CRITÉRIOS PARA UTILIZAÇÃO DE VACINAS
AUTÓGENAS NA SUINOCULTURA – PARTE I
INTRODUÇÃO
A modernização e
intensificação da criação de suínos aumentou em muito a possibilidade de desafio
por doenças infecciosas, favorecendo o surgimento das assim chamadas “infecções
de rebanho”. Fatores como redução do vazio sanitário e aumento da lotação das
instalações, problemas de fluxo e transporte de animais, e falhas de biossegurança criaram condições favoráveis para a
emergência de muitas infecções até então consideradas de baixa importância na
suinocultura. Infecções com agentes como Haemophilus
parasuis, Actinobacillus
pleuropneumoniae, Pasteurella
multocida, Escherichia
coli e, mais recentemente, o circovírus
suíno tipo 2, geraram um cenário de enorme desafio à defesa inata e humoral dos
animais, direcionando, em muitos casos, para a adoção de programas de medicação
bastante agressivos como única forma possível de convivência com as doenças
infecciosas.
Essa situação é claramente
insustentável, pelos altos custos, além de problemas com o surgimento de
resistência bacteriana e resíduos na carne. Na prática, o aumento da medicação
tem gerado a necessidade de incremento da quantidade e freqüência de uso de antimicrobianos.
Na busca de alternativas, a imunização surge como uma opção importante para
o controle de infecções, por representar uma tecnologia mais biológica e
ecologicamente correta.
OS ANTICORPOS
Anticorpos representam a principal
forma de defesa imunológica dos suínos. Eles começam a ser sintetizados ainda
durante a vida intra-uterina e são produzidos contra antígenos microbianos que
são capazes de vencer a barreira placentária. Entretanto, para a maioria das
infecções, a defesa de anticorpos inicia efetivamente no momento em que o
leitão começar a ingerir o colostro. Existe uma permeabilidade a macromoléculas
no epitélio intestinal dos leitões que dura, aproximadamente, entre
Nesse contexto, é importante
analisar o papel das transferências de leitões entre diferentes porcas,
pois a mãe passa anticorpos apenas contra aqueles patógenos
ou sorotipos dos patógenos dos quais é portadora. Ao
transferirmos um leitão de uma porca para outra, existe o risco de que, pelo
contato, ele seja exposto a agentes infecciosos excretados pela mãe adotiva,
contra os quais não tenha recebido defesa no período em que seria capaz de
absorver anticorpos. Um dos assim chamados “20 pontos de Madec”
para o controle da circovirose foca exatamente essa
variável, ao recomendar que as adoções de leitões sejam feitas apenas no 1º ou
2º dias de vida, período em que existe a absorção de macromoléculas, permitindo
um adequado equilíbrio entre defesas e infecção dos leitões.
No colostro aproximadamente 80% das
imunoglobulinas são da classe IgG
(12). Essa imunoglobulina, junto com a IgA
e IgM, representam as linhas de defesas contra
infecções sistêmicas. As imunoglobulinas absorvidas decaem no soro do leitão em
um período variável para cada antígeno e, de maneira geral, na medida em que os
títulos de anticorpos circulantes alcançam níveis inferiores ao do mínimo necessário
para a defesa ocorrem as infecções.
Mesmo após o bloqueio da absorção de macromoléculas, o leite ainda se apresenta
como uma defesa imune importante, através da ação das imunoglobulinas da classe
IgA na mucosa intestinal.
Esses anticorpos fornecem uma barreira de imunidade local, bloqueando
receptores nas células epiteliais intestinais, impedindo a aderência de
bactérias (como as fímbrias de Escherichia coli) ou neutralizando e/ou opsonizando
antígenos virais (como no rotavírus e coronavírus entérico - TGE).
Escherichia Coli
A proteção contra a infecção pela Escherichia coli (E.
coli, figura 1) baseia-se, em primeiro lugar, na
ação de anticorpos (AC) que inibem a aderência da bactéria ao epitélio
intestinal. A imunidade é transmitida pelo colostro/leite da porca aos
leitões, principalmente, AC da classe IgA.
Figura 1: Escherichia
coli enterotoxigênica -
coloração verde- na mucosa intestinal.
Fonte: Retirado do blog saudegeriatrica.
A partir da segunda ou terceira
semanas de idade o leitão inicia de uma forma significativa a produção ativa de
anticorpos. Entretanto, na idade usual de desmame em nosso meio (18 à 28 dias de idade), os títulos de AC produzidos ativamente
ainda são insuficientes para garantir uma adequada proteção do leitão,
principalmente em casos de altos níveis de desafio na granja (uso de rações com
baixa digestibilidade, frio, umidade, baias sujas,
desinfecção inadequada, vazio sanitário insuficiente e lotes com diversas
origens). Isso justifica a alta prevalência de colibacilose
logo após o desmame, principalmente, quando não são adicionados à ração agentes
antimicrobianos ou óxido de zinco em doses altas.
Em função desse cenário de infecção,
recomenda-se a vacinação apenas das matrizes, aproximadamente 40 e 20 dias
antes do parto, como forma de garantir uma boa geração de imunidade e
transferência de imunoglobulinas aos leitões. A vacinação de primíparas é de especial importância, pois essa classe
etária em geral ainda não teve um contato efetivo contra as cepas patogênicas
de E. coli presentes
na granja e, dessa forma, não irá veicular no leite e no colostro anticorpos
contra os antígenos imunodominantes para a proteção
dos leitões.
Ao serem desmamados, cessa a
ingestão de imunoglobulinas pelo leite e o leitão se torna especialmente
susceptível, o que gera necessidade de que sejam adotadas medidas preventivas
específicas nas áreas nutricionais e de ambiente-manejo.
Clostridium Perfringens
A infecção pelo Clostridium
perfringens (C. perfringens)
tipo C causa uma forma de diarréia no período neonatal. O principal mecanismo
de virulência da bactéria é a toxina beta, que é proteolítica e provoca necrose
e hemorragia na mucosa intestinal. Essa toxina é sensível à ação da tripsina e
o organismo aproveita o fato de que essa enzima se apresenta em baixos níveis
no leitão recém nascido para se multiplicar e produzir seus efeitos patogênicos
especificamente nessa idade. Uma alternativa seria o uso de bacterina
autógena, produzida pelos laboratórios que fazem o isolamento do agente
etiológico. Essas vacinas consistem de cultivos bacterianos totais inativados, adicionados de adjuvante. Os antígenos
presentes incluem o corpo bacteriano, produtos metabólicos e toxóide. A vacinação visa primariamente à produção de
anticorpos contra a toxina beta da bactéria. São recomendadas duas vacinações
da porca gestante, aproximadamente aos 70 e 90 ou 80 e 100 dias de gestação.
Não há necessidade da vacinação dos leitões.
Figura 2: Intestino hemorrágico
em leitão com C. perfringens. Fonte: Retirado
do site Thepigsite.
Pasteurella multocida
Toxigênica e Bordetella bronchiseptica
A infecção associada entre Bordetella bronchiseptica
e Pasteurella multocida
toxigênica causa em suínos uma forma de rinite
denominada Rinite Atrófica Progressiva. A Pasteurella multocida
(P. multocida) toxigênica,
durante seu crescimento, produz uma toxina (dermonecrótica)
capaz de lesar osteoblastos e ativar a função de osteoclastos,
causando rarefação óssea progressiva. Já a Bordetella
bronchiseptica (B. bronchiseptica)
têm como fatores de virulência adesinas
(principalmente a hemoaglutinina filamentosa) e uma
toxina (como a da Pasteurella, também chamada
“dermonecrótica”, mas de constituição diferente), que
causa lesões leves e reversíveis aos cornetos nasais, por danos a osteoblastos.
O esquema de vacinação envolve o uso
de vacinas. Alguns programas incluem a vacinação exclusivamente das leitoas
(duas doses: aos 60 e aos 90 dias de gestação) e porcas (uma dose aos 100 dias
de gestação). Outras vacinas são indicadas apenas para os leitões, aos 7-14 e
21-28 dias de idade.
Pasteurella multocida
Tipo A
A pasteurelose
é um tipo de infecção pulmonar de suínos que ocorre freqüentemente após estágio
final da infecção pelo Mycoplasma hyopneumoniae (pneumonia enzoótica)
ou do complexo das doenças respiratórias dos suínos. É muito comum e é
responsável por grandes prejuízos às criações de suínos em nosso meio. O agente
é a Pasteurella multocida
(P. multocida) e tem sido encontrado em
pulmões de suínos em diversos países, em vários tipos de clima e condições de
criação.
A importância do agente como causa
primária de pneumonia em suínos tem sido alvo de polêmica. Segundo a maioria
dos autores, o microorganismo seria incapaz de agir como patógeno
primário, necessitando da interação com outros agentes para produzir pneumonia
(como vírus da Peste Suína Clássica, PRRS, Mycoplasma
hyopneumoniae, vírus da Doença de Aujeszky e circovírus 2).
Entretanto, o isolamento de P. multocida de
lesões pneumônicas em frigorífico demonstra a importância do agente em
pneumonias e pleurites nos suínos e a doença/ lesão é uma das que tem causado maiores
prejuízos econômicos à suinocultura.
A patogenia, mais do que resultado
de ação direta de uma toxina, provavelmente seja explicada por uma reação
supurativa caracterizada por infiltração de neutrófilos. Isso representaria uma
reação do hospedeiro ao lipopolissacarídeo da
bactéria, causando a liberação de citocinas
inflamatórias. Quando isso ocorre, a morte provavelmente é resultado de choque endotóxico e falha respiratória.
Dica compilada do texto de Barcellos, D.E.S.N.; Borowski, S.M.; Almeida, M. N. apresentado no XIII congresso ABRAVES.
ATENÇÃO: Não altere o esquema vacinal utilizado na sua granja sem antes
consultar o MÉDICO VETERINÁRIO RESPONSÁVEL.
CÓD. |
EXAMES |
PRAZO DIAS |
S51 |
BACTERIOLOGIA SISTEMA
RESPIRATÓRIO Amostra:
Swabs nasais e de pulmão. Preservação:
refrigerado (sem
congelamento). Pesquisa: Actinobacillus pleuropneumoniae,
Bordetella bronchseptica,
Haemophillus parasuis, Pasteurella multocida e Streptococcus suis com antibiogramas entre outros agentes. |
5 |
S73 |
DIAGNÓSTICO ENTÉRICO -
DIARRÉIA Amostra: 1 swab
retal ou fragmento de alça intestinal sob refrigeração (sem congelar). Pesquisa: Escherichia
coli, Clostridium perfringens e C. dificilli, Salmonella sp com antibiogramas entre outros agentes.
|
5 |
V02 |
VACINA AUTÓGENA CONTRA
RINITE ATRÓFICA DOS SUÍNOS Amostra: Cepas isoladas na propriedade. |
15 |
V11 |
VACINA AUTÓGENA CONTRA
STREPTOCOCOSE DOS SUÍNOS Amostra: Cepas isoladas na propriedade. |
15 |
V20 |
VACINA AUTÓGENA CONTRA
ESTREPTOCOCOSE DOS SUÍNOS E HPS Amostra: Cepas isoladas na propriedade. |
15 |
V15 |
VACINA AUTÓGENA CONTRA
ERISIPELA DOS SUÍNOS Amostra: Cepas isoladas na propriedade. |
15 |
VOL06 |
VACINA AUTÓGENA CONTRA
COLIBACILOSE E CLOSTRIDIOSE DOS SUÍNOS – OLEOSA Amostra: Cepas isoladas na propriedade. |
15 |