COMPLEXO ENTÉRICO SUÍNO
PARTE I
INTRODUÇÃO
Os distúrbios gastrointestinais dos
suínos têm variado consideravelmente nos últimos anos. A patologia digestiva
claramente se agravou. Há 10 anos atrás estávamos
todos falando da Síndrome Respiratória dos Suínos, referindo-se ao
acúmulo de patógenos que causam doenças
respiratórias. Quase não se falava sobre a Síndrome Entérica dos Suínos.
Hoje, está se tornando um termo comum.
Antigamente a principal preocupação
dos veterinários especialistas em suínos eram as enfermidades respiratórias. Na
verdade, os programas sanitários se concentravam na Síndrome Respiratória Suína
que era o resultado da interação entre vários patógenos
virais, bacterianos e micoplasmas.
Naquele momento, as patologias
gastrointestinais estavam controladas. Isso porque contávamos com ferramentas
que pouco a pouco foram desaparecendo de nossa “caixa de recursos preventivos
ou curativos”. Duas ferramentas importantes foram retiradas:
1- Antibióticos
promotores de crescimento (APC), usados em baixas doses e por longos períodos com o
objetivo de melhorar o índice de crescimento dos animais, permitindo que
tivessem contato com os patógenos bacterianos de
forma controlada, sem expressar a doença na forma clínica, mas possibilitando
que se produzisse imunidade efetiva frente aos agentes.
2- Metais com conhecidos
efeitos preventivos: óxido de zinco e sulfato de cobre que foram proibidos
de forma total por um período de um ano na Europa, produzindo um aumento
significativo nos processos diarréicos dos leitões.
Portanto, a situação atual é que, de
maneira similar à patologia respiratória, temos um conjunto de patógenos virais (coronavirus, rotavirus, etc), bacterianos (Lawsonia intracellularis,
Brachispyra hyodisenteriae,
Brachyspira pilosicoli,
Escherichia coli,
Clostridium sp, Salmonella
sp, etc) e parasitários
que interagem entre si, produzindo o que conhecemos como COMPLEXO ENTÉRICO
SUÍNO (CES).
FATORES QUE INFLUCIENCIAM A PATOLOGIA GASTROENTÉRICA
Além dos fatores citados acima como a retirada dos APCs
e da limitação do uso dos metais com efeito preventivo (provavelmente os que
mais pesaram na variação da saúde digestiva), existem outros fatores que
influíram na piora da saúde gastrointestinal dos suínos.
Por um lado, temos um fator fundamental neste tipo de patologia: a densidade
animal (figura 1). As regiões clássicas de produção suína têm aumentado na
última década a densidade animal de forma significativa. Mesmo dentro das
próprias granjas vimos aumentar a pressão, as vezes
por fatores como as mudanças genéticas que levaram à introdução de raças hiperprolíficas, aumentando em 15-20% o número de animais
presentes na granja. Muitas dessas doenças são transmitidas na mesma área
geográfica, como a disenteria suína que possui vetores biológicos (ratos e
camundongos) que se movem entre galpões.
Figura 1: Produção intensiva e
extensiva respectivamente, com diferentes densidades animais.
Outro fator a se considerar é a evolução das dietas dos suínos. Embora
tenham se passado anos pesquisando como produzir uma alimentação adequada (em
termos de produção e saúde), a evolução dos mercados de commodities
levou, em muitos casos, à produção de rações totalmente inadequadas do ponto de
vista sanitário, com a inclusão de inúmeros subprodutos.
PRINCIPAIS PATOLOGIAS
ILEÍTE
PROLIFERATIVA
Esta doença, causada pela Lawsonia intracellularis, é uma das que mais tem variado na
última década. Sabe-se que esta doença possui diferentes expressões clínicas e
patológicas, determinados por diferentes fatores. Antes da proibição dos APCs, não era freqüente observar no campo a expressão
hemorragia aguda da doença, sendo mais freqüente a forma crônica. Isso acontece
porque os APCs produzem um efeito metafilático
sobre este patógeno.
Outro fator é o uso cada vez mais
freqüente da produção em múltiplas fases. Sabe-se que a forma hemorrágica é
mais comum em populações manejadas com separação de fases, favorecendo a
ocorrência de contatos com o patógeno quando a
imunidade materna desapareceu. Em contrapartida, em ciclos fechados é mais
comum a forma crônica graças ao contato contínuo com o patógeno
que acontece neste tipo de produção.
Também é evidente que tem havido um
aumento na prevalência desde a proibição da APC. Em 1999, coincidindo com a
proibição dos APCs para leitões na Dinamarca, foi
observado um claro aumento em casos de Ileíte
Proliferativa. Outro aspecto que mudou é a idade de aparecimento da doença.
Enquanto a uma década atrás a forma hemorrágica
aparecia em animais de 80kg, hoje a idade tem diminuído e não é raro encontrar
manifestações clínicas deste tipo em animais de 40kg.
DISENTERIA
SUÍNA
Esta doença produzida pela Brachyspira hyodysenteriae também tem sofrido mudanças nos últimos
anos. Caracteriza-se por ser uma enfermidade insidiosa, cara,
higiene-dependente e que possui vetores biológicos (ratos e camundongos) que
são capazes de dispersar a bactéria por áreas geográficas com alta-média densidade de animais. Esta doença que produz uma
grave alteração no cólon, em forma de colite fibrinonecrótica-hemorrágica,
tornou-se uma das mais difíceis de lidar. Além de aumentar sua incidência –
como a ileíte proliferativa -, os tratamentos estão
se tornando menos eficazes ou necessitando de doses maiores, as recidivas são
mais freqüentes e em períodos de tempo mais curtos. Em alguns casos é utilizado a administração de autovacinas,
mas os resultados não são consistentes.
ÚLCERA
GASTROESOFÁGICA
É outra enfermidade gastrointestinal suína que tem mudado na última década. Sua
prevalência tem aumentado em muitos casos e sabe-se que é uma doença claramente
multifatorial: existe uma vasta gama de fatores que influem
na sua manifestação e gravidade, de natureza genética (linhagem, sexo, pressão
de seleção), nutrição (qualidade e apresentação dos alimentos, características
quantitativas e qualitativas, presença de minerais, fibras, etc...)
à gestão (estresse, tamanho da fazenda, regime alimentar, bem-estar, tipo de
instalações, etc...) e patologias (toxinas, uso de
medicamentos, agentes virais) que dificultam a luta contra esta doença e
ainda, em certas ocasiões, faz com que as soluções passem por ações antiprodutivas ou antieconômicas, mais caras que o
prejuízo causado pelo processo patológico. Um dos fatores que mais se tem
investigado atualmente é a relação desta doença com bactérias do gênero Helicobacter. Em humanos, a descoberta do H. pylori, há 20 anos, marcou um momento decisivo nas
doenças gástricas como a úlcera péptica ou certos tipos de câncer gástrico.
Hoje, sabe-se que o leitão pode ser infectado por várias espécies deste gênero
e que algumas são patogênicas para a mucosa gástrica suína. Possivelmente,
pesquisas em curso irão lançar luz em um futuro próximo sobre a
responsabilidade direta dessas bactérias na geração de úlceras gástricas em
suínos.
Figura 2: Grave úlcera de bordos
invaginantes na região do cárdia.
Fonte: Universidade Técnica de Lisboa.
SALMONELOSE
A salmonelose, como problema patológico dos suínos,
não tem variado de forma importante nos últimos anos. Mas tem assumido um papel
(atual e, sobretudo, futuro) por causa das implicações para a saúde humana.
A incidência de salmonelose em suínos aumentou
ligeiramente, especialmente nos leitões. É uma doença que pode surgir como
secundária a certos processo virais e é um dos
participantes ativos do Complexo Entérico Suíno. Sua manifestação clínica
apresenta-se sob a forma de diarréia amarelada, às vezes com flocos de fibrina
e patologicamente afetando quase todo o trato intestinal, além de gastrite
catarral e esplenomegalia.
COLIBACILOSE
Esta doença, causada por distintas cepas de E. coli, tem também variado notavelmente nos últimos
anos. Um exemplo é a mudança da manifestação clínica. Alguns anos atrás era difícil encontrar focos de colibacilose
em qualquer fase da criação, e hoje, durante 4-6 semanas de vida é provável que
tenhamos algum problema desse tipo. A expressão clínica também é mais grave do
que há alguns anos e as doses de antibióticos que são necessárias para o
tratamento e prevenção são cada vez maiores.
Outra mudança evidente é que, cada vez mais, vemos com menos freqüência no
campo a expressão clássica da doença com os edemas causados pelas cepas verotoxigênicas, sendo as grandes protagonistas as cepas
que produzem um quadro diarréico, com intestino flácido, cheio de conteúdo
líquido – de cor que pode variar do marrom ao avermelhado, geralmente com o
estômago cheio e sinais de desidratação como caquexia, olhos fundos, etc.
Existem vacinas conta E. coli
no mercado. A vacinação é feita nas porcas como uma forma indireta de proteger
os leitões.
Dica baseada na palestra de Guillermo Ramis, PorkExpo 2010.
CODIGO |
EXAMES |
PRAZO DIAS |
S73 |
DIAGNÓSTICO
ENTÉRICO - DIARRÉIA Amostra:
1 swab retal ou fragmento de alça intestinal sob
refrigeração, sem congelar. Pesquisa
de Escherichia coli,
Clostridium perfringens e
dificilli e Salmonella sp com antibiogramas.
|
5 |
S57 |
ILEÍTE
- MÉTODO PESQUISA DIRETA Amostra: Fezes, swab ou
fragmento de intestino refrigerado, sem congelamento. |
2 |
S54 |
Brachyspyra hyodysenteriae – PESQUISA Amostra: Fezes, swab ou
fragmento de intestino refrigerado, sem congelamento. |
5 |
S83 |
IMUNO-HISTOQUÍMICA
PARA CIRCOVÍRUS S83 Amostra: Peça ou orgão
conservado em formol 10% (linfonodo mesentérico,
pulmão, etc) |
5 |
S24 |
PESQUISA
ROTAVÍRUS Amostra: Fragmento de intestino, swab
retal, fezes ou leitão |
1 |
S13 |
Escherichia coli – ISOLAMENTO Amostra: Fezes, swab ou
fragmento de intestino refrigerado, sem congelamento. |
4 |
S23 |
EXAME
PARASITOLÓGICO DE FEZES Amostra: Fezes. |
1 |
V06 |
VACINA
AUTOGENA CONTRA COLIBACILOSE + CLOSTRIDIOSE Amostra: Cepas isoladas no laboratório |
15 |