Autor/s. : Irenilza
Alencar Nääs, Rodrigo Garófallo
Garcia e Fabiana Ribeiro Caldara, Professores
Doutores da Faculdade de Ciências Agrárias da Universidade Federal da Grande
Dourados -UFGD-, MS, e Daniela Espanguer Graciano e
Mayara Rodrigues de Santana, Mestrandas em Zootecnia da Faculdade de Ciências
Agrárias da UFGD, MS.
Sumário
O estudo do ganho ou perda de calor da superfície da pele é
de grande significado no desenvolvimento do ambiente ótimo para maximizar o
desempenho dos animais. Objetivou-se por meio desse trabalho avaliar a
temperatura superficial de porcas lactantes, submetidas a duas formas de
ventilação: T1, ventilação natural (VN) e T2, resfriamento adiabático (RA). A
coleta de dados foi realizada em uma granja comercial de suínos, localizada no
município de Holambra. As temperaturas de pele foram
registradas utilizando a câmera termográfica Testo®, nos períodos da manhã e da
tarde, em cinco dias escolhidos aleatoriamente. Foram calculadas as médias dos
12 pontos por animal e utilizado o teste t-Student
com confiabilidade de 95%, para analisar os dados. No período da manhã não
houve diferença estatística entre os tratamentos, apresentando diferença
estatística somente entre as médias no período da tarde (36,51±1,51 e 34,42
±1,25). O resfriamento adiabático é eficiente em melhorar o conforto térmico
para porcas em lactação nos períodos mais quente do dia.
PALAVRAS-CHAVE: suínos, bem
estar animal, conforto térmico.
INTRODUÇÃO
O suíno é um exemplo de animal cujo conforto vem
sendo alterado pela intensificação da produção, caracterizada pela restrição de
espaço, movimentação e interação social (PUTTEN, 1989), o que traz como consequência secundária o detrimento de seu conforto térmico,
assim como da sua produtividade. A determinação das exigências de bem-estar
animal em relação à saúde e à rentabilidade da produção, constitui um grande
desafio para a simplificação do manejo, redução dos custos e aumento da
produtividade. Outros fatores do ambiente onde o animal está inserido agem em
conjunto, ou seja, a temperatura, umidade relativa, velocidade do ar, presença
de gases e poeira têm efeitos diretos sobre o bem-estar e, consequentemente,
sobre a produção animal.
Os suínos perdem calor principalmente pelos
processos sensíveis, condução, convecção e radiação. Quando submetidos ao
estresse calórico inicia-se o aumento das perdas evaporativas para compensar a
redução das perdas sensíveis de calor. No Brasil, em função das altas temperaturas
que predominam em grande parte do ano, a perda por evaporação da água por meio
do trato respiratório é a forma mais efetiva de perda de calor, uma vez que os
suínos possuem poucas glândulas sudoríparas funcionais (RODRIGUES et al., 2011).
O resfriamento adiabático funciona com base em um
processo isoentálpico (processo que ocorre com
entalpias iguais), através da cessão do calor sensível contido no ar em contato
com a superfície liquida. O resfriamento adiabático tem sido utilizado
amplamente em criação de suínos e aves, como forma de resfriar o ambiente de
alojamento (BARBARI & CONTI, 2009; MORALES, 2010).
A termografia
infravermelha tem sido uma ferramenta utilizada com sucesso, para estimar a
temperatura superficial de várias espécies (PANDORFI et al., 2012). O sensor de uma câmara termográfica
permite que a energia de radiação seja convertida em um sinal elétrico, sendo
posteriormente transformado para a forma digital, cujos valores representam as
temperaturas de pontos particulares da imagem. As cores da escala são então
atribuídas a esses pontos (pixels) e, desta forma, é desenvolvido um mapa de
distribuição de temperatura no objeto em estudo (termograma). Uma vez que a
quantidade de energia libertada pelos organismos é uma função da sua
temperatura, os termogramas são representações quantitativas da temperatura da
superfície dos objetos estudados (KULESZA & KACZOROWSKI, 2004).
Esta pesquisa teve como objetivo avaliar a
variação da temperatura da pele de porcas lactantes, expostas a resfriamento
adiabático no alojamento, utilizando termografia
infravermelha como instrumento de aferição da temperatura superficial.
MATERIAL E METODOS
A coleta de dados foi realizada
em uma granja comercial de suínos, localizada no município de Holambra, na latitude 22º 37' 59" S, longitude
47º 03' 20"O e a altitude média de 610 m. A classificação climática
segundo Köppen é o Cwa
(Clima temperado úmido com inverno seco e verão quente), que abrange toda parte
central do estado de São Paulo, com a temperatura média anual de 23ºC. O
experimento for realizado durante o mês de maio de 2012, em um período de
lactação. A temperatura durante a coleta de dados, no outono da região Sudeste
do país, variou de 17 a 28 ºC.
O experimento foi aprovado pelo Comitê de Ética
da UFGD, sob protocolo N° 004/2011. Foram utilizadas 20 fêmeas suínas
multíparas de linhagem comercial, alojadas individualmente nas gaiolas do
galpão de maternidade. O experimento teve inicio no dia do parto e se estendeu
durante o período de lactação de 21 dias, até o desmame dos leitões. As
matrizes receberam dieta comercial utilizada na granja e água ad libitum.
As porcas foram distribuídas em dois tratamentos
de 10 animais cada, sendo cada porca considerada uma unidade experimental,
submetidas a duas formas de ventilação: T1, ventilação natural (VN), onde havia
apenas as aberturas de paredes laterais e T2, com ventilação resfriada
direcionada acima das cabeças das porcas, chamada de resfriamento adiabático
(RA).
O sistema de resfriamento
adiabático/evaporativo foi instalado na extremidade do galpão da maternidade,
composto por placas de filtro adiabático tipo colmeia,
com ampla superfície úmida, distribuída a partir de um reservatório de água e
um sistema de circulação e distribuição de água, onde se dá a retirada do calor
sensível, um ventilador axial. Todo este sistema estava contido em um
gabinete metálico, de onde partia um sistema de ductos com saídas individuais
(8 cm de diâmetro) para a parte superior das gaiolas da maternidade.
Os animais foram distribuídos ao acaso no mesmo
galpão em gaiolas alternadas, 10 porcas receberam a ventilação refrigerada e 10
porcas receberam a ventilação natural. Para o tratamento de ventilação natural,
a saída de ar dos tubos foi fechada com uma tampa plástica, impossibilitando o
ar mais frio, de circular sobre as porcas. O sistema de resfriamento foi
acionado, quando a temperatura ambiente chegava a 23ºC.
As temperaturas de pele foram registradas
utilizando a câmera termográfica Testo®. Foram obtidas imagens termográficas
cobrindo toda a extensão do animal (cabeça, dorso, região lombar, glândulas
mamárias e pernil). As temperaturas superficiais foram registradas nos períodos
da manhã (entre 07h:00min e 09h:00min) e da tarde
(entre 15h:00min e 17h:00min), em cinco dias escolhidos aleatoriamente. As
imagem foram processadas usando o software IRSoft da Testo®, a partir de 12 pontos selecionados
aleatoriamente, utilizando emissividade de 0,95. Foram calculadas as médias dos
12 pontos por animal (Figura 1). Foi utilizado o teste t-Student
com confiabilidade de 95%, para analisar os dados.
FIGURA 1. Imagens
termográficas das temperaturas superficiais de matrizes, de acordo com o
sistema de ventilação natural (a) ou resfriamento evaporativo (b).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Não houve efeito do tratamento sobre temperatura
superficial das porcas na parte da manhã (P≥0,05), entretanto, na parte
da tarde foi observada redução na temperatura superficial das porcas submetidas
ao resfriamento adiabático (P≤0,05; Tabela 1). O estresse calórico de
ambientes com temperaturas elevadas é agravado pela produção de calor endógeno,
especialmente na fase de lactação, exigindo uma dissipação adicional. Nesta
situação, as fêmeas passam a apresentar respiração superficial (curta) e pouco
eficiente para dissipar o calor interno, em virtude do menor tempo disponível
para a saturação do ar expirado (FEHR et
al., 1983; TOLON & NÄÄS, 2005). O resfriamento evaporativo localizado na
região dorsal, sobre a cabeça da porca, tem o objetivo de aumentar a perda de
calor para o ambiente e reduzir a temperatura superficial da pele e, a
literatura indica que, o resfriamento direto na pele favorece o conforto
térmico e o bem-estar das porcas em lactação (KIEFER et al., 2012; MALMKVIST et
al., 2012; MARTIN, 2012).
TABELA 1. Médias das
temperaturas superficiais de porcas lactantes nos períodos manhã e tarde,
submetidas a ambiente com ventilação natural (VN) ou
resfriamento adiabático (RA).
Com o resfriamento adiabático, o ar mais frio do
ambiente é direcionado na cabeça da porca lactante, provavelmente influenciando
a sensação térmica do animal. Em nenhum dos tratamentos a amplitude térmica ao
longo do dia foi superior à faixa de 5 a 8 °C (Tabela 1). NOBLET & LE
DIVIDIC H (1982) observaram que a eficiência de utilização da energia
metabolizável pelos leitões se reduz linearmente com o aumento da temperatura
ambiental e, referindo-se a um trabalho de CLOSE (1971), relatam que essa
eficiência decresce 0,8% para cada grau de aumento da temperatura ambiente em
relação à temperatura crítica do animal.
A temperatura superficial na pele das porcas
apresentou uma queda no período vespertino, provavelmente devido ao decréscimo
do fluxo sanguíneo dos vasos capilares da epiderme. Observa-se que a variação
foi de cerca de 2°C na pele das porcas do tratamento
RA, enquanto no tratamento VN foi de 5°C entre os períodos da manhã e tarde
(Figura 2), concordando com CURTIS (1983) ao sugerir que 8ºC é o limite de
flutuação de temperatura. Quanto à temperatura da pele, esta deve estar em
torno de 34 ± 1 °C), em condições de alojamento dentro da zona de termoneutralidade (MALMKVIST et al., 2012). Com o uso de resfriamento evaporativo
obteve-se redução da temperatura de pele das porcas (de 36,51± 1,51 para 34,42
± 1,25), durante o período da tarde, amenizando o estresse por calor no período
da tarde.
FIGURA 2. Efeito da
ventilação natural (VN) e resfriamento adiabático (RA) na temperatura de pele
de porcas lactantes nos períodos de manhã e tarde.
Avaliando a temperatura superficial de porcas
lactantes alojadas em ambiente com ou sem resfriamento do piso, SILVA et al. (2009) concluíram que as
maiores temperaturas superficiais observadas devem-se ao aumento na circulação
sanguínea periférica como forma de dissipar o calor corporal. LIMA et al., (2011) verificaram que o
resfriamento do piso da gaiola de maternidade favorece a dissipação de calor
corporal, melhorando a condição térmica, a capacidade de consumo e o desempenho
produtivo de porcas em lactação durante o verão. Estes resultados corroboram
com o presente trabalho, que encontrou decréscimo de temperatura superficial
quando houve a ventilação resfriada direcionada às porcas.
BARBARI & CONTI (2009) encontraram benefícios
no bem-estar de porcas gestantes submetidas a algum tipo de resfriamento,
quando a temperatura ambiente ultrapassou 30 °C. Já FOX (2013) encontraram efeito positivo do uso de resfriamento no
transporte de suínos, sob condições de clima de verão, reforçando os benefícios
deste recurso reportados por outros autores (FEHR et
al., 1983; TOLON & NÄÄS, 2005).
CONCLUSÕES
O uso de resfriamento adiabático utilizado foi
eficiente em reduzir a temperatura superficial da pele nos períodos mais
quentes do dia, amenizando o estresse térmico no período da tarde, o que pode
ser comprovado com o uso de imagens termográficas.