Autor/s. : Gisele Dela Ricci, Graduanda em Zootecnia pela Universidade Estadual Paulista
-UNESP-, SP, Estagiária da Embrapa Suínos e Aves; Dirlei
Antônio Berto e Jose Roberto Sartori, Professores Drº da UNESP, SP; Osmar Dalla
Costa, Pesquisador da Embrapa Suínos e Aves, e L. S. Lopes, Analista da Embrapa
Suínos e Aves.
Introdução
Os
principais prejuízos relacionados com o bem-estar dos animais confinados são
devido à restrição do espaço, dos movimentos e da interação social, que
modifica o comportamento natural dos animais (PUTTEN, 1989). Recentemente, o
desafio é atender a determinação das exigências de bem - estar para os animais,
buscando aumento dos índices produtivos (English
& Edwards, 1992), a partir de ferramentas inovadoras, que permitam boa
qualidade de vida para animas de produção (BORGES et al., 2010).
O
bem-estar animal é avaliado por medidas comportamentais e indicadores
fisiológicos. O primeiro, baseado na ocorrência de comportamentos diferentes do
natural, como estereotipias ou agressividades, enquanto o segundo, em variações
nos níveis sanguíneos, batimentos cardíacos, temperatura corporal e frequência respiratória (MACHADO FILHO & HOTZEL, 2000).
Suínos submetidos a temperaturas acima da sua zona de termoneutralidade
utilizam de mecanismos fisiológicos, como ofegação,
para a redução da temperatura corporal (SARUBBI, 2005).
A
mortalidade na maternidade representa a maior causa de perdas na suinocultura
(ABRAHÃO et al., 2004). A
maternidade é a instalação mais complexa na produção de suínos devido à
necessidade de atender a microambientes diferentes para as matrizes e leitões,
sendo este o maior desafio para o produtor (SILVA, I. J.O.
et al., 2005). Sistemas como
nebulização, ventilação, ar condicionado e resfriamento evaporativo são métodos
que previnem o estresse calórico, apesar de a temperatura corporal não ser
influenciada pelos resfriadores, os métodos são
considerados benéficos para a melhora do conforto animal (NAAS, 2000).
O
estresse por calor, em matrizes suínas, provoca alterações na quantidade e no
tempo de ingestão de alimentos, caracterizando alteração do comportamento ingestivo (QUINIOU, N. et. Al,
2005) com consequentes redução no desempenho das
fêmeas e de suas leitegadas. Comportamentos diferenciados como estereotipias
podem ser notados em matrizes suínas submetidas a estresse calórico. Este
comportamento é uma forma de anormalidade, definido como movimentos repetitivos
que ocupam grande parte do tempo do animal (JENSEN, 2009). Esse comportamento
possui função compensatória e tranquilizante,
ocorrida através da redução da atividade do eixo pituitária-adrenal,
com diminuição dos níveis de cortisol (DANTZER & MORMEDE, 1983). Para os
suínos, as estereotipias mais comuns são a mastigação das gaiolas, madeiras,
bebedouros e comedouros (instalações), enrolar a língua e falsa mastigação
(ZANELLA, 1995; POLETTO, 2010).
A
utilização de enriquecimento ambiental em instalações para suínos tem a
capacidade de introduzir melhorias no ambiente de confinamento permitindo a
redução do estresse, aumento das taxas reprodutivas, diminuição de distúrbios
comportamentais e de mortalidade dos animais (CARLSTEAD & SHEPHERDSON,
2000).
De
acordo com a importância do uso do enriquecimento ambiental e das variações
comportamentais decorrentes do estresse por calor, este trabalho teve por
objetivo avaliar o comportamento de matrizes suínas na maternidade, em
ambientes com e sem enriquecimentos ambientais.
Material e Métodos
O
experimento foi realizado durante os meses do verão (janeiro a março) no setor
de suinocultura da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, UNESP campus
de Botucatu. Foram utilizadas oito matrizes da raça Landrace
e Large White, distribuídas aleatoriamente de acordo
com a ordem de parição (1°, 2°, 3° e ≥ 4°). O comportamento das matrizes
foi avaliado na primeira semana de lactação nos períodos (manhã: das seis às
oito horas, tarde: das doze às quatorze horas e a
noite: das dezoito as vinte horas), com intervalos de cinco minutos entre as
observações. Para o enriquecimento ambiental foram utilizados seis ventiladores
e dois aspersores de telhado. Dos ventiladores, dois
estavam localizados no telhado e outros quatro ventiladores de coluna (modelo
Q500C e 1150 rpm) nas
laterais da sala, na frente e na altura da cabeça do animal em sentido
giratório. Os aspersores eram fixados no telhado e
acionados no momento das observações. As temperaturas ambientais foram
monitoradas através de termômetros de bulbo seco/úmido e globo negro (Tg) com leituras a cada 5 minutos, dentro dos três períodos
do dia, no decorrer dos cinco dias. A temperatura corporal dos animais foi
medida com o auxilio do termômetro de infravermelho. Foram comparados os
ambientes com e sem enriquecimento, sendo a análise do comportamento das
matrizes realizada com o auxílio de um etograma, onde
se avaliou os seguintes comportamentos: lúdicos, estereotipados, ofego, ócio,
interações sociais com leitões, alimentar, consumo de água, movimentação e de
micção. O comportamento dos animais foi avaliado através do teste de Qui-Quadrado (X²), através do procedimento FREQ
do SASTM (2008).
Resultados e Discussões
A
temperatura máxima e mínima dos termômetros de bulbo seco e globo negro foram
32, 34,9, 17 e 18ºC, respectivamente.
Observou-se
um efeito significativo (P<0,001) do enriquecimento
ambiental sobre os comportamentos das matrizes para os comportamentos lúdicos,
estereotipados, ofego, alimentação, consumo de água e movimentação, melhorando
significativamente o bem-estar destas matrizes.
Para
o efeito significativo dos comportamentos estereotipados, Broom
(1981) afirma que quando os suínos são confinados em baias ou presos por um
período de tempo longo, alguns indivíduos apresentam comportamentos
estereotipados, enquanto outros se tornam inativos e não-responsivos. Neste
estudo, o estado de inatividade, foi observado como ócio e não apresentou
efeito significativo.
O
sistema de enriquecimento ambiental não influenciou significativamente os
comportamentos de interação social e micção, tabela 1.
Tabela 1. Variações de comportamento entre os
tratamentos
Observou-se
efeito significativo (P<0,001) do período noturno
apenas para o comportamento lúdico, contudo para o comportamento ofego foi
significativo (P<0,001) nos três períodos dentro do sistema sem
enriquecimento ambiental.
Considerações
Finais Conclui-se que para as matrizes, na primeira semana de lactação, o uso de
enriquecimento ambiental como ventiladores e aspersores
de telhado são eficientes no incremento ao bem-estar das matrizes suínas.