Autor/s. : Paulo Armando
Victória de Oliveira e Alexandre Matthiensen,
pesquisadores da Embrapa Suínos e Aves; Vitor Hugo Grings,
analista da Embrapa Suínos e Aves, e Jacir José
Albino, Levino José Bassi e
Paulo César Baldi, assistentes da Embrapa Suínos e
Aves.
Introdução
O problema de escassez de água doce é uma realidade em várias partes do
mundo. Porém, até mesmo países, ou algumas regiões de determinados países, onde
a carência de água normalmente não é um problema, também sofrem em algumas
épocas do ano com períodos de estiagem, falta de armazenamento ou má
distribuição da água. A ausência sistemática desse recurso natural é cada vez
mais preocupante, principalmente em áreas onde a produção agropecuária é
intensa.
A água é um componente essencial para a sobrevivência humana e animal, sendo
um recurso limitado, portanto, deve ser usada de forma racional. O elevado
consumo de água nas regiões de produção intensiva, aliado à falta de programas
de gestão da água, vem reduzindo sua disponibilidade, principalmente as de
fontes mais superficiais. A água doce é o elemento mais precioso da vida na
terra. As águas doces são utilizadas basicamente para a nossa alimentação e dos
animais e são exclusivamente continentais. A água é uma riqueza natural e
essencial para a vida humana e animal. Cuidar dela é muito importante para a
sobrevivência da humanidade. Não podemos desperdiçar e nem poluir a água, de
nascentes, córregos, riachos, rios, lagos, oceanos e dos lençóis subterrâneos.
A captação e o armazenamento da água de chuva é uma
ótima alternativa para minimizar o problema de estiagens severas em algumas
épocas do ano. Para utilização desta água, devemos prestar atenção em dois
aspectos principais: se a mesma for utilizada para o consumo animal, ela deve
ser analisada e receber tratamento adequado que garanta sua qualidade; se for
utilizada para outros fins (por exemplo, descarga de vasos sanitários, na
lavagem de carros, na lavagem de calçadas, ou na irrigação de jardins) seu
tratamento é mínimo, e não necessita de análise de qualidade.
A captação da água da chuva pode ser realizada em telhados de casas ou demais
construções da propriedade, utilizando-se calhas e encanamentos condutores e,
logo após, armazenando essa água em cisternas ou outro tipo de reservatório. O
volume desses reservatórios deve ser calculado em função da demanda de água na
propriedade. As cisternas e reservatórios devem receber os mesmos cuidados
exigidos para as caixas d'água, no que se refere a materiais apropriados,
limpeza, etc. E é importante que as primeiras águas coletadas da chuva sejam
descartadas devido ao fato de arrastarem as impurezas existentes no local de
captação (telhados) e encanamentos e, portanto, devem ser desviadas dos locais
de armazenagem por meio de instalação de registros específicos.
Coleta e armazenamento da água da chuva
A água é considerada um nutriente que muitas vezes não têm
sido valorizado por produtores e técnicos; porém, sem ela não há vida.
Nos animais recém-nascidos a proporção de água é maior do que nos adultos,
sendo que nos adultos ela pode atingir cerca de 75% do
seu peso. Os consumos de alimento e água proporcionam energia e nutrientes,
para que o organismo possa desempenhar suas funções de crescimento e
manutenção, inclusive auxiliando nas trocas de calor com o meio ambiente, para
a regulação da temperatura corporal.
As restrições de água trazem desajustes fisiológicos de difícil reparação,
diminuindo volume sanguíneo, aumentando a concentração de toxinas na urina,
aumentando a respiração e reduzindo o ganho de peso dos animais.
Vantagens do aproveitamento da água da chuva
• Combate à escassez de água em períodos de estiagem ou de maior demanda, em
regiões de produção intensiva de suínos e aves;
• Reduz o consumo de água potável na propriedade, e o custo de fornecimento da
mesma;
• É gratuita, ou seja, não faz parte do Plano Nacional de Recursos Hídricos
(PNRH), portanto não tem valor econômico previsto em Lei (Art. 1º, Inc. II, Lei
9433/1997);
• Evita a utilização de água potável onde esta não é necessária, como por
exemplo, na lavagem de piso na suinocultura e avicultura, descarga de vasos
sanitários, irrigação de hortas e jardins, etc,
desonerando o abastecimento público;
• Apresenta a conveniência do suprimento (captação) acontecer no próprio local
ou próximo do local de consumo;
• Contribui para uma melhor gestão e distribuição de águas nas regiões de
produção intensiva de suínos e aves;
• É de fácil manutenção, e possui tecnologias disponíveis flexíveis e
adaptáveis a diferentes terrenos e propriedades;
• A água captada possui qualidade aceitável, principalmente se captada nos
telhados;
• Contribui com a conservação de água, a autossuficiência
e a uma postura ambientalmente correta perante os problemas ambientais
existentes no meio rural.
Desvantagens do uso de água da chuva
• Seu suprimento é limitado, ou seja, é função da quantidade de precipitação
na região, e da área de captação (por exemplo, área total de telhados).
Qualidades da água da chuva
A água para consumo animal deve ser potável, ou seja, não ter a presença de
coliformes fecais, matéria orgânica, bactérias e substâncias tóxicas que podem
causar doenças, e atender os requisitos mínimos de potabilidade
estabelecidos pelo Ministério da Saúde, através da Portaria Nº 2914, de 12 de
dezembro de 2011. Porém, a água pode ter vários outros usos domésticos, sendo
que muitos deles são regulados pela Resolução CONAMA Nº 357, de 17 de março de
2005 (por exemplo, irrigação de hortaliças, dessedentação
de animais, etc.).
De um modo geral, a água da chuva possui boa qualidade. Antes de sua
precipitação ela passa por um processo que poderia ser descrito como uma
"destilação natural". Esse processo faz parte do ciclo hidrológico
(Figura 1), envolvendo as etapas de evaporação, condensação e precipitação, e
realizando uma purificação parcial da água. Porém, dependendo da região na qual
isso ocorre, a água da chuva pode apresentar poluentes em sua composição,
captados da atmosfera, principalmente se essa chuva se formar próxima a grandes
centros urbanos ou industriais. O pH da água da chuva
normalmente é neutro, variando de levemente ácido a levemente alcalino (
Figura 1. Esquema
simplificado do ciclo hidrológico
Captação, filtração e armazenamento da água da chuva
Na construção das cisternas deve-se observar a legislação vigente quanto ao
local e às distâncias que ela deve situar-se das edificações existentes,
sistemas de produção de suínos e aves e divisas, para minimizar os conflitos e
os riscos de contaminação.
Nos projetos de cisternas deve-se primeiro identificar o objetivo da coleta
da água. Se for para dessedentação animal, é preciso
submetê-la a um sistema de filtração eficiente e armazenamento. Neste caso, o
projeto será constituído por três processos básicos:
• Sistema de coleta;
• Sistema de filtração;
• Sistema de armazenamento;
Figura 2.
Componentes do sistema de filtração da água da chuva para dessedentação
animal
Se o objetivo for uso doméstico da água, como para sanitários, irrigação de
jardins ou limpeza de calçadas, por exemplo, o pré-filtro para retirada de
folhas e detritos, antes da cisterna, é suficiente.
Sistema de coleta (captação)
As captações de água para uso doméstico normalmente são feitas de três
formas: de mananciais de superfície (lagos, represas, rios, etc.), de águas
subterrâneas (poços profundos e artesianos) e da água da chuva. O sistema de
captação de água da chuva é realizado nos telhados das construções das
propriedades. Para isso, os telhados devem ser limpos e bem cuidados,
impermeabilizados, estarem livres de rachaduras ou de vegetações, e serem
construídos de material não tóxico. Superfícies lisas são as melhores para a
captação (telhas de barro, de cimento etc.). É a área total dos telhados onde é
realizada a captação que vai ser diretamente responsável pela quantidade de
água captada.
Nas bordas dos telhados há um conjunto de calhas instaladas para o
recolhimento da água da chuva (Figura 3). As calhas de coleta podem ser em PVC, metálica ou mista (Figura 4). No
caso de calhas usadas em edificações para a produção de suínos e aves, é
aconselhável que o material usado na sua construção seja em PVC, para uma maior
durabilidade, quando comparado com calhas metálicas, pois não são atacados
pelos gases gerados no local de produção animal, principalmente o H2S,
que podem causar a corrosão das calhas construídas com materiais metálicos.
Figura 3. Ilustração
de instalação do sistema de calha e cano condutor
Os encanamentos condutores normalmente são feitos por um conjunto de tubos,
em geral com diâmetro de
Figura 4. Exemplos
de calha coletora e condutor auxiliar em telhados de
granjas
Dimensionamento das calhas de coleta
As calhas de chapas galvanizadas estão sendo gradativamente substituídas
pelas calhas de PVC (recomendadas), em virtude de custo e durabilidade.
A declividade recomendada deve ser de 0,5% em direção à saída e podem ser
dimensionadas pela fórmula de Mannig:
onde:
Q = vazão (l/min)
A = seção molhada (m2)
RH = raio hidráulico (m)
I = declividade (m/m)
O coeficiente de rugosidade n depende do material da calha. Usualmente é
adotado o valor de 0,011 como coeficiente n para
calhas de plástico, fibrocimento, aço e metais não ferrosos (Fonte: NBR
10.844/1989 – ABNT).
Quando houver mudança de direção da calha, nas proximidades da saída (até
Tabela 1.
Coeficientes multiplicativos de vazão de projeto
As calhas semicirculares podem ser dimensionadas com altura de lâminas d´água igual ao raio (A= 0,3927 .
D2 e RH = 0,25 . D).
Com a lâmina d´água
determinada na calha e n = 0,011, as capacidades destas calhas encontram-se na
Tabela 2, para valores de diâmetro e declividades usuais:
Tabela 2.
Capacidades de calhas semicirculares com coeficientes de rugosidade n = 0,011 (vazão em l/min.)
Estimativa de capacidade dos condutores verticais
Quando houver necessidade de mudança da direção ou de ligação com condutores
horizontais, devem ser usadas curvas de 90º de raio longo ou curvas de 45º,
devendo ser previstos locais para inspeção e desobstrução. O diâmetro mínimo
recomendado é DN 75 (3").
A capacidade máxima dos condutores verticais pode ser estimada para
escoamento em seção plena e limites de velocidade indicados pelo " National Plumbing Code" (EUA), conforme Tabela 3.
Tabela 3. Condutores
verticais seção circular – área máxima de contribuição em m2
A norma brasileira NBR 10844/1989 adota, para dimensionamento de condutores
verticais, ábacos que associam a vazão, a altura da lâmina d´água na calha e o comprimento do condutor vertical.
Sistema de filtração
A filtração é um processo de
separação sólido-líquido, envolvendo
fenômenos
físicos, químicos e, às vezes, biológicos.
Visa principalmente a remoção das impurezas contidas na água que são retidas
através de um meio poroso. A filtragem da água da chuva é um processo
necessário para retirar partículas macroscópicas em suspensão que são
arrastadas pela água ao passar pela cobertura das edificações. Este processo
compreende o pré-filtro, depósito da primeira água da chuva e os filtros.
Pré-filtração
O pré-filtro é uma estrutura que pode ser construída em concreto, PVC, fibra
de vidro ou alvenaria (exemplos nas Figuras 5 e 6). Tem objetivo de retirar
detritos maiores, como galhos e folhas, antes da passagem pelos filtros da
cisterna.
O pré-filtro é uma estrutura que pode ser construída em concreto, PVC, fibra
de vidro ou alvenaria (exemplos nas Figuras 5 e 6). Tem objetivo de retirar
detritos maiores, como galhos e folhas, antes da passagem pelos filtros da
cisterna.
Modelos de pré-filtros para retirada de galhos e folhas em áreas de captação
de até
Figura 5.
Pré-filtros, comerciais e artesanais, para área de captação de até 200m2
Modelos de pré-filtros para retirada de galhos e folhas em áreas de captação
maiores que
Figura 6. Exemplo de
pré-filtro para área de captação maior que
Depósito da primeira água da chuva
Este depósito (Figuras 7 e 8) visa descartar o primeiro volume de água da
chuva, também chamada de água de limpeza do telhado. Ele deverá ser
dimensionado calculando-se a área de telhado disponível para captação
multiplicado por
Detalhe do sistema de boia (7b) e escoamento
(descarte) da água (7c).
Figura 7. Exemplo de
reservatório para descarga da primeira água da chuva 18 Aproveitamento da água
da chuva na produção de suínos e aves
Sugestão para construção do dispositivo boia para
retenção da primeira água da chuva.
Figura 8. Desenho
esquemático de exemplo de depósito para primeira água da chuva, com dispositivo
boia
Filtros (filtração)
A água destinada a uma cisterna ou reservatório deve passar por um sistema
de filtração eficiente antes de seu armazenamento. Para sistemas de captação de
água de telhados e coberturas, recomenda-se a utilização de filtros rápidos
(Figura 9), devido ao grande volume de água captado e sua rapidez de passagem
pelo sistema.
Quando desejamos fazer o tratamento de água podemos usar filtros de areia
média e fina. Porém, como nosso propósito é um filtro rápido, para vencer a
vazão da água proveniente dos telhados, optamos pelo uso da pedra britada, pois
a água será tratada posteriormente.
Sistema de filtração rápida para grande vazão, utilizando caixas de fibra (
Figura
Limpeza do pré-filtro, filtros e cisterna
A limpeza do pré-filtro deverá ocorrer sempre que houver acúmulo de
partículas. Recomenda-se que a limpeza dos filtros seja feita em épocas de
estiagem. Em períodos de maior precipitação ou em casos onde o sistema esteja
instalado próximo a estradas rurais ou locais com bastante verde, o acúmulo de
partículas (poeira, folhas) no sistema também será maior e a limpeza deverá ser
mais frequente.
A limpeza dos filtros poderá ser feita de duas a três vezes ao ano, dispondo
o material filtrante (pedras) sobre uma lona plástica para a limpeza com água
sob pressão. Em alguns locais e pela disponibilidade o produtor poderá optar
pela troca do material filtrante (pedras).
A limpeza da cisterna poderá ser anual e em épocas quando a propriedade não
dependa desta água armazenada. Providenciar a limpeza com água e sabão neutro e
enxaguar corretamente.
Na Figura 10 vemos uma representação esquemática do sistema de coleta e
filtração da água da chuva montado com os seguintes componentes:
1 - Calha;
2 - Pré-filtro;
3 - Depósito para primeira água da chuva;
4 - Filtros de passagem rápida;
5 - Saída para cisterna.
Figura 10. Desenho
esquemático de instalação do sistema de coleta da água da chuva com pré-filtro,
depósito para primeira água da chuva, e três filtros rápidos
Sistema de armazenamento
Cisternas são reservatórios fechados, construídos para o armazenamen-to
de água da chuva. Tiveram sua origem em vilarejos no período Neolítico, na
região conhecida como Levante (área do Oriente Médio). Antigamente, cisternas
eram construídas no subsolo de residências, armazenando água para finalidades
diversas. Mais tarde, cerca de 4.000 anos a.C., as cisternas foram um dos
elementos essenciais das técnicas emergentes de manejo
de água em comunidades agropecuárias.
Atualmente, as cisternas ou reservatórios podem ser construídos com
diferentes materiais, tais como lonas de PVC ou PEAD, fibra de vidro,
alvenaria, ferrocimento ou concreto armado (Figuras
11, 12, 13 e 14). Os materiais mais empregados para pequenos volumes de água
são construídos em fibra de vidro e alvenaria e para grandes volumes de água em
PVC, PEAD ou concreto armado.
As cisternas podem ser enterradas ou ao nível do solo. Em cisternas enterradas,
a temperatura resultante da água de armazenamento é menor, reduzindo o
desenvolvimento e a proliferação de microrganismos. Cisternas construídas ao
nível do solo sofrem a ação dos raios solares, resultando em uma tendência ao
aumento da temperatura da água armazenada. Porém, são construídas de forma a
não permitirem a entrada de luz solar, evitando assim o crescimento de
microalgas e demais organismos em seu interior.
De uma forma geral, cisternas em alvenaria são mais sujeitas a fissuras e
rachaduras. As cisternas devem ser cobertas para evitar a entrada de impurezas,
matéria orgânica, e devem ter proteções em todas as entradas e saídas de água
para evitar a entrada de insetos e demais animais que possam contaminar a água.
Tipos de cisternas e reservatórios
Reservatórios em PVC (cloreto de polivinila)
Figura 11. Exemplos
de reservatórios de água em PVC
Reservatórios em alvenaria ou concreto armado
Figura 12. Reservatórios
construídos em concreto armado
Reservatórios em fibra de vidro
Figura 13.
Reservatório em fibra de vidro
Reservatório em PEAD (polietileno de alta densidade)
Figura 14. Reservatório
em PEAD
Recomendações de uso de água da chuva na produção de suínos e aves
A água da chuva, captada e armazenada em cisterna quando for destinada para
a dessedentação de animais, deve necessariamente
passar por várias outras etapas para se garantir um mínimo de qualidade, que
possibilitará seu uso específico. As principais etapas são:
• Identificação da demanda de água na produção de suínos e aves;
• Dimensionamento da cisterna em função da demanda de água calculada para a
produção de suínos e aves na propriedade e área de telhado disponível para
captação;
• Construção da cisterna em função do objetivo do uso da água;
• Desinfecção da água (cloração) para uso na alimentação animal
1ª Etapa - Identificação de demanda de água na produção de suínos e
aves
Usualmente os suínos bebem mais água do que necessitam, podendo chegar ao
exagero quando o alimento é escasso. Em situações livres de estresse, a
ingestão diária corresponde a 5 ou 6% do peso corporal, ou seja,
Figura 15. Desperdício
de água na falta de cuidado e regulagem
Tabela 4.
Recomendação da necessidade de água para atender o consumo de suínos em função
da fase produtiva
Na produção de frangos de corte a questão da água está estritamente
relacionada ao consumo pelas aves, pelos equipamentos em uso e pela água
utilizada na limpeza e higienização dos galpões, ao fim de cada ciclo de
produtivo. Os consumos médios de água para cada 1.000 frangos de corte e para
poedeiras podem ser observados nas Tabelas 5 e 6.
Tabela 5. Consumo
médio diário de água para 1.000 frangos de corte criados a temperatura de 21ºC,
para cada semana de produção
Tabela 6. Consumo
médio semanal de água para 100 aves poedeiras
A escolha de bebedouros e equipamentos (nebulizadores)
a serem usados na produção de suínos e aves é importante. Os equipamentos devem
ser criteriosamente escolhidos junto ao fabricante e à assistência técnica,
pois podem gerar um consumo exagerado de água nos sistemas de produção.
Após identificar a demanda de água da produção, deve-se calcular o potencial
de captação de água dos telhados das instalações e definir o volume total da
cisterna.
2ª Etapa - Dimensionamento da cisterna em função da demanda de água
para a produção animal e a área de telhado disponível para captação
O dimensionamento da cisterna deverá ocorrer em função de alguns
indicadores:
• Área de telhado disponível para captação da água da chuva: o produtor
poderá utilizar a área de telhado dos aviários e/ou das edificações para
produção de suínos, ou ainda telhados próximos que permitam a captação da água
da chuva. O somatório das áreas será a área total de coleta;
• Precipitação média: informação dos dados hidrometeorológicos
da região. Para determinar a precipitação média mensal de sua região é possível utilizar-se de dados dos Serviços de Meteorologia
Oficiais e Privados, Embrapa, Instituições, Órgãos e Universidades;
• Tempo de armazenamento: a cisterna deve atender a demanda da propriedade em
função do consumo estimado por um período mínimo de 15 dias;
• Fator de evaporação do sistema: considerar um acréscimo de 10% no volume de
reserva estimado para compensar a perda por evaporação do sistema.
Dimensionamento da cisterna em função da demanda de água na
propriedade
Para o dimensionamento da cisterna em função da demanda de água na
propriedade é necessário determinar as seguintes variáveis
• Volume necessário da cisterna;
• Área de telhado necessária para captação.
Cálculo do volume da cisterna
Vc
= (Vd x Ndia) + 10%
Sendo:
Vc = Volume da cisterna (m3)
Vd = Volume da demanda de água diária (m3)
Ndia = número de dias de armazenagem (15 dias)
10% = acréscimo no cálculo do volume em função da evaporação.
Após determinar o volume da cisterna necessário para o atendimento das
atividades de produção animal na propriedade, calculamos a área de telhado para
coleta do volume necessário de água.
Importante: Leve em consideração que a precipitação de
Figura 16.
Estimativa para conversão de milímetros de chuva em litros de água, em função
da área de captação
Área de telhado necessária para atender o volume de captação da água da
chuva (obtido no cálculo anterior)
Cálculo do escoamento superficial
Do total da água precipitada sobre o telhado, apenas uma parcela que escoa
sobre a superfície é aproveitada. O restante é perdido por infiltração,
evaporação e respingos. A proporção entre o que escoa e o que
é perdido depende de fatores como declividade do telhado, temperatura,
vento, impermeabilização, etc.
A relação entre a vazão de escoamento e a intensidade média da chuva é dada
pelo coeficiente C. AZEVEDO NETO et
al, 2006 cita o valor médio de 0,85 para C. Na
fórmula, será utilizado o valor de 1,15, já considerando as perdas de água na
precipitação e escoamento que ocorrem no telhado.
Cálculo da área de telhado
A = (Vc
/ Prec_período) x C
Sendo:
A = Área total de telhado, em metros quadrados, necessária para captação de
água,
Vc = volume da cisterna: dado pelo cálculo da fórmula
anterior,
Prec_período = Precipitação pluviométrica (chuva)
média na região de acordo com dados obtidos,
C = Coeficiente de escoamento, utilizar o valor de 1,15 para cálculo do
projeto.
Em função dos cálculos acima, o produtor pode dimensionar o consumo estimado
de água para as atividades de produção agropecuária na sua propriedade, e ainda
a área disponível de telhado total para captação da água da chuva.
3ª Etapa – Construção: avaliação das necessidades para escolha da
cisterna e do modelo do sistema de captação
Em primeiro lugar, deve-se definir o objetivo da captação e aproveitamento
da água da chuva, ou seja, definir qual será seu "uso". Se a intenção
for utilizar a água para limpeza de pisos, baias de produção ou até mesmo em
descargas de sanitários e outras limpezas residenciais, não há necessidade de
sistemas sofisticados de filtração nem tratamento (cloração) da água (um
exemplo desse sistema na Figura 17) para o armazenamento na cisterna.
Entretanto, se o objetivo for a dessedentação
animal, recomenda-se que a água seja tratada, passando por um sistema de
filtração (ver Figura 10) e, após o armazenamento, por um sistema de
desinfecção antes de ser usada, conforme descrito a seguir. É
importante que sejam realizadas limpezas periódicas nos reservatórios, calhas,
telas e tubos. Independente da utilização, é
importante que a primeira água da chuva do telhado passe por um processo de
pré-filtração, cujo principal objetivo é a retirada de galhos, folhas e outros
detritos que possam estar depositados na cobertura. Há no mercado modelos
comerciais de pré-filtros, porém o produtor poderá construir modelos
alternativos em PVC. O importante é providenciar a retirada dessas impurezas
maiores, evitando que elas entrem no sistema de filtragem, comprometendo seu
funcionamento.
Figura 17. Desenho
esquemático de modelo de sistema de captação e armazenamento de água para uso
em que não envolva o consumo animal (por exemplo, para limpeza de pisos, baias
de produção, descargas de sanitários, etc.)
A etapa de construção ou aquisição/instalação de uma cisterna responde por
cerca de
4ª Etapa - Desinfecção: tratamento básico com cloração para
possibilitar o uso na dessedentação animal
A água armazenada dentro das cisternas muitas vezes pode não ser potável.
Nunca use a água da chuva para fins potáveis (como beber, fazer comida, lavar
verduras, legumes, frutas, louças, tomar banho ou lavar roupas) sem antes ter
um laudo técnico que autorize esse uso. O monitoramento e análise da qualidade
da água de consumo são fundamentais. O produtor poderá solicitar apoio junto
aos laboratórios locais, Universidades, Serviços de Extensão Rural e
Secretarias de Agricultura que poderão realizar ou encaminhar análise e
verificação da qualidade da água de acordo com os padrões oficiais de potabilidade. O primeiro passo é a coleta da amostra.
Coleta de amostra: de preferência utilizar frascos estéreis retirados em
laboratório.
1. Desinfetar a área externa da torneira ou tubulação com álcool.
2. Flambar a torneira ou tubulação se o material for resistente ao fogo.
3. Deixar a água fluir durante doia a três minutos.
4. Desinfetar as mãos com álcool.
5. Abrir o frasco de coleta cuidando para que a parte interna da tampa não
entre em contato com a mão ou qualquer outro objeto.
6. Deixar encher o frasco de colheita até ¾ de sua capacidade.
7. Fechar o frasco de colheita.
8. Colocar o frasco de colheita em saco plástico.
9. Acondicionar o frasco em um isopor com gelo.
Particularidades:
• Para colher água de poços que não possuem uma tubulação ou torneira de
descarga, deve-se utilizar, de preferência, um balde
de metal. Lavá-lo interna e externamente, desinfetá-lo com álcool e flambá-lo.
Submergir o balde na água após a flambagem
e, quando cheio, verter a água para o frasco estéril até ¾ de sua capacidade;
• Para colher água de reservatórios, utilizar o próprio frasco de coleta usando
uma pinça de braços longos. Havendo essa impossibilidade, proceder como na
colheita de poços;
Recomenda-se que a amostra de água seja encaminhada a um laboratório para
realização de análises da qualidade e potabilidade.
De posse dos resultados, o próximo passo é avaliar seu uso para consumo
animal e verificar a necessidade de cloração. A cloração é uma das formas mais
eficientes para tratamento da água.
No caso de águas provenientes de cisternas, a cloração para consumo animal
vai ocorrer na caixa de água que abastece a instalação. A captação d'água da
cisterna deverá ser a
Há alternativas disponíveis no mercado para tratamento de águas de consumo,
utilizando soluções de hipoclorito de cálcio ou hipoclorito de sódio. Algumas
técnicas mais comuns são:
• Clorador manual:
O modelo de clorador da Embrapa Instrumentação
Agropecuária é de baixo custo de construção. Os materiais podem ser adquiridos
em Casas Agropecuárias ou Lojas de materiais de construção. Utiliza Cloro
granulado. Requer alimentação do sistema de cloração para cada enchimento da
caixa de água. Informações sobre construção, instalação e manuseio em
www.cnpdia.embrapa.br, ou solicitar em Embrapa Instrumentação Agropecuária, Rua
XV de Novembro, 1452, São Carlos – SP, Caixa Postal 741, CEP 13560-970, Tel.
(16) 3374-2477.
• Modelos de cloração com pastilhas: utiliza-se cloro
granulado, de preferência estabilizado, que normalmente contém 60% desse
elemento químico, na forma de pastilhas de hipoclorito. Ex: hipoclorito de cálcio.
O monitoramento é periódico para acompanhar a dissolução da pastilha. Há no
mercado equipamentos disponíveis para a cloração da água utilizando pastilhas.
• Sistemas ultravioletas: utilizam processos de irradiação
ultravioleta para eliminação de vírus e bactérias. No sistema também é possível
prever a retirada de detritos maiores que possam interferir na irradiação
ultravioleta.
Dosagem de cloro no método da cloração
A Tabela 7 contém dosagens diferenciadas em função do produto à base de
cloro (hipoclorito de sódio) a serem utilizados em função do volume de água a
ser tratado. Recomendam-se no mínimo 30 minutos antes de consumir a água
clorada. É recomendável clorar pequenos volumes de água, o suficiente para
atender o consumo dos animais por poucos dias (em torno de uma semana).
Tabela 7. Quantidade
de produto à base de cloro líquido para tratamento da água destinada ao consumo
animal
Considerações finais
A escassez hídrica é afetada não apenas pela quantidade, como, também pela
qualidade, pois leva os produtores a recorrerem a sistemas alternativos de
abastecimento, cuja água em geral não é tratada, podendo aumentar a incidência
das doenças de veiculação hídrica.
O aproveitamento da água da chuva em sistemas de produção de suínos e aves é
recomendado para uma gestão eficiente do uso da água disponível no meio rural.
A captação, armazenamento e uso racional da água da chuva é
uma ótima alternativa para épocas de estiagem, principalmente com o
reaproveitamento para a dessedentação de suínos e
aves. Com o uso de cisternas e reservatórios de água da chuva, a redução do
consumo de água tratada de poços ou fontes naturais nas propriedades pode
chegar até a 50% do total. Esse valor depende das condições climáticas locais
(índices de precipitação), da área total de captação e do grau de tratamento
utilizado.