Informativo Técnico Nº. 250

 Problemas locomotores e o impacto sobre a longevidade da fêmea

Autor/s. : , Swine Business Manager, Brasil.

 

Introdução

À medida que a suinocultura evolui, os ganhos financeiros pelo produtor passam a ser decorrentes da atenção a aspectos outrora negligenciados. Foi-se o tempo que os suinocultores podiam simplesmente atentar aos índices produtivos e reprodutivos usualmente considerados. É necessária a transformação dos produtores de meros suinocultores em empresários da suinocultura.

Neste sentido, entender os porquês do baixo peso dos leitões ao desmame ou do descarte de fêmeas com dois ou três partos, por exemplo, é muito mais importante do que simplesmente conhecer o peso dos leitões ao desmame ou do índice de reposição das fêmeas.

Este artigo tem o objetivo de analisar a relação entre os problemas locomotores e seus impactos na performance reprodutiva das fêmeas e em sua permanência na granja.

 

ENTENDENDO O PROBLEMA

Os problemas locomotores e seus efeitos no comportamento dos suínos têm sido subestimados ao redor do mundo.

Quando uma fêmea apresenta claudicação, as consequências incluem menor ingestão de alimentos, especialmente durante a lactação, perdas no desempenho reprodutivo e descarte precoce.

Segundo HOGE et al. (2011), a longevidade de uma fêmea adulta está sendo reconhecida como uma preocupação econômica, bem como de bem estar animal.

ANIL et al. (2009) afirma que os produtores necessitam minimizar a ocorrência de problemas locomotores nas granjas, bem como descartar animais com claudicação tão logo quanto possível (quando o tratamento não é uma opção), para minimizar as perdas econômicas.

Uma pesquisa realizada com 2.660 fêmeas na Bélgica, de oito granjas distintas, mostrou que apenas 0,95% das fêmeas NÃO apresentava nenhuma lesão em algum dos cascos (PLUYM et al., 2011).

LUCIA Jr. (2007) relacionou as diferentes razões para descarte do plantel, bem como a ordem de parto médio até a remoção, de 29 granjas nos Estados Unidos, monitoradas durante 5 anos (Tabela 1).

Tabela 1 Frequência de remoção e ordem de parto médio de fêmeas suínas com diferentes razões para remoção do plantel

Levantamentos feitos nos Estados Unidos mostram que os problemas locomotores representam mais de 15% das causas de descarte das fêmeas (Figura 1).

Figura 1 - Causas de descarte de fêmeas (NAHMS, 2007; Swine Health and Management in the United States, 2006)

Há, ainda, que se considerar que descartes por baixo desempenho ou problemas reprodutivos na maioria dos casos estão relacionados com lesões no casco, mesmo que subclínicas. Assim sendo, estima-se que os problemas locomotores estão relacionados a 47% dos descartes.

KNAUER et al. (2007) demonstrou que abcessos nos cascos traseiros estão cinco vezes mais correlacionados com ovários acíclicos que a condição de escore corporal.

Estudos de DEEN et al. (2011) mostram que o descarte de fêmeas primíparas tem variado entre 8 e 32%. Segundo ele, as porcas morrem, são sacrificadas ou descartadas muito cedo e/ou a preços baixos. Isso é especialmente importante uma vez que tanto a sobrevivência da fêmea na granja, como seu bem estar, afetam o resultado financeiro da produção.

A Figura 2 mostra uma estimativa de permanência em uma granja de fêmeas sem e com claudicação. Neste gráfico, pode-se observar que aos 300 dias, a taxa de sobrevivência de fêmeas com claudicação é a metade da taxa de fêmeas sem claudicação.

Figura 2 – Curva de sobrevivência comparativa entre fêmeas com e sem claudicação (adaptado de ANIL et al., 2009)

 

CONSIDERAÇÕES QUANTO AO DESCARTE

Dois aspectos principais devem ser considerados quando do descarte de fêmeas:

  1. É necessário repor as fêmeas que serão descartadas! Isto implica em uma série de custos à produção, que incluem:

Esta lista deveria ser suficiente para convencer os produtores da importância de se buscar alternativas ao descarte de fêmeas por outras causas que não a idade, especialmente por problemas relacionados com o aparelho locomotor.

 

2-Será que o descarte de fêmeas devido a baixa produção, devido a, por exemplo, dificuldade no retorno ao cio, é uma atitude justificável economicamente?

Responder a este questionamento é fundamental, já que a produção anterior nem sempre se repete no futuro (RUTTEN-RAMOS et al., 2009).

DEEN et al. (2011) relata que a ocorrência de claudicações na maternidade aumenta em 40% a probabilidade de falha reprodutiva futura.

É importante que se compreenda que normalmente há limitações anatômicas ou fisiológicas que são causas diretas de uma produtividade mais baixa, frequentemente relacionadas com o aparelho locomotor (Figura 3).

Figura 3 – Efeito dos problemas locomotores sobre o desempenho produtivo e reprodutivo das fêmeas suínas (ÓZinpro Corporation)

 

OS PROBLEMAS LOCOMOTORES E O IMPACTO REPRODUTIVO

Segundo WILSON et al. (2010), citando PENNY (1980), “os problemas de casco há tempo são reconhecidos como tal e têm sido associados com a diminuição de fertilidade em fêmeas”.

Esta diminuição de fertilidade está relacionada com uma menor capacidade de ingestão de alimentos, decorrente da dor provocada pelos problemas locomotores, assim como devido às citocinas inflamatórias, que interferem negativamente na cascata hormonal relacionada aos processos reprodutivos.

Um estudo realizado na Alemanha (GRANDJOT, 2007) mostrou menos leitegadas nas porcas que apresentavam claudicação quando comparadas às porcas sem claudicação (< 3 leitegadas vs. 4,5 leitegadas, respectivamente).

 

IDENTIFICAÇÃO DO PROBLEMA

Os aspectos que permitem identificar quais fêmeas estão em risco são:

  1. Registros de produção: porcas com a saúde comprometida durante um certo período de tempo normalmente apresentam níveis mais baixos de produtividade;
  2. Comportamento: o sinal mais comum é a claudicação. No entanto, falta de apetite ou apatia podem indicar que há algo anormal; e
  3. Identificação das lesões: a identificação e classificação das lesões de casco e da condição de locomoção, bem como o devido entendimento de suas causas.

A combinação destes três aspectos possibilita uma análise mais criteriosa de quais são as fêmeas candidatas ao descarte. Da mesma forma, antes de se proceder a eliminação dos animais, deve-se entender quais são os fatores predisponentes que levam aos problemas do aparelho locomotor vivenciados na granja.

Como forma de monitoramento da condição do sistema locomotor das porcas, um grupo de pesquisadores, médicos veterinários e nutricionistas de diferentes países reuniu-se em um projeto denominado FeetFirst®. Este projeto, que tem o objetivo de avançar no conhecimento dos problemas locomotores em suínos e na sua prevenção, desenvolveu duas ferramentas para o monitoramento das condições do aparelho locomotor, adotados mundialmente:

  1. Escore das lesões de casco (Figura 4); e
  2. Escore de locomoção (Figura 5).

Figura 4 – Guia para classificações das lesões de casco (ÓZinpro Corporation

 

Figura 5 – Escore de locomoção (ÓZinpro Corporation)

O uso frequente e rotineiro destas ferramentas permite ao suinocultor adotar uma postura mais estratégica no processo de tomada de decisão de quais fêmeas devem ser descartadas efetivamente e quais devem passar pela reabilitação podal, popularmente conhecida como casqueamento.

 

CONCLUSÃO

Está claro que todas as granjas apresentam animais com claudicação.

O procedimento normalmente adotado, nestes casos, é a eliminação dos animais, assumindo-se assim as perdas financeiras e de produtividade futura.

Em alguns casos, especialmente considerando animais em gaiolas, é possível adotar-se outros procedimentos, como o uso de pedilúvios ou pulverização com solução de formol, analgesia de longa duração ou o uso de tapetes de borracha sob os animais.

A implementação destes procedimentos pode resultar em uma mudança de comportamento, que inclui o aumento na ingestão de alimentos e, como consequência, uma melhora na produtividade a curto prazo.

No entanto, estas medidas são paliativas, visando compensar uma falha anterior e, frequentemente, não alcançam o sucesso pleno.

É necessário entender melhor o problema, suas causas e consequências e, assim, adotar medidas preventivas mais efetivas, que tem a ver com manejo, ambiente e nutrição, que levarão ao aumento da longevidade das fêmeas e, por consequência, um melhor resultado financeiro da produção.

 


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