Informativo Técnico Nº. 281

Prevalência de lesões de casco em porcas da região Sul e Sudeste do Brasil

Autor/s. : Kramer, Médico Veterinário privado; Angélica de Paula Teixeira e Geraldo Camilo Alberton, Curso de Medicina Veterinária, Universidade Federal do Paraná -UFPR-, PR, e Tatiana Carolina Gomes Dutra Souza, Médica Veterinária privada e Mestrada em Ciências Veterinárias, UFPR, PR.

INTRODUÇÃO

As porcas criadas em sistemas confinados são muito susceptíveis às lesões nos cascos, sendo que em torno de 60 a 99% destas matrizes apresentam algum tipo de lesão [2,5]. Entre os fatores de risco para o surgimento desta lesões, destacam-se a baixa qualidade do piso, espaçamento e qualidade inadequada dos pisos ripados, deficiência mineral e vitamínica, além da seleção genética de animais de alta produção e rápido crescimento [1,2]. As lesões de casco, além de permitirem o ingresso de infecções que podem vir a tornar-se sistêmicas [6], estão relacionadas com claudicação [8] que, por sua vez, tem origem na dor gerada por estas afecções, gerando também preocupações quanto ao bem-estar. A claudicação das porcas também está relacionada com o descarte precoce dos animais em função de significativa perda de produtividade [2], seja por redução no consumo de alimento, seja pela interação negativa dos mediadores inflamatórios na cascata hormonal [8]. Tendo em vista que são escassos os dados sobre lesões podais na suinocultura brasileira, o presente estudo teve como objetivo avaliar a prevalência das lesões de casco em porcas criadas intensivamente em granjas da região Sul e Sudeste do Brasil.

 

MATERIAIS E MÉTODOS

Foram avaliados os cascos dos membros posteriores de 1.766 porcas, de 26 granjas, de cinco estados brasileiros (MG, PR, RS, SC e SP), de planteis que somam 41.829 porcas e leitoas das principais linhas genéticas presentes na suinocultura brasileira, no período de junho/2012 a julho/2013. Os animais foram avaliados nas gaiolas de maternidade, em decúbito lateral, escolhidos aleatoriamente e considerando 10% das fêmeas em reprodução, até um total de 100 porcas por granja. As lesões foram classificadas conforme tipo de lesão (Crescimento e Erosão da Almofada Plantar [AP], Rachadura Almofada Plantar-Sola [RAPS], Lesão de Linha Branca [LB], Rachadura Horizontal da Parede do casco [RHP], Rachadura Vertical da Parede do casco [RVP], Crescimento das Unhas [UN] e Crescimento ou Ausência das Unhas Acessórias [UA]) e grau de severidade (0 - normal; 1 - leve; 2 - moderada; 3 - grave) [4].

 

Figura 1 Crescimento da Unha (UN); Escore 1

 

RESULTADOS
Ao menos uma lesão de casco foi observada em 99% (1.749) das porcas. A prevalência das lesões quanto à severidade está detalhada na Tabela 1. A prevalência total das lesões foi, em ordem decrescente: AP - 92%, UN - 77%, UA - 67%, RHP - 54%, LB - 50%, RAPS - 38% e RVP - 35% . Considerando a prevalência das lesões de acordo com a severidade, destacam-se UN-1 (71%) - Figura 1, AP-2 (44%) - Figura 2 e RHP-1 (37%) - Figura 3.

 

Tabela 1 – Prevalência das lesões quanto à severidade

 

DISCUSSÃO E CONCLUSÃO

Os dados deste estudo ratificam estudos internacionais, que demonstram que mais de 80% das porcas apresentavam ao menos um tipo de lesão [2,5]. Isso evidencia a importância do tema na suinocultura brasileira, seja pelo impacto na longevidade dos animais ou no desempenho produtivo. Considerando que as lesões de severidade moderada e severa, por afetarem o córium e o tecido subcutâneo, interferem negativamente na longevidade do plantel, merecem atenção o Crescimento e Erosão da Almofada Plantar (58%), Crescimento ou Ausência das Unhas Acessórias (33%), Lesão de Linha Branca (32%) e Rachadura Almofada Plantar-Sola (17%). Desta forma, é necessário que sejam adotadas medidas que minimizem a ocorrência das lesões de casco, que incluem ações relacionadas com manejo, qualidade das instalações, genética e nutrição. Considerando este último aspecto, os nutrientes que interferem na saúde do casco incluem ácidos graxos, cistina e metionina, cálcio, cobre, cromo, manganês, selênio e zinco, além das vitaminas A, D, E e biotina [7]. Estudos recentes tem demonstrado que a suplementação de zinco, manganês e cobre, nas formas de complexo metal-aminoácido reduzem a incidência das lesões de casco [3], além de melhorarem o desempenho das porcas [9,10]. Esforços para diminuir as lesões de casco serão revertidos em maior longevidade das porcas, melhor desempenho produtivo e, consequentemente, melhor desempenho financeiro da produção.

 

Figura 2 Crescimento e Erosão da Almofada Plantar (AP); Escore 2

 

Figura 3 Rachadura Horizontal de Parede (RHP); Escore 1

 


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