Publicado o: 10/04/2013
Autor/s. : Prof. Dr. Caio
Abércio Silva, Ana Maria Bridi e Graziela Drociunas
Pacheco, Profs. Drs. do Deptº de Zootecnia,
Universidade Estadual de Londrina -UEL-, PR; Julian Cristina Borosky e Roberta Abrami Monteiro
Silva, Discentes de Mestrado em Ciência Animal, UEL, PR, e Marco Antonio Rocha,
Prof. Dr. Aposentado do Deptº de Zootecnia, UEL, PR.
Sumário
O objetivo deste trabalho foi avaliar o desempenho, a produção de fezes e a digestibilidade dos principais nutrientes da ração de
suínos de diferentes genótipos. Foram utilizados 48 animais (24 machos
castrados e 24 fêmeas), entre 50,81 ±
Palavras-chave: Dejetos,
digestibilidade, método de coleta parcial
Introdução
A produção de suínos com alto rendimento de carne magra, de boa qualidade
sensorial e industrial, e sob baixo custo corresponde aos principais objetivos
do setor suinícola, determinando uma intensa seleção
genética para índices de crescimento, desenvolvimento muscular e para um alto
número de desmamados (HANENBERG; KNOL; MERKS, 2001; SILVA et al., 2003).
Este quadro tem consolidado a estruturação da suinocultura industrial com
linhagens comerciais melhoradas de alta performance,
embora ainda existam granjas que preservam animais puros ou cruzados, mas não
necessariamente melhorados, e produtores que não investem no avanço genético,
mantendo uma consanguinidade decorrente da retirada
de matrizes de reposição do próprio plantel.
Esta diversidade de procedimentos tem resultado em índices de produção
bastante distintos, com repercussões diretas nos parâmetros de desempenho, com
grandes variações no aproveitamento dos nutrientes das rações e, por consequência, na produção de fezes e no perfil poluente dos
dejetos.
A preocupação atual com a minimização da capacidade poluente gerada pela
suinocultura é crescente. Muitos trabalhos apontam que a quantidade de fezes e
a qualidade poluente desta são influenciadas pela quantidade, composição e
forma física do alimento, pelo sexo, peso vivo, pelas atividades desenvolvidas,
pela temperatura, umidade, pelo nível de fibra e proteína na ração, além do
volume de água ingerida (CLANTON; NICHOLS; MOSER, 1991; OLIVEIRA, 1994; BELLI FILHO,
1995), mas existem poucos trabalhos que relacionam a produção de fezes com a
base genética dos animais.
Algumas tabelas de nutrição têm levado em consideração a relação das
características genéticas com as exigências nutricionais (NRC, 1998; ROSTAGNO et al., 2011), mas há poucas
referências que tratam deste fator com a produção de fezes.
O objetivo deste trabalho foi identificar os resultados dos diferentes
genótipos suínos sobre o desempenho zootécnico, a produção de fezes e a digestibilidade dos principais nutrientes da ração.
Material e Métodos
O experimento foi conduzido no Setor de Suinocultura da Fazenda Escola da
Universidade Estadual de Londrina. Foram utilizados 48 animais (24 machos
castrados e 24 fêmeas), com peso médio inicial de 50,81 ±
O delineamento experimental utilizado foi inteiramente casualizado
em arranjo fatorial 4x2 (4 padrões genéticos e 2 sexos), onde cada baia
representou uma repetição.
Os animais foram alojados em baias de alvenaria, com
Tabela 1. Composição
percentual e calculada da ração experimental utilizada na fase de crescimento (
Para avaliação do desempenho (50 até
Para a determinação da digestibilidade da proteína
bruta, da matéria seca, da fibra bruta e do fósforo das rações pelas diferentes
genéticas, foi adotada a técnica da coleta parcial de fezes (OETTING, 2002),
utilizando como marcador o óxido crômico a 0,3 %.
A análise da digestibilidade e a avaliação da
produção de fezes foram iniciadas quando os animais estavam com 62,71 ±
O cálculo dos coeficientes de digestibilidade pela
técnica da coleta parcial das fezes foi realizado de acordo com a equação
proposta por Nose (1966):
Baseado nos resultados de digestibilidade da
matéria seca e no consumo de ração durante o período experimental foi calculada
a produção diária e total de fezes no período.
Os dados foram submetidos à análise de variância, utilizando-se o programa
SAEG (UFV, 1997) e as médias foram comparadas utilizando-se o teste de Duncan a
5%.
Resultados e Discussão
De acordo com os resultados de desempenho (Tabela 2), suínos híbridos melhorados
para a produção de carne apresentaram maior ganho diário de peso (P<0,05)
quando comparados a híbridos selecionados para prolificidade,
não havendo, contudo, diferença entre os demais grupos. A linhagem selecionada
para carne apresentou melhor conversão alimentar (P<0,05) em relação às
outras linhagens, indicando elevada eficiência de transformação. Também os
animais de genótipo voltado para prolificidade
demandaram mais tempo para atingir o mesmo peso final (
Os suínos machos castrados apresentaram maior ganho diário
de peso, maior consumo diário de ração e pior conversão alimentar (P<0,05).
A menor transformação de alimento em carne dos machos castrados deve-se à maior
deposição de tecido adiposo na carcaça (LARZUL et al., 1997). As diferenças entre os sexos foram
semelhantes às observadas por Cisneros et al. (1996) e Hamilton et al. (2003). Em geral, suínos castrados cirurgicamente ou
via imunização apresentam maior consumo de ração que animais inteiros
ou fêmeas, o que pode ser atribuído aos menores níveis de andrógenos
séricos (WEILER et al., 1996). Este excesso de
consumo se traduz em mais ganho de peso e em maior deposição de tecido adiposo,
cuja demanda por nutrientes é efetivamente maior, o que justifica a pior
conversão em relação às fêmeas.
Tabela 2. Médias para as características ganho diário de peso (GDP),
consumo diário de ração (CDR) e conversão alimentar (CA) e tempo em dias para
atingir
Quanto à produção total e diária de fezes dos diferentes
grupos genéticos e gêneros foram observadas diferenças (P<0,05) para a
primeira característica (Tabela 3), onde os animais provenientes de programas
comerciais de melhoramento genético para desempenho e produção de carne (híbridos
carne) apresentaram menor produção total de fezes no período avaliado,
comparados com os animais híbridos para prolificidade.
Contudo, não foi observada diferença destes grupos com os animais provenientes
de cruzamentos entre Large White x Landrace e sem seleção. Animais selecionados para carne
apresentaram consumo de ração semelhante ao grupo genético selecionado para prolificidade, porém tiveram maior ganho diário de peso e
melhor conversão alimentar (P<0,05), o que reverte
em menor produção de fezes. Para a produção diária de fezes com base na matéria
seca, não foi observada diferença entre os grupos genéticos.
Tabela 3. Médias
para as características de produção total de fezes com base na matéria natural
(PFMN) e produção diária de fezes com base na matéria seca (PFMS) das
diferentes linhagens genéticas e gêneros.
Para o parâmetro digestibilidade não foi observada
diferença estatística entre as linhagens para os índices de digestibilidade
da proteína e da matéria mineral (Tabela 4). Entretanto, os resultados indicam
que animais sem seleção apresentaram o pior índice de digestibilidade
para matéria seca (P<0,05). Para a digestibilidade
do fósforo o grupo sem seleção também apresentou resultados inferiores aos
demais (P<0,05), sendo que os animais do grupo melhorado para carne
demonstraram melhor (P<0,05) aproveitamento do fósforo em relação ao grupo Large White x Landrace, mas não
diferiram dos animais híbridos selecionados para prolificidade
(Tabela 4).
Tabela 4. Digestibilidade da matéria seca (DMS), do fósforo (DP), da
proteína bruta (DPB) e da matéria mineral (DMM) de acordo com os grupos
genéticos e gêneros.
Quanto ao gênero não foi observada diferença entre machos e fêmeas para
todos os parâmetros analisados e também não se verificou interação entre os
fatores (Tabela 4).
As diferenças de digestibilidade observadas entre
grupos genéticos distintos identificam-se as afirmações de Qin
et al. (2002), que atribuem
que a capacidade digestiva entre estas populações, principalmente na estrutura
do intestino grosso e, portanto, na habilidade da digestão da fibra dietética,
é determinante para o parâmetro. Os autores relatam também que as variações
entre grupos genéticos para estes índices são maiores entre animais melhorados
e não melhorados. Ndindana et al. (2002), avaliando a digestibilidade
de rações com alta fibra em suínos nativos (Mukota pigs) e em animais Large White,
verificaram melhores índices de digestibilidade para
os animais nativos, sendo o resultado provavelmente atribuído à maior
capacidade proporcional do intestino grosso. Entretanto, Rizzi
et al. (2007), trabalhando
com animais provenientes de cruzamentos entre Large
White X Landrace e uma raça local da Itália,
verificaram piores valores de digestibilidade para os
animais nativos.
Conclusão
A seleção e o melhoramento genético são instrumentos efetivos para a
promoção do desempenho e da eficiência alimentar dos suínos e identificam-se
como recursos para a redução quantitativa da condição poluente de suas fezes.
Suínos melhorados para produção de carne magra mostraram ser
superiores na transformação de alimento em carne, apresentaram melhores índices
de digestibilidade e determinaram menor produção
fecal.