Autor/s. : Ton
Kramer, Swine Business Manager, Brasil.
Introdução
À medida que a suinocultura evolui, os ganhos financeiros pelo
produtor passam a ser decorrentes da atenção a aspectos outrora negligenciados.
Foi-se o tempo que os suinocultores podiam simplesmente atentar aos índices
produtivos e reprodutivos usualmente considerados. É necessária a transformação
dos produtores de meros suinocultores em empresários da suinocultura.
Neste sentido, entender os porquês do baixo peso dos leitões ao desmame
ou do descarte de fêmeas com dois ou três partos, por exemplo, é muito mais
importante do que simplesmente conhecer o peso dos leitões ao desmame ou do
índice de reposição das fêmeas.
Este artigo tem o objetivo de analisar a relação entre os
problemas locomotores e seus impactos na performance
reprodutiva das fêmeas e em sua permanência na granja.
ENTENDENDO O PROBLEMA
Os problemas locomotores e seus efeitos no comportamento dos
suínos têm sido subestimados ao redor do mundo.
Quando uma fêmea apresenta claudicação, as consequências
incluem menor ingestão de alimentos, especialmente durante a lactação, perdas
no desempenho reprodutivo e descarte precoce.
Segundo HOGE et
al. (2011), a longevidade de uma fêmea adulta está sendo reconhecida como uma
preocupação econômica, bem como de bem estar animal.
ANIL et al.
(2009) afirma que os produtores necessitam minimizar a ocorrência de problemas
locomotores nas granjas, bem como descartar animais com claudicação tão logo
quanto possível (quando o tratamento não é uma opção), para minimizar as perdas
econômicas.
Uma pesquisa realizada com 2.660 fêmeas na Bélgica, de oito
granjas distintas, mostrou que apenas 0,95% das fêmeas NÃO apresentava
nenhuma lesão em algum dos cascos (PLUYM et al.,
2011).
LUCIA Jr. (2007) relacionou as diferentes razões para descarte do
plantel, bem como a ordem de parto médio até a remoção, de 29 granjas nos Estados Unidos,
monitoradas durante 5 anos (Tabela 1).
Tabela 1 – Frequência de remoção e ordem de
parto médio de fêmeas suínas com diferentes razões para remoção do plantel
Levantamentos feitos nos Estados Unidos mostram que os problemas
locomotores representam mais de 15% das causas de descarte das fêmeas (Figura 1).
Figura 1 - Causas
de descarte de fêmeas
(NAHMS, 2007; Swine Health and Management in the United States, 2006)
Há, ainda, que se considerar que descartes por baixo desempenho ou
problemas reprodutivos na maioria dos casos estão
relacionados com lesões no casco, mesmo que subclínicas.
Assim sendo, estima-se que os problemas locomotores estão relacionados a 47%
dos descartes.
KNAUER et al.
(2007) demonstrou que abcessos nos cascos traseiros
estão cinco vezes mais correlacionados com ovários acíclicos que a condição de
escore corporal.
Estudos de DEEN et
al. (2011) mostram que o descarte de fêmeas primíparas
tem variado entre 8 e 32%. Segundo ele, as porcas morrem, são sacrificadas ou
descartadas muito cedo e/ou a preços baixos. Isso é especialmente importante
uma vez que tanto a sobrevivência da fêmea na granja, como seu bem estar,
afetam o resultado financeiro da produção.
A Figura 2 mostra uma estimativa de permanência
em uma granja de fêmeas sem e com claudicação. Neste gráfico, pode-se observar
que aos 300 dias, a taxa de sobrevivência de fêmeas com claudicação é a metade
da taxa de fêmeas sem claudicação.
Figura 2 – Curva de sobrevivência comparativa entre fêmeas com e sem
claudicação (adaptado de ANIL et
al., 2009)
CONSIDERAÇÕES QUANTO AO DESCARTE
Dois aspectos principais devem ser considerados quando do descarte
de fêmeas:
Esta lista deveria ser suficiente para convencer
os produtores da importância de se buscar alternativas ao descarte de fêmeas
por outras causas que não a idade, especialmente por problemas relacionados com
o aparelho locomotor.
2-Será que o descarte de fêmeas devido a baixa produção, devido a, por exemplo, dificuldade no
retorno ao cio, é uma atitude justificável economicamente?
Responder a este questionamento é fundamental, já que a produção
anterior nem sempre se repete no futuro (RUTTEN-RAMOS et al., 2009).
DEEN et al.
(2011) relata que a ocorrência de claudicações na maternidade aumenta em 40% a
probabilidade de falha reprodutiva futura.
É importante que se compreenda que normalmente há limitações
anatômicas ou fisiológicas que são causas diretas de uma produtividade mais
baixa, frequentemente relacionadas com o aparelho
locomotor (Figura 3).
Figura 3 – Efeito dos problemas locomotores sobre o desempenho
produtivo e reprodutivo das fêmeas suínas (ÓZinpro Corporation)
OS PROBLEMAS LOCOMOTORES E O IMPACTO REPRODUTIVO
Segundo WILSON et
al. (2010), citando PENNY (1980), “os problemas de casco há tempo são
reconhecidos como tal e têm sido associados com a diminuição de fertilidade em
fêmeas”.
Esta diminuição de fertilidade está relacionada com uma menor
capacidade de ingestão de alimentos, decorrente da dor provocada pelos
problemas locomotores, assim como devido às citocinas
inflamatórias, que interferem negativamente na cascata hormonal relacionada aos
processos reprodutivos.
Um estudo realizado na Alemanha (GRANDJOT, 2007) mostrou menos
leitegadas nas porcas que apresentavam claudicação quando comparadas às porcas
sem claudicação (< 3 leitegadas vs. 4,5 leitegadas, respectivamente).
IDENTIFICAÇÃO DO PROBLEMA
Os aspectos que permitem identificar quais fêmeas estão em risco
são:
A combinação destes três aspectos possibilita uma análise mais
criteriosa de quais são as fêmeas candidatas ao descarte. Da mesma forma, antes
de se proceder a eliminação dos animais, deve-se entender quais são os fatores
predisponentes que levam aos problemas do aparelho locomotor vivenciados na
granja.
Como forma de monitoramento da condição do sistema locomotor das
porcas, um grupo de pesquisadores, médicos veterinários e nutricionistas de
diferentes países reuniu-se em um projeto denominado FeetFirst®. Este projeto, que tem o
objetivo de avançar no conhecimento dos problemas locomotores em suínos e na
sua prevenção, desenvolveu duas ferramentas para o monitoramento das condições
do aparelho locomotor, adotados mundialmente:
Figura 4 – Guia para classificações das lesões de casco (ÓZinpro Corporation)
Figura 5 – Escore de locomoção (ÓZinpro
Corporation)
O uso frequente e
rotineiro destas ferramentas permite ao suinocultor adotar uma postura mais
estratégica no processo de tomada de decisão de quais fêmeas devem ser
descartadas efetivamente e quais devem passar pela reabilitação podal,
popularmente conhecida como casqueamento.
CONCLUSÃO
Está claro que todas as granjas apresentam animais com
claudicação.
O procedimento normalmente adotado, nestes casos, é a eliminação
dos animais, assumindo-se assim as perdas financeiras e de produtividade
futura.
Em alguns casos, especialmente considerando animais em gaiolas, é
possível adotar-se outros procedimentos, como o uso de pedilúvios
ou pulverização com solução de formol, analgesia de longa duração ou o uso de
tapetes de borracha sob os animais.
A implementação destes procedimentos pode resultar em uma mudança
de comportamento, que inclui o aumento na ingestão de alimentos e, como consequência, uma melhora na produtividade a curto prazo.
No entanto, estas medidas são paliativas, visando compensar uma
falha anterior e, frequentemente, não alcançam o
sucesso pleno.
É necessário entender melhor o problema, suas causas e consequências e, assim, adotar medidas preventivas mais
efetivas, que tem a ver com manejo, ambiente e nutrição, que levarão ao aumento
da longevidade das fêmeas e, por consequência, um
melhor resultado financeiro da produção.