Informativo Técnico Nº. 189

COMPLEXO ENTÉRICO SUÍNO

PARTE I

 

INTRODUÇÃO

 

Os distúrbios gastrointestinais dos suínos têm variado consideravelmente nos últimos anos. A patologia digestiva claramente se agravou. Há 10 anos atrás estávamos todos falando da Síndrome Respiratória dos Suínos, referindo-se ao acúmulo de patógenos que causam doenças respiratórias. Quase não se falava sobre a Síndrome Entérica dos Suínos. Hoje, está se tornando um termo comum.

Antigamente a principal preocupação dos veterinários especialistas em suínos eram as enfermidades respiratórias. Na verdade, os programas sanitários se concentravam na Síndrome Respiratória Suína que era o resultado da interação entre vários patógenos virais, bacterianos e micoplasmas.

Naquele momento, as patologias gastrointestinais estavam controladas. Isso porque contávamos com ferramentas que pouco a pouco foram desaparecendo de nossa “caixa de recursos preventivos ou curativos”. Duas ferramentas importantes foram retiradas:

1- Antibióticos promotores de crescimento (APC), usados em baixas doses e por longos períodos com o objetivo de melhorar o índice de crescimento dos animais, permitindo que tivessem contato com os patógenos bacterianos de forma controlada, sem expressar a doença na forma clínica, mas possibilitando que se produzisse imunidade efetiva frente aos agentes.

 2- Metais com conhecidos efeitos preventivos: óxido de zinco e sulfato de cobre que foram proibidos de forma total por um período de um ano na Europa, produzindo um aumento significativo nos processos diarréicos dos leitões.

Portanto, a situação atual é que, de maneira similar à patologia respiratória, temos um conjunto de patógenos virais (coronavirus, rotavirus, etc), bacterianos (Lawsonia intracellularis, Brachispyra hyodisenteriae, Brachyspira pilosicoli, Escherichia coli, Clostridium sp, Salmonella sp, etc) e parasitários que interagem entre si, produzindo o que conhecemos como COMPLEXO ENTÉRICO SUÍNO (CES).

 

FATORES QUE INFLUCIENCIAM A PATOLOGIA GASTROENTÉRICA

 

            Além dos fatores citados acima como a retirada dos APCs e da limitação do uso dos metais com efeito preventivo (provavelmente os que mais pesaram na variação da saúde digestiva), existem outros fatores que influíram na piora da saúde gastrointestinal dos suínos.

            Por um lado, temos um fator fundamental neste tipo de patologia: a densidade animal (figura 1). As regiões clássicas de produção suína têm aumentado na última década a densidade animal de forma significativa. Mesmo dentro das próprias granjas vimos aumentar a pressão, as vezes por fatores como as mudanças genéticas que levaram à introdução de raças hiperprolíficas, aumentando em 15-20% o número de animais presentes na granja. Muitas dessas doenças são transmitidas na mesma área geográfica, como a disenteria suína que possui vetores biológicos (ratos e camundongos) que se movem entre galpões.

 

fig 01

Figura 1: Produção intensiva e extensiva respectivamente, com diferentes densidades animais.

 

            Outro fator a se considerar é a evolução das dietas dos suínos. Embora tenham se passado anos pesquisando como produzir uma alimentação adequada (em termos de produção e saúde), a evolução dos mercados de commodities levou, em muitos casos, à produção de rações totalmente inadequadas do ponto de vista sanitário, com a inclusão de inúmeros subprodutos.

 

PRINCIPAIS PATOLOGIAS

 

ILEÍTE PROLIFERATIVA

 

            Esta doença, causada pela Lawsonia intracellularis, é uma das que mais tem variado na última década. Sabe-se que esta doença possui diferentes expressões clínicas e patológicas, determinados por diferentes fatores. Antes da proibição dos APCs, não era freqüente observar no campo a expressão hemorragia aguda da doença, sendo mais freqüente a forma crônica. Isso acontece porque os APCs produzem um efeito metafilático sobre este patógeno.

Outro fator é o uso cada vez mais freqüente da produção em múltiplas fases. Sabe-se que a forma hemorrágica é mais comum em populações manejadas com separação de fases, favorecendo a ocorrência de contatos com o patógeno quando a imunidade materna desapareceu. Em contrapartida, em ciclos fechados é mais comum a forma crônica graças ao contato contínuo com o patógeno que acontece neste tipo de produção.

Também é evidente que tem havido um aumento na prevalência desde a proibição da APC. Em 1999, coincidindo com a proibição dos APCs para leitões na Dinamarca, foi observado um claro aumento em casos de Ileíte Proliferativa. Outro aspecto que mudou é a idade de aparecimento da doença. Enquanto a uma década atrás a forma hemorrágica aparecia em animais de 80kg, hoje a idade tem diminuído e não é raro encontrar manifestações clínicas deste tipo em animais de 40kg.

 

Fig 02

DISENTERIA SUÍNA

 

            Esta doença produzida pela Brachyspira hyodysenteriae também tem sofrido mudanças nos últimos anos. Caracteriza-se por ser uma enfermidade insidiosa, cara, higiene-dependente e que possui vetores biológicos (ratos e camundongos) que são capazes de dispersar a bactéria por áreas geográficas com alta-média densidade de animais. Esta doença que produz uma grave alteração no cólon, em forma de colite fibrinonecrótica-hemorrágica, tornou-se uma das mais difíceis de lidar. Além de aumentar sua incidência – como a ileíte proliferativa -, os tratamentos estão se tornando menos eficazes ou necessitando de doses maiores, as recidivas são mais freqüentes e em períodos de tempo mais curtos. Em alguns casos é utilizado a administração de autovacinas, mas os resultados não são consistentes.

 

ÚLCERA GASTROESOFÁGICA

 

            É outra enfermidade gastrointestinal suína que tem mudado na última década. Sua prevalência tem aumentado em muitos casos e sabe-se que é uma doença claramente multifatorial: existe uma vasta gama de fatores que influem na sua manifestação e gravidade, de natureza genética (linhagem, sexo, pressão de seleção), nutrição (qualidade e apresentação dos alimentos, características quantitativas e qualitativas, presença de minerais, fibras, etc...) à gestão (estresse, tamanho da fazenda, regime alimentar, bem-estar, tipo de instalações, etc...) e patologias (toxinas, uso de medicamentos, agentes virais) que dificultam a luta contra esta doença e ainda, em certas ocasiões, faz com que as soluções passem por ações antiprodutivas ou antieconômicas, mais caras que o prejuízo causado pelo processo patológico. Um dos fatores que mais se tem investigado atualmente é a relação desta doença com bactérias do gênero Helicobacter. Em humanos, a descoberta do H. pylori, há 20 anos, marcou um momento decisivo nas doenças gástricas como a úlcera péptica ou certos tipos de câncer gástrico. Hoje, sabe-se que o leitão pode ser infectado por várias espécies deste gênero e que algumas são patogênicas para a mucosa gástrica suína. Possivelmente, pesquisas em curso irão lançar luz em um futuro próximo sobre a responsabilidade direta dessas bactérias na geração de úlceras gástricas em suínos.

 

Fig 03

Figura 2: Grave úlcera de bordos invaginantes na região do cárdia. Fonte: Universidade Técnica de Lisboa.

 

SALMONELOSE

 

            A salmonelose, como problema patológico dos suínos, não tem variado de forma importante nos últimos anos. Mas tem assumido um papel (atual e, sobretudo, futuro) por causa das implicações para a saúde humana. A incidência de salmonelose em suínos aumentou ligeiramente, especialmente nos leitões. É uma doença que pode surgir como secundária a certos processo virais e é um dos participantes ativos do Complexo Entérico Suíno. Sua manifestação clínica apresenta-se sob a forma de diarréia amarelada, às vezes com flocos de fibrina e patologicamente afetando quase todo o trato intestinal, além de gastrite catarral e esplenomegalia.

 

COLIBACILOSE

 

            Esta doença, causada por distintas cepas de E. coli, tem também variado notavelmente nos últimos anos. Um exemplo é a mudança da manifestação clínica. Alguns anos atrás era difícil encontrar focos de colibacilose em qualquer fase da criação, e hoje, durante 4-6 semanas de vida é provável que tenhamos algum problema desse tipo. A expressão clínica também é mais grave do que há alguns anos e as doses de antibióticos que são necessárias para o tratamento e prevenção são cada vez maiores.

            Outra mudança evidente é que, cada vez mais, vemos com menos freqüência no campo a expressão clássica da doença com os edemas causados pelas cepas verotoxigênicas, sendo as grandes protagonistas as cepas que produzem um quadro diarréico, com intestino flácido, cheio de conteúdo líquido – de cor que pode variar do marrom ao avermelhado, geralmente com o estômago cheio e sinais de desidratação como caquexia, olhos fundos, etc.

            Existem vacinas conta E. coli no mercado. A vacinação é feita nas porcas como uma forma indireta de proteger os leitões.

Dica baseada na palestra de Guillermo Ramis, PorkExpo 2010.

 

CODIGO

EXAMES

PRAZO DIAS

S73

DIAGNÓSTICO ENTÉRICO - DIARRÉIA 

Amostra: 1 swab retal ou fragmento de alça intestinal sob refrigeração, sem congelar.

Pesquisa de Escherichia coli, Clostridium perfringens e dificilli e

Salmonella sp com antibiogramas.                        

5

S57

ILEÍTE - MÉTODO PESQUISA DIRETA

Amostra: Fezes, swab ou fragmento de intestino  refrigerado, sem congelamento.

2

S54

Brachyspyra hyodysenteriae – PESQUISA

Amostra: Fezes, swab ou fragmento de intestino  refrigerado, sem congelamento.

5

S83

IMUNO-HISTOQUÍMICA PARA CIRCOVÍRUS S83 

Amostra: Peça ou orgão conservado em formol 10% (linfonodo mesentérico, pulmão, etc)

5

S24 

PESQUISA ROTAVÍRUS 

Amostra: Fragmento de intestino, swab retal, fezes ou leitão

1

S13

Escherichia coli – ISOLAMENTO

Amostra: Fezes, swab ou fragmento de intestino  refrigerado, sem congelamento.

4

S23

EXAME PARASITOLÓGICO DE FEZES

Amostra: Fezes.

1

V06

VACINA AUTOGENA CONTRA COLIBACILOSE + CLOSTRIDIOSE

Amostra: Cepas isoladas no laboratório

15

 


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