Autor
: Juarez
Donzele, Gabriel
Cipriano Rocha, Leandro Alebrante, Rita Flávia Miranda de Oliveira, Paulo César Brustolini e Cinthia Maria Carlos
Pereira do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Viçosa - UFV -
MG; Francisco Carlos de Oliveira Silva da Empresa de Pesquisa Agropecuária de
Minas Gerais - EPAMIG - MG, e Charles Kiefer do Departamento de Zootecnia da
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS - MS.
Sumário
Este estudo foi realizado com o
objetivo de avaliar níveis de zeólita em dietas para
suínos e seus efeitos no desempenho, nas características de carcaça e nos
parâmetros sanguíneos e histopatológicos do parênquima hepático desses animais
nas fases de crescimento e terminação. Foram utilizados 84 suínos machos
castrados, híbridos comerciais de alto potencial genético para deposição de
carne, com peso inicial de 30,34±
Palavras-chave: adsorvente, fungos, micotoxinas,
nutrição
Introdução
No contexto da estabilidade e
rentabilidade da produção de suínos, o item alimentação, por ser o fator que
mais onera o custo de produção dos animais, tem merecido atenção especial.
Assim, qualquer fator que possa comprometer a eficiência de utilização do
alimento pelo animal pode refletir negativamente no sucesso do empreendimento.
Entre os problemas inerentes à alimentação, destaca-se a presença de micotoxinas. A contaminação das dietas por micotoxinas tem sido considerada responsável pela redução
do desempenho dos animais em sistema de produção onde os demais fatores, como manejo e instalações, estejam adequados (Jones,
2005).
O termo micotoxina
tem sido utilizado para definir um grupo de metabólitos secundários produzidos
por fungos e que induzem uma série de reações tóxicas no organismo. Esses
fungos podem se desenvolver nos alimentos no campo ou durante o armazenamento.
Vários autores têm associado o baixo desempenho de suínos quando alimentados
com dietas contaminadas por micotoxinas (Muller et al., 1999; Agag,
2004a; Rustemeyer et al.,
2010).
A ingestão de dietas
contaminadas, além de ocasionar redução no crescimento e no desenvolvimento,
torna os animais mais susceptíveis às enfermidades (Dersjant-Li
et al., 2003). Além disso,
as micotoxinas podem prejudicar o valor nutricional
dos alimentos, principalmente quanto ao nível de energia (Büzen
& Haese, 2006). Em baixas concentrações, as micotoxinas não têm efeito aparente sobre o rebanho (Accensi et
al., 2006), mas podem gerar resíduos nos produtos de origem animal (Murphy et al., 2006), evidenciando a importância da inclusão de adsorventes
nas dietas.
Por sua vez, os adsorventes têm
sido utilizados em dietas para suínos devido às suas propriedades de atuar como
sequestrantes de micotoxinas,
o que pode influenciar de forma positiva a saúde e o desempenho dos animais.
Entre os adsorventes, estão as zeólitas, que são aluminossilicatos hidratados caracterizados pela alta
superfície interna e alta capacidade de troca catiônica e que possuem a
habilidade de se aderir à toxina e impedir sua absorção pelo trato
gastrointestinal tornando-a inerte e não tóxica para os animais (Lindemann et
al., 1993). A pesquisa foi realizada com o objetivo de avaliar níveis de zeólita em dietas para suínos e seus efeitos sobre o
desempenho, as características de carcaça e os parâmetros sanguíneos e
histológicos do parênquima hepático desses animais nas fases de crescimento e
terminação.
Material e Métodos
O experimento foi realizado no
Galpão Experimental do Setor de Suinocultura da Fazenda Experimental Vale do Piranga da EPAMIG, em
Oratórios, Minas Gerais, no período de fevereiro a abril de 2009.
Foram utilizados 84 suínos
machos castrados, híbridos comerciais de alto potencial genético para deposição
de carne, com 70 dias de idade e peso inicial de 30,34±
As dietas experimentais para as
fases de crescimento (70 aos 105 dias) e terminação (106 aos 135 dias) foram
formuladas à base de milho, sorgo baixo tanino e farelo de soja e suplementadas
com minerais, vitaminas e aminoácidos (Tabela 1) para atender às exigências
nutricionais dos animais, descritas por Rostagno et al. (2005). As relações aminoacídicas entre a lisina e os demais aminoácidos
essenciais foram atendidas de acordo com o padrão de proteína ideal
estabelecido por Rostagno et al. (2005). Utilizou-se o sorgo como fonte de
contaminação natural por micotoxinas. Os níveis de
adsorvente das dietas experimentais foram obtidos por meio da inclusão de zeólita em substituição à areia lavada das dietas sem
adsorvente.
As rações e a água foram
fornecidas à vontade aos animais durante o período experimental. Os resíduos de
ração do chão foram coletados diariamente, pesados semanalmente e somados às
sobras do comedouro no final do período experimental.
Os animais foram alojados em
galpão de alvenaria com piso de concreto, coberto com telhas de amianto. As
baias continham comedouros semiautomáticos,
bebedouros tipo chupeta e dispunham de área de 1,87 m2/animal. Durante o
período experimental, foram registradas diariamente as temperaturas de máxima e
mínima, por meio de um termômetro instalado no centro do galpão.
Foram realizadas pesagens dos
animais no início e ao final do período experimental para determinações do
consumo diário de ração, do ganho diário de peso e da conversão alimentar.
Paralelamente, foram coletadas amostras de sangue no início e ao final do
período experimental, mediante venipunção no sinus orbital, utilizando-se agulhas hipodérmicas 40 × 16 e
frascos vacutainer. Após a coleta de sangue, os
frascos foram encaminhados imediatamente ao laboratório clínico. Para obtenção
de soro sanguíneo, foram colhidos 10 mL de sangue de
cada animal, em frascos a vácuo sem anticoagulante.
Após a coleta, as amostras foram
mantidas em repouso à temperatura ambiente (
Ao final do período
experimental, todos os animais foram mantidos em jejum alimentar por
aproximadamente 15 horas, foram pesados e embarcados em caminhão e
transportados para o frigorífico Vale do Piranga,
localizado no município de Ponte Nova, Minas Gerais. No frigorífico, os suínos
foram alojados em baias coletivas de espera com acesso à vontade a água. Por
ocasião do abate, os animais foram insensibilizados por eletronarcose
e, posteriormente, sangrados, escaldados e eviscerados.
Na linha de abate, as carcaças
foram avaliadas individualmente com auxílio de pistola tipificadora
Stork-SFK, utilizando-se o sistema informatizado
"Fat-o-Meater Fom".
A pistola foi introduzida na altura da 3a vértebra dorsal, transpassando o
toucinho e o músculo longissimus dorsi,
conforme metodologia adotada pelo frigorífico. Foram obtidos os dados de peso
da carcaça quente, espessura de toucinho, profundidade de lombo, porcentagem e
quantidade de carne magra na carcaça. Além disso, foi determinado o rendimento
de carcaça pela relação entre o peso da carcaça quente e o peso dos animais em
jejum.
As análises histolopatológicas
do parênquima hepático foram realizadas no setor de Histopatologia
do Hospital Veterinário da Universidade Federal de Viçosa (UFV). Foram colhidos
fragmentos dos diversos lobos hepáticos de
A pata anterior direita de cada
animal abatido foi coletada e colocada em recipiente de alumínio contendo água
e fervida por 25 minutos para amolecimento da pele e da carne e retirada do
terceiro osso metacarpiano. Os metacarpos foram mantidos em freezer (-12 ºC) e,
depois, colocados em estufa ventilada a 65 ºC por um período de 72 horas,
submetidos à prensagem mecânica e desengordurados em extrator Soxhlet por 4 horas. Posteriormente, os ossos foram levados
à estufa 65 ºC por 24 horas. Em seguida, triturados em moinho de bola e
acondicionados em vidros identificados, para posteriores análises.
As análises dos teores ósseos de
cálcio e fósforo foram realizadas no Laboratório de Nutrição Animal do Departamento
de Zootecnia da Universidade Federal de Viçosa (UFV), de acordo com o método
descrito por Silva & Queiroz (2002). Os dados das características de
desempenho (ganho de peso, consumo de ração e conversão alimentar) e de carcaça
(profundidade de lombo, espessura de toucinho, porcentagem e quantidade de
carne magra, peso e rendimento de carcaça) e dos parâmetros sanguíneos e ósseos
foram submetidos à análise de variância.
Os dados dos parâmetros
histopatológicos foram submetidos à análise de dados não-paramétricos de Kruss-Kall Walys. As análises
estatísticas foram realizadas utilizando-se o SAEG (Sistemas de Análises
Estatísticas e Genéticas, versão 8.0).
Resultados e Discussão
Durante o período experimental, as temperaturas mínima e máxima médias do ar registradas no galpão
foram, respectivamente, 21,5±2,2 ºC e 29,8±2,1 ºC. Considerando que a
temperatura crítica máxima para esta categoria é de 27 ºC, conforme descrito
por Sampaio et al. (2004),
pode-se inferir com base nos desvios térmicos que os animais foram submetidos a
períodos de altas temperaturas ambientais durante a execução da pesquisa.
Não houve efeito (P>0,05) dos
níveis de zeólita das dietas sobre o ganho de peso
diário dos animais (Tabela 2). Resultados similares foram obtidos por Shurson et
al. (1984), que, testando a inclusão de zeólita em
dietas para suínos, não verificaram efeitos de níveis de 0,3 e 0,5% na fase de
crescimento e 1,0 e 5,0% na fase de terminação sobre o desempenho dos suínos em
relação ao grupo alimentado com a dieta sem zeólita.
Da mesma forma, Ward et al. (1991) não constataram efeito da inclusão de
0,5% de zeólita em dietas para suínos nas fases
iniciais e de crescimento.
Por outro lado, Vrzgula & Bartko (1984) e
Leung (2004) constataram efeito positivo da inclusão de, respectivamente, 3,0 e
4,0% de zeólita na dieta sobre o ganho de peso de
suínos em fase de crescimento e terminação em comparação ao grupo controle. De
forma similar, Defang & Nikishov
(2009), avaliando níveis de inclusão de zeólita na
dieta de suínos em fase de crescimento e terminação, obtiveram os melhores
resultados de crescimento dos animais com a inclusão de 4,0% de zeólita a dieta.
Os níveis de zeólita
não influenciaram (P>0,05) o consumo diário de ração dos suínos (Tabela 2),
resultado que está coerente com os obtidos por Shurson
et al. (1984), Leung (2004)
e Defang & Nikishov
(2009), que também não observaram variações na ingestão voluntária de alimentos
pelos animais atribuível à inclusão de zeólita na
dieta.
Não foi observado efeito
(P>0,05) dos níveis de zeólita sobre a conversão
alimentar dos animais (Tabela 2). Esses resultados estão consistentes com os
obtidos por Shurson et al. (1984) e Defang
& Nikishov (2009), que também não verificaram
efeito da inclusão de zeólita sobre a conversão
alimentar dos animais. Por outro lado, Vrzgula & Bartko (1984) e Leung (2004) constataram variação
significativa na eficiência de utilização de alimento para ganho de peso dos
suínos em crescimento e terminação em razão da inclusão de zeólita
na dieta.
Considerando que os animais do
tratamento sem adsorvente apresentaram bom índice de desempenho de acordo com
preconizado por Rostagno et al. (2005) para essas categorias animal e que,
segundo Dersjant-Li et al.
(2003), as micotoxinas podem modificar o metabolismo
das proteínas, carboidratos e lipídios, o que resulta em redução do despenho
dos animais (Agag, 2004), pode-se deduzir que as
dietas continham baixo grau de contaminação por micotoxinas.
Essa hipótese é confirmada pelos estudos de Dersjant-Li
et al. (2003) e Chen et al. (2008), que relataram a necessidade de uma
concentração mínima de micotoxina na dieta para que
ocorra redução do crescimento dos suínos.
Os níveis de zeólita
nas dietas não influenciaram (P>0,05) as características quantitativas de
carcaça avaliadas (Tabela 3). Os resultados estão coerentes com os obtidos por Ward et
al. (1991), que, testando inclusão de 0,5% de zeólita
na dieta de suínos em fases de crescimento e terminação, não verificaram efeito
do adsorvente sobre o peso de carcaça, a área de olho-de-lombo,
o rendimento de carcaça, a espessura de toucinho e a porcentagem de carne
magra. Da mesma forma, Pearson et
al. (1985), avaliando níveis de 4,0 e 8,0%, e Leung (2004), testando níveis de
Em contrapartida, Defang & Nikishov (2009)
constataram maior rendimento de carcaça para os suínos alimentados com dietas
contendo 4,0% de zeólita, porém sem alterações as
demais características de carcaça. Por sua vez, Pond et al. (1988) constataram aumento
da área de olho-de-lombo com a inclusão de zeólita na dieta.
Conforme relato de Szkudelska et
al. (2002), a zearalenona acima de uma concentração
mínima de 1 mg/kg interfere com metabolismo dos
lipídios, reduzindo a lipólise. Como neste estudo não foi observada variação
significativa na espessura de toucinho dos animais entre os tratamentos,
confirma-se a proposição inicial do baixo nível de contaminação por micotoxinas das dietas, entre elas, a zearalenona.
Os resultados observados para as
características de carcaça deste estudo estão coerentes com as respostas de
desempenho, em que não houve efeitos sobre a taxa de crescimento e conversão
alimentar dos animais em função dos níveis de zeólita
avaliados.
Não houve efeito (P>0,05) dos
níveis de zeólita na dieta sobre os parâmetros
sanguíneos dos suínos (Tabela 4), que se mantiveram dentro da faixa de
normalidade, independentemente dos tratamentos. Estes resultados estão
semelhantes aos obtidos por Watts et
al. (2003), que não constataram alteração significativa nos parâmetros
sanguíneos de aves com a inclusão de 1,0% de zeólita
na dieta em comparação às aves que receberam a dieta sem adsorvente.
De forma contrária, Harvey et al. (1989) observaram que a
inclusão de 0,5 e 2,0% de adsorvente à dieta de suínos em fase de crescimento
foi efetiva para manter normais os parâmetros sanguíneos estudados. De acordo
com esses autores, o resultado comprovou que a adição de adsorvente à dieta foi
efetiva para limitar a absorção de micotoxinas pelo
trato gastrintestinal. Posteriormente, Lindemann et al. (1993), trabalhando com
leitões nas fases iniciais de crescimento, constataram redução dos níveis
sanguíneos de bilirrubina e aspartato aminotransferase e aumento da glicose, albumina e ureia circulante quando incluíram 0,5% de zeólita sintética a dietas contaminadas. Os autores
concluíram que a alteração nos parâmetros sanguíneos observados seria
resultante dos efeitos adversos das micotoxinas sobre
o metabolismo proteico.
A divergência de resultados
entre os trabalhos pode estar relacionada, entre outros fatores, à diferença no
nível de contaminação das dietas. Em trabalho conduzido com leitões, Accensi et
al. (2006) verificaram que baixos níveis de micotoxinas
na dieta não são suficientes para causar efeitos negativos sobre o desempenho e
os parâmetros sanguíneos e histológicos do parênquima hepático dos animais.
Os níveis de zeólita
não influenciaram os parâmetros (P>0,05) histológicos do parênquima hepático
avaliado (Tabela 5). Contudo, Harvey et
al. (1994), trabalhando com suínos nas fases iniciais de crescimento,
constataram redução das lesões hepáticas dos animais que receberam dietas
contaminadas com micotoxinas contendo 0,5% de zeólita em comparação aos animais que receberam dietas
contaminadas e não suplementadas. Do mesmo modo, Denli
et al. (2009) notaram
redução das lesões hepáticas em frangos de corte com a inclusão de adsorvente
na dieta.
O fato de neste estudo não ter
sido observada influência de zeólita sobre os
parâmetros histológicos do parênquima hepático pode ser justificado pela
normalidade dos valores desses parâmetros nos animais que receberam dieta sem zeólita.
Os conteúdos de cálcio e fósforo
nos ossos dos animais não foram influenciados (P>0,05) pelos níveis de zeólita da dieta (Tabela 6). Esses resultados são
semelhantes aos parâmetros ósseos obtidos por Ward et al. (1991) e corroboram os
obtidos por Lindmann et al.
(1993), Harvey et al. (1994) e Watts et al. (2003), que não constataram efeito da zeólita sobre as concentrações séricas de cálcio e fósforo.
A partir desses resultados, é possível inferir que a zeólita
não influencia a digestibilidade e absorção de cálcio
e fósforo das dietas.
Conclusões
Os níveis de zeólita
não influenciam o desempenho e as características de carcaça nem os parâmetros
sanguíneos e histológicos do parênquima hepático de suínos em fase de
crescimento e terminação quando alimentados com dietas de baixo nível de
contaminação por micotoxinas.