Informativo Técnico Nº. 233

Causas de mortes súbitas em suínos: II. Torsão do mesentério

Autor : Nelson Mores, Méd. Vet., M. Sc., Pesquisador da EMBRAPA–CNPSA; Ricardo A. Soncini, Méd. Vet., D. C. V., Consultor do IICA, EMBRAPA–CNPSA, e Jurij Sobestiansk, Méd. Vet., D. M. V., EMBRAPA–CNPSA.

Torsão do mesentério (TM) é uma causa comum de mortes súbitas e esporádicas em suínos, principalmente nas fases de crescimento e engorda. Os suínos afetados tornam-se apáticos, com abdômen distendido, e, geralmente, morrem em menos de 24 horas, manifestando palidez da região externa da carcaça e severa congestão e hemorragia intestinal.

A publicação a respeito deste problema, no Brasil, são escassas; e tem-se observado di?culdades, a nível de campo, em identi?car esta síndrome, confundindo-se com outros problemas semelhantes que afetam o suíno. Esta publicação tem por objetivo a divulgação das características da TM observada em nosso meio, bem como tecer comentários sobre a possibilidade de diagnósticá-la a nível de campo.

A causa da torsão nõa é bem conhecida. Entretanto, há evidências de que o excesso de produção de gases no intestino, devido à ingestão de alimentos altamente fermentáveis, pode provocar o seu deslocamente e consequente torsão na base do mesentério. A ocorrência da TM tem sido frequente em suínos alimentados com soro de leite.

 

Casuística

De janeiro de 1985 a fevereiro de 1986, foram diagnósticados na EMBRAPA–CNPSA, sete casos de TM em suínos (5 machos e 2 fêmeas), oriundos de uma granja com um plantel médio de 240 matrizes, representando 0,2% do total de suínos produzidos no período. A idade dos animais afetados variou de três a cinco meses, exceto um macho que tinha 30 meses. Das sete mortes registradas, cinco ocorreram em ?nais de semana (domingo).

Sinais Clínicos

Cinco desses suínos foram encontrados mortos sem ter sido observado qualquer sinal de doenças, enquanto que os outros dois manifestaram anorexia, apatia, palidez e progressiva distensãodoabdômen. A colocação de uma sonda gástrica não diminuia gravidade dos sintomas; ademais nenhuma medida terapeutica foi tomada e morreram em menos de 24 horas após o início dos sinais.

Achados de Necrópsia

As carcaças eram pálidas e com abdômen intensamente distendido. Na abertura da cavidade abdominal, sobressaíam-se imediatamente as alças intestinais dilatadas, com aspecto extremamente hemorrágico e de coloração de vermelho-intenso a preta (Fig. 2). No interior da cavidade abdominal, aparecia líquido sangüíneo e ?letes de ?brina sobre as vísceras. O intestino delgado (ID), exceto o duodeno, apresentava-se hemorrágico e com efusão sanguinolenta para o lúmen, enquanto que o intestino grosso (IG) estava apenas distendido por gases e levemente congesto. Além disso, as veias do mesentério e da sub-serosa encontravam-se calibrosas e repletas de sangue.

 

Comentários

No suíno normal (Fig. 1), a extremidade do ceco encontra-se apontado caudalmente. Nos casos de TM (Fig. 2), e ele é visto apontado cranealmente no quadrante anterior direito do abdômen, re?etindo uma rotação da massa intestinal de aproximadamente 180 graus, em torno da raiz do mesentério. Esta torsão, geralmente se dá no sentido anti-horário, quando o animal é observado em decúbito dorsal, da posição ventro-caudal. Embora o ID se apresentasse extremamwente hemorrágico, ao exame histológico sua mucosa estava normal. Isto signi?ca que a efusão de sangue para o lúmen intestinal é uma consequência da torsão e da oclusão das veias do mesentério. O duodeno não é afetado, porque a drenagem venosa é separada do resto do ID. As alterações encontradas, nestes casos de TM, coincidem com as descritas em outros trabalhos sob a denominação de síndrome de hemorragia intestinal; e, baseados neste fato, supõe-se tratar-se do mesmo problema, ou seja, são consequências da TM.

Na granja em que foram diagnosticados estes casos de TM, a ração, à base de milho, farelo de soja e premix, era peletizada e fornecida à vontade aos suínos em crescimento e terminação. Ademais, cinco das sete mortes ocorreram em ?nais de semana, em que apenas um funcionário trabalhava em substituição à dois nos dias úteis. Assim sendo, pressupõe-se que outros fatores, principalmente ligados ao manejo da alimentação podem estar envolvidos no desencadeamento da TM, uma vez que não recebiam alimentos altamente fermentáveis, como é o caso do soro de leite, incriminado em outras criações.

Para ?rmar o diagnóstico de TM, deve-se levar em conta:

  1. ocorrência de morte súbita e esporádica;
  2. palidez da carcaça e distenção do abdômen;
  3. hemorragia intestinal envolvendo todo o ID, exceto o duodeno, e com engurgimento das veias do mesentério;
  4. posicionamento da extremidade do ceco.

No diagnóstico diferencial, a presença de sangue no conteúdo do ID em suínos de crescimento e engorda pode também ser uma consequência do sangramento de úlceras gástricas ou devido à enteropatia hemorrágica proliferativa associada ao Campylobacter.

Figura 1 – Suíno visto da posição ventro-caudal; posição normal das vísceras.

Fig 01

 

Figura 2 – Suíno visto da posição ventro-caudal; posição das vísceras alteradas devido à torção do mesentério. A) ceco, B) ID hemorrágico, C) cólon dilatado, D) tórax.

Fig 02

 


<--Voltar