Informativo Técnico Nº. 243

 SISTEMA IMUNE DE LEITÕES E PRÁTICAS DE MANEJO

 

INTRODUÇÃO

 

O sistema imunológico é responsável por detectar a presença de um antígeno e transmitir a informação ao resto do corpo para que este possa responder com alterações metabólicas e comportamentais, que afetem o desempenho e a exigência em nutrientes. Dessa maneira, o sistema imunológico apresenta três principais reflexos metabólicos, que são: (1) uma conexão direta entre o sistema nervoso central e tecidos do sistema imune (timo, baço e linfonodos), com respostas de comportamento ou liberação de hormônios pelo hipotálamo e/ ou hipófise; (2) conexão direta com o sistema endócrino regulando suas secreções e (3) liberação de leucócitos, citocinas e macrófagos.

 

Fig 01

Figura 1: Escherichia coli enterotoxigênica - coloração verde- na mucosa intestinal.

Fonte: Retirado do blog saudegeriatrica.

 

Uma conseqüência prejudicial da ativação do sistema imunológico é a redução da síntese protéica, associada a maior taxa de degradação. A necessidade de nitrogênio aumenta também para síntese de proteínas de fase aguda e de outros produtos imunológicos. Ocorrem ainda maior deaminação de aminoácidos e maior excreção de nitrogênio urinário.

Por essa razão, em estudos realizados com leitões utilizando-se a técnica do desmame precoce segregado (na qual o status de saúde dos animais é elevado), ocorreu melhoria no desempenho e consumo de ração, com os animais atingindo o peso ao abate em menor tempo, se comparado ao desmame convencional.

 

TRANSFERÊNCIA DE IMUNIDADE DA PORCA PARA

OS LEITÕES

 

            Os fetos suínos estão muito bem protegidos da estimulação antigênica externa, em função da característica epitélio-corial da placenta materna, na qual seis camadas de tecidos separam a circulação materna da fetal. Essa barreira física de proteção, no entanto, impede a transferência de imunoglobulinas da mãe para os fetos via placenta. Assim, o leitão nasce imunologicamente despreparado e é dependente da aquisição de imunidade passiva transferida pela mãe, via colostro.

Essa imunidade é conferida pela ingestão de imunoglobulinas colostrais (anticorpos). Porém, leucócitos (neutrófilos, macrófagos e linfócitos) e outros fatores de imunidade também são passivamente adquiridos e podem contribuir para a imunidade do leitão recém-nascido. Os leitões podem receber essa imunidade passiva adquirindo anticorpos da mãe via colostro nas primeiras 24 a 36 horas após o nascimento. A absorção máxima de imunoglobulinas ocorre de 4 a 12 horas após a primeira mamada, declinando rapidamente após esse período por causa do “fechamento do intestino”.

 

Fig 02

Figura 2: A primeira mamada do leitão tem grande importância e acaba influenciando em toda a saúde e sobrevivência do animal durante seu ciclo produtivo. Fonte: Retirado do site Porkworld

 

            Altas concentrações de imunoglobulinas (IgG, IgM e IgA) são encontradas nas primeiras amostras de colostro após o parto. A participação relativa dessas imunoglobulinas cai rapidamente com o transcorrer da lactação, e a IgG predominante no início (76% do total) passa para cerca de 11% aos 21 dias de lactação.

            A sobrevivência do leitão não depende somente da ingestão dessas macromoléculas, mas também da sua própria capacidade para utilizá-las, reagindo rapidamente a um desafio. Essa capacidade de reação do leitão, no entanto, é bastante limitada, principalmente em virtude da imaturidade do sistema imunológico, que passa por mudanças nas primeiras semanas de vida, incluindo o aumento do número circulante de neutrófilos e aumento da habilidade de resposta aos estímulos externos.

            Deve-se considerar, ainda, que o processo de imunidade passiva é resultado de desafios imunológicos vividos pela mãe, sejam eles oriundos de vacinação ou exposição à patógenos. Assim, porcas mais velhas tendem a produzir colostro com maior concentração e melhor padrão qualitativo de imunoglobulinas, se comparadas às primíparas.

 

REFLEXO DE ESTRESSORES AMBIENTAIS SOBRE O SISTEMA IMUNOLÓGICO

           

            Os fatores ambientais podem afetar os leitões de forma negativa, aumentando a possibilidade de ocorrência e intensidade de doenças. Um microorganismo pode agir sobre o estado geral de saúde de um animal, causando imunossupressão. Pesquisadores apresentaram algumas evidências que esse fenômeno ocorre com Mycoplasma hyopneumoniae, agente etiológico da pneumonia enzoótica. Como conseqüência da imunossupressão, a resistência a outros agentes infecciosos é diminuída, podendo resultar em índices maiores de doenças.

O estado imunitário dos leitões pode ser alterado por estresses ambientais. Os estressores de origem física (excesso de frio ou calor) são os principais vilões causadores de inativação do sistema imune dos leitões na maternidade. A hipotermia é uma das principais causas de mortalidade de leitões recém-nascidos.

Além dos estressores físicos, há os de origem social, como a alteração da hierarquia, que ocorre quando da introdução de animais novos ao grupo, como é o caso da prática do manejo de transferência lateral de leitões. Nesses casos, o sistema neuro-humoral é ativado, desencadeando a produção elevada de esteróides que afetam o status imune do animal, resultando em menor resistência às infecções.

Quando fatores de estresse são aplicados às porcas lactantes, o problema aumenta de forma geométrica, pois a produção elevada desses esteróides promove aumento no catabolismo, interferindo na utilização dos nutrientes. Além disso, esses hormônios reduzem a função dos granulócitos, monócitos e linfócitos, diminuindo o nível de imunoglobulinas no sangue, conseqüentemente, diminuindo a transmissão de imunidade passiva aos leitões.

 

ATIVAÇÃO DO SISTEMA IMUNE DE FORMA ADQUIRIDA OU INATA

 

O organismo animal tem capacidade de resistir a quase todos os tipos de toxinas ou microorganismos que tendem a lesar seus tecidos ou órgãos. Grande parte dessa imunidade se deve ao sistema imune, especialmente à formação de anticorpos e linfócitos ativados, que atacam e destroem os invasores. Esse tipo de imunidade é chamada de imunidade adquirida. O outro componente da resposta imune resulta de processos dirigidos ao organismo patogênico específico, denominada imunidade inata.

            A imunidade adquirida é a capacidade que o organismo possui de desenvolver imunidade específica extremamente poderosa contra agentes invasores, como vírus, bactérias e toxinas letais que, quase sempre, pode conferir um grau extremo de proteção. Essa é a razão da importância do processo de vacinação.

 

Fig 03 

Figura 4: Vacinação de marrãs e porcas. Fonte: Retirado do site morrisvetcenter.

 

 

O organismo possui dois tipos básicos de imunidade adquirida: em um deles, o organismo forma anticorpos circulantes, que são moléculas de globulina capazes de atacar o agente invasor; esse tipo de imunidade é de nominada imunidade humoral ou imunidade das células B, e o outro tipo de imunidade adquirida, é obtido pela formação de grande número de linfócitos ativados, produzidos especificamente para destruir o agente estranho; esse tipo de imunidade é denominado imunidade celular ou imunidade das células T.

 

DESMAME PRECOCE SEGREGADO

 

Por volta de 1994, o Desmame Precoce Segregado (DPS) começou a ser estudado, quando especialistas chegaram à conclusão de que a chave para o sucesso estava em desmamar precocemente e criar os leitões isolados em outro sítio (daí o nome segregado).

Essa prática de manejo consiste em um sistema no qual vários estágios de produção estão localizados em diferentes sítios: dois, três ou múltiplos sítios. Algumas literaturas recomendam, no mínimo, três sítios completamente separados, com mão-de-obra independente. No primeiro sítio, ficam os reprodutores e a maternidade. No segundo, ficam as salas de creche, e no terceiro sítio ficam a recria e terminação.

Nos sítios de creche os animais são criados em lotes isolados e esse mesmo lote vai para o sítio de recria/terminação, permanecendo também isolado de outros lotes. Como o status sanitário é diferente em cada lote, a mistura de lotes acima de 70 dias pode, eventualmente, não ser suficiente para produzir sinais clínicos de doença, mas o sistema imunológico pode ser ativado e seus efeitos fisiológicos podem reduzir o desempenho dos animais afetados. A separação em diferentes estádios de produção, associada ao desmame precoce, facilita a eliminação de várias doenças infecciosas.

O desmame precoce segregado tem como maior vantagem melhorar o desempenho dos animais, principalmente nas fases de crescimento e terminação, em conseqüência da diminuição do número de patógenos, causando menor estímulo do sistema imunológico nas fases de maior crescimento e deposição de tecido. Dessa maneira, menos nutrientes serão direcionados para tal função, restando maior quantidade para as atividades metabólicas normais de crescimento dos animais.

A idade mais susceptível às doenças bacterianas e viróticas é, geralmente, depois da segunda semana após o nascimento, coincidindo com a queda dos níveis de imunoglobulinas fornecidas passivamente. Se o desmame for feito em torno da segunda semana, há grande chance de se conseguir leitões com reduzida carga de bactérias, resultando em leitões com altos níveis de saúde.

Para garantir uma boa imunidade passiva dos leitões é necessário um bom acompanhamento das matrizes, verificando a presença de MMA (Metrite, Mastite e Agalaxia) e edema de glândula mamária, que prejudicam o aleitamento. Os leitões fracos não podem ser desmamados mais tarde, pois a imunidade passiva não estaria mais efetiva e eles acabariam se tornando uma fonte de infecção para os demais.

Para adoção do sistema, são necessários:

· Limpeza, desinfecção e outras práticas de biossegurança (controle de roedores, pássaros, moscas, e trânsito de veículos, evitando-se visitas e granja cercada) para prevenir que as doenças cheguem aos animais em crescimento.

 

 

Fig 04

Figura 3: Limpeza de baias. Fonte: Retirado do site ruralni. e porkmag.

 

· Criação de lotes uniformes. A distância entre sítios deve ser de 1 a 3 km, para reduzir as chances de transmissão de patógenos via aerossóis (vento). O transporte dos leitões entre sítios deve ser realizado em gaiolas plásticas, conduzidas por veículos limpos e desinfetados e, se possível, com temperatura controlada. O ambiente da creche deve ser seco, aquecido e com boa renovação de ar.

· Vacinação das matrizes (2 a 6 semanas pré-parto) contra doenças que causam problemas ao sistema de produção. Sem esse programa de vacinação, o DPS apresenta uma capacidade limitada em reduzir a presença de doenças nas fases de crescimento e terminação. Também se recomenda fazer o controle de parasitos internos e externos das matrizes com produtos adequados.

 

Vantagens do Desmame segregado

· Menor ativação das defesas imunológicas;

· Menor número de microrganismos e outros contaminantes nas instalações;

· Menor produção de substâncias mediadoras de processos inflamatórios, como as citocinas, que causam efeitos metabólicos negativos;

· Maior liberação do hormônio de crescimento, insulina e IGF-1 ou os receptores desses fatores tornam-se mais sensíveis.

 

 

 

CÓD.

EXAMES

PRAZO DIAS

S51

BACTERIOLOGIA SISTEMA RESPIRATÓRIO

Amostra: Swabs nasais e de pulmão ou estes órgãos (cabeça e pulmão).

Preservação: refrigerado, sem congelamento.

Pesquisa: Actinobacillus pleuropneumoniae, Bordetella bronchseptica, Haemophillus parasuis, Pasteurella multocida e Streptococcus suis com antibiogramas.

5

S73

DIAGNÓSTICO ENTÉRICO - DIARRÉIA 

Amostra: 1 swab retal ou fragmento de alça intestinal sob refrigeração, sem congelar.

Pesquisa: Escherichia coli, Clostridium perfringens e dificilli e

Salmonella sp com antibiogramas.                        

5

V02

VACINA AUTÓGENA CONTRA RINITE ATRÓFICA DOS SUÍNOS

Amostra: Cepas isoladas na propriedade.

15

V11

VACINA AUTÓGENA CONTRA STREPTOCOCOSE DOS SUÍNOS

Amostra: Cepas isoladas na propriedade.

15

V20

VACINA AUTÓGENA CONTRA ESTREPTOCOCOSE DOS SUÍNOS E HPS

Amostra: Cepas isoladas na propriedade.

15

V15

VACINA AUTÓGENA CONTRA ERISIPELA DOS SUÍNOS

Amostra: Cepas isoladas na propriedade.

15

VOL06

VACINA AUTÓGENA CONTRA COLIBACILOSE E CLOSTRIDIOSE DOS SUÍNOS – OLEOSA

Amostra: Cepas isoladas na propriedade.

15


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