Autor/s. : Jobson
Paulo da Silva (Zootecnista,CCA/Universidade
Federal da Paraíba-UFPB); Ludmila da Paz Gomes da Silva; Frankleudo
Frantchesco A. de Araújo; Terezinha Domiciano Dantas Martins
RESUMO: Objetivou-se com este trabalho
caracterizar as explorações suinícolas e
socioeconômica praticada no município de Santa Cruz-RN. Para tanto foram
aplicados 192 questionários semi-estruturados aos responsáveis pelas unidades
de criação. O questionário abordava questões sobre a mão-de-obra utilizada, o
número de suínos criados, características das raças nativas, bem como outras
explorações zootécnicas. 98% dos produtores praticavam sistema extensivo com
contenção; 0% semi-extensivo e, 2% criavam soltos. Gerou-se
dados qualitativos analisados mediante estatística descritiva básica, e
quantitativos analisados através de distribuição de freqüência. Conclui-se que os criadores de suínos em áreas urbanas do
município de Santa Cruz são na maioria pequenos criadores com condições
semelhantes: criam os animais para ajudar na renda per capta, mão-de-obra
familiar atuante. As condições de manejo, observadas na maioria das criações de
suínos no município de Santa Cruz-RN, indicam precariedade nas formas de
criação, sendo necessária a conscientização e informação dos produtores a
respeito do assunto. A implantação de políticas públicas, que visem auxiliar os
suinocultores, é de suma importância e de necessidade imediata.
PALAVRAS-CHAVE: manejo, produção de suínos, socioeconômico,
suinocultura
INTRODUÇÃO
No Brasil grande parte dos suínos é produzido em sistemas extensivo ou
semi-extensivo de criação, caracterizando-se uma atividade de subsistência
familiar que desenvolve um papel de grande importância sócio-econômica (EGITO et al. 2004).
O conhecimento dos sistemas de produção de suínos tradicionais e das medidas
que se adotam para melhorá-los constituem alternativas válidas para a
conservação dos recursos genéticos animais (EGITO et al; 2004).
A gravidade das conseqüências do manejo inadequado dos suínos, aliado a falta
de infra-estrutura e assistência técnica, dificulta a vida dos pequenos
produtores (SILVA et al. 2005). Portanto existe a
necessidade urgente da conscientização e de ensinamento de boas práticas de
manejo zootécnico para estes animais. É de suma importância o incentivo a
realizações de ações e pesquisas no interior do Nordeste brasileiro, carente
dessas informações. As condições de manejo observadas na maioria das criações
de suínos no município de Santa Cruz-RN, indicam
precariedade nas formas de criação, sendo necessária a conscientização e
informação dos produtores.
A maioria das criações no Estado do Rio Grande Norte é caracterizada como
criação de subsistência por pequenos agricultores e também nas áreas urbanas.
Este trabalho foi conduzido com o objetivo de realizar a caracterização do
modelo de produção de suínos nativos, no município de Santa Cruz-RN, e a
respectiva avaliação dos aspectos socioeconômicos.
MATERIAL E MÉTODOS
A pesquisa foi realizada no município de Santa Cruz situado na região Agreste
do Rio Grande do Norte, foram visitados "in loco" 5 criatórios
situados nas áreas Peri - urbana da cidade e entrevistados 192 produtores de
suínos, que possuíam 1.1224 animais, utilizado um questionário de 10
questionamentos gerais sobre: identificação do produtor, identificação dos
animais, destino da produção, dados do plantel, manejo reprodutivo, manejo
alimentar, manejo sanitário, instalações, problemas na criação e informações gerais
sobre a exploração suinicula, permitindo a
caracterização da produção e as tecnologias adotadas, verificando a real
situação socioeconômica das famílias produtoras.
O município de acordo com IBGE (2007), possui uma população de 33.736
habitantes, com uma área territorial de 592 km2, e um efetivo suíno estimado em
3.618 cabeças.
Os dados coletados foram analisados por meio de estatística descritiva
(quantitativos),da distribuição de freqüência
(qualitativos) utilizando a estatística básica. Para a realização da
caracterização e tipologia da criação de suínos do município.
RESULTADOS E DISCURSSÃO
Observou-se que dos 192 criadores entrevistados no
município estudado levavam em consideração, em suas criações, as fases de
crescimento e terminação, sendo que (26%), realizam o ciclo completo. Os
animais são adquiridos em sua grande maioria pelos criadores de outros
produtores vizinhos (57%) e de feiras livres (43%).
Baseando-se nos modelos de sistemas de criação extensivos e intensivos
(NICOLAIEWSKY et al., 1998),
verificou-se que 98% dos produtores praticavam o sistema extensivo com
contenção, visto que não se pode considerar o sistema de criação como intensivo
apenas pelo fato de estarem os animais presos ou contidos por todo o período de
criação. Esse caso, em que os animais são criados sem preocupação com
produtividade e sem controles zootécnicos, denomina-se sistema extensivo com
contenção.
Para a maioria desses criadores, uma importante fonte de renda familiar, aliada
à utilização de restos da agricultura na alimentação dos animais. Apenas 2%
afirmaram criar seus animais soltos, caracterizando um grupo diferenciado dos
demais.
De acordo com os resultados obtidos em relação ao tempo de permanência na
criação de suínos no município pesquisado, 8% representam os criadores que
estavam na atividade suinícola no período de até 05 a
10 anos, 12% entre 10 a 15 anos e 80% com criadores de 15 a 50 anos,
evidenciando-se um experiência de, no mínimo, 05 anos.
Portanto, há que se aproveitar os conhecimentos desses
criadores de suínos locais para a manutenção desse patrimônio genético, que vem
sendo cultivado, durante muitos anos, tanto pela necessidade, pela
sobrevivência de famílias produtoras, quanto, exclusivamente, pelo prazer que
muitos afirmaram ter com a criação de suínos, mesmo com as adversidades
sociais, comerciais e econômicas do meio.
Verificou-se que 8% dos entrevistados comercializavam diretamente os animais
vivos em feiras livres, 88% para o abate (marchante) e 2% entre eles próprios.
O processo de abate desses animais geralmente era efetuado nos próprios
domicílios.
A comercialização de suínos no universo estudado deixou transparecer uma certa vulnerabilidade, visto que era praticada sem
avaliação de custo/benefício ou de mercado, ao mesmo tempo em que os
comerciantes intermediários, conhecidos como "marchantes", faziam sua
própria lei de mercado, oferecendo aos criadores, também fornecedores, preços
muito inferiores aos praticados na venda da carne suína no mercado,
acarretando, na maioria das vezes, prejuízo para os criadores, pois esses eram
ao mesmo tempo os compradores da carne suína na região.
Em relação à renda principal das famílias produtoras, verifica-se que 51%, 19%,
16% e 5%, provêm da aposentadoria, funcionário público, autônomo e agricultura.
Os outros 9% correspondem à renda oriunda de diversas atividades exercidas e/ou
fontes, concomitantemente, como a agrícola e a pecuária, mais a aposentadoria e
o comércio, atividades dos autônomos. Enfim, diversas atividades de menor
expressão percentual no universo estudado, porém não menos importantes
financeiramente.
Grande parte dos suínos criados no Nordeste do Brasil caracteriza-se por uma
atividade de subsistência familiar que desenvolve um papel de grande
importância socioeconômica, sobretudo, para populações que vivem no meio rural,
especialmente pela fácil adaptabilidade dos suínos às diversas condições, nem
sempre favoráveis à exploração do potencial animal, mas que ainda assim,
contribuem para a diversificação de produtos, segundo afirmação de Silva Filha et al. (2006).
Essa atividade poderia deixar de ser apenas uma atividade de subsistência e
passar a gerar maiores rendas para as famílias produtoras, se explorada em seu
potencial dentro das condições regionais, com melhorias no sistema de criação,
assistência técnica e informação aos criadores. Na cadeia da suinocultura,
segundo Fávero (2003), o produtor historicamente é o elo mais fraco, o mais
desorganizado, o mais descapitalizado e com menor grau de profissionalização.
A suinocultura local, dentro da cadeia produtiva animal, no Nordeste, possui
uma importância subestimada pela sociedade. Considerar a criação de suínos como
atividade meramente de subsistência é negar a função social e econômica que
essa atividade possui. A implantação de uma política publica voltada aos
pequenos criadores de suínos, abastecimento de insumos e uma melhoria na
organização da produção, poderão garantir uma melhor remuneração e melhores
preços para a carne suína, tornando a atividade economicamente viável.
CONCLUSÃO
Os suínos locais estudados, mesmo em situações precárias e adversas,
fornecem proteína de origem animal e renda aos seus criadores, sendo mais
utilizado o sistema de criação extensivo com contenção, que poderá ser
melhorado em condições locais. Os criadores de suínos do município de Santa
Cruz-RN, criam seus animais em situações precárias de manejo zootécnico, em sua
grande maioria, por falta de conhecimento de técnicas que possibilitem, de
maneira adequada, uma criação satisfatória, com o mínimo desejado, dentro de
suas possibilidades e realidade local.