Autor/s. : Jamil
Monte Braz, Zootecnista, M.Sc.
De acordo com a FAO (2010), a demanda mundial por alimentos,
principalmente de origem animal, é muito grande e a indústria e toda sua cadeia
de produção de alimentos ainda está longe de suprir as necessidades das
populações carentes, especialmente do 3° mundo.
No caso da produção animal, muitas questões e problemas antes
ignorados e inexistentes passam agora a fazer parte dos principais temas
relacionados à produção dos alimentos de origem animal. A falta de um controle
efetivo com relação ao manejo das diversas etapas da cadeia produtiva somada à
necessidade de se obter alta produtividade tem sido responsável pelo surgimento
de novos problemas de ordem sanitária, ou pelo retorno de enfermidades animais outrora controladas, como o caso do mal da vaca
louca (Encefalopatia Espongiforme Bovina), zoonoses como a leptospirose bovina,
as tuberculoses bovina, equina e suína, influenza
aviária e febre aftosa.
O manejo intensivo, tão utilizado por grandes unidades
produtoras, granjas e fazendas de grande porte, leva os animais a um quadro de
estresse que se traduz em fragilidade imunológica, com maior disseminação de
doenças. Trazendo a necessidade da utilização de antibióticos como promotores
de crescimento, que junto com outras substâncias, como pesticidas e fertilizantes
da agricultura, que ficam disponíveis na natureza contaminando o meio ambiente,
a comunidade, águas, solos, ar, alterando o sistema ecológico.
Nesse contexto, a necessidade de um sistema produtivo adequado
se une à questão da produção animal ecologicamente correta, com a implementação do conceito de sustentabilidade nas unidades
produtoras (fazendas, granjas), para que além do fornecimento de um produto
final de alta qualidade, sem resíduos químicos (resíduos de antibióticos) e
biológicos (microorganismos patogênicos e suas toxinas) para o mercado
consumidor, a manutenção de um meio ambiente equilibrado garanta o fornecimento
desse bom produto no futuro e a manutenção das boas condições dos recursos
naturais locais.
A exigência do mercado consumidor, principalmente europeu, mas
também do mercado interno quanto ao produto de origem animal e aos sistemas de
produção geradores desse produto, levando em conta também sua influência sobre
o meio ambiente tem incentivado diversos criadores a adotarem técnicas compatíveis
com esse mercado. Hoje, um número considerável dos produtores
brasileiros já fornece ao mercado produtos como o boi verde, a galinha caipira
com carne e ovo orgânico, o vitelo e o boi orgânico, leite orgânico e diversos
produtos de origem animal, certificados e credenciados por entidades
especializadas em orientar e fiscalizar tanto o produto final (carne, ovos,
leite e derivados), como toda a cadeia produtiva geradora desses produtos
através de tecnologias como a rastreabilidade, por
exemplo.
Os principais problemas com relação ao meio ambiente, causados
pelas criações animais, dizem respeito principalmente à qualidade da água, mas
também ao odor, barulho, poeira, presença de patógenos
e de resíduos de antibióticos e outras substâncias no meio ambiente e nos
alimentos. A perda de matéria orgânica no solo, predominantemente como
resultado da erosão, é uma das principais preocupações.
Entre os patógenos veiculados,
destaca-se a Salmonella, existindo mais de 200
doenças de etiologia conhecida e com sintomatologia variada, que podem ser
transmitidas através dos alimentos. Apesar de, na maioria das vezes, não se
manifestarem clinicamente nos animais alojados nas granjas, passam a ser
veiculados, principalmente pelo trato gastrintestinal, possibilitando a
contaminação das carcaças durante o abate e o processamento industrial.
A legislação brasileira, no que diz respeito
ao meio ambiente, é considerada uma das mais completas do mundo, o que não se
vê ainda é, além de uma fiscalização efetiva, uma legislação específica, como
em alguns países da Europa, por exemplo, para controlar e orientar a produção e
utilização dos dejetos animais, visando aliviar o impacto da produção animal no
meio ambiente. Zootecnia Jamil Monte Braz Zootecnista,
M.Sc.
A medida que se aumenta a produção de alimentos
de origem animal, já que a população cresce consideravelmente a nível mundial,
naturalmente se aumenta o impacto sobre o meio ambiente. Sendo assim, esforços
devem ser concentrados visando diminuir cada vez mais o impacto sobre a
natureza, em sistemas sustentáveis de produção animal os procedimentos para
promover boas condições ao meio ambiente têm sido priorizados.
De modo geral, podemos dividir os poluentes que mais causam
danos aos ecossistemas em dois grandes grupos. O primeiro inclui substâncias
presentes nos efluentes de grandes áreas urbanas, principalmente associadas à
disposição imprópria de resíduos sólidos (lixo) e ao tratamento inadequado ou
inexistente de esgoto sanitário.
O segundo grupo, composto pelos poluentes de origem industrial,
inclui substâncias tóxicas, como metais pesados, gases de efeito estufa e
efluentes da agricultura mecanizada. Ao contrário dos contaminantes do primeiro
grupo, cujo efeito é geralmente local ou no máximo regional,
esses têm o poder de afetar o ambiente em escala global.
O excesso de nutrientes da agropecuária do meio-oeste norte
americano, drenado para o oceano pelo rio Mississipi, é responsável por
extensas áreas de anoxia no golfo do México. A
emissão de gases de efeito estufa (principalmente CO2) e de metais pesados para
a atmosfera, origina-se em grande parte na geração de
energia para os EUA e para países da comunidade européia, que consomem cerca de
70% dos combustíveis fósseis do planeta. Aproximadamente dois terços da produção
de cereais são utilizados na produção animal nos países mais desenvolvidos, em
sistemas intensivos e semi-intensivos.
As grandes fazendas e granjas produzem uma quantidade muito
grande de dejetos, e a especialização tem criado fazendas maiores e áreas concentradas
de produção. Preocupações com o meio ambiente são divididas em três principais
categorias: Solo – acúmulo de nutrientes, Água – eutroficação e Ar – aquecimento global e odores. Na
agricultura observamos o surgimento de pragas, doenças e esgotamento dos solos,
comprometendo as características químicas, físicas e biológicas de solos e água
pelo uso indiscriminado de fertilizantes e agrotóxico.
Os ambientes aquáticos, como rios, estuários e áreas costeiras,
são os mais afetados. O excesso de matéria orgânica e de nutrientes,
particularmente nitrogênio (N2) e fósforo (P), promovem a proliferação de algas
e plâncton em águas naturais. O resultado são ambientes anóxicos
e subóxidos, ou seja, com níveis insuficientes de
oxigênio para o pleno desenvolvimento da vida aquática.
Além do odor, manejo ou estocagem inadequada de dejetos podem
provocar acúmulo de minerais como fósforo (P), cobre (Cu), zinco (Zn) e de
nitrato no solo, que podem poluir águas subterrâneas e superficiais. Um excesso
de aplicação de dejetos animais em lavoura pode levar a um acúmulo de metais
pesados no solo, com conseqüências para o crescimento das plantas e para a
saúde humana e animal, comprometendo também a biota do solo. Nas áreas próximas
de unidades de produção animal, a qualidade da água e do ar tem importância
considerável, devido à facilidade de locomoção das partículas, substâncias e
microorganismos nesses meios.
Grandes avanços têm sido observados nas
últimas décadas com relação ao controle do nível de nutrientes nos dejetos
animais através da nutrição, melhorando a eficiência de utilização dos
nutrientes, com a elaboração de dietas ajustadas às diversas idades e fases de
produção, além do beneficiamento e melhoria da qualidade dos alimentos
oferecidos, maior consciência com relação ao armazenamento dos ingredientes e
rações, e utilização de ingredientes alternativos. O avanço também tem
vindo de outras áreas do conhecimento e pesquisa, incluindo além da nutrição, a
genética, fisiologia, controle de doenças e manejo, diminuindo os níveis de
nutrientes e o volume destes dejetos, melhorando cada vez mais o manejo dos
dejetos animais e o controle do odor.