Autor/s. : Médico Veterinário Zootecnista Marco Antonio Jacho
López.
É evidente que a climatização é
um fator determinante na produção suína, por esse motivo durante muito tempo os
esforços para controlar a temperatura, humidade relativa,
a ventilação e os possíveis efeitos negativos que a escolha equivocada ou pouco
adequada de um determinando sistema poderia provocar, levaram os investigadores
a desenvolver vários sistemas, todos eles diferentes e válidos.
Este artigo não pretende ser um
tratado sobre como desenvolver o sistema mais adequado, mas sim tenta explicar
como o ambiente pode afetar o rendimento dos animais até tal ponto que não
venham a superar as expectativas geradas pelo seu potencial genético, bem como
provocar um aumento significativo nos custos de alojamento e alimentação.
Fonte: Granja Gerona
– Espanha.
Como certamente se terão já apercebido, o sistema
produtivo sofre uma verdadeira revolução ética e tecnológica baseada no
conceito de “bem-estar animal”.
“Deve ter-se presente que, em condições de
confinamento, deve ser o homem a se comprometer a proporcionar as condições
ambientais que garantam o bem-estar e o rendimento” Babot
y Revuelta (2009).
Necessidades ambientais e de alojamento
do porco desmamado
O controlo ambiental dos habitáculos que albergam
os leitões de três a quatro semanas (na maioria dos países, os leitões são
desmamados entre os dezassete e os 30 dias) são
encaminhadas para a melhoria da produtividade e do estado sanitário dos
animais. Tendo em conta que o desmame é um momento crucial da produção suína,
uma grande parte dos resultados produtivos e económicos
posteriores dependerão dos êxitos e fracassos desse período.
• O período de desmame apresenta uma série
de dificuldades para os leitões, como as seguintes:
– Vulnerabilidade imunológica.
– Necessidade de uma temperatura ambiental tendencialmente mais alta.
– Mudança importante de alimentação
– Separação da mãe e formação de novos
grupos sociais.
Este é um quadro perfeito para sofrer estresse e
começar a etapa real de crescimento com muitos problemas.
Sem lugar a dúvidas o controlo ambiental
(temperatura, humidade relativa, ventilação,
iluminação, clima, densidade, tamanho do grupo, estrutura da instalação) é um
pilar indispensável onde devemos incidir para obter os melhores resultados.
Temperatura
“A temperatura ambiente é o componente
predominante do ambiente climático. As necessidades de temperatura dependem de
vários fatores, entre os quais se destacam, por sua
importância quantidade de alimento consumido e o isolamento corporal” J.R. Pluske, J.Le
Dividich, M.W.A. Verstegen ( 2007).
A temperatura ótima ao desmame é a que tem por
objetivo principal minimizar as perdas de calor para evitar uma redução
excessiva de gordura corporal. Como já é conhecido, quando a temperatura
ambiente agride o seu organismo o animal põe em marcha mecanismos de regulação
de temperatura (alterações de consumo de alimento, alterações na atividade,
tiritar, intercâmbio de calor com o meio, etc.). Por esta razão a temperatura
torna-se um problema quando provoca um sobre consumo de alimento como resultado
de ultrapassar a temperatura crítica inferior (TCI).
Dito de outra forma, quando o leitão tem calor
deixa de comer e quando tem frio come em excesso. Que tem isto de mal? Segundo Maenz et
al ( 1994), leitões mantidos a 21 ºC durante os
primeiros dez pós-desmame crescem cerca de 33% menos e consomem cerca de 53%
mais de alimento que os leitões mantidos a 29ºC . Considerando o custo atual do
alimento, “ não faz falta dizer nada mais”.
Por outro lado para conseguir
que a rentabilidade das explorações não se veja tão afetada pelo custo que
supõe “manter uma temperatura ambiental relativamente alta que se
considera essencial para uma produtividade ótima” utilizam-se várias
estratégias como a criação de um microclima, a
presença de cama quente, a redução da temperatura do ar noturno (estratégias
para reduzir custos em aquecimento que nem sempre são benéficas para os
animais).
Fonte: Exploração em ciclo fechado.
Barcelona – Catalunha.
Humidade
relativa
A humidade relativa
expressa a quantidade de água contida no ar em relação
à que poderia conter à mesma temperatura num nível de saturação. Entendendo-se
por nível de saturação aquele a que o ar já não pode conter mais vapor de água
(a quantidade de vapor de água não pode ser ilimitada). Este parâmetro é muito
importante para o bem-estar dos animais, já que uma percentagem entre os 50 e
70% em princípio não provocaria nenhum problema, mas uma percentagem inferior a
40% provoca mucosas secas e tosse irritante, pelo qual o consumo de alimento é
muito afetado.
Holmes y Close (1977) concluíram que a uma
temperatura de 30 ºC, aumentar em 18% a humidade
relativa equivale a um aumento de um grau a temperatura ambiente. Por isto
Forcada (1997) recomenda, dentro do intervalo admitido, níveis de 60-65% para
os leitões.
Ventilação e velocidade do ar
A ventilação cumpre duas funções importantes, por
um lado elimina a humidade e os gases nocivos do ar e
por outra controla a temperatura dos alojamentos dos animais.
“ a ventilação determina
a velocidade do ar ao nível do porco e como tal desempenha um papel importante
no índice de perda de calor ”. Verstegen
et al. (1987) concluíram que
um aumento da velocidade do ar desde os 8 aos 40 cm/s provoca um aumento de 3,8
ºC na temperatura preferida pelo porco, mas Hacker et
al. (1979) afirma que abaixo da TCI, um aumento da velocidade do ar desde 0 (ar
imóvel) até 50 cm/s provoca uma redução de 15% no GMD, assim se se aumenta a velocidade do ar e sobre todo quando a
temperatura é fria o leitão sofre muito (a maioria dos autores coincidem em que
se pode chegar a uma velocidade de 0,5 cm/s para os leitões). Além disso o ar deve ser suficientemente limpo para não
afetar nem o bem-estar nem o rendimento dos animais (os gases e partículas em
suspensão que podem contaminar o ar e a maneira como podem afetar os animais já
foi devidamente analisada no artigo RECOMENDAÇÕES PRÁCTICAS PARA REDUZIR O IMPACTO
AMBIENTAL EM EXPLORAÇÕES PORCINAS, A GESTÃO DOS GASES).
Iluminação
O fotoperíodo
influencia e muito a produtividade. Bruinix et al. (2002) observaram que o
consumo médio de alimento diário (CMAD) aumenta em 16% e 38% durante a 1ª e 2ª
semanas pós-desmame respetivamente, em porcos
submetidos a um programa de iluminação de 23:1 h em comparação com um programa
de 8:16. Também é necessário deixar claro que quantidades extremas de
intensidade e duração de iluminação prejudicam o rendimento dos animais. As
normas de EU vigentes exigem que os porcos sejam expostos a 8 h de luz/dia e a
uma intensidade luminosa de 40 lux (intensidade que
permite poder ler em qualquer lugar da instalação). Por outro lado, abaixo dos
20 Lux o animal tem muitas dificuldades para encontrar
alimento e água. Evidentemente são necessários mais estudos sobre este tema, já
que lhe foi até agora dado muito pouca importância como fator ambiental.
Clima
Quando o porco desmamado tem a capacidade de
consumir alimento de forma regular, aumenta de certa forma a sua ingestão de
alimento de forma a compensar uma temperatura baixa. No entanto, segundo Collin et
al (2001) a capacidade de ingestão máxima é alcançada
entre os 18 e os 19 ºC. Assim se explica que uma temperatura mais baixa altere
o GMD, diminuindo quase 13 g por cada ºC menos, e que o índice de conversão
aumente em 0,04 unidades por ºC de frio ( Le Dividich
y Noblet, 1982; Close y Stanier,1984).
Densidade
O número de animais alojados na instalação tem um
efeito marcado sobre o seu conforto. Por este motivo em todas as explorações da
União Europeia os locais de estabulação são
construídos de forma a que os animais tenham a possibilidade de:
a) ter acesso a uma área de repouso, confortável
física e térmicamente, com drenagem adequada e limpa
(espaço sistémico), que permita que todos os animais
se deitem ao mesmo tempo (espaço dinâmico ou ergonómico).
b) descansar e levantar-se normalmente (espaço de
conduta).
c) ver outros animais (espaço de conduta).
Na prática o que se tenta sempre atingir é um
máximo de superficie útil para os animais com um
mínimo de superficie construída (animais de 10 a 20kg de peso, segundo a Lei europeia
vigente, necessitam de 0,20 m²/ animal).
Tamanho do grupo
Existem vários estudos e inclusivamente foram desenvolvidas
equações de previsão (Kornegay y Notter
1984) para calcular o número adequado de porcos por curral. Mc Connell et
al (1987) afirma que durante todo o período
pós-desmame, um aumento de 8 a 24 porcos num espaço de superfície constante de
0,21 m2 provoca uma diminuição da CMDA e do GMD em 13% e 12% respetivamente. Por outro lado, Giles
et al
(2001) y Turner et al
(2003) concluem que o tamanho do grupo não tem efeito algum sobre o índice de
conversão de alimento nem sobre a variação do GMD dentro do grupo. Duas afirmações completamente diferentes que levaram a supor que há
outros fatores que afetam a relação entre o tamanho do grupo e a produtividade,
entre os quais se contam o desenho do espaço de alimentação, o fornecimento de
água, o peso ao desmame e a mistura de animais, apenas para destacar os mais
importantes. Basicamente o problema não é o tamanho do grupo, mas sim
como fazer o agrupamento.
Estrutura da instalação
Isolamento
Um bom isolamento permite manter um bom ambiente
interior independentemente das condições externas. Pelo contrário, um mau
isolamento terá como resultado uma ventilação precária, porque não permitirá um
bom controlo do movimento e quantidade do ar que entra no edifício, provocando portanto muitos problemas para conseguir a temperatura
necessária.
Ruído
Segundo a legislação europeia
na parte do edifício em que se encontram os porcos terão de ser evitados níveis
de ruído contínuo superiores a 85dB, assim como ruídos
repentinos e duradouros. Quando os porcos guincham chegam a frequências
de 100 a 110 dB, que podem ser prejudiciais para o ouvido humano durante
períodos superiores a uma hora, bem como aos animais
(fazem falta mais estudos).
Solos
Os solos devem ser lisos, mas não escorregadios,
e devem ser desenhados, construídos e mantidos de forma a evitar danos ou
sofrimento aos animais. Devem ser adequados ao tamanho e peso dos animais, e se
não se equipam com camas de palha, devem formar uma superficie
rígida, plana e estável. Uma parte da superficie
total do solo, suficiente para permitir que todos
animais estejam deitados ao mesmo tempo, deverá ser sólida ou estar revestida
ou estar coberta com uma capa de palha ou qualquer outro material adequado (a
palha deteriora-se mais com altas densidades).
Depois de analisar estes temas, que para muitos
não serão desconhecidos é lógico que se proponha, como em todos os artigos, uma
possível solução para estes “problemas”. Pelo que me vou permitir
analisar o sistema ROTISUIT, contando para tal com a benevolência e colaboração
dos técnicos de AEROSYSTEM ROTI.
Fonte: AEROSYSTEM ROTI
“AEROSYSTEM ROTI desenvolveu o habitáculo
que reúne todas as necessidades ambientais e de conforto que os leitões
precisam, aplicando soluções para cada um dos detalhes e minimizando o gasto
energético, investigação que deu lugar ao sistema de desmame ROTISUIT” J.
Roca. Aerosystem roti , 2007.
Características técnico
– sanitárias
Ventilação
Optou-se pela ventilação positiva (impulsores) e
lugar da negativa (extratores) para evitar que os gases produzidos na fossa
tenham que passar pelos animais para serem expulsos para o exterior.
A ventilação neste sistema é positiva, periódica
e eletrónica, mediante um sistema especial
(patenteado) que funciona da seguinte forma: o ar é injetado no habitáculo pela
parte superior através de uma conduta, repartido por uns orifícios calculados
de forma a que a sua entrada se dê a uma velocidade muito baixa, para não
incomodar nem criar qualquer turbulência. O ar é obrigado a sair do habitáculo
por uns coletores
Situados por baixo do gradeamento
( slat). Desta maneira o ar passa através dos animais
quando ainda está limpo, arrastando, ao sair, os gases nocivos (NH3, CO2, SH2,
CH4), de tal maneira que os animais respirem sempre ar novo.
Fonte: AEROSYSTEM ROTI
Além disso um mecanismo
pneumático assegura a ventilação de emergência em caso de interrupção do fluxo
elétrico ou qualquer anomalia, com retorno automático a uma situação normal.
Temperatura
É estável e pode ser controlada pelos
funcionários em função das necessidades dos animais, e o mais importante é que
não requer aquecimento adicional, aproveitando que cada animal é como uma
pequena estufa.
Fonte: AEROSYSTEM ROTI
Humidade
relativa
É autocontrolada e em
percentagem adequada, completamente estável para a comodidade dos leitões. Isto
é conseguido pela utilização do calor gerado pelos próprios animais e mediante
a adaptação de coolings (cortinas de água).
Assiduamente são colocadas sondas eletrónicas de controlo de temperatura e humidade dentro e fora das unidades ROTISUIT. Estas sondas
estão programadas para realizar uma leitura simultânea de temperatura (linhas
verdes) e humidade relativa (linhas vermelhas).
O seguinte gráfico corresponde a um período em
que as condições externas foram muito variáveis (linhas finas). Observe-se o
perfeito controlo e estabilidade constante do ambiente interior (linhas
grossas).
Fonte: AEROSYSTEM ROTI
Um exemplo dos resultados práticos
conseguidos
Durante um ano foi selecionado um leitão de cada
grupo de desmame na exploração experimental da AEROSYSTEM ROTI ( Mas Serí). Foi pesado diariamente, à mesma hora durante os
primeiros 15 dias depois do desmame. Cada curva corresponde a um leitão.
Observe-se que em todos os casos estudados o leitão apresenta ganho de peso
desde o primeiro dia.
Fonte: AEROSYSTEM ROTI
Depois de tudo o que foi
comentado apenas me resta dizer que, em 19 anos de visitas a explorações em
diferentes países, francamente pensava que encontrar um sistema de alojamento
que cumprisse as regras para este tipo de animais com a filosofia real
do bem-estar animal era muito difícil; ainda bem que estava equivocado, tinha-o
muito perto da minha casa.