Informativo Técnico Nº. 224

Substituição da Adubação Nitrogenada por Dejeto Suíno na Cultura do Milheto

Autor : Daniela Mondardo; Deise Dalazen Castagnara; Patrícia Paula Bellon; Cristiane Cláudia Meinerz; Paulo Sérgio Rabello Oliveira; Marcela Abbado Neres e Eduardo Eustáquio Mesquita da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE).

Sumário

Resumo

Estudou-se a substituição da fertilização com nitrogênio mineral por nitrogênio orgânico oriundo de dejeto líquido suíno na produção de matéria seca (MS) da cultura do milheto, a fim de gerar informações que viabilizem a redução dos custos com a adubação de pastagens e a disposição final adequada desse resíduo suinícola. O experimento foi instalado e conduzido em casa de vegetação sob delineamento estatístico inteiramente casualizado, com seis doses de N (0; 30; 60; 90; 120 e 150 kg ha-1) e quatro repetições. A semeadura foi realizada manualmente em vasos plásticos com capacidade para 4 L, tendo solo argiloso como substrato para crescimento. A aplicação dos tratamentos e as avaliações foram realizadas aos 10 e 40 dias após a emergência, respectivamente. Houve efeito significativo das doses de N sobre a produção de MS da parte aérea de folhas e colmos com resposta quadrática às doses de N. A utilização do N orgânico elevou a produção de MS da parte aérea até a dose de 106 kg ha-1 de N.

Palavras-chave: Adubação orgânica, Matéria seca, Nitrogênio.

Introdução

Dentre as práticas de manejo aplicadas em pastagens, a adubação nitrogenada é uma das que mais incrementos traz à produção de MS, pois os solos tropicais são, em sua maioria, deficientes em resíduos orgânicos (FRANÇA et al., 2007). Porém, em função das condições necessárias para a fixação industrial de nitrogênio, o custo dos fertilizantes nitrogenados é elevado, o que confere o caráter de inviabilidade econômica à adubação nitrogenada, tornando-a pouco difundida em pastagens tropicais (BODDEY et aI., 1997). Contudo, o nitrogênio (N) é um dos nutrientes mais limitantes na produção de MS das gramíneas forrageiras, e mais extraídos do solo por ser componente crucial de compostos orgânicos essenciais à vida das plantas, como aminoácidos e proteínas, ácidos nucléicos, hormônios e clorofila (LAVRES JR.; MONTEIRO, 2003). Dessa forma sua reposição no solo torna-se fundamental para a manutenção dos índices produtivos e evitando a degradação das pastagens. O milheto tem sido cultivado em pequenas propriedades pecuárias da região Oeste do Paraná para suprir as deficiências na produção de forragem apresentadas pelas gramíneas tropicais perenes, devido à disponibilidade de sementes, velocidade de crescimento, alta produção de forragem e facilidade de manejo. É uma planta adaptada à baixa fertilidade de solos, entretanto, apresenta alta resposta de produção para solos mais férteis ou adubados (KICHEL; MIRANDA, [2000]). A Região Oeste do Paraná apresenta expressivo potencial suinícola, com a geração de grandes quantidades de dejeto líquido suíno com potencial de utilização como fertilizante nas áreas de agricultura e de pastagem. O presente trabalho teve como objetivo avaliar a substituição da adubação nitrogenada convenciona pela aplicação de dejeto líquido suíno na produção de MS da cultura do milheto na região Oeste do Paraná.

 

Metodologia

O experimento foi instalado e conduzido em casa de vegetação pertencente ao Centro de Ciências Agrárias – UNIOESTE – Campus de Marechal Cândido Rondon, PR, nos meses de janeiro e fevereiro de 2009. O clima local é classificado segundo Koppen, como do tipo Cfa, subtropical com chuvas bem distribuídas durante o ano e verões quentes. As temperaturas médias do trimestre mais frio variam entre 17 e 18 °C, do trimestre mais quente entre 28 e 29 °C (INSTITUTO..., 2007). O delineamento estatístico utilizado foi o inteiramente casualizado, com seis doses de N (0; 30; 60; 90; 120 e 150 kg ha-1 que equivaleram a 0, 23, 46, 69, 92, 115 m3 ha-1 de dejeto líquido suíno, respectivamente) e quatro repetições, totalizando 24 unidades experimentais. O dejeto líquido de suíno foi obtido em uma propriedade suinícola próxima da área experimental e no momento da coleta apresentava um tempo de detenção em esterqueira aeróbica de 117 dias e uma densidade de 1,016 g L-1. As doses de dejeto líquido de suíno foram estimadas com base na análise química, considerando um índice de eficiência na liberação dos nutrientes (da forma orgânica para a forma mineral), de acordo com a Sociedade Brasileira de Ciência do Solo (COMISSÃO..., 1995) de 50% para o N. O resultado químico da análise do dejeto suíno revelou a seguinte composição: Nitrogênio total 2,63 g kg-1; Fósforo total (P2O4) 0,26 g kg-1; Potássio total (K20) 1,45 g kg-1; Cálcio (Ca) 20,90 g kg-1; Magnésio (Mg) 3,25 g kg-1; Manganês (Mn) 2,0 mg kg-1; Cobre (Cu) 0,00 mg kg-1 e Zinco (Zn) 110 mg kg-1. A semeadura da cultivar IPA BULK 1 foi realizada manualmente em vasos plásticos com capacidade para 4 L, tendo como substrato para crescimento solo classificado como Latossolo Vermelho Distroférrico com as seguintes características químicas obtidas a partir de análise de solo realizada para a camada de 0-20 cm: pH CaCl2 5,15 mol L-1; matéria orgânica 28,71 g dm-3; Al trocável 0,10 cmolc dm-3; Ca trocável 4,89 cmolc dm-3; Mg trocável 1,89 cmolc dm-3; e K trocável 0,80 cmolc dm-3 e P disponível 23,89 mg dm-3 (Melich-1). Quando as plantas atingiram aproximadamente 5 cm de altura, foi efetuado o primeiro desbaste, permanecendo dez plantas por vaso. A aplicação das doses de dejeto foi realizada aos 15 dias após a semeadura. Os vasos foram irrigados uma vez ao dia até o 30º dia, e a partir de então passaram a ser irrigados duas vezes ao dia. No 40º dia após a semeadura, procederam-se as avaliações, nas quais, as plantas foram cortadas a uma altura de cinco centímetros do solo com auxílio de tesoura de jardim e embaladas em sacos plásticos para condução ao laboratório. No laboratório de Nutrição Animal as plantas foram separadas em laminas foliares e colmos + bainhas, que foram acondicionados em sacos de papel, para posterior secagem em estufa com circulação forçada de ar, a 60-70 ºC, por 72 horas para a determinação dos pesos secos. A partir dos pesos secos das frações das plantas, foi obtido o peso seco total possibilitando o cálculo das produções de MS da parte aérea, de folhas e de colmos. Os dados obtidos foram submetidos à análise estatística, sendo que as doses de N foram comparadas por meio de análise de regressão, observando-se as significâncias dos coeficientes das equações, bem como os coeficientes de determinação.

 

Resultados e discussões

Houve efeito significativo das doses de N sobre a produção de MS da parte aérea (P<0,05), de folhas e de colmos (P<0,05). Através da análise de regressão constatou-se comportamento quadrático das variáveis estudadas em resposta às doses de N (Tabela 1). As máximas produções de MS da parte aérea e de folhas foram obtidas com as doses de N de 106,78 e 88,71 kg ha-1, respectivamente, equivalendo a doses de dejeto suíno de 81,20 e 67,46 m3 ha-1. A mínima produção de matéria seca de colmos foi obtida com a dose de N de 59,35 kg ha-1, equivalente a 45,16 m3 ha-1 de dejeto líquido suíno. Os resultados obtidos para MS da parte aérea discordam dos obtidos por Assis (2007), que ao estudar a adubação mineral e doses de dejeto líquido suíno (60, 121, 181 e 241 m3 ha-1) sobre o capim Brachiaria, não encontrou diferenças significativas. Contudo, concordam com resultados obtidos por Heringer, Moojen (2003) e Aita, Port e Giacomini (2006). Os primeiros autores trabalharam com milheto sob pastejo, submetido a cinco doses de N (0, 150, 300, 450 e 600 kg ha-1), e encontraram relação quadrática da produção de MS da parte aérea com os níveis de N. Aita, Port e Giacomini (2006) estudaram quatro doses de dejetos de suínos sobre a produção de MS da aveia preta solteira e consorciada com ervilhaca e também encontraram resposta quadrática. Para a produção de folhas, os resultados se assemelham aos obtidos por Souza et al. (2006), que ao conduzirem um estudo em casa de vegetação para avaliar o desempenho produtivo de Panicum maximum Jacq. cv. Massai submetido a diferentes doses de adubação nitrogenada (0, 80, 160 e 320 kg ha-1 ano de N), concluíram que a produção de folhas respondeu de maneira quadrática ao aumento da adubação nitrogenada, atingindo produção máxima na dosagem de 125 kg ha-1 de N. As altas doses de N mineral utilizadas nos trabalhos anteriormente citados e as semelhanças com as respostas obtidas neste trabalho sugerem que a utilização de dejeto líquido suíno pode ser benéfica para a agricultura. Com o uso de N orgânico oriundo de dejetos líquidos de suínos em doses relativamente baixas, quando comparadas às doses de N industrial utilizadas em alguns trabalhos, foi possível a obtenção de resultados semelhantes, sugerindo que, além dos efeitos benéficos ao meio ambiente com a destinação adequada dos dejetos de suínos, pode haver uma maior eficiência, por parte das plantas, na utilização do N orgânico presente desse tipo de material.

TABELA 1. Produção de MS da cultura do milheto fertilizada com dejetos líquidos de suínos em substituição à adubação nitrogenada mineral na Região Oeste do Paraná

Fig 01

O comportamento negativo da fração colmo até a dose de 59,35 kg ha-1 de N pode ser explicada pela relação folha/colmo, pois com o aumento da disponibilidade de N para as plantas, houve um aumento na produção de MS de folhas em relação à MS de colmos. Com o aumento das doses de N acima de 59,35 kg ha-1 a produção de MS de colmos voltou a crescer, conforme já descrito na literatura. Segundo Pates et al. (2007), a adubação nitrogenada promove efeitos positivos sobre o alongamento do colmo. Oliveira et al. (2007), trabalhando com adubação nitrogenada em forrageiras, constataram que o maior comprimento do colmo e consequentemente a maior produção de MS deste componente da forragem foi obtida nos tratamentos que receberam adubação nitrogenada, confirmando o papel do N na produção de MS das forrageiras.

 

Conclusões

A utilização do N orgânico oriundo de dejetos líquidos de suínos em substituição ao N mineral na produção de MS da cultura do milheto mostrou-se promissora até a dose de 106 kg ha-1 de N, cuja dose equivalente de dejetos líquidos de suínos foi de 81 m3 ha-1, podendo ser recomendada aos produtores da região Oeste do Paraná.


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