Autor : Nelson Mores, Méd. Vet., M. Sc., Pesquisador da
EMBRAPA–CNPSA; Ricardo A. Soncini, Méd. Vet., D. C.
V., Consultor do IICA, EMBRAPA–CNPSA, e Jurij Sobestiansk, Méd. Vet., D. M. V., EMBRAPA–CNPSA.
Torsão do
mesentério (TM) é uma causa comum de mortes súbitas e esporádicas em suínos,
principalmente nas fases de crescimento e engorda. Os suínos afetados tornam-se
apáticos, com abdômen distendido, e, geralmente, morrem em menos de 24 horas,
manifestando palidez da região externa da carcaça e severa congestão e hemorragia
intestinal.
A publicação a respeito deste problema, no Brasil, são
escassas; e tem-se observado di?culdades,
a nível de campo, em identi?car esta síndrome, confundindo-se com outros
problemas semelhantes que afetam o suíno. Esta publicação tem por objetivo a
divulgação das características da TM observada em nosso meio, bem como tecer
comentários sobre a possibilidade de diagnósticá-la a nível de campo.
A causa da torsão nõa é
bem conhecida. Entretanto, há evidências de que o excesso de produção de gases
no intestino, devido à ingestão de alimentos altamente fermentáveis, pode
provocar o seu deslocamente e consequente
torsão na base do mesentério. A ocorrência da TM tem
sido frequente em suínos alimentados com soro de
leite.
De janeiro de
Cinco desses suínos foram encontrados mortos sem ter sido observado qualquer
sinal de doenças, enquanto que os outros dois manifestaram anorexia, apatia,
palidez e progressiva distensãodoabdômen. A colocação
de uma sonda gástrica não diminuia gravidade dos
sintomas; ademais nenhuma medida terapeutica foi
tomada e morreram em menos de 24 horas após o início dos sinais.
As carcaças eram pálidas e com abdômen intensamente distendido. Na abertura
da cavidade abdominal, sobressaíam-se imediatamente as alças intestinais
dilatadas, com aspecto extremamente hemorrágico e de coloração de
vermelho-intenso a preta (Fig. 2). No interior da cavidade abdominal, aparecia
líquido sangüíneo e ?letes
de ?brina sobre as vísceras.
O intestino delgado (ID), exceto o duodeno, apresentava-se hemorrágico e com
efusão sanguinolenta para o lúmen, enquanto que o intestino grosso (IG) estava
apenas distendido por gases e levemente congesto. Além disso, as veias do
mesentério e da sub-serosa encontravam-se calibrosas e repletas de sangue.
No suíno normal (Fig. 1), a extremidade do ceco encontra-se apontado caudalmente. Nos casos de TM (Fig. 2), e ele é visto
apontado cranealmente no quadrante anterior direito
do abdômen, re?etindo uma
rotação da massa intestinal de aproximadamente 180 graus, em torno da raiz do
mesentério. Esta torsão, geralmente se dá no sentido
anti-horário, quando o animal é observado em decúbito dorsal, da posição ventro-caudal. Embora o ID se apresentasse extremamwente hemorrágico, ao exame histológico sua mucosa
estava normal. Isto signi?ca que a efusão de sangue para o lúmen intestinal é
uma consequência da torsão
e da oclusão das veias do mesentério. O duodeno não é afetado, porque a
drenagem venosa é separada do resto do ID. As alterações encontradas, nestes
casos de TM, coincidem com as descritas em outros trabalhos sob a denominação
de síndrome de hemorragia intestinal; e, baseados neste fato, supõe-se
tratar-se do mesmo problema, ou seja, são consequências
da TM.
Na granja em que foram diagnosticados estes casos de TM, a ração, à base de
milho, farelo de soja e premix, era peletizada e fornecida à vontade aos suínos em crescimento
e terminação. Ademais, cinco das sete mortes ocorreram em ?nais de semana, em que apenas um funcionário
trabalhava em substituição à dois nos dias úteis. Assim sendo, pressupõe-se que
outros fatores, principalmente ligados ao manejo
da alimentação podem estar envolvidos no desencadeamento da TM, uma vez que não
recebiam alimentos altamente fermentáveis, como é o caso do soro de leite,
incriminado em outras criações.
Para ?rmar o diagnóstico
de TM, deve-se levar em conta:
No diagnóstico diferencial, a presença de sangue no conteúdo do ID em suínos
de crescimento e engorda pode também ser uma consequência
do sangramento de úlceras gástricas ou devido à enteropatia
hemorrágica proliferativa associada ao Campylobacter.
Figura 1 – Suíno visto da posição ventro-caudal;
posição normal das vísceras.
Figura 2 – Suíno visto da posição ventro-caudal;
posição das vísceras alteradas devido à torção do mesentério. A) ceco, B) ID
hemorrágico, C) cólon dilatado, D) tórax.