S.O.S. Suínos

SUINOCULTURA

Informativo Técnico 210

 

Manejo pré-abate de suínos: Influência do transporte na qualidade de carne.

Walter Bergamin Filho e Marcela de Resende Costa *

A Síndrome do Estresse Suíno (PSS – Porcine Stress Syndrome) é a principal causa de morte em animais submetidos ao estresse. Esta síndrome caracteriza-se por um quadro de tremores e rigidez muscular, taquipnéia ( aumento da freqüência respiratória ), taquicardia ( aumento da freqüência cardíaca ), hipertermia, podendo levar o animal à morte. No caso do animal ser abatido apresentando estas condições, a carne poderá ter características PSE ( Pálida, Flácida e Exsudativa ). Nesse sentido, alguns fatores envolvidos no pré-abate relacionados ao transporte da granja ao frigorífico, como embarque e desembarque, densidade, duração e distância do percurso, são muito importantes.

Durante a condução dos animais pelos corredores de acesso às rampas de embarque e desembarque, os suínos não devem sofrer agressões e choques com bastão elétrico. A rampa de acesso, deve, preferencialmente, estar no mesmo nível do veículo de transporte. Se isso não for possível, sua inclinação deve ser no máximo de 15 a 20%, para evitar que os animais escorreguem, e ter o mesmo tipo de piso do caminhão para que os animais não parem neste ponto ao notarem a diferença de piso. Esta é uma observação importante, já que esta parada inesperada faz com que os responsáveis pela condução para o embarque utilizem por exemplo, o bastão elétrico, para forçar o deslocamento dos animais, podendo estressa-los. O nível do piso onde os animais permanecerão durante o deslocamento até o frigorífico também é de suma importância. Os suínos transportados no piso inferior, geralmente, mostram maior número de escoriações nas paletas e na região tóraco-abdominal em relação à aqueles transportados no piso superior. As possíveis causas são as vibrações e o barulho excessivos encontrados neste piso, o que provoca inquietação nos animais, fazendo com que estes se levantem e não consigam manter o equilíbrio com a movimentação do veiculo durante o percurso.

Outro ponto importante é a lotação no veículo transportador. Nanni Costa et al (2.002) constataram variações no comportamento dos animais. Assim, por exemplo, com uma densidade de 0,35 m2/100 kg, a principal ação observada foi a irritação dos suínos, que tentavam empurrar uns aos outros com a cabeça e, ao final do percurso de 45 minutos apenas 20% dos animais encontravam-se deitados e 40% sentados. Já com densidade de 0,39 m2/100 kg, a atitude observada foi a exploração, geralmente nos primeiros 30 minutos iniciais da viagem. Ao final deste percurso, que teve a duração de quase uma hora, 57% dos animais estavam deitados e 29% sentados, indicando uma melhor adaptação. Com densidades de 0,42 e 0,50 m2/100, os animais mudavam de posição freqüentemente e, na última, apresentavam maior dificuldade em manter o equilíbrio durante o deslocamento e níveis de creatinaquinase inferiores aos das densidades de 0,35 e 0,39 m2/100 kg.

A distância é outro fator determinante da qualidade da carne suína. Pérez et al ( 2.002 ) compararam duas distâncias entre as granjas e os abatedouros ( 17 Km – grupo 1, e 204 Km – grupo 2 ). Foram realizadas mensurações sangüíneas e de qualidade de carne. Os resultados mostraram que as amostras de sangue dos suínos  de ambos os grupos apresentaram leucocitose ( aumento do número de leucócitos), causada pela liberação endógena de corticosteróides ou epinefrina, um indicativo do estresse sofrido pelos animais, porém as do grupo 1 apresentaram maior resposta à epinefrina e linfocitose ( aumento do número de linfócitos ). Já os animais do grupo 2 apresentaram neutrofilia ( aumento do número de neutrófilos ) e eosinopenia ( redução do número de eosinófilos ). Quanto  ao lactato e ao cortisol, os suínos do grupo 1 apresentaram maiores concentrações, sendo o nível de cortisol provavelmente maior no início do transporte.

Para a qualidade de carne, os animais do grupo 1 apresentaram menores valores de pH (24h), ( medido 24 horas após o abate), no Longissimus thoracis ( lombo torácico), e uma tendência em ter pH (24h), menor no Semimembranosus (parte do coxão mole); pH (2h), ( medido 2 horas após o abate), significativamente menor no Semimembranosus e os valores de reflectância muscular interna, medida 24 horas após o abate, menores em relação aos do grupo 2. Esta pesquisa verificou, portanto, que animais submetidos a viagens mais curtas têm maior tendência em produzir carne PSE do que aqueles submetidos à viagens mais longas, e precisam de um tempo maior de descanso na pocilga de espera no frigorífico.

Pode-se concluir que o manejo pré-abate tem papel fundamental para a garantia da qualidade da carne, já que situações estressantes são freqüentes nesta etapa da produção, e além do transporte, outros fatores pré-abate que podem influenciar a qualidade final da carne, são: o tempo de espera na pocilga do matadouro, condução dos animais até a área de insensibilização, e o método de atordoamento ( elétrica, ou com gás carbônico). 

 Mestrandos em Tecnologia  de Alimentos
FEA / Unicamp -  Trainees CTC/Ital
Campinas SP

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