importante salientar que a capacidade de detecção e interpretação de lesões macroscópicas é diretamente relacionada ao treinamento e experiência do veterinário.

 

TÉCNICAS

 

Na histopatologia a experiência do patologista em interpretar lesões em suínos aumenta em muito a chance dos comentários incluídos no laudo serem úteis ao veterinário. O exame histopatológico permite, no mínimo, um direcionamento do processo patológico.

A imuno-fluorescência e a imuno-histoquímica são métodos de detecção direta do agente em preparações de fragmentos de órgãos. A imuno-histoquímica permite uma visualização do órgão ou tecido, bem como de lesões histológicas. É mais específica que a histologia e imuno-fluorescência e bem mais sensível.

O isolamento bacteriano é uma técnica padrão-ouro para boa parte dos agentes infecciosos, principalmente pelo fato de permitir uma tipificação subseqüente, avaliação de sensibilidade antimicrobiana e até mesmo a preparação de vacinas autógenas. Este isolamento é rotineiramente utilizado para bactérias aeróbicas ou aeróbicas facultativas.

Todas as vezes que se pensa em uma avaliação de monitoria, o teste sorológico (figura 2) está no topo da lista de técnicas a serem utilizadas. É imperativo definir com exatidão a pergunta inicial quando se solicita um perfil sorológico de um lote ou rebanho. Para isto as definições vão desde a sensibilidade e especificidade dos testes disponíveis, tamanho amostral para os estudos transversais (os mais frequentemente usados) e qual a aplicação prática dependendo dos resultados. Um exemplo prático seria a sorologia de marrãs de reposição, supostamente negativas para M. hyopneumoniae, durante a quarentena. Considerando dois testes sorológicos, Elisa da IDEXX ou DAKO, o primeiro é mais sensível, mas menos específico, pois dá reação cruzada com M. floculare. O segundo é menos sensível, entretanto é mais específico por não dar reação cruzada. Consequentemente, para avaliação destas marrãs o teste indicado seria o DAKO, em duas etapas, logo nos primeiros dias após a chegada e outro uma semana antes da saída do lote para a granja livre.

 

Fig 02

Figura 2: Resultado típico de ELISA. Poços mais escuros indicam níveis mais elevados do analito na amostra original. Fonte: Site abdserotec.

 

Testes outros como swabes tonsilares em fêmeas de reposição para isolamento bacteriano de Pasteurella multocida toxigênica ou Actinobacillus pleuropneumoniae, ou parasitológico de fezes em matrizes e isolamento amostral de Salmonella em fezes e de ambiente para controle de redução de infecção são todos exemplos de programas usados com maior freqüência em rebanhos nacionais.

 

TESTES DE MONITORIA

 

            Antes da discussão sobre testes específicos é importante relembrar brevemente o significado de sensibilidade e especificidade Se um teste é 100% sensível, não existirão falsos negativos (nenhuma amostra verdadeiramente positiva deixará de ser detectada). E se um teste é 100% específico, não haverá nenhum falso positivo.

            O fato importante é que não existe teste 100% sensível e 100% específico, e consequentemente, o papel do veterinário é fundamental na correta interpretação dos resultados. Neste sentindo, os níveis aceitáveis serão também dependentes da pergunta inicial.  Em programas de erradicação de doenças específicas, agências oficiais frequentemente utilizam testes altamente sensíveis para identificação de indivíduos infectados.  Ao contrário, testes altamente específicos são frequentemente utilizados em animais de elevado valor agregado, provenientes de rebanhos supostamente negativos, como, por exemplo, sorologia em animais de quarentena.

            A definição do tamanho amostral é dependente da sensibilidade/especificidade do teste a ser usado, do tamanho do rebanho ou lote a ser avaliado, da prevalência estimada de positividade para o agente e do coeficiente de confiança.

 

Fig 03

 

            Para não se perder tempo e dinheiro executando testes em amostragens insuficientes, é importante muitas vezes consultar previamente um colega mais experiente.

            Os testes oficialmente estabelecidos em suínos no Brasil são executados nas granjas GRSC, onde, periodicamente, são feitos na granja ou amostras são coletadas para teste laboratorial (Sarna, Brucella, Peste Suína Clássica e Doença de Aujeszky), com a finalidade de renovação da certificação destes rebanhos.

            Ponto que vale discussão é a periodicidade de execução. Caso sejam realizados somente semestralmente ou anualmente, não ajudam em nada, pois, muito tempo já terá passado e as ações surtirão efeito muito tardio. Estas avaliações devem ser feitas o mais frequentemente possível, e associadas com os quadros clínicos no rebanho para que realmente tenham utilidade.

 

OUTRAS QUESTÕES IMPORTANTES

 

            A importância da velocidade na obtenção dos resultados é relativa. No caso de surtos, não há dúvidas sobre a relevância da velocidade para confirmação do diagnóstico clínico. Entretanto, nos programas de monitoria a avaliação rotineira, freqüência e especificidade são mais valiosas do que a rapidez.

            Custo também é relativo. É óbvio que novos testes terão custo mais elevados até que, com o tempo, a demanda por eles aumente significativamente e com isto os custos de execução ou importação de kits e/ou insumos sejam diluídos. Não se devem descartar testes mais caros baseando-se no custo. Devem-se considerar os benefícios reais que eles podem permitir.

            Uma boa conversa com os profissionais do laboratório antes da coleta normalmente é mais valiosa do que a conversa depois do exame pronto, principalmente, quando solicita explicações para a interpretação dos resultados.

 

Dica compilada do texto do Prof. Roberto Maurício Carvalho Guedes em PORKWORLD, edição 65, nov/dez 2011.

 

CÓD.

DESCRIÇÃO DOS EXAMES DO TECSA

Prazo

S 81

 

CHECK UP DOENÇAS REPRODUTIVAS

Material: 20 Soros de Matrizes/Reprodutoras

Pesquisa: Parvovirose – (HI)

                 Leptospirose – 12 cepas (MSAR)

                 Erisipela – ( IFI)

                 Doença de Aujeszky – ( ELISA)

                 PRRS – ( ELISA)

                 Toxoplasmose – (IFI)

05

S51

BACTERIOLOGIA SISTEMA RESPIRATÓRIO

Material: Swabs nasais e de pulmão, fragmentos de órgãos

Pesquisa: Actinobacillus pleuropneumoniae, Bordetella bronchseptica, Haemophilus parasuis e Pasteurella multocida e ANTIBIOGRAMAS

05

S 73

DIAGNÓSTICO ENTÉRICO (DE DIARRÉIA)

Material: 01 Swab retal ou fragmentos de alça intestinal – Pesquisa: Escherichia coli, Clostridium perfringens e C. dificilli, Salmonella sp. ANTIBIOGRAMA

05

S83

IMUNO-HISTOQUÍMICA para CIRCOVÍRUS SUÍNO TIPO 2

Material: Peça ou órgão conservado em Formol 10%

05

BIO

HISTOPATOLOGIA

Material: Órgão preservado em Formol

05 

V02

VACINA AUTÓGENA CONTRA RINITE ATRÓFICA DOS SUÍNOS

Amostra: Cepas isoladas na propriedade.

15

VOL06

VACINA AUTÓGENA CONTRA COLIBACILOSE E CLOSTRIDIOSE DOS SUÍNOS – OLEOSA

Amostra: Cepas isoladas na propriedade.

15

 


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