Informativo Técnico 195

Enterite Proliferativa Suína. ILEÍTE.

Dra: Andrea Micke Moreno.

O microorganismo causador da ILEÍTE é um bacilo curvo, gram-negativo, intracelular obrigatório denominado Lawsonia intracellularis ( McOrist et al. 1995 a).

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Aspecto das lesões no Ileo causadas por L.intracellularis

A enterite proliferativa suína parece estar disseminada pelo mundo. O Sistema Nacional Americano de Monitoramento da Saúde Animal estimou através da inspeção em matadouro uma prevalência de 12% entre os animais afetados; ao redor de 29% de prevalência entre as propriedades afetadas ( Schultz, 1995, Winkelman, 1996). Lanza et al, ( 1.996), em estudo conduzido na Espanha, descreve 22% das propriedades positivas para presença do agente. Moreno et. Al, ( 1.997 ), em estudo realizado no Brasil utilizando a Reação da polimerase em cadeia nas fezes, observaram 38,5% dos plantéis examinados contaminados pelo agente e 15% dos animais com enterite infectados pela L. intracellularis.

Os animais susceptíveis se infectam através da ingestão do agente presente nas fezes ou em outros materiais contaminados ( Connor, 1.991; Winkelman, 1.996). Outras espécies animais podem participar da introdução do agente no plantel.

Fatores predisponentes tais como stress do transporte, agrupamentos, mudanças na ração ou em seus aditivos, superlotação, mudanças nos lotes, parecem estar relacionados ao aparecimento da doença.

Cepas de L. intracellularis permanecem viáveis a 5º C por mais de duas semanas fora da célula hospedeira e apenas desinfetantes a base de amônia e iodo tem atividade bactericidas sobre o agente ( McOrist, 1.997).

Os sinais clínicos da enterite proliferativa podem ser agrupados em duas formas principais ( Ward & Winkelmann, 1.990a; Winkelmann, 1.996 ):

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Espinha dorsal evidente, emagrecimento

Forma aguda: freqüentemente ocorre em animais em fase de terminação, ( 50 a 102 Kg ), ou em animais de reposição ( reprodutores e ou matrizes jovens ). Alguns casos agudos da doença tem sido descritos em animais na fase de crescimento e fêmeas multíparas. A morte súbita de um pequeno número de animais é um dos primeiros sintomas observados nesta forma de enterite profiferativa; a mortalidade pode ser superior a 6%. A morbidade geralmente é baixa, após um surto inicial a doença permanece endêmica, afetando 1 a 2 animais esporadicamente. (Ward & Winkelmann. 1.990 a ).

Foto 3
Fezes empoçadas com presença de alimento não digerido

Fezes diarreicas escuras e sanguinolentas, podem ser observadas na baia ou na região períneal dos suínos antes da morte. Os animais apresentam-se fracos, letárgicos, anêmicos e anoréxicos. A morte geralmente ocorre em 48 horas, no entanto alguns animais se recuperam quando tratados em tempo. Fêmeas gestantes podem abortar.

Forma crônica: geralmente se manifesta como uma enterite necrótica associada com diminuição do consumo de alimentos e ganho de peso. Animais de 6 a 20 semanas são os principais afetados.

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Fezes amolecidas, aquosas. Pode ou não haver preseça de sangue

Os sinais clínicos inicialmente consistem de diarréia aquosa com coloração marrom, ( as vezes acinzentadas ) aspecto de cinza molhada, que dura alguns dias ou até 4 semanas. A diarréia pode não estar presente em casos sub-clínicos. Geralmente a mortalidade nestes casos é baixa ( 1 - 5%). A maioria dos animais recuperam-se 6 a 8 semanas após o aparecimento dos sinais clínicos, principalmente se for utilizada uma terapia adequada, no entanto cerca de 15% dos animais não atingem o peso de abate levando a perdas econômicas.

As lesões macroscópicas, limitam-se apenas ao trato intestinal, são segmentares, envolvendo o íleo e ocasionalmente o jejuno, o ceco e o cólon proximal. Podem apresentar três formas principais ( Ward & Winkelman. 1.990; Winkelman 1.996): A forma adenomatosa é frequentemente caracterizada pelo espessamento da parede intestinal, a forma necrótica caracteriza-se por necrose da superfície intestinal adenomatosa e a forma hemorrágica caracterizada pela presença de grandes coágulos na luz do intestino delgado.

Foto 5
Falta de uniformidade

O diagnostico da enterite proliferativa suína inclui o histórico da propriedade, sinais clínicos, avaliação macro e microscópicas das lesões. O monitoramento de lesões intestinais no momento do abate pode auxiliar no diagnóstico, entretanto deve-se considerar que as lesões nem sempre apresentam-se evidentes, assim a avaliação inadequada poderá resultar em prejuízo para o diagnóstico ( Connor, 1.991, Winkelmann, 1.996).

Recentemente, o uso da técnica da reação da polimerase em cadeia ( PCR - Polymerase Chain Reaction ) possibilitou a detecção da L. intracellularis com grande especificidade( Jones et al., 1.993a Jones et al., 1.993b et al., Knttel et al., 1.996a).

Colheita de material para diagnóstico:

Detecção do agente através do PCR.: encviar cerca de 20 gr. De fezes armazenadas em frascos bem fechados e mantidos sob congelamento à - 20º C ( Freezer ).

Exame histológico.: necropsiar animais que apresentem morte súbita, diarréia sanguinolenta e ou retardo no crescimento, enviar ao laboratório fragmentos do íleo, ceco e cólon com cerca de 10 centímetros de comprimento fixados em formol 10%..

Tratamento e controle:

Testes realizados por diferentes autores indicam que macrolídeos, clortetraciclina, tiamulina são eficazes no tratamento e prevenção da EPS ( Ileíte ), . O tratamento ou prevenção da EPS pode ser realizado sob forma de choque em animais da faixa etária afetada, com tiamulin ( 150 ppm ), ou tilosina ( 100 ppm ), ou ainda clortetraciclina ( 400 ppm ), durante 14 dias por via oral, adicionado à ração. Animais submetidos ao stress de transporte, agrupamentos, introduzidos na propriedade com histórico de EPS ou oriundos de planteis contaminados, também devem receber o tratamento acima descrito ( McOrist. 1.997 ).

(Schultz et al., 1.997 ) sugerem como outra alternativa eficaz de controle a associação de Bacitracina Metileno Disalicilato (BMD) e clortetraciclina em concentrações de 33 ppm// 110 ppm por 14 dias adicionada à ração.

Outra forma de controle para reduzir as perdas de produtividade em animais da fase de crescimento e terminação seria a utilização de medicação contínua com tiamulin (50 ppm) ou tilosina ( 100 ppm ) ou ainda clortetraciclina ( 200 ppm ) na ração ( McOrist, 1.997 ). Esta última opção implica na avalição da relação custo-benefício ( perdas devido a ileíte/ custo de antimicrobiano ) antes de sua indicação.

Considerações finais:.

A tendência da suinocultura mundial é investir em planteis de alto nível sanitário, obtidos através de técnicas de depopulação-repovoamento, histerictomia, desmame precoce segregado e medidas rígidas de biosseguridade. Tais medidas sanitárias tem a finalidade de diminuir gastos com medicamentos e prejuízos decorrentes das doenças que afetam a espécie suína.

Em algumas ocasiões, no entanto o suinocultor depara-se com doenças que não podem ser controladas apenas com medidas sanitárias, devendo estar conscientes da necessidade do médico veterinário para orienta-lo em relação à coleta e envio de material adequado aos laboratórios especializados e mediante o diagnostico, instituição do tratamento correto evitando o uso indiscriminado e o gasto desnecessário com antimicrobianos.


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