Autor/s. : Meirelane
Chagas da Silva & José Antonio Delfino Barbosa Filho (Núcleo de Estudos
em Ambiência Agrícola e Bem-estar Animal (NEAMBE)
Universidade Federal do Ceará – UFC).
Ao se falar de ambiência é comum à associação
direta feita às variáveis ambientais temperatura e umidade relativa do ar. E
esses fatores são, sem dúvida nenhuma, extremamente importantes e exercem
considerável influência na produtividade dos animais e no bem-estar dos
trabalhadores. Mas existem outros fatores, que por serem mais difíceis de
detectar, normalmente não recebem a devida atenção por parte dos produtores
rurais, mas que nem por isso são menos importantes. Entre esses fatores,
destacam-se os níveis de gases e poeira presentes no ambiente de criação e
confinamento animal.
Apesar da importância, pouco se fala sobre o
monitoramento dos níveis de gases no interior das instalações e dos prejuízos
causados aos animais quando estes níveis estão acima do que é recomendável.
Embora estes níveis ainda não estejam bem definidos para todas as espécies, já
se sabe que eles podem influenciar vários aspectos fisiológicos e, como consequência, refletir no desempenho apresentado pelos
animais podendo tornar-se um fator limitante da produção.
O aumento da concentração de
poluentes no ar dentro de um galpão destinado a produção animal pode ser
ocasionado por reduzidas taxas de ventilação, podendo também ser consequência de um programa de manejo sanitário mal
sucedido, já que, em geral, esses gases são provenientes da degradação dos
dejetos liberados pelos animais, como é o caso da amônia.
A unidade de medida desses poluentes é o ppm (partes por milhão) e
observa-se que, por exemplo, as aves são bastante sensíveis a concentrações de
amônia superiores a 50 ppm, o que infelizmente, é uma
situação frequente em algumas instalações.
A baixa qualidade do ar interfere na saúde, no
bem-estar, na qualidade do produto final, na conversão alimentar e na
eficiência produtiva dos homens e dos animais. Estudos comprovam que a amônia e
o gás sulfídrico podem causar lesões nos tecidos, perda de apetite, redução da
taxa de crescimento, atraso da maturidade sexual, problemas pulmonares e
aborto. Estudos mostram que ambientes com níveis de concentração de amônia a
partir de 10ppm poderão causar danos na superfície dos pulmões, a partir de
20ppm, podem aumentar a susceptibilidade a doenças respiratórias e a partir de
50ppm poderão reduzir a taxa de crescimento ou produtividade no sistema de
criação de aves poedeiras. O metano, por sua vez, oferece riscos de explosão e
pode causar asfixia quando em níveis muito elevados.
Outro poluente presente nas instalações é a
poeira, que funciona como um importante veículo de transmissão de doenças,
podendo absorver gases e líquidos e carrear microorganismos patogênicos. A
poeira inalada pode ser eliminada pelo organismo pela ação mucociliar
dos brônquios e dos macrófagos alveolares, mas se for contaminada, por exemplo,
pela amônia, poderá destruir os cílios do aparelho respiratório, ficando
comprometido este tipo de defesa. Nos homens, é comum o desenvolvimento de
problemas respiratórios quando submetidos a um ambiente de trabalho que possui
um elevado nível de poluentes no ar, afetando assim o seu rendimento e
capacidade de trabalho.
O bem-estar dos animais ficará comprometido em
ambientes com níveis elevados de gases nocivos e poeira. Um ambiente com essas
condições também irá afetar o bem-estar dos trabalhadores e dessa forma poderá
influenciar na sua interação com os animais, causando estresse desnecessário
aos mesmos. Sabe-se que quando um animal de produção fica estressado ele não
consegue expressar todo o seu potencial produtivo.
Para se proceder com o
monitoramento dos gases em uma instalação existem atualmente no mercado
equipamentos de fácil manuseio, através dos quais é possível monitorar os
níveis de concentração dos principais gases que afetam a produção e a partir
dessas leituras, determinar se a condição ambiental encontra-se dentro do que
se considera aceitável, no entanto, esses equipamentos ainda são relativamente
caros, mas, por outro lado, apresentam uma interessante relação
custo/benefício, já que um mesmo aparelho pode analisar a concentração de
diferentes tipos de gases.
O método considerado mais eficiente para
controlar a qualidade do ar no interior das instalações ainda fica por conta de
uma adequada ventilação, que irá proporcionar uma constante renovação do ar.
Para tanto esse mecanismo deve ser bem dimensionado para que seja alcançado
esse objetivo. Existem ainda métodos mais modernos e sofisticados, mas que
ainda não estão totalmente bem definidos, como no caso da utilização de
radiação ultravioleta, que "queima" microorganismos, odores e
impurezas de difícil controle pelos sistemas usuais.
Diante da importância do assunto, pesquisas vêm
sendo desenvolvidas pelo NEAMBE (Núcleo de Estudos em Ambiência Agrícola e Bem
Estar Animal), a fim de se determinar os níveis de poluentes aéreos aceitáveis
para os animais de interesse zootécnico. Mas apesar disso, sabe-se que ainda há
muitas lacunas a serem preenchidas para que os produtores possam superar as
perdas produtivas causadas por este tipo de problema e não tenham comprometidos
os índices zootécnicos de sua propriedade. Isso poderá ser conseguido através
de um adequado dimensionamento dos galpões e utilização de densidade de criação
adequada, além da adoção de boas práticas de manejo evitando-se o acúmulo de
dejetos e de poluentes no ambiente de criação proporcionando assim maior
produtividade e qualidade de vida aos animais e trabalhadores.
Finalmente é importante também que sejam
desenvolvidas novas técnicas de controle da qualidade do ar que sejam mais
acessíveis, simples e baratas, tornado o conforto aéreo um ponto de análise
constante dentro do monitoramento ambiental moderno das instalações
zootécnicas.
***Texto originalmente publicado pelo
site Portal Dia de Campo, na Coluna “Construções Rurais e
Ambiência” em setembro de 2011.