Autor :
Luiz Eduardo Ristow, Médico Veterinário, Mestre em Medicina Veterinária Preventiva e Consultor em Sanidade e Diretor Técnico TECSA LaboratóriosNos últimos anos a suinocultura brasileira tem
apresentado um crescente desenvolvimento, tanto em capacidade de produção,
quanto tecnológico. O crescimento da atividade também contempla as perspectivas
e cenários otimistas que compreende desde maior aceitação por parte do
consumidor pela carne suína, aumentando o consumo interno, abertura de novos
mercados externos antes restritos por barreiras sanitárias.
O crescimento da atividade, seja na expansão das unidades de produção ou
aberturas de novas unidades de produção, nos desafia com as oportunidades e
riscos. Dentre os desafios que temos pela frente, cabe ressaltar o Controle
Sanitário para a máxima expressão da capacidade genética dos animais e o máximo
aproveitamento da nutrição, otimizando os resultados zootécnicos e econômicos.
Um denominador comum dos diferentes sistemas de produção e dos estilos de manejo tem sido o DESAFIO SANITÁRIO que
tem grande parte do seu impacto devido a condição de
confinamento e ambiência, nem sempre favorável. Sabemos que patologias ou
doenças fazem parte da vida e conseqüentemente do sistema de produção animal.
Diversos estudos demonstram que doenças respiratórias, entéricas e sistêmicas
estão disseminadas em nosso meio e somente granjas de animais SPF (Specific Pathogen Free) destinadas a pesquisa ou núcleos genéticos apresentam
ausência destas, mesmo assim com dificuldades para permanecer livre ao longo do
curso da atividade.
Existindo o problema temos de buscar o controle, porem o uso de medicação por
tentativa (empírica ou sem definição dos agentes etiológicos), associado a falta diagnóstico correto, faz que o suinocultor não
obtenha o melhor resultado ou se conforte com um baixo desempenho.
Quando diminuem os sintomas (tosse, espirros, mortalidade) não significa que o
melhor resultado foi obtido e o desempenho sub-ótimo ou doença subclínica pode comprometer a lucratividade.
É patente que as doenças tem sido um fator de restrição para a produção suinícola eficiente e através da medicina veterinária
preventiva podemos estabelecer um adequado DIAGNÓSTICO, CONTROLE e PREVENÇÃO
EFICAZ.
1. Fase de Creche: da
proteção materna ao meio desafiador
A fase de creche é a fase mais desafiadora para os leitões, pois estes saem do
conforto da sua primeira fase de vida, sendo retirados da proteção da mãe, da
nutrição do leite materno e ainda do ambiente em que nasceram (maternidades) e
são colocados a prova na sua nova realidade.
Estas mudanças ambientais e nutricionais são ainda acompanhadas de mudanças
sociais causadas pelas uniformizações de lotes, prática muito utilizada, e
ainda a mudança fisiológica que o animal desmamado e em formação esta
submetido.
A desmama de leitões que na natureza ocorrem por volta da 12ª. semana de vida, num sistema industrial tecnificado
ocorre entre a 2ª. e 4ª. semana
de vida. Neste momento de desmama, o anima que anteriormente mamava a cada
Apesar de todos os avanços na área de nutrição sabemos que muito temos de
evoluir para atingir uma melhor reposição da nutrição materna, tanto devido aos
níveis nutricionais como devido a fisiologia do
leitão, principalmente no tocante a sua capacidade de digestão, como
exemplificado nas tabelas abaixo.
Tabela A
Tabela B
No tocante a resistência dos animais ou mais especificamente a imunidade, tem a
ocorrência da queda de anticorpos colostrais e perda
da imunidade passiva ou materna na fase de creche (vide Gráfico A), submetendo
os animais ao desafio sanitário e daí a necessidade de prepará-los através da
boa vacinação para que tenham imunidade ativa e sólida frente aos desafios
específicos da granja.
Gráfico A
Outro agravo importante que ocorre é a mistura de animais desmamados pela
uniformização de lotes que implica em colocar animais com diferentes cargas de microbiota e resistência numa mesma baia. Somado a isto, há
ainda que se lembrar do stress pela manipulação dos animais e o stress das
brigas que ocorrem no estabelecimento da hierarquia social dentro das baias.
Deste modo, vemos que o leitão desmamado esta sob forte desafio numa fase que
representa 1/3 da sua vida dentro da granja e que tem forte impacto sobre seu
peso de abate, cabendo a nós adotar medidas para sua melhor adaptação e
melhores resultados.
2. Numerosos Agentes Desafiadores
As doenças na fase de creche são causadas por uma série de agentes bacterianos
e virais. Alguns tem importância primária, ou seja, se
instalam primeiro e iniciam o processo da doença, enquanto outras tem
importância secundária ou se instalam como complicantes,
sendo muitas vezes os agentes causadores das piores perdas e por isso, apesar
de secundários, merecedores de nossa atenção e esforços para controle.
As doenças exóticas ou sob plano de controle governamental, como a peste suína
clássica, devem ser notificadas obrigatoriamente e as medidas de controle devem
ser adotadas de acordo com a legislação sob supervisão das autoridades
competentes.
As doenças mais freqüentes em nosso meio serão discutidas abaixo, sendo agrupadas
pela sua forma de apresentação como Doenças Respiratórias, Doenças Entéricas,
Doenças Sistêmicas e Doenças de Pele.
3. Principais doenças no nosso meio
Pneumonia enzoótica:
Dentre as doenças respiratórias, historicamente a creche era uma fase crítica
para a ocorrência da Pneumonia enzoótica, causada
pelo agente Mycoplasma hyopneumoniae.
Porém devido a adoção de medidas de manejo (todos
dentro - todos fora, “all in - all
out”) e sanidade (medicações e vacinações), temos observado mudança na
epidemiologia e ocorrência desta patologia que tem acometido com mais e mais
freqüência animais mais velhos na fase de recria e até mesmo terminação (Tabela
C).
Tabela C
Sinais clínicos: Presença de tosse, presença de animais refugos e baixo peso.
Diagnóstico: é realizado através de exames laboratoriais que podem verificar o
envolvimento do agente, sendo recomendado envio de material para exames
histopatológicos, bacteriológicos e sorologia. O material para envio a
laboratório e amostragem (número de amostras e momento da coleta) deve ser
discutido com o médico veterinário sanitarista, buscando auxílio do
laboratório.
Controle: realizado através de medicação associado a medidas de melhorias na
ambiência.
Prevenção: medidas de biossegurança e vacinação.
Doença de Glasser ou parasuis:
É causada pela bactéria Haemophillus parasuis e diversos sorotipos são encontrados no Brasil.
Esta doença que a princípio é classificada como respiratória, causa um quadro
de poliserosite, ou seja, acometimento das serosas,
tecidos que recobrem diversos órgãos, causando assim não só sintomas
respiratórios, mas também mortalidade, sinais de origem nervosa, artrites, etc.
Sua incidência em nosso meio tem aumentado, dados de um levantamento realizado
no Estado do Paraná, em 2001 (Ristow et alii)
indicavam a presença do agente em 94% das granjas pesquisadas. A dificuldade no
seu controle resulta da falta de diagnóstico seguro não só do agente envolvido,
mas também do sorotipo ou variante presente na granja e sua sensibilidade /
resistência aos antimicrobianos.
Sinais clínicos: Presença de tosse, presença de animais refugos e baixo peso.
Nos casos agudos, há alta mortalidade. Nos casos crônicos, além dos sinais
acima descritos há ainda alta incidência de artrite.
Diagnóstico: realizado através de exames laboratoriais que asseguram o
envolvimento do agente e seu perfil de sensibilidade / resistência aos
antimicrobianos, sendo recomendado envio de material para exames
histopatológicos e bacteriológicos. O material para envio a laboratório e
amostragem (número de amostras e momento da coleta) deve ser discutido com o
médico veterinário sanitarista, buscando auxílio do laboratório.
Controle: realizado através de medicação associado a medidas de melhorias na
ambiência.
Prevenção: medidas de biossegurança e vacinação.
Rinite Atrófica:
É causada pelas bactérias Pasteurella multocida e Bordetella bronchiseptica. Esta doença tem sua
apresentação marcante nas fases de recria e terminação, porém sabemos que a
contaminação dos animais pode se iniciar na maternidade e creche, e que a
grande disseminação dos agentes e colonização inicial ocorre na fase de creche,
daí a importância da boa condução das medidas de controle a partir da creche.
Segundos estudos realizados por Silva et
alii em 2001, 78% dos suínos avaliados em diversos
pontos do Brasil apresentavam acometimento pela Rinite Atrófica,
isto se deve também devido a forma clínica (ou seja com apresentação visível
das lesões de desvio de focinhos) ter diminuído e dado espaço a forma
sub-clínica onde poucas lesões são observados nos animais vivos, dificultando a
pronta identificação de granjas com o problema.
A abordagem de controle e prevenção de Rinite atrófica
deve ser pensada e planejada de acordo com a realidade de cada granja.
Sinais clínicos: Presença de espirros, desuniformidade
do lote e alguns animais com baixo peso e presença de pneumonias. Índices de
peso de animais terminados demonstrando desuniformidade
(cv> 15%).
Diagnóstico: realizado de avaliação de lesão de cornetos nasais (“score de focinhos”) e através de exames laboratoriais
(exames de isolamento bacteriológico) que asseguram o envolvimento do agente e
seu perfil de sensibilidade / resistência aos antimicrobianos. Existe a
possibilidade de exames sorológicos para detecção de anticorpos anti-toxina dermonecrótica da Pasteurella multocida. O material
para envio a laboratório e amostragem (número de amostras e momento da coleta)
deve ser discutido com o médico veterinário sanitarista, buscando auxílio do
laboratório.
Controle: realizado através de medicação associado a medidas de melhorias na
ambiência.
Prevenção: medidas de biossegurança e vacinação.
Estreptococose:
É causada pela bactéria Streptococcus suis e diversos
sorotipos causam variadas apresentações no Brasil. Esta doença que a princípio
é vista sob a forma de Meningite, é uma doença sistêmica ou
seja atinge diversos órgãos, porém os sinais clínico que causam mais
alarde e comoção são morte súbita e sinais nervosos de encefalite. A bactéria
geralmente está presente nas amígdalas dos animais, que quando submetidos a
stress, apresentam infecção generalizada, permitindo que os animais apresentem
sinais como: encefalite, espirros, pneumonia, artrite e morte súbita devido a septicemia.
Sua incidência na suinocultura tecnificada mundial
tem aumentado e acredita-se que seja uma das doenças mais importantes da
atualidade, sendo necessária atenção para o controle efetivo.
Sinais clínicos: Morte súbita, sinais de origem nervosa (pedalagem,
falta de locomoção, opistotomo, etc),
presença de tosse, presença de artrite e baixo peso.
Diagnóstico: realizado através de exames laboratoriais que asseguram o
envolvimento do agente e seu perfil de sensibilidade / resistência aos
antimicrobianos, sendo recomendado envio de material para exames histopatógicos e bacteriológicos. O material para envio a
laboratório e amostragem (número de amostras e momento da coleta) deve ser
discutido com o médico veterinário sanitarista, buscando auxílio do
laboratório.
Controle: realizado através de medicação associado a medidas de melhorias na
ambiência.
Prevenção: medidas de biossegurança e Vacinação.
Circovirose:
É uma doença viral causada circovírus. Sua
distribuição é mundial e seu impacto muito grande pois
abre as portas para agentes secundários. Causa síndrome multisistêmica
e refugagem de suínos. O impacto da doença varia de
granja a granja e diversos fatores estão envolvidos com a forma de apresentação
da doença (tipo de granja, manejo, desafios por outros agentes, etc.).
Sinais clínicos: Refugagem de animais, baixo
desempenho, outras patologias ocorrendo constantemente na granja e possíveis
problemas reprodutivos.
Diagnóstico: realizado através de histórico clínico, índices sub-ótimos
e exames laboratoriais que asseguram o envolvimento do agente (Imunohistoquímica, PCR, histopatologia,
sorologia pareada). O material para envio a laboratório e amostragem (número de
amostras e momento da coleta) deve ser discutido com o médico veterinário
sanitarista, buscando auxílio do laboratório.
Controle: realizado através de medicação e vacinação para os agentes
secundários, associado a medidas de melhorias na biossegurança
e ambiência.
Prevenção: medidas de biossegurança e Vacinação para
agentes secundários.
Epidermite Exsudativa
(Estafilococose ou doença do leitão graxo):
É uma doença causada pela bactéria Staphylococcus hycus.
Esta doença é conhecida e reconhecida pela sua
apresentação de doença de pele, porém a
apresentação cutânea é apenas um dos
sinais (o mais visível), esta é uma doença
sistêmica, ou seja, atinge diversos
órgãos, deprimindo funções vitais dos
animais e interferindo no desempenho dos
leitões. O impacto da doença varia de granja a granja,
mas a presença de poucos
animais com problemas de pele já indica que a doença
está acometendo o lote e
medidas de controle são recomendadas.
Sinais clínicos: Problemas de pele, presença de animais debilitados e baixo
desempenho.
Diagnóstico: realizado através de histórico clínico e exames laboratoriais
(exames de isolamento bacteriológico) que asseguram o envolvimento do agente e
seu perfil de sensibilidade / resistência aos antimicrobianos. O material para
envio a laboratório e amostragem (número de amostras e momento da coleta) deve
ser discutido com o médico veterinário sanitarista, buscando auxílio do
laboratório.
Controle: realizado através de medicação para tratamento do lote. Pode ser
indicado tratamento tópico com antissépticos nos
animais com problemas de pele.
Prevenção: existem vacinas disponíveis em outros paises
para controle desta.
Doença do Edema:
É causada pela bactéria Escherichia coli que apresentam produção de toxinas específicas. Sua
ocorrência na suinocultura é mundial. A apresentação de mortes súbitas devido a
edema cerebral pode gerar confusão com outras doenças como Estreptococose
ou mesmo Doença de Glasser. Causa sérias perdas
diretas (mortes) e indiretas (baixo desempenho, baixo aproveitamento da
nutrição, gastos com medicamentos, etc). O uso de
antimicrobianos como promotores pode manter o problema subclínico
o que faz com que as perdas perdurem.
Sinais clínicos: Presença de mortes súbitas, diarréia ou fezes moles, sintomas
nervosos, presença de animais refugos e baixo peso. Nos casos agudos, há alta
mortalidade.
Diagnóstico: realizado através de exames laboratoriais que asseguram o
envolvimento do agente e seu perfil de sensibilidade / resistência aos
antimicrobianos, sendo recomendado envio de material para exames histopatológicos
e bacteriológicos. O material para envio a laboratório e amostragem (número de
amostras e momento da coleta) deve ser discutido com o médico veterinário
sanitarista, buscando auxílio do laboratório.
Controle: realizado através de medicação associado a medidas de melhorias na
ambiência.
Prevenção: medidas de biossegurança.
4. Prevalência de Doenças em Granjas
Existem diferenças significativas na prevalência de
doenças de creche entre diferentes granjas, mesmo sendo o agente causal sendo o
mesmo. Esta situação é confirmada através de diversos estudos que demonstram as
grandes diferenças de prevalência que podem existir entre as granjas e mesmo
entre lotes sob mesma instalação. Estes dados nos indicam que existem fatores
associados especificamente aos lotes (Por exemplo: variações de temperatura,
partidas diferentes de ração ou matéria-prima, etc),
capazes de causar desequilíbrios que levam a surtos inesperados.
Temos percebido na nossa experiência que desafios todas as granjas possuem,
porém são imprevisíveis, e os melhores resultados são obtidos quando se
trabalha concomitantemente para diminuir o desafio (medidas de biossegurança, por exemplo, desinfecção) associado a
medidas para aumentar a resistência do animal (por exemplo, vacinações).
5. Conhecendo o inimigo
São fundamentais o conhecimento do causador das perdas
ou do impedimento de melhores resultados, e ainda a prevalência do problema na
granja. Isto deve ser feito de modo seguro e reprodutível, ou
seja com uma metodologia analítica confiável, para permitir segurança na
tomada de decisão. Deste modo, análises laboratoriais como testes sorológicos e
isolamento dos agentes consolidam conhecimento da situação, proporcionando a
melhor opção de controle.
De nada adianta implantar medidas corretivas sem termos certeza do alvo que
estamos mirando, pois podemos mascarar o problema, confundir os técnicos e
mesmo levar a uma falsa segurança com a adoção de medidas erradas.
Segue no quadro abaixo uma sugestão de abordagem diagnóstica para avaliação de
creche.
Quadro A
6. Efeitos Econômicos
As perdas econômicas decorrentes das doenças de creche dependem da:
- Idade do animal apresentando a doença
- Severidade da Infeção que se estabelece
- Curso da doença após o surto.
Devido a estes fatores, podemos afirmar que as perdas econômicas são específicos para cada realidade da granja em questão. Os
dados de estudos podem variar de amplitude mas se
prestam como excelente orientação do que pode estar ocorrendo a campo.
Um trabalho clássico de TIELEN e colaboradores realizado através de um sistema
de administração de integração onde foram acompanhados individualmente cerca de
115.000 animais de aproximadamente 500 lotes, demonstrou que os animais
perderam de
Isto pode ser a explicação de alguns casos de baixo desempenho da granja com
pouca ou baixa detecção de lesões pulmonares ao abate.
Deve-se ressaltar que além das perdas diretas causadas pelo baixo desempenho
zootécnico e mortalidade, existem ainda as perdas indiretas devido ao aumento
da susceptibilidade dos animais a doenças secundárias, gastos com medicamento e
outras medidas corretivas e até mesmo perdas de difícil mensuração como mão de
obra desviada para aplicação de medicamentos, manejo de refugos e outras
atividades que tomam tempo. Tempo este que poderia estar sendo utilizado para atividades essenciais e até mesmo melhoria dos
procedimentos para obtenção de melhores índices.
7. Bloqueio Físico da Transmissão das
Doenças
A produção ineficiente devido às doenças estimulou a pesquisa de novas
tecnologias de criação. Na década de 80 foi introduzido o conceito da criação
no sistema todos dentro-todos fora (all in – all out) para reduzir ou
eliminar a expressão clínica da pneumonia por Mycoplasma
em leitões desmamados. Estudos comprovaram a eficiência do sistema, abaixando o
número de pulmões afetados de 15,1% para 4,1%, e requerendo menos dias para
atingir a idade de abate e cerca de
Na década de 90 foi introduzido o desmame precoce e o desmame precoce medicado,
onde a idade de desmama depende do estado sanitário da granja e a doença alvo a
ser controlada, alojando os desmamados em sítios segregados. Esta tecnologia
teve sua aceitação mais lenta em suinocultura comercial, principalmente devido
aos custos que envolve, mas sua eficiência é
comprovada. Deve-se prestar muita atenção para a limpeza, desinfecção e outras
medidas de biossegurança, indispensáveis para manter
um bom estado de saúde dos animais e assim atingir os objetivos.
8. Vacinação e Medicamentos
O controle das doenças através das medidas de bloqueio físico da transmissão
das doenças foi incrementado representando progresso no controle de doenças. Entretanto o uso de vacinas 9 até mesmo medicamentos)
permite ainda minimizar o impacto de surtos ou até mesmo minimizar a excreção e
disseminação dos agentes patogênicos, e diminuir a pressão de desafio nas
instalações. Quando utilizados juntos, de forma correta, o somatório das ações dos medicamentos e vacinas fornece melhores
resultados.
A adoção ou implantação de determinada vacina deve ocorrer depois de realizado
o diagnóstico laboratorial em uma instituição confiável e de qualidade
comprovada. É desaconselhável adotar vacinação se não houver uma forte
indicação e necessidade concreta desta, além de nos parecer pouco técnico e
lógico.
As Vacinas são utilizadas para:
- Reduzir a ocorrência da doença clínica
- Reduzir a pressão de desafio
- Otimizar a eficiência de outras medidas de controle
A eficiência das vacinas é demonstrada através de experimentos em condições
controladas. Já dentro da granja, devemos buscar controlar também as
interferências, ou seja, manter um padrão de procedimentos.
As condições de aplicação das vacinas podem afetar sua eficiência
principalmente quanto a idade de aplicação das vacinas
e procedimento de aplicação (vacinação propriamente dita). Muitos casos de
falha vacinal ou baixa eficiência tem relação direta com estes dois importantes
aspectos.
O momento correto de aplicação das vacinas ou o esquema vacinal deve ser
estabelecido baseado na epidemiologia da doença na granja e respeitando as
condições de manejo. O médico veterinário é o profissional preparado e indicado
para o desenho do plano vacinal. As vacinas devem ser aplicadas antes da
ocorrência da doença, ou seja, o animal não deve estar nem no período de
incubação muito menos clinicamente doente. Deve-se atentar para a interferência
dos anticorpos materiais (colostro) na aplicação das vacinas.
O procedimento da vacinação deve ser o mais higiênico possível e realizado de
modo a administrar a dose correta e completa, sem permitir refluxo.
Já os antibióticos ou antimicrobianos são facilmente administrados de forma massal e podem auxiliar no controle simultâneo de diversas
doenças respiratórias.
O uso de antimicrobianos deve ser feito de forma técnica e responsável para
evitar o aparecimento de resistência que inviabiliza o uso da droga na granja,
limitando as opções para uso e controle de doenças, além de acusar um grande
problema de saúde pública.
A escolha do antimicrobiano deve ser feita baseado em exames laboratoriais
(antibiograma) e a aquisição deve ser de drogas com qualidade comprovada de um
fornecedor idôneo.
Para a boa atuação, na escolha da droga o veterinário deve atentar para as
características como absorção no trato intestinal, biodisponibilidade,
atividade bactericida ou bacteriostática e sua distribuição nos tecidos e
órgãos.
A metafilaxia, ou seja, o uso de medicação com o
objetivo de prevenir a instalação da doença clínica, vem
sendo usada há muitos anos e obtemos bons resultados quando adotada com
critérios.
9. Abordagem dos Problemas de Creche
Recomendamos que seja realizada uma boa abordagem dos
problemas de creche, iniciando com:
1- Avaliação criteriosa da situação: análise crítica dos índices e dos sinais
clínicos (prevalência) e mensuração das perdas diretas (baixo peso e mortes) e
perdas indiretas (gasto com medicamentos, retrabalho: gasto de mão de obra e
instalações, baixo uso dos nutrientes na ração, doenças secundárias)
2- Diagnóstico seguro: envio de material adequado para exames laboratoriais
confirmatórios (sempre lembrando de consultar o médico veterinário sanitarista
do laboratório para correta definição)
3- Instalação de medidas de controle e medidas de prevenção (sempre acompanhar
a real instalação destas medidas para avaliar e implantar ajustes, exemplo:
melhoria das agulhas para vacinação, retreinamento em
vacinação)
4- Avaliação das medidas instaladas de modo técnico e comprovado. Esta
avaliação deve considerar: índices produtivos, índices de lesões, exames
laboratoriais complementares. Lembramos que as medidas de controle são as
primeiras a serem avaliadas, pois objetivam controlar o surto ou perdas
diretas, enquanto que as medidas preventivas são avaliadas ao longo de um
período maior, para boa demonstração da diminuição das perdas diretas e também
das perdas indiretas.
Conclusão
Os dados aqui apresentados demonstram claramente o impacto das doenças na fase
de creche e as perdas decorrentes. A alta prevalência do problema e o alto
custo das perdas nos indicam que as medidas preventivas de controle e a adoção
de programas tecnicamente planejados são os mais adequados. A monitoria de
avaliação dos programas e medidas de controle deve ser realizada rotineiramente
para controle da situação e correção se necessário.