Autor/s. : Gustavo Julio
Mello Monteiro de Lima, Engenheiro Agrônomo, Ph. D. em
Nutrição Animal, pesquisador da Embrapa Suínos e Aves; Lidiane
Boareto Scapini , Graduanda em Medicina Veterinária da Universidade Federal
do Paraná -UFPR-, PR, e Fernando de Castro Tavernari, Zootecnista,
D. Sc. em Zootecnia, pesquisador da Embrapa Suínos e Aves.
Introdução
O uso de fórmulas nutricionais específicas para cada fase de produção
permite ajustar os níveis dietéticos de nutrientes e energia, bem como as suas
inter-relações. Assim, as dietas são calculadas para atender às necessidades de
mantença e produção, possibilitando que o suíno expresse o máximo do seu
potencial genético para deposição de carne.
Além da busca pela otimização da produtividade, é
necessário formular dietas viáveis economicamente. Um dos problemas que ocorrem
quando os níveis nutricionais são superestimados é a excreção do excesso de
nutrientes, especialmente o nitrogênio e o fósforo, nas fezes e na urina com
prejuízo ao ambiente. Este desperdício aumenta o custo da produção e afasta o
produtor de uma suinocultura sustentável.
Recentemente, foram publicadas duas importantes referências para uso pelos
nutricionistas: as Tabelas Brasileiras para Aves e Suínos: Composição de
Alimentos e Exigências Nutricionais (ROSTAGNO et al., 2011) e o Nutrient Requirements of Swine (NUTRIENT..., 2012). Estas referências pressupõem o
uso de animais com alto potencial genético e a criação de animais em estado de
saúde adequado, submetidos a condições de conforto térmico.
O objetivo deste estudo foi comparar as exigências nutricionais
propostas nas duas publicações para suínos machos castrados em crescimento e terminação.
Material e métodos
Analisamos as recomendações das Tabelas Brasileiras (TB, para animais de
alto potencial com desempenho médio) e do NRC, considerando apenas suínos
machos castrados em crescimento, dos 11 aos
Além da energia metabolizável (EM), as recomendações de aminoácidos
digestíveis (digestibilidade ileal
verdadeira, no caso de TB, e digestibilidade ileal estandardizada, no caso do NRC), cálcio, fósforo (digestibilidade verdadeira, no caso de TB, e digestibilidade estandardizada para o trato digestório total, no caso do NRC) e sódio foram estudadas. As exigências de cada nutriente foram avaliadas
em base percentual de consumo diário de nutriente e quantidade de nutriente por
quilo de ganho de peso. As estimativas de consumo diário de alimento do NRC
foram corrigidas, uma vez que esta referência acrescenta 5% no consumo por
conta do desperdício pelos animais.
Resultados e discussões
O consumo diário de alimento e a energia metabolizável da dieta sugeridos
nas TB foram maiores em todas as fases de criação em comparação àqueles
considerados no NRC (Tabela 1; Figura 1). Este mesmo tipo de resposta foi
observado para as exigências dos quatro aminoácidos digestíveis limitantes (Lys, Met, Thr,
Trp), cálcio total e fósforo digestível, sem deixar
de considerar que há diferenças metodológicas para obtenção das recomendações
entre as duas tabelas.
O ganho de peso diário (g/dia) recomendado pelas TB foi maior em todas as
fases de criação quando comparado com o ganho de peso do NRC (Tabela 1). Os
valores sugeridos nas duas referências diferiram ao longo da fase considerada
em 16%, em média.
Considerando apenas a lisina digestível, as médias gerais de consumos
diários em toda a fase de crescimento e terminação foram de 19,55 e 15,68 g/dia
para as TB e o NRC, respectivamente, representando uma diferença média de 24,68%
entre elas. Este mesmo nutriente apresentou, na média, uma diferença de 1,16%
em base percentual e de 6,53% em g de lisina digestível/kg de ganho de peso
para as recomendações das TB e do NRC, sendo maiores os valores sugeridos nas
TB (Figura 2). Da mesma forma, foram verificadas diferenças entre as
recomendações da relação de cada aminoácido com a lisina, em base digestível,
especialmente para treonina, arginina, e fenilalanina (Tabela 1). O mesmo tipo de diferença também
aconteceu para os três aminoácidos digestíveis limitantes (metionina,
treonina e triptofano). As
recomendações da exigência em metionina diferiram
entre as duas referências em cerca de 2,10% e 11,05%, em média, em base
percentual e de g/kg de ganho de peso, respectivamente. No caso da treonina e do triptofano,
observou-se esse mesmo tipo de resposta entre as recomendações das TB e do NRC,
observando-se diferenças da ordem de 5% em base percentual e de cerca de 11% em base de g do aminoácido/kg de ganho de peso
para os dois aminoácidos.
Tabela 1. Peso
vivo
(PV) e recomendações de consumo, energia
metabolizável (EM), ganho de peso
(GP), cálcio (Ca), fósforo (P), sódio (Na),
relações, em base digestível, dos
aminoácidos em relação à lisina,
período da fase de criação e consumo de
ração
(CR) para TB e NRC
Para o sódio, as duas referências estudadas apresentaram exigências
similares na fase inicial (1,9% de diferença). Entretanto, para as demais fases
(suínos a partir de 25 e
Os níveis médios de cálcio total e fósforo digestível, recomendados pelo
NRC, foram ao redor de 18 e 22% menores quando comparados aos propostos nas TB
(Figura 4). Em base percentual e em g/kg de ganho de peso, as diferenças para
cálcio total e para fósforo digestível foram de 2% e 2,4%;
e 1,2% e 6%, respectivamente.
Figura 1. Curvas de
consumo e exigências de EM sugeridas pelas TB e pelo NRC
Figura 2. Curvas de
consumo de lisina digestível em bases de consumo diário, percentagem e em g/kg
de ganho de peso, sugeridas pelas TB e pelo NRC
Figura 3. Curvas de
consumo de sódio sugeridas pelas TB e pelo NRC
Figura 4. Exigências
de cálcio e fósforo sugeridas pelas TB e pelo NRC
Considerações finais
Mesmo levando-se em conta que há diferenças metodológicas na obtenção das
recomendações de aminoácidos e fósforo, existem diferenças marcantes entre as
exigências nutricionais de suínos machos castrados em crescimento e terminação sugeridas pelas TB e o NRC.
As duas referências de exigências em nutrientes e energia pressupõem faixas
de peso ligeiramente diferentes e índices zootécnicos distintos, devendo ser
consideradas ao se analisar as diferenças verificadas.
Dietas formuladas com base em uma ou outra referência poderão acarretar em
diferenças consideráveis no desempenho, rentabilidade e impacto ambiental.
Diante das constatações observadas, novos estudos permitirão fornecer
subsídios para a melhor decisão por parte dos nutricionistas.