Informativo Técnico Nº. 230

Como diagnosticar corretamente doenças respiratórias em suínos nas fases de crescimento e terminação

Publicado o: 08/02/2013

Autor : Geraldo Camilo Alberton e Danilo Leal Rocha do Departamento de Medicina Veterinária, Setor de Ciências Agrárias, Universidade Federal do Paraná - UFPR -, PR.

As doenças respiratórias são muito frequentes nas unidades de crescimento e terminação de suínos, tornando necessária a adoção de práticas corretas de diagnóstico destas enfermidades. Os profissionais que atuam no campo realizam cada vez mais atividades relacionadas com diagnóstico clínico e anatomopatológico, bem como de coleta de material para envio para exames laboratoriais. Os laboratórios de diagnóstico de doenças de suínos no Brasil têm obtido avanços significativos em qualidade e quantidade de técnicas laboratoriais disponíveis. Apesar da melhoria significativa da qualidade do diagnóstico de doenças na suinocultura, muitas falhas ainda são cometidas, comprometendo significativamente o resultado final. Dentre estas falhas destaca-se a precariedade do exame clínico; a coleta e envio de material para exames laboratoriais sem a adoção de critérios; e a deficiente interpretação dos laudos laboratoriais. Para melhorar a qualidade do diagnóstico em suinocultura, as empresas produtoras de suínos devem investir continuamente na formação e constante atualização das equipes de Médicos Veterinários envolvidas com serviços de diagnóstico.

Descritores: Suínos, Doenças Respiratórias, Diagnóstico, Exame Clínico, Necropsia.

 

I. INTRODUÇÃO

A forma intensiva de produção de suínos cria condições favoráveis à manifestação de doenças respiratórias, sendo que alguns autores consideram essas doenças respiratórias como o mais grave problema sanitário na produção de suínos moderna [2,12]. Em condições de criações comerciais, poucos animais chegam ao peso final sem terem adquirido algum tipo de lesão respiratória tal como rinite, pneumonia e pleurite [24]. O impacto econômico deve-se à diminuição na taxa de crescimento, aumento da conversão alimentar, aumento no uso de antibióticos, eliminação de animais doentes e mortes [4,9,24,27]. Choi et al. [2] relataram taxas de mortalidade superiores a 15% em algumas unidades de produção de suínos.

Neste cenário, o diagnóstico adequado das doenças respiratórias é uma busca constante nos sistemas de produção e, apesar do avanço obtido nas últimas décadas, são frequentes erros graves nestes procedimentos, tais como a não participação de médicos veterinários, não realização de criterioso trabalho de histórico e avaliação clínica, seleção equivocada de animais para necropsia, número de amostras insuficientes, preparo inadequado de materiais para envio ao laboratório e interpretação inadequada dos resultados.

Os laboratórios de diagnóstico de doenças de suínos no Brasil têm obtido avanços significativos em qualidade e quantidade de técnicas laboratoriais disponíveis. Técnicas tais como isolamento bacteriano, sorotipagem e antibiograma, histopatologia, imunohistoquímica, reação em cadeia da polimerase (PCR), PCR em tempo real, sorologia estão disponíveis em serviços eficazes e rápidos. Entretanto, este serviço deve ser considerado como suporte ao trabalho do Médico Veterinário, sendo que o laudo laboratorial não deve ser considerado como relatório técnico. É fundamental que o médico veterinário tenha experiência e conduza todo o trabalho de diagnóstico e orientação de medidas corretivas e/ou preventivas. Por outro lado, é necessário que a suinocultura nacional estimule um melhor desenvolvimento deste serviço veterinário qualificado. A formação de médicos veterinários para atuar na área de clínica e patologia de suínos exige tempo, dedicação e investimento como em outras áreas da medicina veterinária.

A presente revisão tem como objetivo abordar alguns aspectos relativos ao diagnóstico adequado de problemas respiratórios em suínos em fase de recria e engorda.

 

II. QUAL O OBJETIVO DO DIAGNÓSTICO?

O ponto de partida na realização do diagnóstico de problemas respiratórios deve ser a definição clara dos objetivos desta ação. Embora isso pareça óbvio, com frequência este princípio não é observado, sendo que os resultados de monitorias sanitárias e de diagnósticos de campo e laboratoriais, em muitas ocasiões, se tornam apenas um banco de dados que não são utilizados para a tomada de decisões sanitárias. Adicionalmente, percebe-se que com a disponibilização de várias ferramentas de diagnóstico, principalmente as laboratoriais, ocorreu uma banalização do uso das mesmas, sendo que são utilizadas muitas vezes sem critério, e o profissional ao invés de utilizar de sua competência profissional para realizar adequadamente um exame clínico ou anatomopatológico, opta por simplesmente enviar uma série de materiais para um laboratório realizar exames. Mais grave ainda, são as situações onde o procedimento de necropsia e coleta de material não é realizado por um Médico Veterinário, transferindo toda a responsabilidade para o laudo laboratorial. O laboratório tem a função de realizar os exames de acordo com o solicitado pelo cliente e emitir o laudo. Entretanto, para se chegar ao diagnóstico definitivo, os dados do laudo precisam ser associados com os dados clínicos e de necropsia.

Outra questão importante é que a meta é diagnosticar a doença considerando que a etiologia pode ser complexa, ou seja, ser causada por uma série de agentes infecciosos. Estudos demonstram que a interação ou sinergismo entre agentes infecciosos potencializam os efeitos e a gravidade das doenças respiratórias em suínos [2,4,8,9]. Esta sinergia entre agentes infecciosos nos quadros de pneumonia tem sido denominada como o Complexo de Doenças Respiratórias dos Suínos (CRDS) [27], sendo que, merecem destaques agentes infecciosos tais como: circovírus suíno tipo 2 (PCV2), vírus da síndrome reprodutiva e respiratória dos suínos (PRRS), vírus da Influenza (SIV), Mycoplasma hyopneumoniae, Mycoplasma hyorhinis, Actinobacillus pleuropneumoniae, Haemophilus parasuis e a Pasteurella multocida [2,4,8,9,11,23,26]. A interação entre estes agentes virais citados desempenha importante papel no aumento dos quadros clínicos de doenças respiratórias na produção de suínos [27]. Vale ainda ressaltar a ação de micotoxinas, em especial a fumonisina, como causador de problemas respiratórios [6,27]. Muitos dos agentes causadores do (CDRS) estão presentes em praticamente todos os rebanhos, como exemplo: circovírus suíno tipo 2, P. multocida, H. parasuis e M. hyorhinis. Estes agentes fazem parte da microbiota dos suínos e os mesmos podem ou não estar envolvidos na patogenia da doença. Deste modo, detectar o agente pode não ter significado clínico.

O CDRS apresenta dinâmica diferente entre rebanhos, onde uma série de fatores podem interferir na gravidade da doença. Neste contexto, tão importante quanto conhecer os agentes infecciosos presentes, é conhecer o quadro clínico na granja para que seja estabelecido o diagnóstico. Como exemplo, citamos a pesquisa de Souza et al. [25] onde o A. pleuropneumoniae, bem como anticorpos contra o mesmo, foram encontrados por meio de PCR de tonsila e por prova de Elisa, respectivamente, em três rebanhos com status diferentes com relação à pleuropneumonia, sendo que em apenas um rebanho a doença estava se manifestando. Um dos rebanhos nunca tinha manifestado a doença e outro tinha manifestado no passado e, na época da monitoria a doença não era um problema. O resultado do exame foi semelhante para os três rebanhos, mas a manifestação da doença era totalmente diferente entre os três. Deste modo, o laudo de necropsia e os laudos laboratoriais, bem como as monitorias de abate, apresentam valor limitado se não forem analisados no contexto clínicos da granja.

Desta forma, o diagnóstico de doenças respiratórias dos suínos requer criterioso trabalho do Médico Veterinário. Deve-se realizar o histórico clínico, avaliação clínica, necropsias e exames laboratoriais [4,21].

 

III. HISTÓRICO E EXAME CLÍNICO

O exame de anamnese para construção do histórico clínico da granja, em associação com o exame clínico dos animais, são etapas fundamentais para o diagnóstico das doenças respiratórias. Se esta etapa for mal conduzida, todos os resultados que forem gerados posteriormente podem ficar sem valia, pois como foi discutido anteriormente, as doenças respiratórias apresentam dinâmica diferente entre rebanhos.

Atualmente observa-se que, às vezes, o exame clínico é substituído pelas monitorias clínicas e laboratoriais. Embora estas monitorias sejam valiosas, elas não substituem o exame clínico no momento de um diagnóstico de doença respiratória. Granjas com mesmo índice de tosse e espirro podem estar apresentando taxas de morbidade e mortalidade diferentes por pneumonia, portanto, apenas contar tosse ou espirro não vai gerar os dados necessários.

Os Médicos Veterinários sanitaristas devem partir do princípio que todos os rebanhos podem apresentar problemas respiratórios, logo, o papel do profissional de campo não deve se limitar a chegar ao nome do agente ou da doença, mas sim, mensurar a importância daquela doença no rebanho e avaliar a necessidade ou não de intervenções preventivas e/ou curativas.

Durante a visita deve ser dada atenção para questões como biossegurança, qualidade do alimento, água, fluxo de animais, limpeza, desinfecção, baias enfermarias, lotação, protocolos medicamentosos e de vacina, ambiência. Todas estas questões interferem no desencadeamento da doença, ampliando ou reduzindo-a.

Quando se realiza diagnóstico de doenças respiratórias em suínos, deve-se ter em mente a complexidade de agentes infecciosos que podem estar envolvidos. Conhecer o status sanitário da granja é fundamental neste procedimento. A presença de agentes infecciosos potencialmente imunossupressores como o M. hyopneumoniae, PRRS, PCV2 e Infuenza podem influenciar a dinâmica dos problemas respiratórios em suínos. Estudos têm demonstrado que a ação de agentes infecciosos imunossupressores agravam o quadro clínico respiratório [8,10,28].

Já no que diz respeito à doença propriamente dita, a anamnese deve ser realizada buscando traçar um cenário da doença em questão ao longo do tempo. As características dos surtos auxiliam no diagnóstico, como época do ano, idade do lote, número de animais afetados, taxa de mortalidade e sinais clínicos.

 

IV. NECROPSIA E COLHEITA DE MATERIAL

A complexidade de agentes infecciosos que podem estar envolvidos em doenças respiratórias nos suínos não permite o diagnóstico definitivo por meio do histórico e sinais clínicos tornando necessária a necropsia e coleta de material para exames laboratoriais complementares. Vale ressaltar que a intensidade de sinais clínicos, tais como a tosse, pode não ter correlação com a severidade da infecção [21]. Alguns agentes infecciosos podem causar lesões pulmonares macroscópicas e histológicas similares e a interação entre estes agentes pode aumentar a gravidade da lesão [8,11,27,28]. Lesões pulmonares tais como área de consolidação pulmonar pode ser causada em infecções simples ou mistas de agentes infecciosos tais como o Mycoplasma hyopneumoniae [19], Mycoplasma hyorhinis [11], PCV2 e PRRS [8], Influenza A [28]. As pleurites podem estar associadas à Haemophilus parasuis [20], Pasteurella multocida [18], Actinobacillus pleuropneumoniae [12], Mycoplasma hyorhinis [11], Streptococcus suis [7]. Desta forma, o número adequado de amostras analisadas do sistema respiratório de suínos, bem como a interação entre técnicas laboratoriais, é importante para definição dos possíveis agentes infecciosos envolvidos [2,15].

A seleção dos animais a serem amostrados e/ou necropsiados para envio de amostras ao laboratório é uma etapa fundamental no processo de diagnóstico. Para isto alguns critérios devem ser observados, tais como, os suínos devem representar o quadro clínico observado durante a avaliação, não ter sido medicado com antibióticos, estarem no início do quadro clínico respiratório, evitando-se a escolha de animais refugos. É importante destacar que a necropsia é um exame anatomopatológico que deve ser realizado por Médico Veterinário com conhecimento em patologia. Este procedimento deve ser diferenciado de forma enfática do termo popularmente conhecido como “coleta de material”. A necropsia de animais encontrados mortos também é um procedimento importante, mesmo se não houver a possibilidade de envio de amostras para o laboratório. A avaliação de pulmões na planta de abate também pode gerar informações importantes, entretanto, deve-se entender que estas informações fazem parte do processo e não substituem a avaliação clínica na unidade de produção de suínos.

 

V. INTERPRETAÇÃO DOS EXAMES LABORATORIAIS

A interpretação dos resultados laboratoriais é outra etapa importante no processo. Conhecer as finalidades, vantagens e limitações das técnicas laboratoriais, bem como relacionar os resultados aos dados clínicos é fundamental no diagnóstico. Resultados laboratoriais negativos podem estar relacionados entre outros a amostra ou órgão inadequado para determinada técnica laboratorial, a conservação inadequada do material, a solicitação inadequada da técnica laboratorial, a baixa sensibilidade da técnica empregada, a fase inicial ou crônica da doença e a medicação com antibióticos. Observe que muitos destes itens citados devem ser de conhecimento do Médico Veterinário, sendo que, muitas vezes, não são de conhecimento do laboratório.

Como as doenças respiratórias podem ser provocadas por vários agentes e, considerando-se que os suínos podem ser carreadores sadios de vários agentes, torna-se muito importante estabelecer a relação causa e efeito, ou seja, entender se o agente identificado no exame está ou não participando da doença. A detecção de determinado agente infeccioso no trato respiratório do suíno não é sinônimo de doença, sendo que o Médico Veterinário deve correlacionar este resultado com as demais informações. A detecção de amostras de Haemophilus parasuis do trato respiratório de suínos, por exemplo, não é diagnóstico de Doença de Glasser. Para que seja estabelecido o diagnóstico de Doença de Glasser o quadro clínico deve ser compatível, como aumento na taxa de mortalidade, febre, apatia, dispneia, e o H. parasuis deve ser isolado de lesões sistêmicas tais como as polisserosites [20]. Após o diagnóstico, devem-se avaliar as medidas a serem realizadas que irá depender, entre outros, das taxas de morbidade e mortalidade observadas.

O resultado negativo para o agente também deve ser analisado com cautela. Por isto, o Médico Veterinário responsável pelo diagnóstico deve realizar uma análise de coerência entre os resultados observados e o quadro clínico. Deve-se, por exemplo, considerar a interferência de medicações com antibiótico; fase crônica da doença, onde mesmo com a lesão macroscópica o agente não é detectado; número de amostras insuficientes para estabelecer um diagnóstico seguro; técnica laboratorial inadequada. Exemplificando isso, em um estudo realizado com lesões pulmonares de suínos abatidos, observou-se o crescimento de P. multocida e Pseudomonas spp. a partir de lesões características de infecção pelo A. pleuropneumoniae. Estas amostras foram submetidas ao teste de PCR, sendo confirmada a presença do A. pleuropneumonia [14]. Neste caso, como o A. pleuropneumoniae é um agente de crescimento mais lento, o mesmo pode ser inibido por outros microrganismos como a P. multocida, conforme descrito por Christensen et al. [3], o que pode explicar o não isolamento desta bactéria.

Quando se trata de diagnóstico de M. hyopneumoniae deve-se tomar muito cuidado com os resultados sorológico e PCR negativos, principalmente quando se trata de monitoria de rebanhos negativos ou em quarentena. A principal forma de introdução do M. hyopneumoniae nos rebanhos é pela aquisição de reprodutores portadores assintomáticos [13]. Desta forma, rebanhos livres deste agente, além de adquirir reprodutores de granjas consideradas livres, adotam procedimento de quarentena. Durante a quarentena os animais são submetidos à avaliação clínica e exames laboratoriais, tais como análises sorológicas e a reação em cadeia da polimerase para detectar indícios de infecção pelo M. hyopneumoniae. Apesar deste rígido protocolo de quarentena, rebanhos têm se tornado positivo para o M. hyopneumoniae após a introdução de reprodutores. Neste sentido, no estudo realizado por Rocha et al. [22] com animais em quarentena, não foram observados sinais clínicos sugestivos de problemas respiratórios bem como não foi detectado soroconversão para o M. hyopneumoniae nas análises sorológicas com o teste de ELISA realizadas em amostras de soro coletadas nos dias 0, 55 e 76 após o alojamento dos animais, entretanto, o M. hyopneumoniae foi detectado por meio da PCR de lavado traqueobronqueal e tecido pulmonar de uma fêmea que foi eutanasiada. Esta fêmea apresentou análise sorológica não conclusiva na amostra coletada no dia 55 após o alojamento na quarentena. Desta forma, a associação entre as análises sorológicas e a PCR foi importante no diagnóstico do M. hyopneumoniae durante o procedimento de quarentena. Nesta situação, caso não fosse realizada a eutanásia de um animal da quarentena para coleta de pulmão para PCR, o lote teria sido considerado livre para M. hyopneumoniae e o agente seria introduzido no rebanho. Isto se deve ao longo período de incubação do M. hyopneumoniae, sendo que não raramente a sorologia é negativa mesmo depois de cinco semanas pós-infecção [5].

 

VI. MONITORIAS NO ABATE

No Brasil e em outros países, a análise qualitativa e quantitativa das lesões pulmonares é uma das etapas do diagnóstico de doenças respiratórias dos suínos que é muito praticada. Estes dados são analisados por programas de computador que calculam a área de pulmão afetada, a prevalência de leitões com lesões pulmonares e a estimativa de perda no ganho de peso diário e de aumento na conversão alimentar. Estes dados também são utilizados para avaliar programas vacinais ou medicamentosos.

É importante ressaltar que lesões como consolidação pulmonar, que podem ser causadas por vírus, Mycoplasma, entre outros, são reversíveis e muito dinâmicas ao longo do crescimento do animal, de modo que a lesão observada no abate reflete apenas o ocorrido nas últimas semanas de vida. Comparando-se a curva de soroconversão para o M. hyopneumoniae com o escore de lesões observadas no abate, verifica-se que os animais que soroconvertem precocemente, apresentam menor escore de lesão do que aqueles que soroconvertem tardiamente ou não soroconvertem. Observa-se também que os animais que soroconvertem precocemente são mais acometidos por pleurite, o que pode ser explicado por uma maior severidade da doença em animais mais jovens, permitindo as infecções secundárias [1]. Da mesma forma, em estudo realizado comparando-se as lesões de abate com radiografias da cavidade torácica realizadas durante o período de recria e engorda, demonstrou-se que os suínos que apresentam lesões pulmonares precocemente possuem menores escores de lesão ao abate [17]. As monitorias clínicas de índice de tosse também demonstram baixa correlação entre tosse e escore de lesão no abate. Nesse sentido, em um estudo comparando-se as contagens de tosse com o peso e o escore de pneumonia enzoótica no abate, os autores verificaram menores escores de lesões nos animais que começaram a tossir precocemente, enquanto que os animais afetados mais próximo da idade de abate tiveram maiores escores de lesão [16].

Os resultados dos trabalhos acima relatados não devem ser usados para desestimular as monitorias de lesões pulmonares no abate, pois, estas monitorias são extremamente importantes para conhecer a dinâmica da doença no rebanho. Entretanto, sempre que for realizada uma análise quantitativa (escores de lesão), esta deve ser analisada com cautela, evitando assim, interpretações equivocadas.

As lesões pulmonares que geram desvio e condenação de carcaças são pouco exploradas pelos sanitaristas. Isso se deve ao fato de que os pulmões são removidos da linha de abate para o Departamento de Inspeção Final (DIF), local de acesso restrito e com muita movimentação de carcaças e suas respectivas vísceras, o que dificulta o acesso e a permanência dos sanitaristas nesta área do frigorífico. Deste modo, perde-se a oportunidade de se avaliar detalhadamente estas lesões, com vistas à definição do provável agente causal, restando apenas a análise dos dados de destino das carcaças, dado este muito utilizado pelos sanitaristas no acompanhamento de doenças respiratórias dos rebanhos. A avaliação destes tipos de lesões deve ser realizada por pessoa bem treinada. Não existem lesões patognomônicas para nenhuma doença e os mesmos patógenos podem produzir lesões diferentes de acordo com a patogenicidade da amostra, via de infecção e grau de evolução do quadro no momento do abate.

No caso da rinite atrófica, os resultados da monitoria sanitária das conchas nasais no momento do abate devem ser contrastados com os dados do exame clínico e, caso necessário, dos exames laboratoriais. Isto é muito importante para estabelecer o diagnóstico de rinite atrófica progressiva. Vale ressaltar que os focinhos avaliados na linha de abate não são bons materiais para envio ao laboratório devido o risco de contaminação cruzada após a passagem das carcaças pela escalda. Desta forma, para a detecção da Pasteurella multocida tipo D toxigênica, agente infeccioso envolvido na patogenia da rinite atrófica progressiva, deve-se realizar monitorias nas unidades de produção.

 

VII. CONCLUSÃO

As doenças respiratórias dos suínos estão presentes em praticamente todas as unidades de recria e engorda de suínos, de modo que o diagnóstico correto destas enfermidades permite o emprego de medidas adequadas de tratamento e prevenção. Estas doenças possuem etiologia complexa, de maneira que o diagnóstico correto depende do uso coerente das diferentes ferramentas, onde o histórico e o exame clínico são fundamentais e, na medida do possível e quando necessário, devem ser auxiliados com dados de necropsia e de resultados de exames laboratoriais. É importante que as unidades produtoras de suínos se organizem de modo que haja um espaço dentro do quadro técnico para discussão em sanidade, para que a equipe relate suas observações das monitorias, necropsias, atendimentos clínicos e laudos laboratoriais, caso contrário, toda a experiência obtida se perde e, diante de novos casos idênticos, parte-se do zero, desperdiçando tempo e dinheiro.


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