Informativo Técnico N º  205

A Mandioca na alimentação dos Suínos.

  A mandioca, também conhecida como macaxeira ou aipim, é um tubérculo que possui alto teor de água ( cerca de 66% de umidade ). No Brasil, se produz cerca de 12 milhões de toneladas de mandioca ( tubérculos e sub-produtos ), por ano e essa quantidade representa cerca de 30% da quantidade produzida no mundo. Assim esse tubérculo e seus sub-produtos podem ser alimentos com grande potencial de uso nas rações e em dietas  para os suínos, substituindo parcialmente ou totalmente o milho.

Vale destacar que a mandioca pode produzir muito mais energia digestível (ED) e proteína digestível (PD) para suínos por hectare (ha/ano) do que o milho. Por exemplo, numa área de um hectare, usando-se as mesmas condições de plantio ( correção de pH do solo, adubação, capinas, tratos culturais etc..), pode-se colher  30.000 kg de mandioca ou 3.000 Kg de milho e isso representa: 10.200 Kg de mandioca seca ou 2.700 Kg de milho seco; ou ainda, 38.400.000 Kcal de ED de Mandioca/ha ou 10.380.000 Kcal de ED de milho/ha e 360 kg de PD de Mandioca/ha contra 225 Kg de PD de Milho/ha.

  Convém lembrar, também que a cultura de milho bem conduzida em condições excepcionais pode produzir até 12.000 Kg/ha enquanto que uma  cultura de mandioca em iguais condições pode produzir até 90.000 Kg/ha.

A mandioca pode ser usada na alimentação dos suínos, como ingrediente de ração na forma de raspa de mandioca integral (RMI) ou como ingrediente na dieta, em sistema de livre escolha ou de alimentação controlada, na forma de mandioca integral triturada (MIT) ou na  forma de mandioca integral triturada e armazenada em silos (MIS), outros subprodutos, tais como o feno de folhas de mandioca e a raspa residual de mandioca (resíduo da extração do amido ou polvilho), obtidos a partir da cultura e da raiz de mandioca podem ser também usados na alimentação dos suínos.

Neste trabalho serão abordados, exclusivamente, alternativas de uso da mandioca ( RMI, MIT e MIS ) na  alimentação de suínos, como ingrediente de dietas para  as fases de crescimento (recria); de terminação (acabamento); e de gestação (reprodução); dando-se ênfase para as relações de preços com milho farelo de soja.

A mandioca quando usada imediatamente após a colheita pode intoxicar e até matar os suínos, se as variedades usadas forem conhecidas como “bravas ou amargas”, que possuem consideráveis teores de glicosídeos  (substâncias cianogênicas que liberam ácido cianídrico). Por isso, para se usar a raiz (tubérculos) de mandioca integral, recomenda-se três alternativas de tratamentos.

Alternativa 1

Os tubérculos devem ser triturados logo após a colheita e expostos ao ar e ao sol por um tempo mínimo de 12 horas. Assim se produz a mandioca integral triturada (MIT), que não deixa de ser um produto com alta umidade, sendo, portanto, para consumo imediato.

Tabela 1.

COMPOSIÇÃO DE:  RMI, MIT, MIS.

Ingredientes MS % ED % Kcal/kg PB % PD % LIS % MET + CIS %
RMI 92,3 3.280 3.10 2,40 0,09 0,07
MIT 34,0 1.280 1,80 1,20 0,06 0,06
MIS 40,3 1.500 1,20 0,90 0,06 0,05

  Alternativa 2

Os tubérculos devem ser triturados logo após a colheita expostos ao ar livre e ao sol por um tempo mínimo de 12 horas, e depois armazenado em silos. No processo de armazenagem no silo para cada tonelada de tubérculo compactado adicionar 30 Kg de sal. Assim se produz a mandioca integral triturada e armazenada em silos  (MIS), que também não deixa de ser um produto com alta umidade. A diferença entre a alternativa 1 (MIT), e a alternativa 2 (MIS), é que podemos colher toda a lavoura de uma só vez e liberamos toda a terra para um novo plantio.

Alternativa 3

Os tubérculos devem ser triturados logo após a colheita em pedaços de 1 x 1 x 0,5 centímetros e expostos ao sol por um período de 3 a 4 dias de sol forte, para deixa-los bem secos ( com menos de 8% de umidade ). Esse período de exposição ao sol, depende da região, da insolação, da época do ano. O material deve ser coberto com lona à noite, ou sempre que houver ameaça de chuva. Assim se produz a raspa de mandioca integral (RMI), que é um produto seco, próprio para uso na formulação de rações para suínos e pode ser armazenado por um longo tempo.

Este tipo de produto (RMI) após bem seco se ainda estiver com pedaços maiores que 1 cm cúbico, para melhor aproveitamento pelos suínos deverá ser triturado bem fino.

O processo de secagem pode ser feito artificialmente  em secadores em um tempo muito menor que o sol, com a vantagem de poder secar a noite, ou até em dias de chuva.

A composição em matéria seca (MS), energia digestível (ED), proteína bruta (PB), proteína digestível (PD), lisina (LIS), e metionina mais cistina (MET+CIS) da mandioca obtida através dessas três alternativas está apresentada na tabela 1.

MIT ou MIS para suínos em crescimento e terminação.

Tabela 2

Fornecimento Semanal de Concentrado Protéico e MIT ou MIS para suínos em crescimento e terminação.
Idade  Dias

MIT g/Dia

Concentrado Prot/ g/Dia MIS g/Dia
Crescimento.      
64 a 70 2.250 400 1.910
71 a 77 2.650 470 2.400
78 a 84 3.160 560 2.690
85 a 91 3.770 670 3.200
92 a 98 4.420 780 3.760
99 a 105 5.100 800 4.330
Terminação        
106 a 112 5.100 690 4.270
113 a 119 5.500 740 4.670
120 a 126 5.800 780 4.970
127 a 133 5.280 840 5.270
134 a 140 6.280 840 5.270
141 a 147 6.760 910 5.570
148 a 154 7.060 950 5.870
155 a 161 7.460 1.000 6.270

Para o uso de mandioca com alta umidade (MIT ou MIS) na dieta dos suínos em crescimento e em terminação, desde os ( 20  até 100  Kg de peso), recomenda-se o sistema de alimentação controlada com o fornecimento de MIT ou MIS e Concentrado Protéico de acordo com a idade em semanas e as quantidades apresentadas na tabela 2, da seguinte maneira: a metade de MIT ou MIS deve ser fornecida de manhã em dois tratos entre 7:00 e 9:00 h, o concentrado deve ser fornecido em um trato ( de uma só vez ), entre 12:00 e 14:00 h ( mais ou menos na metade do dia ) e a outra  metade de MIT ou MIS deve ser  no final da tarde em dois tratos entre 17:00 e 19:00 h.

O Concentrado Protéico próprio para essas fases deverá ter no mínimo 38% de PB e deverá ser produzido na própria granja, com a seguinte fórmula.

Ingredientes Kg
Milho Moído  7
Farelo de Soja 45% 85,4
Núcleo Único 7,6
Total/Kg 100 Kg

 O Núcleo  deve ser completo, conter todos os minerais (inclusive cálcio e fósforo) e todas as vitaminas em quantidades suficientes para atender as necessidades dos suínos em cada fase.

Pode-se avaliar economicamente o uso de MIS ou  MIT nessas fases através das seguintes relações de preços:

Se o preço do kg de MIT for menor do que 0,42 vezes o preço do Kg do Milho menos 0,05 vezes o preço do Kg do Farelo de Soja, ele permitirá  a produção de 1 kg de suíno a um custo menor do que a ração à base de milho.

Se o preço do kg de MIS for menor do que 0,49 vezes o preço do Kg do Milho menos 0,06 vezes o preço do Kg  do Farelo de Soja, ele permitira a produção de 1 kg de suíno a um custo menor do que a ração à base de milho.

  MIT ou MIS para matrizes em gestação.

Para uso de mandioca com alta umidade MIT ou MIS nas dietas de fêmeas gestantes ( desde a cobrição, até uma semana antes do parto ); recomenda-se o sistema de alimentação controlada com o fornecimento diário de 3.120 g de MIT ou 3.790 g de MIS mais 430 gramas do Concentrado Protéico. A mandioca deverá ser fornecida em dois tratos ( metade de manhã e metade a tarde ) e o Concentrado  Protéico em uma única refeição por volta do meio dia ( esquema normal ). Os reprodutores seriam alimentados da mesma forma.

 O Concentrado Protéico para esta fase deverá ser formulado da seguinte forma:

Ingredientes Kg
Milho moído 7
Farelo de Soja 76,2
Núcleo Único 16,8
Total/Kg 100,0

RMI para suínos nas fases de crescimento, de terminação e de gestação. ( uso de Raspa de Mandioca Integral ).

  Rações para Suínos usando RMI, Farelo de Soja, e Núcleo Único.

Formulação:

Tabela 3

Ingredientes Crescimento        Terminação       Gestação
RMI          66,7 71,0 73,7
Farelo de Soja 30,3 26,5 22,3
Núcleo Único   3,0 2,5 4,0
Total / Kg 100,0 100,0 100,0

Para uso de RMI ( Raspa de Mandioca Integral ), seca naturalmente ao sol ou  artificialmente em secadores, nas dietas dos suínos, recomenda-se o sistema de alimentação à vontade em comedouros de concreto, para as fases  de crescimento e terminação, e o sistema de alimentação controlada na fase de gestação, com duas refeições por dia de 1 kg por trato, sendo o primeiro as 7:00 h da manhã e o segundo as 17:00 h à tarde.

Na Tabela 3 estão apresentadas as formulas das rações à base de  RMI, (Raspa de Mandioca Integral),  e Farelo de Soja e Núcleo completo que podem ser  elaboradas na própria granja para uso nas dietas dos SUÍNOS.

Pode-se avaliar economicamente o uso do RMI nessas fases através da seguinte relação de preços.

Se o preço do Kg de RMI for menor do que 0,10 vezes o preço do kg do milho menos 0,17 vezes o preço do farelo de soja e menos 0,004 vezes  o preço do kg do núcleo completo, ele permitira a produção de 1 kg de suíno a um custo menor do que com ração a base de milho.

Aloísio Soares Ferreira. 1
Professor Adjunto – DZO, Universidade Federal Viçosa.
Juarez Lopes Donzele 2
Professor Adjunto – DZO, Universidade Federal Viçosa.
Viçosa MG
36-570.000

Revisor Técnico:

Gustavo J.M.M. de Lima.                                                                23/11/2002.


<--Voltar