Autor : Robson Carlos Antunes, Mara Regina Bueno de
Mattos Nascimento, Antonio Vicente Mundim e Natascha Almeida Marques da Silva da Faculdade de Medicina
Veterinária, Universidade Federal de Uberlândia - UFU - MG, e Alves Storti e Luana Ribeiro Alves do Programa de Pós-graduação em Ciências Veterinárias, Produção Animal,
Universidade Federal de Uberlândia - UFU - MG.
Sumário
Objetivou-se neste estudo comparar as concentrações séricas de triiodotironina (T3) e tiroxina
(T4) em suínos de linhagem comercial no início e término da fase de
crescimento-terminação, correlacionando-os com o desempenho produtivo,
características de qualidade de carcaça e da carne. As amostras sanguíneas de
48 animais foram coletadas no início e no final da fase de
crescimento-terminação por punção da veia jugular externa, sempre no mesmo
horário (8-10h). As determinações séricas dos hormônios tireoideanos
foram feitas por enzimaimunoensaio. Foram feitas
avaliações de desempenho e de qualidade de carcaça e de carne. No início e
final do alojamento, as concentrações séricas de T3 foram de 1,85 e
1,32nmol L-1 ,
respectivamente, e para T4 de 100,33 e 86,53nmol
L-1 , respectivamente. Houve correlação negativa e baixa entre T3
final e ganho de peso médio diário, peso final e espessura de toucinho. T4
inicial correlacionou-se negativamente e moderadamente com peso inicial. Os
valores de T3 e de T4 em suínos no início da fase de crescimentoterminação são maiores que na terminação. Os
hormônios tireoideanos estão associados com o peso
inicial e final, espessura de toucinho na última lombar, pH45min
e pH24h de suínos em crescimento-terminação.
Palavras-chave: suinocultura,
ganho de peso, triiodotironina, tiroxina.
INTRODUÇÃO
A qualidade da carne suína é importante em todos os segmentos da indústria
(CASSENS, 2000). Para isso, é fundamental conhecer os fatores externos e
internos que podem alterar a sua qualidade, disponibilizando para o consumo um
produto com característica para atender à demanda e o desejo dos consumidores
no que refere as suas qualidades sanitárias, nutritivas e organolépticas
(BRYHNI et al., 2002).
Um fator interno que poderia modificar a qualidade da carcaça e carne dos
suínos são os hormônios tireoideanos. Estes são,
provavelmente, os determinantes primários da taxa metabólica (CUNNINGHAM &
KLEIN, 2008) e afetam a quantidade de nutrientes utilizados na manutenção e no
crescimento (NORMAN & LITWACK, 1997), ou seja, regulam a síntese e a
degradação de outros hormônios e fatores de crescimento.
Além disso, estão ligados à termogênese, uma vez
que aumentam a taxa metabólica, além de apresentarem ação potenciadora
sobre as catecolaminas (JOHNSON et
al., 1988). Portanto, para estes autores, triiodotironina
(T3) e tiroxina (T4) podem
apresentar valores reduzidos em animais expostos a altas temperaturas,
associados à menor produção de calor metabólico.
Assim, objetivou-se, neste estudo, comparar os valores de T3 e de
T4 no início e no final da fase crescimento-terminação em suínos de
linhagem comercial, correlacionando-os com o desempenho produtivo, qualidade de
carcaça e de carne.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido nas instalações de crescimento-terminação do
setor de suinocultura da Fazenda Experimental Capim Branco da Universidade Federal
de Uberlândia, em Uberlândia, MG. Foram utilizados 48 suínos, sendo 24 machos
castrados e 24 fêmeas híbridos originários do
cruzamento Landrace x Large
White, com peso médio inicial e final, em kg, de 22,34±3,49 e 96,64±11,57,
respectivamente.
Os animais foram alojados em galpão estruturado em concreto com telhas de
barro. As baias eram de alvenaria, com piso de 2 /3 concreto e 1 /3 ripado,
providas de comedouro de alvenaria linear com abastecimento de ração manual e
bebedouros tipo chupeta.
Durante o período experimental, os suínos receberam água e ração à vontade.
A ração oferecida era a base de milho e farelo de soja
e apresentava os seguintes níveis de garantia por kg: cálcio (Máx.) 1,10%;
extrato etéreo (Mín.) 3,00%; fósforo (Mín.) 0,25%; matéria fibrosa (Máx.)
4,50%; matéria mineral (Máx.) 7,00%; proteína bruta (Mín.) 15,00% e umidade
(Máx.) 12,00%. O consumo médio diário por animal durante o período experimental
foi de 1,834kg.
As variações térmicas no interior no galpão foram monitoradas diariamente às
12h30min por meio de um psicrômetro comum (MOD.
INCOTERM) para medida da temperatura de bulbo seco e úmido para caracterizar o
ambiente térmico em que os animais foram mantidos. Os valores registrados foram
utilizados para calcular a umidade relativa do ar, conforme SILVA (2008), e
também a temperatura de globo negro, segundo ABREU et al. (2009) e, posteriormente, calcularam-se o
índice de temperatura de globo (ITGU) e a umidade, como proposto por BUFFINGTON
et al. (1981).
Os animais foram pesados no início e ao término do experimento (176 dias de
idade) para determinação do ganho de peso médio diário (GPMD).
Realizaram-se duas coletas de sangue de cada animal. A primeira ocorreu uma
semana após alojamento e a segunda um dia antes do
abate, realizadas pela manhã no mesmo horário (de 8-10h). Em cada momento,
coletaram-se cinco mililitros (mL) de sangue em tubo sem anticoagulante (Labor Vacuum® ) por punção da veia jugular externa. As amostras
foram armazenadas em caixas térmicas e levadas ao laboratório de Patologia
Clínica do Hospital Veterinário da Universidade Federal de Uberlândia. Em
seguida, foram centrifugadas (Centrífuga Excelsa Baby Fanen
® - Modelo 208N) a 720xg durante cinco minutos e o soro obtido acondicionado em
microtubos identificados (eppendorf)
e congelados (
Ao final do experimento, os suínos foram abatidos conforme o RIISPOA
(BRASIL, 1952). Os animais foram submetidos a jejum de sólidos por 12 horas e
dieta hídrica até o abate. Antecedendo o abate, os animais foram submetidos à
insensibilização elétrica e submetidos ao processo de sangria na posição
horizontal, aguardando o tempo regulamentar de três minutos (BRASIL, 1952).
Após a morte do animal, aguardou-se o tempo de 1 minuto fazendo a medição da
temperatura (T1min) que foi medida com termômetro digital (modelo
mini inox – AKSO®) no músculo Longissimus dorsi (LD) entre a segunda e terceira vértebras torácicas.
Após 24 horas do abate, a temperatura da carcaça foi novamente medida (T24h)
utilizando o mesmo termômetro e localização da T1min.
O pH a 45 minutos (pH45min) e o de 24
horas (pH24h) foram quantificados com um medidor digital portátil de
pH (potenciômetro) (TESTO 205 ® ), calibrado com soluções controle 4 e 7, sendo
o pH24h mensurado na meia-carcaça resfriada em câmara, com
temperatura entre 0 e
Para determinação do comprimento do intestino delgado (ID), este foi
identificado, esvaziado, exposto longitudinalmente, lavado com água e medido em
centímetros com uma trena metálica graduada.
A espessura de toucinho foi mensurada com régua em milímetros em três
pontos: 1- na porção média da primeira vértebra torácica na altura da primeira
costela (ETPC); 2- na inserção da última vértebra torácica com a primeira
lombar (ETUC); e 3- no local da articulação da penúltima com a última vértebra
lombar (ETUL), conforme ABCS (1973).
A porcentagem de carne magra (%CM) foi calculada de acordo com ANTUNES et al. (2003), utilizando-se a
medida da espessura de toucinho feita com régua em milímetros, na meia-carcaça
esquerda, na linha de abate, no plano sagital mediano, entre a última e a
penúltima vértebras lombares.
O comprimento de carcaça (CC) foi obtido pela mensuração entre o bordo
cranial da sínfise pubiana e bordo cranial ventral do atlas, em centímetros,
com trena metálica graduada, seguindo-se o método brasileiro de classificação
de carcaças (ABCS, 1973).
Para comparar os valores dos hormônios T3 e T4
, início e final do experimento, foi aplicado o teste estatístico
não-paramétrico de Wilcoxon, por meio do programa
INSTAT ® (versão 3.06), em nível de 5%. A correlação de Pearson foi utilizada
para verificar a relação entre as variáveis hormonais (T3 e T4)
e as de desempenho produtivo (Peso inicial, Peso Final e Ganho de Peso Médio
Diário), qualidade de carcaça (ETPC, ETUC, ETUL, ID, CC e %CM) e de carne (T1min,
T24h, pH45min e pH24h)
pelo programa computacional SAS ® (versão 8.0, 2000).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os valores médios de temperatura ambiente, umidade relativa do ar e ITGU
registrados durante o experimento corresponderam a 28,0±
Na semana da primeira coleta de sangue, a temperatura ambiente, a umidade
relativa e ITGU médios foram de 25,14ºC; 50,28% e 78,41,
respectivamente; na segunda coleta, foram de 28,5ºC; 65,79% e 80,17,
respectivamente. Assim, tanto na semana da coleta inicial quanto na final, o
ITGU esteve acima da zona de termoneutralidade para
suínos na fase de crescimento-terminação.
As médias das concentrações séricas de T3 e de T4 no
início da fase de crescimento-terminação foram superiores àquelas obtidas na
idade ao abate (P<0,05) (Tabela 1). Esse resultado concorda com os de
SLEBODZINSKI (1965) e KALLFELZ & ERALI (1973) que verificaram decréscimo na
concentração de T4 com o aumento da idade. Os últimos autores
encontraram para T4 médias de 107,69nmol L-1
em animais em aleitamento, 60,25nmol L-1
em suínos próximos à idade adulta e 26,92nmol L-1
em suínos adultos. Entretanto, esses resultados diferem dos obtidos por WAN et al. (1975), que, ao estudar
porcas Landrace e Duroc-Jersey
de ½ a 3 anos de idade em região subtropical, não encontraram correlação entre
idade dos suínos e concentração sérica de T4. Segundo SLEBODZINSKI
(1965), a taxa de utilização da tiroxina em suínos de
Os valores médios de T3 sérico no início e final do alojamento
(Tabela 1) foram superiores aos encontrados por KALLFELZ & ERALI (1973),
que verificaram médias de 0,57nmol L -1 em
suínos próximos a idade adulta. No entanto, o valor médio encontrado no final
do alojamento esteve próximo ao observado por REAP et al. (1978), que obtiveram valor de 1,38nmol L -1 . A concentração sérica de T4
no início e final do alojamento foram superiores aos resultados obtidos por
KALLFELZ & ERALI (1973) (72,38nmol L -1
), REAP et al. (1978) (51,13nmol L -1 ) e WENDLING et
al. (2010) (43,72nmol L -1 ).
Houve correlação entre T3 final e peso final e GPMD (P<0,05),
sendo negativa e baixa (Tabela 2). Observou-se que quanto menor a concentração
de T3 final, maior o peso final e GPMD. Considerando que T3
é o hormônio tireoideano metabolicamente ativo e de
meia vida curta, uma menor concentração poderia indicar maior utilização deste
pelo organismo animal em resposta ao aumento das demandas metabólicas para
crescimento.
Tabela 1 - Valores médios, desvios padrão, mínimo e máximo
da concentração sérica de T3 e T4 em nmol
L -1 de 48 suínos de linhagem comercial na fase de
crescimento-terminação no início e final do alojamento. Uberlândia - MG, 2010.
Tabela 2 - Coeficientes da correlação de Pearson entre T3
e T4 no início e no término da fase de crescimento-terminação e as
variáveis de desempenho, de qualidade de carne e de características de carcaça
de 48 suínos de linhagem comercial na fase de crescimento-terminação.
Uberlândia - MG, 2010.
Os valores de T4 inicial mostraram-se negativamente e
moderadamente correlacionados com peso inicial (P<0,05) (Tabela 2),
evidenciando que maior concentração de T4 ocorre em animais de menor
peso inicial. Uma possível explicação para esse resultado seria que um valor
maior de T4 poderia significar menor deiodinização dele e menor quantidade de T3, que
é o hormônio tireoideano metabolicamente ativo, ou
seja, indicando que maiores valores de T4 sérico poderiam estar
relacionados com menor quantidade de T3 formada e consequentemente menor peso. Resultados da
literatura que tratam dos efeitos dos hormônios tireoideanos
sobre ganho de peso são contraditórios. WENDLING et al. (2010) não verificaram melhora no ganho de
peso de suínos que receberam 400µg de Ltiroxina na
ração, por outro lado, MARPLE et al. (1981)
observaram que picos de T4 coincidiram com os períodos nos quais os
suínos tiveram maior crescimento (
Verificou-se correlação negativa significativa (P<0,05), porém baixa,
entre T4 inicial e pH45min, e
entre T4 final e pH24h (Tabela 2). Esse resultado difere
de MARPLE et al. (1975),
que, em seus estudos para determinar a relação da glândula tireoide
com a glicólise muscular, não encontraram diferenças
significativas no pH45min e no pH de 24 horas em carcaças de suínos.
Igualmente, WENDLING et al.
(2010) não observaram efeito no pH da carne de marrãs gestantes que receberam T4
na ração.
Os valores de T3 final apresentaram correlação negativa
significativa (P<0,05) baixa com ETUL (Tabela 2) evidenciando que animais
com menores concentrações séricas de T3 final apresentam menor ETUL.
As demais correlações com as características de carne não foram significativas
(P>0,05). Em trabalho conduzido por MARPLE et al. (1975), uma significante perda nas espessuras
de toucinho foi observada em suínos suplementados com T4.
Entretanto, WALLACE et al.
(1959) e WENDLING et al. (2010) não encontraram
diferenças significativas nas espessuras de toucinho de suínos suplementados
com T3 e com T4, respectivamente.
O peso final apresentou correlação positiva de moderada a alta (P<0,05)
para ETPC, ETUC, ETUL, comprimento do ID, CC, porém negativa e moderada para
%CM (Tabela 3) (P<0,05). Resultados semelhantes foram encontrados por CAMPOS
(2008) ao verificar correlação significativa entre comprimento do ID e PF. A
relação positiva entre comprimento de ID e peso final talvez possa ser
explicada pelo seguinte fato: o maior comprimento de ID leva a maior área de
exposição dos nutrientes às células absortivas, consequentemente,
maior absorção para desenvolvimento de músculo e deposição de gordura (GOMES et al., 2007). Com relação às
espessuras de toucinho e a %CM, VASCONCELLOS et al. (2007) citam que, no final da terminação, a
maioria dos animais estão na fase de declínio para deposição de carne magra, ao
passo que a taxa de deposição de gordura está ascendente.
CONCLUSÃO
Suínos de linhagem comercial no início da fase de crescimento-terminação
apresentam concentrações séricas de T3 e de T4 superiores
às obtidas na fase de terminação. Triiodotironina
está associada com peso final, ganho de peso médio diário e espessura de
toucinho na última lombar de suínos em crescimento-terminação e tiroxina com peso inicial, pH45min
e pH24h.
Tabela 3 - Coeficientes da correlação de Pearson entre PF e
as variáveis ETPC, ETUC, ETUL, ID, CC, %CM de 48 carcaças suínas de linhagem
comercial. UberlândiaMG,
2010.