Autor : Francisco Fireman,
Gerente Técnico Comercial - região SE, NO, NE, Safeeds
Nutrição Animal.
Introdução
As indústrias suinícola e avícola têm sofrido nos últimos anos um incremento
no custo de suas rações, principalmente pelo aumento do preço da soja e do
milho. Em busca de amenizar este aumento de custos, hoje é notório o uso frequente de enzimas nas rações animais.
O uso das enzimas exógenas proporciona melhora na
digestão dos alimentos e o aumento na absorção dos nutrientes e energia. Além
do benefício da redução do custo da ração, a melhora do desempenho produtivo
dos animais, quando o nutricionista utiliza enzimas, trará inevitavelmente para
indústria uma redução no custo do quilo de proteína produzida. Ao utilizar
enzimas, a indústria pode buscar ingredientes alternativos, trabalhando com uma
maior flexibilidade na formulação. Outro ponto a considerar para o uso de
enzimas exógenas é que o valor nutricional dos ingredientes e o preço dos
mesmos não são constantes e, a capacidade de digerir alimentos varia com a
idade e entre indivíduos da mesma idade. Então, ao usar enzimas exógenas o
nutricionista contribui para maior uniformidade dos lotes.
Como funcionam as enzimas?
As enzimas são proteínas globulares de estrutura
terciária ou quaternária que agem como catalizadores
biológicos, acelerando o processo de uma reação, sob condições favoráveis de
temperatura, pH e umidade. Sendo assim, as enzimas
exógenas atuam, ou auxiliando as enzimas endógenas, reduzindo o tempo para que
ocorra a digestão, ou por minimizar a ação de fatores antinutricionais
(exemplo: inibidores de proteases, fitato) presentes
em alguns ingredientes ou ainda, por catalizarem
reações para as quais o organismo não produz enzimas endógenas para este fim
(exemplo: Celulase). Desta forma, tornam-se os nutrientes e a energia mais
disponíveis para que sejam absorvidos pelo animal melhorando seu desempenho.
Com isto, a indústria pode passar a usar ingredientes alternativos,
aproveitando safras, preços e mercado favorável.
As enzimas, por
serem proteínas globulares, apresentam um sítio ativo onde o substrato se
acopla, formando um complexo enzima-substrato. Desta
forma, ocorre a reação de degradação do substrato liberando a enzima, para
continuar a reagir com outro substrato, e gerando o produto da reação. As
enzimas têm especificidade por determinado substrato para catalisar uma
determinada reação química. Este processo pode ser observado no diagrama a
seguir.
Quais as enzimas comerciais encontradas
no mercado?
Com o aumento da
tecnologia, tornou-se possível o uso de enzimas comerciais com um custo
acessível. Estas enzimas são provenientes, geralmente, de bactérias, de fungos
ou de leveduras.
Encontram-se no mercado enzimas com diferentes
características cuja escolha pelo nutricionista dependerá conforme processo de
produção de rações utilizado pela indústria e do objetivo da utilização da
enzima. Estas características podem ser:
As enzimas
utilizadas na nutrição animal podem ser classificadas de acordo com o tipo de
substrato que a mesma irá atuar. Portanto, podem ser classificadas em Carboidrases, Proteases, Fitases
e Lipases.
Carboidrases
As Carboidrases catalisam reações de degradação dos
carboidratos que estão intimamente ligados ao valor nutricional dos grãos, o
qual é limitado pelo teor de polissacarídeos não amiláceos
insolúveis (celulose) e polissacarídeos não amiláceos
solúveis (β–glicanos, xilanas
e arabinoxilanas). Os polissacarídeos não amiláceos (PNA) estão muitas vezes associados à lignina,
formando o conhecido “complexo total dietético de fibra”. Os suínos e aves não
apresentam enzimas endógenas apropriadas para degradar este complexo, portanto,
níveis elevados de PNA aumentam a viscosidade do quimo, dificultando a digestão
e absorção de proteínas, lipídeos e vitaminas lipossolúveis.
O uso de Carbroidases possibilita utilizar alimentos alternativos
que apresentam grande quantidade de PNA, os quais podem ser mais baratos em
determinada época do ano como o trigo, cevada, centeio, aveia e triticale.
Dentro da família das enzimas caboidrases podemos encontrar Celulases, Xilanases,
β-glucanases, Pectinase, Amilase e Galactosidase.
Proteases
As proteases
potencializam o uso de proteínas pobremente disponíveis, reduzem o efeito
deletério dos fatores anti-tripisínicos presentes nos
alimentos e reduzem a ação alergênica de algumas proteínas. Historicamente a
proteína é um dos ingredientes mais caros da ração e nos últimos anos este
custo vem se tornando ainda mais elevado com o aumento do custo do farelo de
soja. Portanto, é crucial a melhora do aproveitamento desta fonte de proteína
pelo animal. Quando este aproveitamento é baixo, pode promover o crescimento de
bactérias indesejáveis, por exemplo, Clostrídium
sp. Com isso, a
inclusão de protease exógena na dieta pode melhorar a digestibilidade
da proteína, complementando a ação das enzimas endógenas, através da hidrolise
de certos tipos de proteínas que não são normalmente degradados pelo animal.
Fitases
Cerca de 2/3 ou
mais do fósforo contidos nos grãos de cereais e seus sub-produtos
são indisponíveis. A indisponibilidade deve-se à quantidade de fósforo que está
preso à molécula de ácido fítico, ou ácido mio-inositol hexafosfórico, ou
simplesmente fitato. O fitato
além de tonar indisponível o fósforo, quelata cátions bivalentes (Ca, Fe, Mg, Zn, Mn etc.). Portanto, a Fitase
disponibiliza não apenas o fósforo, como também outros minerais.
Lipase
A lipase tem o objetivo de degradar os lipídeos. No entanto,
a lipase exógena degrada diferentemente da lipase endógena. A lipase
endógena degrada o triacilglicerol em dois ácidos
graxos e um monoacilglicerídeo, e o produto da reação
da lipase exógena é a formação de três ácidos graxos
e um glicerol.
Conclusão
A tecnologia que trouxe o uso de enzimas exógenas
para nutrição animal marcou uma nova era na forma de fazer nutrição. Usar
enzimas nas formulações de dietas tornou-se uma ferramenta indispensável a
qualquer nutricionista de animais não ruminantes. A escolha de uma enzima
exógena dependerá do processo de produção da fábrica de ração, do alimento a
ser utilizado nesta ração e o objetivo do nutricionista. O uso de enzimas
exógenas traz flexibilidade à escolha dos ingredientes, podendo-se incluir
ingredientes alternativos em maior quantidade na ração do que o usual. Sem
embargo, deve ser observada com muito critério pelo nutricionista a qualidade
das enzimas a serem usadas, desde o ponto de vista de tecnologia da produção
para garantia de resultados.