PRODUÇÃO ORGÂNICA DE SUÍNOS PODERÁ USAR RAÇAS NATURALIZADAS EM RISCO DE EXTINÇÃO

Por: Silvia Tereza Ribeiro Castro

Neste início do século XXI estamos vivendo as mudanças do progresso científico e tecnológico. Entretanto, a despeito de toda tecnologia disponível para produção de alimentos, tanto para a população humana quanto animal está cada vez mais evidente, em países do primeiro mundo, uma demanda por alimentos produzidos sem uso de agrotóxicos e com pouca interferência no processo natural de crescimento e terminação. Países como a Inglaterra, França, Alemanha, Espanha, entre outros, apresentam no mercado produtos com “rótulo verde” procedentes de vegetais ou animais produzidos nestas condições.

Dentro deste contexto, a produção orgânica de alimentos, especificamente no Brasil, vem crescendo a cada ano. Há cerca de dois anos, no Distrito Federal, a Emater-DF iniciou o Programa de Agricultura Orgânica. Os produtores orgânicos do Distrito Federal, colocam no mercado, principalmente, frutas, legumes, leite, frango e ovos. Existem, hoje, no Distrito Federal pelo menos duas Associações de Produtores orgânicos e uma terceira em formação.

No contexto da produção orgânica de suínos faz-se necessário a utilização de raças que respondam favoravelmente neste sistema. De modo geral, no mundo, muitos povos utilizam animais que há décadas e, às vezes, séculos são criados extensivamente, alimentam-se de vegetação nativa, não estão submetidos, em geral, a controle sanitário rigoroso, estão adaptados a nichos ecológicos específicos, sobrevivem a condições adversas e demonstram resistência a determinadas doenças, em alguns casos, convivendo com os agentes etiológicos sem manifestá-las.

No Brasil, parte da população rural utiliza para alimentação e trabalho animais descendentes das raças trazidas pelos colonizadores. Estas raças encontram-se dispersas e em pequeno número nas propriedades rurais de todo o território nacional. Tais animais são preferidos pelo pequeno produtor rural, pelas razões acima mencionadas, bem como por serem aparentemente rústicos, menos exigentes em relação à alimentação e manejo e por apresentarem sabor diferenciado da carne e derivados.

Apesar da importância destes animais para o homem do campo e para a pesquisa, algumas raças naturalizadas brasileiras encontram-se em risco de extinção. Isto acontece porque, em sua maioria, elas foram absorvidas ou substituídas por raças melhoradas, mais precoces, com índices de produtividade mais elevados. Contudo, a despeito de serem mais produtivas, as raças melhoradas são também menos resistentes a doenças, ou seja, mais exigentes em relação a cuidados sanitários, tais como controle de parasitas internos (vermes) e externos (carrapatos, piolhos, sarnas), bem como, mais exigentes em relação à alimentação e manejo. Estes animais são próprios para criações intensivas sob orientação técnica específica, visando atender, principalmente, à demanda alimentar de grandes centros urbanos.

Visando preservar os recursos genéticos de raças suínas em perigo de extinção, a Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia e a Emater-DF realizaram, em 1999, um levantamento com o objetivo de identificar os tipos suínos naturalizados encontrados no Distrito Federal. Como resultado desse trabalho foram identificados os tipos Piau, Nilo, Pirapetinga, Caruncho, Cuié e Bassê. O levantamento, pioneiro na Região, foi concluído em 2000 e é parte do inventário que deverá ser realizado em todo o território nacional.

Além de fornecer informações importantes como área de ocorrência e estimativa da população, o estudo permitiu localizar os criadores destas raças os quais são colaboradores potenciais para a conservação das mesmas.

Após encerramento desta etapa, verificou-se que há interesse, por parte de alguns produtores rurais do Distrito Federal, em produzir o “porco verde” ou “porco orgânico”, em conseqüência de existir uma demanda para esse tipo de produto. Assim, o suíno orgânico poderá tornar-se um alimento mais presente na mesa do brasiliense e do brasileiro. Esta é a principal perspectiva depois do interesse demonstrado pelos produtores orgânicos, os quais sensibilizados com a conservação de suínos naturalizados demonstraram interesse na criação com fins comerciais.

Como conseqüência foi elaborado pela Emater-DF, com a participação da Embrapa e produtores rurais, um sistema de produção para suínos naturalizados, a ser validado durante o ano de 2001. Através desta parceria pretende-se instalar uma Unidade Demonstrativa a qual servirá de modelo. O trabalho envolve, também, o Departamento de Parasitologia da Universidade de Brasília através da realização de análises com o objetivo de verificar, nos tipos naturalizados, o grau de infestação por helmintos gastrointestinais.

Os trabalhos estão em andamento e vão beneficiar todos os envolvidos porque a Emater tem interesse em incentivar a produção orgânica, a Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia tem como objetivo conservar as raças naturalizadas e o produtor rural poderá aumentar sua renda com a oferta de carne suína orgânica proveniente de um sistema de produção tecnicamente orientado. Os resultados da Unidade Demonstrativa, além disso poderão servir de base para recomendações a ser utilizadas em grande parte do território brasileiro.

Silvia Tereza Ribeiro Castro
Pesquisadora da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia
Curadora de Animais Domésticos de Pequeno Porte da Embrapa.
silvia@cenargen.embrapa.br

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