Informativo Técnico Nº. 191

CRITÉRIOS PARA UTILIZAÇÃO DE VACINAS AUTÓGENAS NA SUINOCULTURA – PARTE I

 

INTRODUÇÃO

 

A modernização e intensificação da criação de suínos aumentou em muito a possibilidade de desafio por doenças infecciosas, favorecendo o surgimento das assim chamadas “infecções de rebanho”. Fatores como redução do vazio sanitário e aumento da lotação das instalações, problemas de fluxo e transporte de animais, e falhas de biossegurança criaram condições favoráveis para a emergência de muitas infecções até então consideradas de baixa importância na suinocultura. Infecções com agentes como Haemophilus parasuis, Actinobacillus pleuropneumoniae, Pasteurella multocida, Escherichia coli e, mais recentemente, o circovírus suíno tipo 2, geraram um cenário de enorme desafio à defesa inata e humoral dos animais, direcionando, em muitos casos, para a adoção de programas de medicação bastante agressivos como única forma possível de convivência com as doenças infecciosas.

Essa situação é claramente insustentável, pelos altos custos, além de problemas com o surgimento de resistência bacteriana e resíduos na carne. Na prática, o aumento da medicação tem gerado a necessidade de incremento da quantidade e freqüência de uso de antimicrobianos. Na busca de alternativas, a imunização surge como uma opção importante para o controle de infecções, por representar uma tecnologia mais biológica e ecologicamente correta.

 

OS ANTICORPOS

 

Anticorpos representam a principal forma de defesa imunológica dos suínos. Eles começam a ser sintetizados ainda durante a vida intra-uterina e são produzidos contra antígenos microbianos que são capazes de vencer a barreira placentária. Entretanto, para a maioria das infecções, a defesa de anticorpos inicia efetivamente no momento em que o leitão começar a ingerir o colostro. Existe uma permeabilidade a macromoléculas no epitélio intestinal dos leitões que dura, aproximadamente, entre 15 a 30 horas e isso permite que imunoglobulinas colostrais sejam absorvidas e, efetivamente, protejam os leitões contra as infecções sistêmicas que são veiculadas pela mãe.

Nesse contexto, é importante analisar o papel das transferências de leitões entre diferentes porcas, pois a mãe passa anticorpos apenas contra aqueles patógenos ou sorotipos dos patógenos dos quais é portadora. Ao transferirmos um leitão de uma porca para outra, existe o risco de que, pelo contato, ele seja exposto a agentes infecciosos excretados pela mãe adotiva, contra os quais não tenha recebido defesa no período em que seria capaz de absorver anticorpos. Um dos assim chamados “20 pontos de Madec” para o controle da circovirose foca exatamente essa variável, ao recomendar que as adoções de leitões sejam feitas apenas no 1º ou 2º dias de vida, período em que existe a absorção de macromoléculas, permitindo um adequado equilíbrio entre defesas e infecção dos leitões.

No colostro aproximadamente 80% das imunoglobulinas são da classe IgG (12). Essa imunoglobulina, junto com a IgA e IgM, representam as linhas de defesas contra infecções sistêmicas. As imunoglobulinas absorvidas decaem no soro do leitão em um período variável para cada antígeno e, de maneira geral, na medida em que os títulos de anticorpos circulantes alcançam níveis inferiores ao do mínimo necessário para a defesa ocorrem as infecções.

            Mesmo após o bloqueio da absorção de macromoléculas, o leite ainda se apresenta como uma defesa imune importante, através da ação das imunoglobulinas da classe IgA na mucosa intestinal. Esses anticorpos fornecem uma barreira de imunidade local, bloqueando receptores nas células epiteliais intestinais, impedindo a aderência de bactérias (como as fímbrias de Escherichia coli) ou neutralizando e/ou opsonizando antígenos virais (como no rotavírus e coronavírus entérico - TGE).

 

Escherichia Coli

 

A proteção contra a infecção pela Escherichia coli (E. coli, figura 1) baseia-se, em primeiro lugar, na ação de anticorpos (AC) que inibem a aderência da bactéria ao epitélio intestinal. A imunidade é transmitida pelo colostro/leite da porca aos leitões, principalmente, AC da classe IgA.

 

Fig 01

Figura 1: Escherichia coli enterotoxigênica - coloração verde- na mucosa intestinal.

Fonte: Retirado do blog saudegeriatrica.

 

A partir da segunda ou terceira semanas de idade o leitão inicia de uma forma significativa a produção ativa de anticorpos. Entretanto, na idade usual de desmame em nosso meio (18 à 28 dias de idade), os títulos de AC produzidos ativamente ainda são insuficientes para garantir uma adequada proteção do leitão, principalmente em casos de altos níveis de desafio na granja (uso de rações com baixa digestibilidade, frio, umidade, baias sujas, desinfecção inadequada, vazio sanitário insuficiente e lotes com diversas origens). Isso justifica a alta prevalência de colibacilose logo após o desmame, principalmente, quando não são adicionados à ração agentes antimicrobianos ou óxido de zinco em doses altas.

Em função desse cenário de infecção, recomenda-se a vacinação apenas das matrizes, aproximadamente 40 e 20 dias antes do parto, como forma de garantir uma boa geração de imunidade e transferência de imunoglobulinas aos leitões. A vacinação de primíparas é de especial importância, pois essa classe etária em geral ainda não teve um contato efetivo contra as cepas patogênicas de E. coli presentes na granja e, dessa forma, não irá veicular no leite e no colostro anticorpos contra os antígenos imunodominantes para a proteção dos leitões.

Ao serem desmamados, cessa a ingestão de imunoglobulinas pelo leite e o leitão se torna especialmente susceptível, o que gera necessidade de que sejam adotadas medidas preventivas específicas nas áreas nutricionais e de ambiente-manejo.

 

Clostridium Perfringens

 

A infecção pelo Clostridium perfringens (C. perfringens) tipo C causa uma forma de diarréia no período neonatal. O principal mecanismo de virulência da bactéria é a toxina beta, que é proteolítica e provoca necrose e hemorragia na mucosa intestinal. Essa toxina é sensível à ação da tripsina e o organismo aproveita o fato de que essa enzima se apresenta em baixos níveis no leitão recém nascido para se multiplicar e produzir seus efeitos patogênicos especificamente nessa idade. Uma alternativa seria o uso de bacterina autógena, produzida pelos laboratórios que fazem o isolamento do agente etiológico. Essas vacinas consistem de cultivos bacterianos totais inativados, adicionados de adjuvante. Os antígenos presentes incluem o corpo bacteriano, produtos metabólicos e toxóide. A vacinação visa primariamente à produção de anticorpos contra a toxina beta da bactéria. São recomendadas duas vacinações da porca gestante, aproximadamente aos 70 e 90 ou 80 e 100 dias de gestação. Não há necessidade da vacinação dos leitões.

 

Fig 02

Figura 2: Intestino hemorrágico em leitão com C. perfringens. Fonte: Retirado do site Thepigsite.

 

Pasteurella multocida Toxigênica e Bordetella bronchiseptica

 

A infecção associada entre Bordetella bronchiseptica e Pasteurella multocida toxigênica causa em suínos uma forma de rinite denominada Rinite Atrófica Progressiva. A Pasteurella multocida (P. multocida) toxigênica, durante seu crescimento, produz uma toxina (dermonecrótica) capaz de lesar osteoblastos e ativar a função de osteoclastos, causando rarefação óssea progressiva. Já a Bordetella bronchiseptica (B. bronchiseptica) têm como fatores de virulência adesinas (principalmente a hemoaglutinina filamentosa) e uma toxina (como a da Pasteurella, também chamada “dermonecrótica”, mas de constituição diferente), que causa lesões leves e reversíveis aos cornetos nasais, por danos a osteoblastos.

O esquema de vacinação envolve o uso de vacinas. Alguns programas incluem a vacinação exclusivamente das leitoas (duas doses: aos 60 e aos 90 dias de gestação) e porcas (uma dose aos 100 dias de gestação). Outras vacinas são indicadas apenas para os leitões, aos 7-14 e 21-28 dias de idade.

 

Pasteurella multocida Tipo A

 

A pasteurelose é um tipo de infecção pulmonar de suínos que ocorre freqüentemente após estágio final da infecção pelo Mycoplasma hyopneumoniae (pneumonia enzoótica) ou do complexo das doenças respiratórias dos suínos. É muito comum e é responsável por grandes prejuízos às criações de suínos em nosso meio. O agente é a Pasteurella multocida (P. multocida) e tem sido encontrado em pulmões de suínos em diversos países, em vários tipos de clima e condições de criação.

A importância do agente como causa primária de pneumonia em suínos tem sido alvo de polêmica. Segundo a maioria dos autores, o microorganismo seria incapaz de agir como patógeno primário, necessitando da interação com outros agentes para produzir pneumonia (como vírus da Peste Suína Clássica, PRRS, Mycoplasma hyopneumoniae, vírus da Doença de Aujeszky e circovírus 2). Entretanto, o isolamento de P. multocida de lesões pneumônicas em frigorífico demonstra a importância do agente em pneumonias e pleurites nos suínos e a doença/ lesão é uma das que tem causado maiores prejuízos econômicos à suinocultura.

A patogenia, mais do que resultado de ação direta de uma toxina, provavelmente seja explicada por uma reação supurativa caracterizada por infiltração de neutrófilos. Isso representaria uma reação do hospedeiro ao lipopolissacarídeo da bactéria, causando a liberação de citocinas inflamatórias. Quando isso ocorre, a morte provavelmente é resultado de choque endotóxico e falha respiratória.

 

Dica compilada do texto de Barcellos, D.E.S.N.; Borowski, S.M.; Almeida, M. N. apresentado no XIII congresso ABRAVES.

 

            ATENÇÃO: Não altere o esquema vacinal utilizado na sua granja sem antes consultar o MÉDICO VETERINÁRIO RESPONSÁVEL.

           

CÓD.

EXAMES

PRAZO DIAS

S51

BACTERIOLOGIA SISTEMA RESPIRATÓRIO

Amostra: Swabs nasais e de pulmão.

Preservação: refrigerado (sem congelamento).

Pesquisa: Actinobacillus pleuropneumoniae, Bordetella bronchseptica, Haemophillus parasuis, Pasteurella multocida e Streptococcus suis com antibiogramas entre outros agentes.

5

S73

DIAGNÓSTICO ENTÉRICO - DIARRÉIA 

Amostra: 1 swab retal ou fragmento de alça intestinal sob refrigeração (sem congelar).

Pesquisa: Escherichia coli, Clostridium perfringens e C. dificilli,

Salmonella sp com antibiogramas entre outros agentes.                         

5

V02

VACINA AUTÓGENA CONTRA RINITE ATRÓFICA DOS SUÍNOS

Amostra: Cepas isoladas na propriedade.

15

V11

VACINA AUTÓGENA CONTRA STREPTOCOCOSE DOS SUÍNOS

Amostra: Cepas isoladas na propriedade.

15

V20

VACINA AUTÓGENA CONTRA ESTREPTOCOCOSE DOS SUÍNOS E HPS

Amostra: Cepas isoladas na propriedade.

15

V15

VACINA AUTÓGENA CONTRA ERISIPELA DOS SUÍNOS

Amostra: Cepas isoladas na propriedade.

15

VOL06

VACINA AUTÓGENA CONTRA COLIBACILOSE E CLOSTRIDIOSE DOS SUÍNOS – OLEOSA

Amostra: Cepas isoladas na propriedade.

15

 


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