Informativo Técnico Nº. 227

 DOENÇAS DE CONTROLE OFICIAL NAS GRANJAS GRSC

 

INTRODUÇÃO

 

            Todas as granjas de suídeos que comercializam ou distribuem animais para reprodução, sejam elas granjas núcleos ou multiplicadoras, são monitoradas semestralmente para peste suína clássica, doença de Aujeszky, tuberculose, brucelose e leptospirose, no caso de não utilizar vacina. Para que essas granjas possam vender ou distribuir seus animais elas devem estar livres para as doenças monitoradas. 

Em granjas comerciais as prevalências da brucelose e tuberculose são muito baixas. A tuberculose, identificada pelo serviço de inspeção de carnes no abate dos suínos, aparece em aproximadamente de 0,002% dos suínos abatidos. A linfadenite granulomatosa, causada por micobactérias do complexo avium, aparece em menos de 0,5% dos suínos abatidos.

 

DOENÇA DE AUJESZKY

 

A Doença de Aujeszky (DA) é uma doença infecto-contagiosa que tem como hospedeiros primários os suídeos (suínos domésticos e selvagens). Estes podem apresentar infecção latente, o que não acontece com outras espécies animais. Nos gatos, cães e bovinos, o vírus produz encefalite de curso agudo fatal, o que reduz a importância epidemiológica desses hospedeiros na manutenção e disseminação da enfermidade. A ocorrência da doença nessas espécies, no entanto, pode servir como indicador epidemiológico da presença de atividade viral.

            Os sinais clínicos da infecção pelo vírus da doença de Aujeszky (VDA) variam de acordo com fatores epidemiológicos como endemicidade e suscetibilidade dos indivíduos. A ocorrência do VDA em áreas endêmicas é associada a manifestações reprodutivas. A introdução do vírus em rebanhos livres resulta em sinais clínicos característicos. Em animais jovens predominam sinais neurológicos com a taxa de mortalidade aproximando-se dos 100%. Animais adultos apresentam febre, taxas variáveis de aborto, reabsorção fetal, dificuldade respiratória e eventualmente vômitos. A mortalidade nessa faixa etária é geralmente baixa. As perdas ocorrem por transtornos reprodutivos e transtornos respiratórios em animais da terminação com estabelecimento de infecção latente em suínos e recorrência viral.

            A propriedade biológica de maior importância epidemiológica do VDA é a capacidade de estabelecer infecções latentes no sistema nervoso do hospedeiro após a infecção aguda. A infecção latente persiste por toda a vida do animal, podendo ser reativada natural e/ou experimentalmente, resultando em excreção e transmissão de vírus. Por isso, os animais soropositivos constituem-se em reservatórios e fontes potenciais de disseminação do VDA.

            A primeira notificação no Brasil ocorreu em 1912, desde então, já foi identificada nos estados de Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Paraná, Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Ceará, Goiás, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal. Nos últimos anos, a infecção foi mais freqüentemente relatada em Santa Catarina, o que levou a implementação de um programa de erradicação.

 

Fig 01

Figura 1: Mapa atual de distribuição da Doença de Aujeszky (Jul-Dez 2011). Fonte: OIE.

 

            Os testes imunoenzimáticos do tipo ELISA são muito utilizados devido à sua alta sensibilidade, especificidade, capacidade de processamento de grande número de amostras, relativa rapidez de execução e, além disso, estabilidade dos reagentes.

            O teste de ELISA realizado no TECSA Laboratórios é um imunoensaio enzimático para a detecção de anticorpos em soro suíno contra o antígeno do vírus da pseudoraiva (PRV/Doença de Aujeszky). A presença de anticorpos ao gpl indica exposição à cepa de campo e/ou vacinas contendo antígeno gpl. Quando usado com vacina “VDA gpl deletado” é um teste diferenciado para pseudoraiva.

 

BRUCELOSE

 

            A brucelose suína é causada pela Brucella suis, prevalente na América Latina, Ásia e, eventualmente, nos Estados Unidos. É uma zoonose de distribuição universal e, atualmente, os casos de brucelose humana têm sido associados à doença profissional. A doença manifesta-se com lesões inflamatórias crônicas nos órgãos reprodutivos e também podem ocorrer lesões em ossos e articulações.

A infecção é transmitida por via horizontal e pode ser autolimitante em alguns casos. Causa transtornos reprodutivos graves, tais como, abortos em qualquer fase de gestação. Normalmente, 33 dias após a infecção da fêmea leva ao aumento de natimortos, queda na produção de leitões e endometrite em porcas. Nos machos causa orquite, alterações nas glândulas acessórias, perda da libido, esterilidade temporária ou permanente. Em leitões geralmente ocasiona espondilite associada à paralisia dos membros posteriores e transtornos ósseos e articulares tais como: claudicação, incoordenação e paralisia posterior, levando à eliminação de animais de alto valor zootécnico e, conseqüentemente, prejuízos econômicos, ocasionados pela falência reprodutiva, traduzidos pela queda na produção de carne.

            Além dos problemas causados à saúde pública, a brucelose também gera prejuízos econômicos ao tornar o produto vulnerável às barreiras sanitárias, comprometendo a sua competitividade no comércio internacional.

            De acordo com a Normativa 19, de 15 de fevereiro de 2002, toda granja de suídeos certificada (GRSC) deverá ser livre de brucelose, sendo esta doença de notificação obrigatória. Os animais deverão ser submetidos a provas sorológicas com intervalo de 6 em 6 meses, utilizando o antígeno acidificado tamponado, devendo os soros reativos serem submetidos a provas complementares do 2-Mercaptoetanol (2-ME) ou fixação de complemento (FC ou RFC) (MAPA, 2002).

            No Brasil, a brucelose suína já foi considerada a principal fonte de infecção para humanos, sendo a B. suis altamente patogênica para o homem, suplantada apenas pela B. melitensis.

O sorodiagnóstico é a base do combate à brucelose em rebanhos. Permite o monitoramento tanto de propriedades como de regiões inteiras, além de vigiar zonas de onde a doença já foi erradicada.

            O Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose (PNCEBT) no Brasil, em 10 de janeiro de 2001, preconizou o uso do Teste do Antígeno Acidificado Tamponado (AAT), que é uma prova qualitativa rápida, prática e de boa sensibilidade como prova de triagem.

 

Fig 02

Figura 2: Teste do Antígeno Acidificado Tamponado mostrando reações negativas e uma positiva ao centro.

 

LEPTOSPIROSE

 

A infecção pode ocorrer por via oral, venérea, através da pele lesada, via conjuntiva ou através das mucosas. Na fase de leptospiremia, os organismos podem ser encontrados em vários órgãos, embora o fígado e rins sejam os mais atingidos.

Dez dias após a infecção, inicia-se a produção de anticorpos e as leptospiras são eliminadas dos tecidos pela reação imunológica (a exceção ocorre pelos rins). O aborto e demais complicações reprodutivas ocorrem pela infecção dos fetos, na fase de leptospiremia na fêmea.

Leptospirose aguda: os sinais clínicos nesta forma podem passar despercebidos na granja. Consistem de prostração, anorexia e elevação da temperatura corporal. Pode ocorrer icterícia na infecção de leitões (figura 3).

 

Fig 03

Figura 3: Feto suíno. Icterícia observada na calota craniana.

Fonte: suinotec

 

Leptospirose crônica: os transtornos reprodutivos ocorrem no terço final da gestação. Porcas infectadas podem abortar, ocorrer natimortos em excesso ou parição de leitões fracos, que morrem poucas horas após o nascimento.

O diagnóstico da Leptospirose pode ser feito através do teste de micro-aglutinação(figura 4) no soro dos reprodutores. É possível concluir que a infecção por leptospiras é a causa de transtornos reprodutivos mediante o uso de testes sorológicos consecutivos com intervalo de 20 dias, em todos os animais da granja (amostra pareada). Isso ocorre porque os soros das porcas que haviam recém abortado podem repetir o mesmo título na segunda avaliação, mas outros suínos podem apresentar títulos ainda em elevação, significando infecção recente. Anticorpos detectados em líquido da cavidade torácica de natimortos são reveladores de infecção.

 

Fig 04

Figura 4: Microscopia de campo escuro do Teste de micro-aglutinação.

Fonte: emedicine

 

O diagnóstico sorológico fornece dados sobre a situação do rebanho, mas não é definitivo para casos individuais. Aconselha-se que a sorologia seja feita em pelo menos 15% dos reprodutores machos e fêmeas da granja.

Na interpretação do resultado de exames sorológicos é importante considerar que:

a- o teste detecta IgM , ou seja, infecção ATIVA e não resposta vacinal.

b- o histórico de uso da vacina na propriedade, pois alguns animais podem apresentar baixos títulos que tendem a diminuir até atingir níveis não perceptíveis ao diagnóstico sorológico, ou seja, basta retestar animais reagente e outros não reagente ao 1o teste (sentinelas).

c- Diagnostico deve ser dado com o somatório dos dados laboratoriais, sinais clinicos e epidemiologicos.

Leptospiras podem ser detectadas nos tecidos (rins, útero e ovidutos) por histopatologia com coloração especial - impregnação pela prata (figura 5).

 

Fig 05

Figura 5: Leptospiras coradas pela prata em fragmento de fígado.

Fonte: emedicine

 

Texto compilado da Tese de Elena Souza de Lima,  2010.

 

CODIGO

EXAMES

PRAZO DIAS

S02 (< 40 amostras)

S03 (> 40 amostras)

LEPTOSPIROSE – MICROAGLUTINACAO

Material: sangue em tubo tampa vermelha

2

S62

LEPTOSPIRA PESQUISA & CULTURA

Material: URINA RECENTE, soro de animal febril ou orgãos

2

S81

CHECK UP DOENÇAS REPRODUTIVAS

Exames: Parvovirose; Leptospirose; Erisipela; Doença de Aujeszky; PRRS; Toxoplasmose

Material: 20 Soros de Matrizes/Reprodutoras

5

BIO

HISTOPATOLOGIA – BIOPSIA

Material: rins e/ou fígado fixado em formol

5

HISTO CE

HISTOPATOLOGIA COM COLORAÇÃO ESPECIAL (PRATA)

Material: rins e/ou fígado fixado em formol

7

S04

BRUCELOSE SUINA - AAT  

Material: sangue em tubo tampa vermelha

2

S33

AUJESZKY

Material: sangue em tubo tampa vermelha

 

 


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